sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Amor incondicional

Escolhas futebolísticas revelam muito sobre o nosso perfil, e devem ser respeitadas

Qual o motivo para amar? Talvez, o tempo mostre provas de reciprocidade que podem fortalecer uma união (seja entre um casal, um funcionário e empresa, torcedor e time...), mas o amor nasce justamente sem tantas explicações. Simplesmente se ama, daí ser este sentimento incondicional (pelo menos enquanto dure, pois nem sempre é eterno).
Será que devemos julgar as pessoas pelos times pelos quais elas torcem? "É um absurdo um nordestino torcer pelo Flamengo, que nem sabe de sua existência"- afirma Juan Teixeira, torcedor do modesto Galícia, clube da 2ª divisão do campeonato baiano. Para ele, virar a folha* é um 'crime', e os nordestinos que torcem para times do sudeste são covardes pois, com medo de não ter de escolher um time mais vitorioso no futuro, optam pelos que dominam as grades de programação da tv.
Para o baiano Alan Rodrigues, torcedor do Vasco da Gama (do Rio de Janeiro), o time de coração é mais que o clube de futebol pelo qual torce, e sim parte importante do perfil de um brasileiro, goste de futebol ou não. "O futebol é uma manifestação cultural que no Brasil é tão digna quanto o folclore e carnaval, e a hereditariedade se faz presente, sendo o time um traço muitas vezes passado de pai para filho como o sobrenome, e como em toda cultura, há coisas que não se mudam em apenas uma geração", afirma.
É claro que a construção da dominância dos times do sudeste nos corações dos nordestinos foi um processo recente (por volta do século passado). A grande mídia, que sempre teve seu centro no Rio de Janeiro, foi responsável pela divulgação dos times cariocas, especialmente o Flamengo. Mas como toda cultura, concordemos ou não com suas manifestações, devemos respeitá-las, enxergar as opções desses torcedores como dignas, pois se tratando de futebol e buscando a razão, não haveria motivo para amar times de futebol, pois estes são comandados por administradores de secura na alma e frieza nos cálculos, enxergando cifras com as vitórias enquanto os fiéis fãs da equipe brigam entre si.
Uma dose de razão talvez possa ajudar a respeitarmos mais uns aos outros, ao invés de brigarmos sem motivo, com os nervos a flor da pele sem conseguir enxergar que estamos todos ligados pela mesma emoção: o futebol, embora possamos torcer para times diferentes que, não importando o motivo (se é que se tem um), fazem a Terra girar, sempre girando como um lançamento de 3 dedos com efeito.

*trocas de time

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Vitória-0 x 0-Flamengo

Uma das partidas mais esperados do ano em Salvador duraram mais de 90 minutos: do dia 26 até o término da partida, 29 (4ª feira) muitas histórias envolveram o embate de rubro-negros. Para começar com a venda de ingressos.

Nação Rubro-negra

Goste ou não goste, todos devem respeitar a paixão dos flamenguistas pelo seu time. Independente de como este sentimento foi manipulado pela poderosa mídia carioca ao longo de tantos anos, certamente de nada adiantaria investimentos baseados em teorias se a emoção não falasse mais alto para tantas pessoas que buscam tanto apoiar o clube. Na 2ª feira, o aeroporto de Salvador estava lotado de torcedores que recepcionaram seus ídolos, e a cena se repetiu no CT do Bahia, em Itinga, quando mais de 150 torcedores invadiram o campo no treino para recepcionaram calorosamente seus jogadores. Se faltou segurança para conter tais atos que devem ser coibidos afim de manter maior conforto para os atletas, algo jamais faltará para o time da Gávea: a certeza de que sempre terá quem te apoiar, seja na terra ou no mar, onde estiveres estarás uma nação cantando para todo mundo ver, que estes gostam de você*.

Fila de ingressos

Caravanas vindas de dezenas de interiores da Bahia e de estados próximos chegaram logo no começo da semana para garantir seu ingresso. O Shopping Capemi, onde fica a loja do Vitória (e a do Bahia também, no outro extremo do estabelecimento), estava com uma fila que percorria toda a sua parte coberta, indo parar além da fachada da loja do Esporte Clube Bahia, que vazia, podia-se ver uma vendedora assustada com tamanho fenômeno. Todos os pontos de venda do jogo estavam lotados, inclusive uma loja de cartuchos para impressora, que teve de fechar as portas para não encher demais sua lotação. Um motoboy foi responsável por entregar o ingresso nesse estabelecimento em que eu comprei meu ingresso, e embora a venda tenha sido rápida, a fila quase invadia a avenida!

Rumando para o Barradão

O jogo foi 8:50 horário de Salvador (fora transmitido para o resto do Brasil, que estava no horário de verão, uma hora adiantada). Sair de casa pouco depois do pôr do sol poderia ser uma idéia absurda pela antecedência, mas para essa partida, pareceu um absurdo pelo atraso: a avenida Paralela estava congestionada numa soma de hora de pico + o 2º jogo de maior público no Barradão (perdendo apenas para o 2º dos 3 jogos das semifinais do brasileirão de 99, quando o Vitória ganhou de 2 a 1 do Atlético Mineiro, num Domingo*²). Achar estacionamento foi difícil, passar pelas multidões também, mas felizmente nos portões de acesso não havia grandes filas. Achar lugar na torcida do Flamengo com mais 2 amigos foi difícil, inclusive em diversos momentos me pediram para ficar em outro lugar, alegando que eu estava na frente. Quando encontrei um lugar onde pude ficar em pé sem incomodar, fiquei por uns 10 minutos, até todos sentarem e eu perceber que no mesmo espaço em que eu teria de sentar havia outra pessoa, ou seja, eu tive que sair dali, porque a pessoa em questão não era minha mãe ou namorada para que eu pudesse permitir que sentasse no meu colo.

A festa

Sotaques caipiras tomavam conta das arquibancadas do time carioca (o Flamengo tem enorme torcida nos interiores da Bahia, e diversas caravanas dessas cidades rumaram a capital), e do outro lado, a torcida do Vitória gritava 'éu éu éu vai pra casa Tabarél!'. Momentos marcantes aconteceram não só na partida, como nas arquibancadas: um grupo de torcedores do Bahia estendeu a bandeira do tricolor na área restrita a torcida do Flamengo. Parte da torcida do Fla vibrou, outras reprovaram tal atitude, e o saldo foi uma bandeira apreendida por policiais, que pareciam justificar essa ação como prevenção a violência que poderia ocorrer com essa provocação. A torcida do Vitória fez uma faixa escrita 'vergonha do nordeste', com uma seta apontado para a torcida do Flamengo, desrespeitando o amor desses torcedores ao seu clube, que independente de não ser de sua região, não deixa de ser amor, e incondicional (já que não há limites geográficos que condicionem alguém a torcer por um time). Outro momento interessante, não noticiado na mídia: durante o jogo, após uma bola parar na seção de cadeiras da torcida do Vitória, um torcedor agarrou-a e não queria devolver. Um torcedor que estava próximo furioso mandou este entregar a bola de volta para os gandulas, e teve-se que abrir uma porta de acesso ao gramado para os gandulas a recuperarem na força.

O imprevisível

Assim como no jogo contra o Coritiba, os refletores (que funcionam por gerador) apagaram, interrompendo a partida (dessa vez, no início, e apenas os 2 refletores voltados para a parte dos campos de treinamento). Durante o 'apagão', li um pouco do jornal entregue na entrada do estádio, 'Refletor', para logo ouvir um trocadilho sensacional de minha amiga: 'o nome do jornal é refletor? Então acabaram com a entrega'. Os torcedores do Flamengo, além de atentos a partida de seu time (que perderam muitas oportunidades, embora houvera um pênalti não marcado), acompanhavam com atenção a partida entre Botafogo x São Paulo (secando o vice líder São Paulo, que venceu fora de casa) e Cruzeiro x Grêmio (em que os mineiros venceram por 3 a 0 e deixaram os gaúchos com o mesmo número de pontos do São Paulo, embora a equipe dos Pampas tenha mais vitórias e por isso continue na liderança). O duelo sem gols não pode resumir o quanto foi interessante esse duelo, que envolveu mais que 90 minutos, além de filas, apertos, confusões e apagão, embora, como todos saibam, o mais importante no futebol é gol.

* 'a certeza de que sempre terá quem te apoiar (parte de uma das músicas da torcida), seja na terra ou no mar( parte do hino), onde estiveres estarás uma nação cantando para todo mundo ver, que estes gostam de você (parte de outra música da torcida)

*² Imagine se esse jogo do Flamengo caísse num fim de semana?

O aperto era tão grande que não deu para conseguir tirar boas fotos. Nesta, parte da torcida do Flamengo que tomou parte das arquibancadas do limite das cadeiras até um dos gols (assim como são feitas as divisões de torcida em BaVi). O Flamengo foi o responsável pelo 2º maior público da história do Barradão. Abaixo um vídeo.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Do pedestal ào banco de reservas

Maradona saí da posição de mito para se tornar técnico da seleção argentina

O que podemos definir como imortalidade? Com a improbabilidade biológica de ter uma vida eterna, lutamos para sermos lembrados, embora nosso corpo esteja ausente do mundo material. Para ser imortal, é preciso deixar um legado, um feito notável na Terra, e enquanto no mínimo uma pessoa lembrar deste, a memória de uma pessoa estará preservada.
Levando-se em conta esse conceito de imortalidade, a única maneira de 'matar' Maradona é exterminar toda a raça humana, pois suas histórias sempre serão contadas de pai para filho, e este já alcançou o hall dos inesquecíveis, assim como Júlio César, Cleópatra, Jesus Cristo, Cristovão Colombo, Charles Darwin, Isaac Newton, Adolf Hitler, Elvis Presley... Para o bem ou para o mal, o 'anjo-demônio' argentino quebra todo o maniqueísmo de céu e inferno, sendo o responsável por dar tantas alegrias ao seu oprimido continente americano, fazendo crianças de Cuba ao Chile se espelharem nele para se tornarem um herói tão digno quanto. Não há lugar onde Maradona seja louvado mais que na Argentina, onde este alcançou o patamar de Deus, sendo sua igreja freqüentada por fãs de futebol que o enxergam como divino.

Até apresentador de tv Maradona ja foi. Na estréia de 'La noche del 10', o entrevistado foi Pelé. Xuxa também passou pelo programa, que aqui no Brasil era retransmitido pela Sportv.

Inesquecível partida contra os ingleses

Há controvérsias quanto ao seu caráter: na Inglaterra, por exemplo, seu nome virou sinônimo de trapaça, após a partida em que o craque portenho fez um gol com a mão, segundo ele, 'a mão de Deus'. Porém, esse gol não foi nada mais que um reflexo entre as tensões destes países há muito tempo: num amistoso em Buenos Aires em 1951, os ingleses alegaram sua derrota por 2 motivos que constrangeram os sul-americanos: o fato de terem mandado um time amador e de terem sido prejudicados pela arbitragem, que reverteram uma cobrança de lateral favorável aos britânicos. Tal motivo iniciou uma inimizade histórica. Na copa de 66, na Inglaterra, o capitão da seleção argentina, Antonio Rattín, fora expulso após pedir para o árbitro um intérprete que pudesse traduzir algo. O juiz da partida, que era alemão, não entendeu o que um argentino falando espanhol queria, e o expulsou. A partida demorou 10 minutos para re-começar, quando uma escolta policial o tirou de campo (Rattín chegou a amassar uma bandeira do Reino Unido e fazer gestos de marmelada para a torcida). O técnico da seleção inglesa, Alf Ramsey, chamou os argentinos de animais, enquanto os argentinos viam os ingleses como trapaceiros que queriam a qualquer custo vencer a copa (inclusive um árbitro alemão apitando a partida entre Inglaterra x Argentina e um árbitro inglês apitando Alemanha x Uruguai, prejudicando os sul-americanos e colocando estes dois países europeus na final desse ano).
Em 1982, as ilhas Falkland (também chamadas de Malvinas), pertencentes ao Reino Unido (embora sejam muito próximas da Argentina) foram 'invadidas' pelos argentinos, logo, os ingleses mandaram tropas de veteranos dispostos a trucidar as jovens tropas argentinas (formadas por garotos iniciantes). O resultado dessa guerra: muitas mortes (especialmente de jovens argentinos) e a ilha recuperada pelos ingleses.
O rancor imperava nos corações portenhos, quando estes enfrentaram advinha quem nas quartas de final da copa de 86? Foi aí que Maradona mostrou na partida um reflexo fiel do sentimento nacional ao fazer o gol mais bonito da história das copas e um gol com a mão (que fora mais celebrado por descontar injustiças ocorridas no passado).

Construindo uma nova história, que pode não ser imortal

Sair de um pedestal e encarar uma 'vida de mortal', sendo técnico de futebol (o que pode o levar a receber críticas e xingamentos inevitáveis, que na condição de ídolo não recebia) é um ato de coragem, ao mesmo tempo que mostra como nós, seres humanos, somos apegados a símbolos: o fato de colocar um ex-jogador glorioso no comando de uma equipe nem de longe é garantia de sucesso, e abusar desse folclore acaba excluindo treinadores que, embora não tenham tantas histórias imortais, poderiam fazer um trabalho muito melhor.
Interessante também é saber a hora de parar: Junior, um dos grandes ícones da seleção brasileira de 82, em 2003 treinou o Corinthians. Duas derrotas por 3 a 0 (contra São Paulo e São Caetano) foram o suficiente para este largar para sempre a carreira de técnico e se poupar de crítica que poderiam fazer o público em geral esquecer toda a sua gloriosa história no futebol.
As pessoas só são canonizadas virando santas após sua morte porque só com o fim da vida se pode ter certeza que esta não possa fazer nenhuma grande besteira que tire sua credibilidade (a única forma de se tirar essa credibilidade após a morte são registros antigos que mostrem sua maldade que não fora vista em vida).
Se mexer com drogas não 'queimou' tanto seu filme com seus conterrâneos, certamente um trabalho ruim na seleção pode mudar o comportamento dos argentinos com o seu grande ídolo. Assim como fui contra Dunga estar no comando da seleção, sou contra qualquer 'atitude folclórica' como a de colocar ídolo no comando da seleção. Está certo que alguns deram certo, como Franz Beckenbauer, mas prefiro não correr esse risco e deixar os imortais no seu espaço, pois quem quer virar herói ainda não se imortalizou.

Da esq. para a direita, de cima para baixo: gol de mão contra a Inglaterra, jogando Show Ball (esporte remanescente do futebol assim como futsal e beach soccer e geralmente jogado por ex-jogadores dos gramados), torcendo para seu time de coração, o Boca Juniors, e altar da sua igreja, em Rosário.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A origem das grandes povoações

O porque de existirem cidades grandes (próximo a estradas, ferrovias, rio, porto...)

Algum dia na vida você já deve ter se perguntado: porque existem cidades tão povoadas? Certamente não foi uma escolha espontânea dos seus primeiros habitantes, e tais locais atraíram o público por algum motivo.
Um dos motivos mais antigos que reúnem pessoal numa pequena faixa de terra é a água: as primeiras civilizações ocidentais ficavam na ‘Crescente fértil’ (nome que justifica a fertilidade da água para essas terras), uma região do Oriente médio onde grandes rios faziam seu percurso pela capital e interiores*: o rio Jordão passa pela Palestina (região até hoje disputada entre palestinos árabes e israelenses), já o Tigre e Eufrates são os principais rios da Mesopotâmia*² (palavra essa que vem do grego e significa ‘entre rios’, justamente por essa civilização ficar entre os vales desses rios) e o rio Nilo é uma das principais referências do Egito, especialmente porque passa pela sua capita, Cairo.
Outras civilizações tinham lá seus motivos para justificar sua fama: a Fenícia*³ estava protegida num local estratégico, onde para o norte havia deserto, para o leste floresta de Cedras, para o sul montanhas e para o oeste entrada para o mar (daí os fenícios serem grandes navegadores, os primeiros a terem necessidade de se expandir afim de se estabelecer relação comercial com outros povos- inclusive parte dos estudos de navegação dos europeus ocidentais foram estudos reaproveitados dos fenícios, que passaram pelo Brasil antes mesmo de os portugueses sonharem com a existência da Índia).

Oriente médio e a crescente fértil, destacada de vermelho na gravura

A importância dos portos

Pegando o gancho da importância da Fenícia para a tradição comercial e marítima, muitos países de hoje em dia tem em suas cidades portuárias, se não a capital, uma de suas principais cidades: Buenos Aires- Argentina, Val Paraíso- Chile, Santos- Brasil**, Nova Iorque- EUA, Montreal- Canadá, Hamburgo- Alemanha, Roterdã- Holanda, Marselha- França, Yokohama-Japão, Xangai- China, Melbourne- Austrália, Auckland- Nova Zelândia, Lisboa- Portugal e Dakar- Senegal são apenas alguns exemplos.
Na esfera nacional, já teve estado que mudou de capital por a 1ª não ser 'praieira'***, logo, não podendo ser portuário: São Cristovão, apesar de cidade histórica, perdeu o posto de capital de Sergipe para Aracaju.


A esquerda, o porto de Santos, o maior da América Latina, e a direita, o maior porto artificial do mundo, em Roterdã- Holanda (repare que a cidade fica abaixo do nível do mar e um dique fecha o canal- há soteropolitanos que alegarão acerca da experiência dos holandeses de contruir diques, embora os estudiosos saibam que o Dique do Tororó não foi criação holandesa)

A importância dos Rios

Vale lembrar que algumas cidades portuárias também tem seus rios (a exemplo de Lisboa e o rio Tejo), mas grandes capitais não portuárias muitas vezes ganharam o status de sede do poder executivo pelos seus rios: Londres- Tâmisa, Paris- Sena, Madrid- Manzanares, Roma- Tibre, além de exemplos de rios que ficam a margem de mais de uma capital, como o Danúbio, presente na vida dos habitantes de Praga, Budapeste e Viena.

Cidades às margens de rodovias e ferrovias

Ferrovias e rodovias se tornaram extremamente úteis para a locomoção segura de habitantes de um centro urbano ao outro. Graças a ferrovia na Inglaterra, uma cidade se desenvolveu muito e se tornou uma dos mais importantes pólos industriais desde a revolução industrial: a cidade de Manchester.
Em busca de expansão e criação de novos centros urbanos, pessoas do mundo todo procuram estar presente com a civilização e criam às margens de estradas novas cidades, e assim se desenvolveu Feira de Santana (às margens da BR-324), cidade essa que aos poucos está cada vez mais ligada a Salvador, pois com o crescimento da população da capital, bairros como Cajazeiras, situado próximo a essa rodovia, crescem sempre às margens dela, e a tendência é chegar cada vez mais próximo de Feira de Santana.
Nos Estados Unidos, uma antiga estrada ligava Chicago a Santa Mônica, numa distância de 3939 km (equivalente a de Aracaju à Porto Alegre, ou seja- cruzava quase um país inteiro). As suas margens, surgiram o primeiro Mc’Donalds e primeiro Motel**** dos Estados Unidos, além de diversas cidades. Mas com a construção de uma rodovia mais moderna, a Highways, a rota 66 iniciou um processo de esquecimento, e as cidades as suas margens, que tanto recebiam visitas, passaram a ser esquecidas, logo, muitos estabelecimentos se fecharam e muitas dessas cidades hoje são apelidadas de ‘cidades fantasma’, por terem pouquíssimo moradores, embora grandes edificações.
Assim como municípios, bairros também surgem às margens de fluxo de pessoal: a avenida Paralela, em Salvador, fora inaugurada na década de 70 como uma nova via para ligar a região da rodoviária (próxima ao centro da cidade) ao aeroporto (antes ligado pela EVA- estrada velha do aeroporto). Com o decorrer dos tempos, bairros foram surgindo aos lados dessa avenida, a exemplo do Imbuí- ao lado direito da avenida (sentido rodoviária aeroporto)- e Canabrava- ao lado esquerdo.

Voando nos trilhos: time de 'origem ferroviária' (nascera com operários do depósito da Cia. ferroviária de Lancashire e Yorkshire), hoje ja é detentor de um luxuoso avião (imagem da esquerda abaixo), mas apesar disso, suas recordações aéreas não são boas: em 1958, um acidente aéreo em Munique matou 8 de seus jogadores (imagem a direita acima). Abaixo, homenagem às vítimas e heróis da tragédia, e ao lado esquerdo acima, o time do Manchester da temporada 1905-1906, responsável pela subida para a 1ª divisão da liga inglesa.

Artifícios para tornar a vida possível em cidades inesperadas

Se muitas cidades hoje são grandes devido a sua história de longas datas, a exemplo de Roma e Atenas (referências de grandes civilizações da antiguidade) ou municípios europeus que foram feudos (e nestes, sempre existirá forma de sobrevivência auto-sustentável, já que não se podia sair de seu território- a não ser por migrações ou guerra), outras tantas, que não teriam como existir nesses tempos, hoje com o auxílio da tecnologia desempenham importante papel na economia mundial: Atlanta, sede da coca-cola e das olimpíadas de 1996, fora construída no meio do deserto! Brasília, a nova capital do Brasil, fora construída no meio do cerrado na década de 50, sendo um local estratégico por estar no centro do Brasil (dificultando ataques por mar e aéreos- já que terá de se percorrer boa parte do Brasil para se atacar sua capital).

Importância de grandes centros econômicos no futebol

Você já reparou que a maioria dos times de futebol presentes na elite do futebol local pertencem a regiões povoadas ou ricas? O atual campeão europeu, por exemplo, é o Manchester United, da cidade de mesmo nome, que ganhara importância especialmente depois da construção da primeira linha férrea do mundo, que a ligava com Liverpool (Liverpool já era famosa por ser portuária, mas Manchester se tornou com essa colaboração).
No Brasil, os times mais vencedores estão no sudeste, região que se tornara mais importante economicamente que o Nordeste após descoberta de ouro nas Minas Gerais (antes o Nordeste era hegemônico com a plantação e colheita de cana de Açúcar).
Na época de amadorismo no futebol, a grande maioria dos jogadores de um time eram nativos da mesma região. Mesmo com o início da profissionalização, ainda existia o teto salarial, ou seja: jogando em um clube rico ou modesto, se ganharia o mesmo salário, sendo assim, muitos jogadores optavam por jogar para equipes de cidades pequenas, mais tranqüilas. Porém, o fim do teto salarial marcou o início da hegemonia das grandes potências, marcando o declínio de times do interior e supremacia de equipes dos grandes centros urbanos, que poderiam pagar muito mais.
Esse é mais um exemplo de como o futebol, ao mesmo tempo que faz parte da nossa sociedade, a reflete com tamanha fidelidade.


*O conceito de capital remonta a local mais influente, embora a idéia do capitalismo só tenha se consolidado com o fim da idade média e feudalismo e início da idade moderna e expansão do comércio. –O oposto de capital na língua portuguesa é interior, porque se tinha uma idéia de que as cidades mais influentes geralmente teriam de ser portos, e a maior parte das demais ficam no ‘interior do país’ (por dentro, e não às margens do mar); Já na língua inglesa, o oposto de capital é ‘country’, o que remete a uma idéia de pouco urbanismo.
*² Atual Iraque e Kuwait
*³Atual Líbano
**A primeira capital do Brasil, Salvador, também é portuária. Ao se descobrir ouro nas Minas Gerais (região central do Brasil), a região mais influente deixou de ser o Nordeste e a capital e porto principal passou a ser Rio de Janeiro. Com a descoberta da terra Roxa pelo estado de São Paulo (onde sua capital, também chamada de São Paulo, não é litorânea), a capital continuou sendo Rio de Janeiro, mas o principal porto passou a ser o de Santos, devido a importância da colheita de café para o enriquecimento do país (proporcionado pelas férteis terras por esse estado)
***Não é tão óbvio quanto parece: Roterdã, embora seja portuária, fica abaixo do nível do mar (logo, não é praieira), sendo o maior porto artificial do mundo
****O conceito inicial de motel não estava associado a um lugar para práticas sexuais, e sim um local onde se pagava mais barato que um hotel convencional para ficar menos tempo (o equivalente a uma noite de sono) e era muito freqüentado por caminhoneiros que passavam pelas rodovias

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Mais 4 anos com João Henrique

Prefeito reeleito de Salvador torna-se o 2º a conseguir essa marca desde a redemocratização

Em 2004, João Henrique de Barradas Carneiro, então do PDT, era a voz da esperança de uma cidade sedenta em empregos e saturada de falsas promessas. Ao entrar num 2º turno contra o candidato César Borges, do PFL (atualmente chamado de DEM), conseguira o apoio de todos os outros antigos adversários: Lídice da Mata, do PSB, Da Luz, do PAN, e Nelson Pelegrino, do PT (que inclusive por muito pouco não faz o 2º turno com João Henrique).
As alianças que trouxeram para a vitória não foram gratuitas: o PT ficou com 4 secretarias na prefeitura: Saúde, Reparação, Desenvolvimento social e Governo (inclusive se pensou em apoiar João na reeleição, até optar por um candidato próprio, Walter Pinheiro, que teve como vice a ex-prefeita e candidata em 2004 Lídice da Mata, do PSB).

João eleito em 2004

A vitória de João Henrique marcou uma derrota histórica de um grupo dominante no estado, que desde a época da ditadura já comandava com os seus eleitos pela assembléia legislativa, e que continuou mandando com os votos do povo embora tenham ‘sofrido’ com 2 pequenas oscilações de poder- Fernando José do PMDB e Lídice da Mata, do PC do B (até hoje a única prefeita da cidade pertencente a um partido comunista).
Porém, não se deu tanta credibilidade ao trabalho destes dois, não é a toa, em seguida Antônio Imbassahy, do PFL, fora eleito, depois de 8 anos do grupo dominante fora da prefeitura (desde a saída de Mário Kertesz em 1989)
A herança dos tempos de repressão foram contínuos, dos tempos do ARENA com os militares- Aliança renovadora Nacional- até o PFL –Partido da Frente Liberal, o seu dissidente que mais tarde viraria ‘Democratas’ e que é adepta de uma política neoliberal* que ganhou notoriedade especialmente com as obras do economista e filósofo escocês Adam Smith. A ousadia parecia ser abolido do vocabulário político do baiano, que mesmo em sua maioria pobre, demonstrava nas urnas uma postura conservadora.

Novos partidos na disputa

Mas surge o ano de 2002, em que o candidato do PT a presidência da república, Lula, após 3 tentativas, consegue o grande feito das massas de todo o país: levar o povo ao poder. No mesmo ano, Jaques Wagner, de mesmo partido, perdeu as eleições de governador no 1º turno, mas teve maioria dos votos na capital, ou seja: pelo menos em Salvador, havia anseios por mudança.
A mudança de mentalidade, confirmada 2 anos depois e que no início era imune de críticas, começava a ser contestada: João Henrique mudou de legenda, saindo do PDT do lendário Leonel Brizola para se filiar a um partido do tão legendário quanto Ulysses Guimarães. Tais figuras, mesmo não presentes em vida, se tornam referência nas posturas destas legendas, mas não foi esse o motivo pelo qual João Henrique ‘virou a casaca’: embora com a mesma origem (o MDB- movimento democrático brasileiro, que depois se ramificou em vários partidos e que na época combatia a ARENA), foi o PMDB que conseguiu eleger um presidente (Tancredo Neves), e que desde essa época, torna-se aliança respeitável para quem sonha com o poder (inclusive com um apoio de Geddel Vieira Lima, ministro da integração nacional do atual governo Lula).

O início da nova campanha de João

Mesmo sendo filho de um peso pesado da política baiana (o atual senador João Durval já fora aliado de Antônio Carlos Magalhães, ex-membro da ARENA- inclusive ambos revezaram de poder mesmo sendo do mesmo grupo) e tendo como vice um ex-prefeito (Edvaldo Brito, eleito pela assembléia legislativa em 1978) estava claro que para se reeleger João Henrique precisava de uma aliança forte (e ela era Geddel Vieira Lima). O seu PDT, que o acusou de traidor, acabou fazendo parte da base aliada que o elegera, e o PT, que tinha algumas secretarias, caiu no engano de que teria o apoio explícito do presidente Lula, que não podia desagradar um partido que tanto te apoiou na reeleição, e que inclusive se especula que apoiará a candidatura da petista Dilma Rousseff para a presidência em 2010 (o PMDB, que em 2002, controvertidamente, apoiava o PSDB).
A vitória não foi fácil para o atual prefeito, que teve de responder perguntas sobre sua administração, para a maioria dos entrevistadores, ‘pífia’. Usou-se ataques contra o seu antecessor Imbassahy (que no seu dizer, havia deixado a cidade extremamente difícil para se governar, com muitas dívidas e problemas sérios na área da saúde- que ironicamente foi uma secretaria em que o PT deu continuidade), contra o PT (que na sua opinião, o traíra), contra ACM Neto (que é neto de Antônio Carlos Magalhães, antigo parceiro político de seu pai), e também apelou para a fé, ganhando muitos votos da comunidade evangélica.
No 2º turno, afirmou que todos os seus apoios eram ‘apenas pelas propostas’, e não por secretarias. ACM Neto no dia seguinte já lhe dava apoio, o que pode ter sido fundamental para sua vitória.
Bom, se depois do fim da ditadura, tivemos 2 prefeitos que não faziam parte do grupo dominante, ontem pela primeira vez um prefeito da antiga MDB se reelege. Se tratando de novas forças da política baiana, o ‘carlismo’ ainda está de pé, exerce seu poder, embora mais discretamente, assim como o ‘gedeísmo’ dá importantes passos para estar cada vez mais perto do governo estadual. O que podemos desejar para as futuras administrações é boa sorte, pois embora você não tenha votado nos candidatos que venceram essas eleições, você ama essa cidade, e torcer contra as administrações no poder para fazer valer o seu ponto de vista (no melhor estilo ‘secar’) pode causar anos de atraso para o município, o que será irreversível de se melhorar com apenas um mandato. Boa sorte João Henrique, que você tenha um bom mandato, que olhe para o povo carente dessa cidade e dê oportunidades, e não use como desculpa o pouco tempo para mudar, pois com mais 4 anos, queremos ver uma cidade muito melhor do que a que se encontra hoje.

*Escreverei um artigo sobre o neoliberalismo em breve.

domingo, 26 de outubro de 2008

Corintiano, maloqueiro e sofredor mano...

Equipe de 2ª maior torcida do Brasil volta a elite do futebol

Não foi doloroso como a maioria de seus fãs esperavam antes do início da série B: com 8 rodadas de antecedência, o Esporte Clube Corinthians Paulista conseguiu retorno a principal divisão do futebol nacional, ao vencer o Ceará por 2 a 0 no Pacaembu e o Grêmio Barueri (5º colocado) ser derrotado para o Paraná Clube. Matematicamente o clube do Parque São Jorge está na série A: a distância para o 5 colocado é de 19 pontos, e com 6 rodadas faltando para o fim da competição, o máximo que o Grêmio Barueri poderia somar é 18 pontos, portanto, mesmo que o Corinthians perca todos os jogos daqui pra frente, no mínimo ficará na 4ª colocação.
Mas 'relaxar' não parece ser a palavra de ordem para os alvinegros, que querem o título da série B (como o seu arqui-rival Palmeiras, em 2003) e fazer um desfecho de classe numa época difícil, que os corintianos não querem passar mais.
Com o fim da copa União (versão do campeonato brasileiro que valeu pelos anos de 87 e 88 com esse nome) surgiu o rebaixamento (nos primeiros campeonatos brasileiros, as equipes conseguiam acesso ao torneio nacional de acordo com suas colocações nos estaduais, e mesmo com a criação de ligas equivalentes a atual série B - chamadas na época de 'módulo amarelo'- não existia critérios para ascensão, não é a toa que o Guarani de Campinas, vicecampeão brasileiro em 86, disputou o 'módulo amarelo' de 87) e a possibilidade de ascensão de times de divisões inferiores.
O começo da década de 90 mostrou que grandes potências do futebol não teriam moleza: há quem já tenha sido rebaixado 2 vezes, como o Grêmio e Vitória (1991 e 2004), e alguns que ja foram até para a 3ª divisão (como Fluminense, rebaixado da A em 1997 e da B em 98, e o Bahia, rebaixado da A em 1997 e 2003 e da B em 2005 junto com seu rival, o Vitória).
Geralmente, times de expressão retornam a elite rapidamente, foi o caso de Palmeiras e Botafogo (que caíram em 2002 e já retornavam juntos à série A em 2004), Atlético Mineiro (rebaixado em 2005 e campeão da série B em 2006), Coritiba (rebaixado em 2005 e campeão da série B de 2007), Grêmio (rebaixado em 2004 e campeão da série B de 2005) e recentemente, o Corinthians, que caíra ano passado e que tem tudo para ser o campeão esse ano. Interessante é que geralmente os rebaixados, ao voltarem a série A, voltam mais fortes. Será que esse é o combustível que falta a Fluminense e Vasco para sonharem com dias mais gloriosos?

sábado, 25 de outubro de 2008

Lapidando o diamante da informação

Fatos ocorrem todos os dias, mas nem todos podem presenciar ao vivo o ocorrido (como mais de 50 mil pessoas podem presenciar uma partida a olho nu e milhões podem acompanhar por TV, rádio ou internet- sem precisar de alterações drásticas de jornalistas para a interpretação do jogo, que será interpretado de forma individual por cada espectador), e por isso a figura do jornalista é tão importante: este representará os olhos de várias pessoas, e quando relatar o fato, seus olhos valerão por todas essas que puderam ver a notícia com certo refinamento (um texto bem escrito e o conhecimento histórico para fazer o leitor ter o máximo de entendimento possível sobre o fato).
É claro que o jornalista tem uma vida pessoal, e nem sempre todos os locais que terá de cobrir farão parte de seu cotidiano: um renomado repórter com bom salário terá de se submeter a fazer matérias em lugares extremamente violentos (enquanto algumas profissões os empregados de maior status são poupados de atividades mais pesada, no jornalismo atividades deste porte tem de ser feitos justamente pelos mais renomados, que tem experiência para fazer um bom trabalho mesmo ciente do risco que está correndo), ou um repórter que leve uma vida simples e alternativa e terá que ir a lugares glamorosos e badalados se lhe for solicitado.
Autonomia é uma palavra que não combina tanto com jornalismo, por isso, tem de se cobrir o que o mundo pede, e não o que se quer apenas (o que não é algo ruim, afinal, estamos prestando serviço para o público em geral, e embora se possa escolher um público pelo qual se quer trabalhar- a exemplo do meu caso, o jornalismo esportivo-, deve-se levar em conta que mais importante do que o que se cobre- sendo do seu gosto ou não- é que estas coberturas farão um bem enorme para as pessoas que receberem a mensagem- por mais que as notícias não sejam positivas, o conhecimento é a melhor arma contra a ignorância, que por vezes pode ser confortável, mas aos poucos nos empurra para uma vida de fantasias onde imaginamos ter um controle que nunca foi nosso).
O jornalista não necessariamente deve quebrar as estruturas da sociedade, e sim incluir os fatos construtivos nessa própria estrutura, afim de fortalecer-la para o bem, tornando o mundo um lugar mais justo que possa melhorar de acordo com o seu ponto de vista.

São Caetano x Bahia - O jogo das controvérsias

Não é sadio insistir em críticas a arbitragem num torneio de pontos corridos, quando o maior responsável pela situação do seu time (que não nascera em apenas um jogo, mas no decorrer da competição) é a sua administração. Porém, no jogo de hoje contra o São Caetano, os torcedores do Bahia tem todo direito de questionar a péssima arbitragem que, embora não tenha sido a única responsável pela derrota tricolor, atrapalhou e muito qualquer esboço de reação.
O lance que deu o pênalti para o 2º gol do São Caetano pode ser considerado como interpretativo: a bola tocou na mão de Rogério, que até tentou tirá-la para não alterar o percurso da bola, que ia diretamente no pé do atacante Tuta, que teria uma grande chance de gol.
Os maiores absurdos surgiram no final da partida: com o time da casa ganhando por 2 a 0, o Bahia marcou um gol legal, tão clara a legalidade do tento que seu autor, Marcelo Ramos, estava há mais de 1 metro atrás do último homem do São Caetano, mas o bandeirinha carioca foi extremamente rápido para invalidar. Pouco depois, os tricolores fizeram um gol com Jones (que poderia ser o do empate e que certamente faria a equipe ficar mais atenta e segurar o resultado), mas em menos de um minuto o São Caetano fizera o 3º.
O maior absurdo foi a expulsão de Paulo Roberto: após uma falta que para a maioria dos árbitros merecesse uma simples marcação de falta, para Péricles Bassols Cortez mereceu um ‘amarelinho’ e, de forma inexplicável, Paulo Roberto, que não tinha cartão, foi expulso por receber o segundo cartão amarelo (o 4º árbitro também tinha essa anotação, que deve ter sido confundida com a infração do jogador do São Caetano de mesmo número de camisa, Luan, com a 11).
Se a arbitragem não bobear contra o Bragantino, quem sabe o Bahia não vence sua primeira partida fora de casa no returno?

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Viver sem dor

Bem amigos freqüentadores do meu blog (olá, tem alguém aqui?, hehe)! Eu estou num processo de unificação de meu conteúdo on-line, e quero juntar tudo que produzi em 7 sites pessoais (entre eles outros 3 blogs) e postar tudo no grandedobrasil.blogspot.com. Nem tudo ficará na mesma ordem, postarei aleatoriamente, até colocar todo o meu passado virtual aqui de forma organizada, dividida por temas. O primeiro post dessa 'nova era' será uma poesia chamada 'Viver sem dor', que escrevi após voltar da fazenda com meus pais e descobrir na volta da viajem que eles haviam decidido se separar. Foi uma dor para mim, tinha 14 anos na época e no dia seguinte não consegui prestar atenção na aula, e resolvi expressar no meio das explicações do professor as minhas sensações do momento, escrevi no caderno e deu este resultado:

Viver sem dor

Tem vezes que na vida
Não aguentamos caminhar
Sem vontade de viver
sem vontade de trabalhar

Só conseguimos crescer
Através da forte dor
E não conseguimos perceber
Que a vida não precisa de dor

Levante a cabeça, não desista, vá em frente
A vida não é feita de sofrimento minha gente
Cresça com os erros dos outros
Não com a dor
Pois a vida é feita de aprendizado e amor

Não espere ter uma grande dor
Para poder aprender
Que podemos crescer
Sem precisar sofrer

Nessa vida nada é maléfico
Nós precisamos saber
Que o acontecimento ruim
Serve para agente aprender

Conheça a grande síntese*
E os seus erros podem ser
Uma gota de renovação
Nesse seu grande ser

*Grande Síntese é uma espécie de força espiritual que visa enxergar a vida como uma série de acontecimentos divinos, em que todas as coisas pertencem a uma só unidade, e para estarmos em harmonia com o universo, precisamos enxergar que tudo faz parte da gente, pois somos parte da energia que faz a vida acontecer.

-> Post do blog Pense Positivo

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Lugar de jornalista é na rua

Como profissionais em busca de retransmitir para a sociedade os seus próprios valores (ou quem sabe conhecê-los para ajudar na transgressão construtiva), um jornalista precisa viver, sair de casa e conhecer o mundo pelo qual ele descreve.
Geralmente as coisas acontecem quando se está 'no mundo', e não na sua casa. Os livros são uma excelente ferramenta para o conhecimento, mas jamais substituirão a vivência prática de se expor, se envolver nas misturas do mundo, descobri-lo e depois relatá-lo. Um jornalista enclausurado no seu apartamento tenderá a ser um 'menino amarelo', e se tratando de jornalismo esportivo, deixar de cobrir os times de sua cidade (onde se tem oportunidade de ir aos treinos, conversas com os jogadores, ver os jogos de perto, compartilhar emoções com o torcedor presente e se emocionar pela proximidade das circunstâncias) para escrever sobre times distantes, nos quais não se acompanha a rotina dos jogadores e só se vê as partidas por tv, é como estar numa realidade virtual, onde do outro lado ninguém sabe da sua existência, e você acha que os conhece.
Deixar de ir ao centro de treinamento ver meu time de coração (e no qual eu estou escrevendo sobre) para ficar no sofá assistindo pela tv a Liga dos campeões da Europa enquanto como pipoca e guaraná me faria ser um 'foca* amarelo'. Um repórter sem tempero, sem ousadia, que busca conforto mesmo sabendo que o primordial é ir a fonte buscar a informação, e não recorrer a outro jornalista se submetendo a condição de 'parasita' (já que numa cobertura de torneio internacional se está pegando carona do trabalho de outros profissionais da comunicação, que transmitem, editam, comentam, e você dará apenas palpites de mesa de bar sem saber a fundo toda complexidade que envolve a partida ocorrida tão longe de você).
Jornalista ético, sério e competente vai buscar da fonte as suas respostas, e não se aproveitar das respostas direcionadas a outros jornalistas e assim apenas 'mudar as palavras' para dar a impressão que esteve 'no mesmo lugar do concorrente'. Com a internet, os furos de reportagem perderam parte de seu valor, já que a instantaneidade das informações fazem a corrida não parecer diária, e sim a cada segundo, logo, segundos são tão poucos que não se sabe quem descobriu algo novo primeiro.
Portanto jornalistas, tratemos de 'sujar as mãos' (no sentido de renunciar ao luxo e cair no mundo real) para sermos independentes (não quero dizer ausência a subordinação de alguma empresa, e sim competência para lidarmos sozinhos- ou com a nossa equipe- com a responsabilidade de dar nossas informações, para isso, estudemos, pratiquemos, e principalmente, vivemos!)

*Foca é como são chamados os jornalistas iniciantes

obs: Eu acho que dias em casa sozinho tem o seu valor, refletir, ler um livro e ociar terão seu espaço no cotidiano, só que como jornalistas, não podemos nos dar ao luxo de 'não sair de casa' (em algumas profissões seria até aceitável), pois temos uma responsabilidade de informar, e parte das informações não se encontram na bolha em que você vive isolado, e sim no mundo diverso que você terá de encarar.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Campeonato brasileiro

Divisão das 4 séries

Ano que vem surgirá uma nova liga no Brasil: a série D! Como base da pirâmide do futebol nacional, a 4ª divisão terá uma função igual a da série C de hoje: as equipes que conseguirem as melhores posições nos campeonatos estaduais terão vaga no torneio de 4 fases, sendo as 3 primeiras quadrangulares regionais e a 4ª e última um octagonal reunindo 8 melhores ‘Do Oiapoque ao Chuí’.



Já a futura série C será uma liga como a B e A: 20 times, com os últimos colocados sendo rebaixados a divisões inferiores e os melhores colocados garantindo acesso à divisão superior. A série C contará com: Paysandu-PA, Luverdense-MT, ASA-AL, Salgueiro-PE, Guaratinguetá-SP, Mixto-MT, Ituiutaba-MG, Marcílio Dias-SC (que foram eliminados no 3º quadrangular), Sampaio Corrêa-MA, Icasa-CE, Caxias-RS e América-MG (que apesar de eliminados no 2º quadrangular, foram os melhores terceiro colocados dessa fase) e mais oito times que ainda surgirão (os 4 times da atual 3ª divisão que não conseguirem acesso a série B e os da atual série B que forem rebaixados- provavelmente o CRB de Maceió será um deles).
No início, nota-se uma tendência a esta nova série C ser mais democrática, com mais times de estados do centro-oeste e norte (e poucos de São Paulo). Provavelmente com o tempo, a força dos estados mais ricos irá prevalecer nessas ligas, ao tempo que estados mais pobres verão seus times rebaixados.
A série D será mais enxuta, com apenas 40 equipes (bem menos que as 63 no ano de 2008). São Paulo, que antes era o estado com mais times na série C, tinha 5 representantes, e na série D terá apenas 3 (assim como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul). 17 estados e o Distrito Federal só poderão levar os campeões dos maiores torneios de seus estados, e os demais estados levarão o campeão e o vice do estadual (Bahia, Goiás e Pernambuco) ou o campeões estaduais e da copa do estado (Paraná e Santa Catarina).

Outras tendências para 2009

Alguns times da série A reinam soberanos, sendo representantes únicos de seus estados na elite do futebol nacional. Isso pode mudar ano que vem: com eventuais acessos de Avaí de Florianópolis e Vila Nova de Goiânia, Figueirense e Goiás terão clássicos também no 2º semestre.
Já o futebol carioca pode contar ano que vem com apenas 2 times na série A (já que Vasco e Fluminense estão na zona de rebaixamento) e o estado que representou o país na primeira copa do mundo poderá ter o mesmo número de representantes de Pernambuco, Goiás, Minas (levando conta o rebaixamento do Ipatinga), Paraná(caso o Atlético não queira fazer companhia ao Paraná Clube na série B), Santa Catarina e Rio Grande do Sul (todos esses com também 2 representantes), enquanto São Paulo poderá voltar a ter mais de 4 times (o Corinthians praticamente já subiu, o Santo André se encontra bem na 3ª colocação e a Portuguesa não deve cair) e a Bahia com apenas o Vitória.
Já na série B, alguns clássicos estaduais podem desaparecer: com a eventual queda de Gama de Brasília e América de Natal, Brasiliense e ABC ficarão sem seus pares, respectivamente.

No topo da Pirâmide

Os 2 primeiros colocados da série A surpreendentemente não pertencem nem ao Rio de Janeiro nem a São Paulo: o Grêmio do Rio Grande do Sul continua na liderança, agora seguido pelo Cruzeiro de Minas Gerais. Em apenas dois campeonatos brasileiros da série A ocorreu de campeão e vice não serem de São Paulo e Rio de Janeiro: em 1975, quando o Internacional conseguiu seu primeiro título ao vencer o Cruzeiro de Belo Horizonte, e em 1988, quando o Bahia venceu o Internacional .

Brasil campeão mundial de futsal

Brasil x Espanha

Desde a derrota na Guatemala em 2000, estávamos com a Espanha engasgada. Achávamos que, apesar de ‘La fúria’ (apelido da seleção espanhola) ser a 2ª força do futsal mundial (atrás de nós brasileiros), aquela derrota havia sido um acidente de percurso dificilmente repetido no novo século que surgiria. Como no futsal não há tantos torneios em que essas duas seleções possam se enfrentar (a exemplo do futebol de campo com copas do mundo, das confederações e olimpíadas), os 4 anos até a copa do mundo realizada em Taiwan demoraram uma eternidade. Em 2004 enfrentamos nossos principais rivais na semifinal, e perdemos nos pênaltis, o que firmou a Espanha como a seleção de futsal mais bem sucedida da atualidade (já que era a atual bi-campeã consecutiva e havia disputado as 3 últimas finais- e o Brasil se contentara com um ‘modesto’ 3º lugar em 2004).
Expectativa não faltou para o mundial de 2008, que além do fato de que precisávamos quebrar a série de conquistas da Espanha, seríamos o país sede. Os jogos em Brasília na 1ª fase não foram difíceis, como esperado, mas nem por isso deixei de ‘filar aula’ para assistir, empolgado, um Brasil Vs ILHAS SALOMÃO! Já os espanhóis se complicaram em um dos jogos: estavam tomando 3 a 0 para o surpreendente Irã, mas conseguiram empatar.
Passamos por Japão, Ilhas Salomão, Rússia e Cuba na 1ª fase, Irã, Itália e Ucrânia na 2ª fase e Rússia na semifinal, vencendo todas as partidas, marcando 62 gols e sofrendo apenas 6. Já a Espanha, empatou com o Irã e foi a prorrogação da semifinal contra a Itália (o gol que dera sua vaga na final fora polêmico- marcado no último segundo para uns, para outros, deveria ser invalidado por o cronômetro ter sido zerado). A Espanha marcou 27 gols e sofreu 9, campanha bem inferior a do Brasil.
Na final, de nada valia retrospecto: as duas maiores potências do futsal se enfrentariam mais uma vez, sendo que os espanhóis buscavam vingança pela vitória que o Brasil conquistara em plena Espanha (em 96, última conquista brasileira). O 1º tempo em 0 a 0 era reflexo da postura séria das duas equipes, extremamente atentas e calculistas como num jogo de xadrez. O gol do Brasil veio de forma inesperada: gol olímpico de Marquinhos (na verdade, contou com o desvio do espanhol Marcelo, que ao levar a bolada no rosto, saiu por um tempo da quadra). A Espanha igualou o marcador em um chute inesperado de Torras, em que a marcação brasileira bobeou . Depois de um bate rebate, perto do fim, Vinícius (irmão do número 10 Lenísio) marcou um gol chorado que ‘poderia’ ser o gol do título. ‘Poderia’, se a Espanha desistisse, mas como isso não aconteceu (inclusive os espanhóis usando uma das inovações do futsal moderno, o ‘goleiro linha’- no caso, o número 8 Kike-, em que um jogador de linha entra com roupa de goleiro com bola rolando, após a equipe passar do meio campo, para assim ajuda-la no setor de ataque), Alvaro aproveitou cruzamento rasteiro da direita e colocou no fundo da rede.
Na prorrogação, se percebeu nitidamente a ausência de ousadia dos dois lados, ainda porque o craque do mundial, o brasileiro Falcão, estava com um problema no joelho e não pode ajudar a equipe nos instantes finais- ele que havia anunciado que caso não vencesse essa copa, não jogaria mais pela seleção. Nos pênaltis, o goleiro Tiago (que mais tarde fora escolhido como 3º melhor jogador do torneio e goleiro menos vazado) fora substituído por Franklin, que é mais alto e melhor em pegar pênaltis (por sinal, pegou 2 e ajudou o Brasil a ser campeão mundial!)


Potências emergentes

Se tratando de tradição, Brasil e Espanha no futsal estão num patamar de Brasil e Portugal no Beach Soccer, Estados Unidos e Alemanha no futebol feminino e Brasil, Alemanha, Itália e Argentina no masculino no gramado.
Mas nos salões a Itália tem posição de destaque nas duas últimas competições: chegou a final em 2004 e ficou na 3ª colocação esse ano (sendo que o polêmico jogo da semifinal é extremamente controvertido, como já afirmado anteriormente). Embora a maioria de seus jogadores sejam estrangeiros naturalizados, este país pode ser em breve uma potência no futsal mundial pela construção de tradição (embora não tão vitoriosa se tratando de títulos) ao longa das competições.
Mas sem dúvida, a sensação desse mundial foi o surpreendente Irã: no jogo de estréia, chegou a abrir 3 a 0 sobre a Espanha (o jogo terminara 3 a 3), depois vencera todos os outros jogos da 1ª fase, classificando-se com facilidade num grupo que contava também com Líbia, Uruguai e República Tcheca. No jogo de estréia da 2ª fase, perdera pela menor margem de gols para o Brasil (1 a 0), vencera a respeitada Ucrânia e só não conseguira a classificação para as semifinais porque empatara com a Itália, e os europeus tinham melhor saldo de gols (tanto que ambas equipes terminaram a 2ª fase com 4 pontos). Quem sabe da Ásia não surgirá uma nova potência dos salões?

O Brasil no cenário das grandes competições esportivas

Desde o final do século XX, o Brasil já mostrava empenho para atrair mais eventos midiáticos para suas terras: no início do ano 2000, fora sediado em Londrina o pré-olímpico sul-americano de futebol, e em esfera intercontinental, o 1º mundial de clubes da Fifa, com jogos no Morumbi e Maracanã, que fora vencido pelo Corinthians. As investidas para sediar olimpíadas eram grandes: Brasília foi candidata em 2000, o Rio de Janeiro em 2004, 2012 e ainda está concorrendo para 2016. Para copas do mundo, nos candidatamos em 2006 e 2010 e perdemos, mas iremos sediar em 2014, e de quebra, sediaremos a copa das confederações em 2013 (torneio esse que acontece 1 ano antes da copa no país que sediará o torneio principal de futebol).
Já sediamos os jogos sul-amerianos (um evento numa esfera menor que o pan-americano e ocorreu no Rio de Janeiro, São Paulo e Belém, em julho de 2002), os jogos pan-americanos e para-pan-americanos (ambos no Rio de Janeiro em 2007) e essa copa do mundo de futsal (Em Brasília e Rio de Janeiro) só confirmou o fato que nós brasileiros temos capacidade de realizar grandes competições.

sábado, 18 de outubro de 2008

Bahia-0 x 3-Corinthians

Sertão com sotaque paulista
Corinthians vence Bahia em Feira com apoio de sua torcida

Está certo que o estádio do Jóia da princesa, em Feira de Santana, não é a casa do tricolor de Salvador, mas pela primeira vez o Esporte Clube Bahia viu uma torcida que rivalizava em quantidade com seus apaixonados fãs: os corintianos.
Vindo de diversas partes, como interiores próximos e até de São Paulo, a torcida alvinegra apoiou seu time do início ao fim, mas claro, com uns certos artifícios para tornar essa 'paixão' esteticamente mais impressionante: microfones da Rede Globo apontavam principalmente para os setores do clube paulista, afim de captar o som com maior precisão e mostrar à Globo nacional (com narração de Cléber Machado e comentários do ex-jogador Caio), focada em agradar o público de São Paulo, que a torcida corintiana é um reflexo da situação atual do time, que muito provavelmente estará na série A de 2009.
Foi clara a superioridade do Corinthians no jogo: mais pacientes, os líderes do campeonato não mostravam a mesma ansiedade demonstrada do outro lado. Se cometeram mais faltas durante a partida, a deslealdade ficou mais para o lado tricolor (a exemplo da pisada que Rogério deu em Dentinho) que, nervoso, levou um gol numa falta de atenção incrível de sua defesa (que deixou o baixinho Morais abrir o placar no início da partida) e não conseguiu criar tanto (embora nas vezes que conseguiram finalizar, faltou em precisão). Os dois gols de Dentinho apenas 'fecharam o cachão' de uma derrota já decretada.
Num jogo com clara parcialidade jornalística, com comentários da Globo que visavam a melhora do time do Corinthians para vencer o Bahia, não julgo tais atitudes anti-éticas, afinal, o público que a globo quer atingir é o de São Paulo, de onde seus empregados ganham dinheiro. O problema é ter de ver essa transmissão, já que aqui temos Thiago Mastroianni para narrar os jogos dos times locais. Em um ano atípico, em que o tricolor ficou 'sem teto', ficar mais um ano na série B não é mal negócio, o que é péssimo é ser submetido a categoria de time periférico, sendo humilhado por derrotas elásticas dentro do próprio estado e se sentir um estrangeiro dentro do próprio país (e a responsabilidade é de que permitiu a globo nacional ser transmitida na tv Bahia).

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sobre o sequestro em Santo André, terminado hoje

O medo correspondeu às expectativas
Policiais entram em horário de verão antes do previsto, agem tarde demais e não evitam tragédia

'Conturbada' é o adjetivo mais apropriado para o quesito 'segurança pública' no Brasil essa semana. Se Salvador nos últimos meses sofrera recorde de baixas policiais, o resto do Brasil não conseguiu evitar baixas civis por incompetência (entenda civil como pessoa comum, e não polícia civil). Há quem ainda teste os limites da fraca polícia brasileira e consiga êxito, confirmando a tese de que não devemos confiar nas próprias pessoas que cuidam da segurança em nossas cidades.
Em São Paulo, a greve da polícia civil não chegou a parar todos os setores das delegacias (tanto que o fim do seqüestro de 100 horas terminado hoje contou com a colaboração destes), e quando estes foram protestar por melhores condições de trabalho, adivinhe de onde vinheram atos de coibição? Da polícia militar (que hoje mesma trabalhara em conjunto com estes), ordenada pelo governo a silenciar seus colegas na base do cacetete, só que como do lado dos manifestantes todos sabiam bater igualmente, o fato virou um confronto disputadíssimo. Eu jamais imaginaria que um dia leria matéria acerca de um confronto armado entre policiais no meio das ruas (já não bastasse confronto entre traficantes rivais, não sei o que se pode esperar se tratando de ‘confronto’ neste circo chamado Brasil, talvez quem sabe ‘câmera de deputados Vs Senado’, a base das ‘cadeiradas’).
Não gosto de adotar todos os modelos que dão certo no exterior para se adequarem aqui no Brasil (foi 'valorizando demais' o que vem de fora que fizemos uma revolução negativa no nosso setor de transportes de carga, dispensando os trens -mais seguros, velozes e sem danos para estradas- e trazendo os caminhões), mas certamente, em termos de segurança pública, deveríamos olhar para o modelo dos Estados Unidos, onde a hierarquia não é tão complexa (nos EUA há só uma polícia, comandada pelos municípios, enquanto no Brasil há a civil e a militar, comandadas pelo governo estadual) e seus profissionais são mais eficientes não só para reprimir crimes, como também para prevenir.
"O procedimento da Swat é negociar por até 24 horas, depois o segundo passo é a invasão e o terceiro recurso é o uso dos atiradores de elite, ou snipers. Mas no Brasil não há esse limite de tempo".- comenta o brasileiro Marcos do Val, policial da Swat em Dallas há 9 anos, sobre o demorado seqüestro em Santo André esta semana. Marcos, de férias no Brasil, vem acompanhando toda a rotina das negociações, contou para seus colegas do Texas, e estes não acreditaram na demora da polícia. Algumas fontes afirmaram que a polícia só agiu após o 1º de 2 tiros (afirmou um policial que não quis se identificar), e outras afirmaram que os tiros disparados pelo seqüestrador foram frutos da invasão policial mal planejada(como afirmou um espectador anônimo).
As unidades especiais da polícia americana (a exemplo da SWAT- Special weapons and tactics- e FBI- Federal Bureau of investigation), por mais que filmes hollywoodianos colaborem para sua fama de 'infalíveis', lidam com situações muito mais difíceis muito mais vezes (os criminosos nestes casos são tão especialistas nas suas ações como os próprios policiais), mas a nossa melhor polícia, a GATE (Grupo de ações táticas especiais) não conseguiu solucionar um seqüestro 'amador' (realizado por um jovem inexperiente e sem tantos recursos táticos ou apoio), demorou para agir, e de quebra acabou com um desfecho trágico: as duas jovens foram baleadas, sendo que uma delas está em estado gravíssimo por levar um tiro na cabeça.
Sobre o caso deste seqüestro (que começou na 2ª feira a tarde, quando Lindemberg, 22, foi a casa da ex-namorada Eloá, 15, que estava estudando com colegas, e a fez de refém junto com sua melhor amiga Nayara, 15, e dispensou os outros - lembrando que o atual namorado de Eloá iria para o estudo, mas acabou tendo indisposição estomacal, o que pode ter lhe salvado a vida), vale lembrar como se resumiu a cobertura da mídia: até a 6ª feira a tarde, Lindemberg não era visto como 'tão perigoso' (pelo fato de não ter antecedentes criminais e trabalhar) para um canal de 24 horas de notícia que passara todos esses dias dando enfoque especial ao caso (inclusive convidando um psicólogo e um advogado para serem comentaristas).
O psicólogo se mostrava demasiadamente compreensivo com o comportamento deste jovem (tratando este ato com uma 'flexibilidade' irritante), e o advogado contava o tempo em que o jovem passaria preso (que inicialmente seriam de 2 a 8 anos- antes dos disparos às refens), alegando sempre que 'por não se tratar de um criminoso em busca de dinheiro e sim um jovem agindo passionalmente', sua pena poderia ser reduzida e certamente ele ‘levaria uma vida normal’. Teve quem foi dar apoio àos pais das reféns, dando a 'certeza' de que tudo terminaria certo (mesmo sem conhecer o seqüestrador em questão e sem ter noção da inoperância da polícia), e ainda com discursos de que 'são coisas do amor, quem sabe um dia eles ainda ficam juntos'. Foi preciso o criminoso/psicopata/doente em questão 'decepcionar' as expectativas dos 'cegos' que não o viam como ameaça para a 'esperança' se transformar em 'silêncio'. As vozes ouvidas a partir daquele momento eram de críticos sérios que não tiveram piedade para apontar todas as falhas gravíssimas da polícia (que já pisara na bola por ter deixado uma das reféns, Nayara, ter saído do cativeiro e entrado de novo para negociar, e por lá ficar novamente).
Em pouco tempo, a história do casal veio à tona sem censuras: dois desequilibrados que em 3 anos de namoro freqüentemente brigavam e ameaçavam a própria integridade física para chamarem atenção um do outro (Eloá já fora vista com uma faca apontada para si mesma, afim de chamar atenção de Lindenberg que 'tinha capacidade de se matar').
No Brasil, os fatos não estão sendo claros o suficiente para serem enxergados nem para setores importantíssimos da sociedade como a imprensa e a polícia. Fica muito difícil confiar no que lemos (talvez por isso os moradores das redondezas do seqüestro foram tão hostis a imprensa sem dar tantas explicações- inclusive ameaçando jornalistas), e mais ainda, nos que 'nos protegem'.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u456939.shtml
http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=1030851

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Brasil-0 x 0-Colômbia (RJ), eliminatórias para a copa 2010

A maior prova de que os números e estatísticas não podem medir o grau de satisfação de um torcedor é situação da seleção brasileira nas eliminatórias para a copa do mundo de 2010: na vice liderança (embora 6 pontos atrás do líder Paraguai), o Brasil passou sem balançar as redes em metade dos jogos que disputou (das 10 partidas, foram 4 empates sem gols e uma derrota para o líder por 2 a 0 em Assunção), há 3 jogos não balança as redes dentro de casa (embora tenhamos vencido as 2 últimas partidas fora), em contrapartida, o goleiro Júlio César estabeleceu novo recorde de invencibilidade (são 5 jogos e alguns minutos sem levar gol) e o Brasil continua com um tabu positivo: o de nunca ter perdido um jogo de eliminatória dentro de casa (sendo que para essas eliminatórias ja pegamos as 2 principais forças do continente no nosso solo: vencemos o Uruguai e empatamos com a Argentina).
Desde que o Brasil vem disputando eliminatórias nesse formato, onde todos jogam contra todos em turno e returno (e com sequência idêntica a de 2002 e 2006: Colômbia-> Equador -> Peru -> Uruguai -> Paraguai -> Argentina -> Chile -> Bolívia -> Venezuela), alguns confrontos tem mostrado certa semelhança: contra a Colômbia, por exemplo, foram 6 jogos, 4 empates sem gols e 2 vitórias do Brasil (uma por 2 a 1 em Barranquila em 2003 e uma por 1 a 0 em São Paulo em 2000), somando-se 4 gols, o que dá uma média inferior de gols por partida, e se analisarmos os confrontos entre Brasil e Colômbia no Brasil, foram 2 empates sem gols (em Maceió em 2004 e Rio de Janeiro ontem) e a ja citada apertada vitória em São Paulo, o que dá 1 gol por 3 partidas.
O futebol sul-americano não está em ascensão: mesmo com muitos jogadores fazendo relativo sucesso em clubes europeus (a exemplo do peruano Farfan no Schalke 04 da Alemanha, do paraguaio Roque Santa Cruz no Blackburn da Inglaterra e de Jiménez na Internazionale da Itália) a maioria dos países não se encontra num grau de competitividade alto como as seleções européias: aqui as forças continentais se resumem a Brasil e Argentina (tanto que o Paraguai, que é o emergente e tem tudo para ir a sua 4ª copa do mundo consecutiva, está longe de estar num patamar de Portugal, Espanha, França, Itália, Inglaterra, Holanda, Alemanha e República Tcheca- os emergentes europeus por sinal, a exemplo de Croácia, Turquia, Rússia e Suécia, jogam um futebol muito mais convincente que o Brasil por exemplo).
O jogo de ontem deixou claro que falta organização a equipe brasileira, que encontrou dificuldades de criar jogadas e, nas poucas que levaram perigo, faltou finalizar bem. A cadência imposta pela seleção auri-verde precisa ser repensada, e a velocidade de passes curtos buscando o meio da área fará sermos eficientes sem perdermos a nossa identidade (pois não dá para ficar dependendo de Kléber na esquerda para cruzar na área, se pelo meio temos atletas diferenciados que invertendo jogadas com passes rápidos, prendendo menos a bola, podemos vencer a resistência adversária).
Não se sabe até quando a CBF deixará Dunga, mas pela 3ª vez, fora ouvido os gritos de 'Adeus, Dunga, Adeus, Dunga...'. Resta saber se o presidente Ricardo Teixeira poupará nosso tetra-campeão dessa humilhação (consequência do seu despreparo) ou insistirá apenas por, matematicamente, estarmos bem.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Sobriedade e fanatismo: os limites do futebol, crônica da aula de Alex

Dentre as diversas representações que podem metaforicamente representar a vida de um ser humano em sociedade, o futebol é a mais fiel delas, sobrepondo-se ao cinema, música e literatura.
Não há evento que prenda tanto a atenção das mais diversas tribos. Alguns chamam de alienação, já eu chamo de identificação com suas vidas. Se de fato políticos usam deste esporte para alienar, não é responsabilidade do jogo promover tamanha ignorância, já que este fora transformado numa arma para quais seus criadores não imaginavam tais fins, assim como Santos Dumont deprimira-se ao ver sua invenção ser usada para fins militares.
Pelos estádios que já visitei, pelos bares em que bebi em dia de jogo e por rodas de debates fervorosos nos mais surpreendentes ambientes – como hospitais- sempre estive atento em busca de informações futebolísticas, e sempre enriqueci com tais experiências.
Incrível como numa nação que se autodenomina “o país do futebol” o jornalismo esportivo ainda seja considerado a “periferia” das redações: para alguns, os cadernos de esportes são reservados para jovens iniciantes ou profissionais frustrados. Pior que o desprezo dos próprios colegas de profissão com esse setor é o fato de que as publicações acerca do futebol lutem tanto para se manterem, inclusive a 1ª revista especializada deste esporte no Brasil (a Placar) só surgiu na década de 70, diferente dos verdadeiros apaixonados por futebol, os italianos, que na década de 20 já tinham uma imprensa esportiva respeitada em toda a Europa, com diversas publicações dedicadas aos seus times e astros.
O futebol é sério e enlouquecedor, sóbrio e apaixonante, tão antagônico como a própria vida, a sua principal representação.

sábado, 11 de outubro de 2008

Os acertos de um errante

Errante sou eu
Trovador dos tempos do apogeu
Violão na mão tocando meu coração
Eternamente vivendo amores de verão

Repertório vario
A vida varia
E por lugares variei
Até um dia em que acertarei...

Ou acertaria em cheio na sua alma
Depois de tanto variar
Se achasse o ponto certo
Aqui para sempre iria ficar

Se você quiser, limito-me a uma só nota
A sua nota favorita
Princesa da minha vida
Que não faz questão da minha vinda

Vida cigana tenho eu
Por lugares me perdi, por amores me encontrei
Conheci o mundo, e por esses lugares fiquei
Procurando ser feliz, e feliz tenho conseguido ser

Um errante pelo mundo tem sido eu
Nem por isso me lamento pelo que aconteceu
Muitos castelos posso ainda visitar
Não te espero às portas de seu palácio a me aclamar

Vida errante
Acerto divino
Ainda não há espaço para uma só repertório
Comédia, romance, marcha ou hino

De tudo toco um pouco
Sou feliz assim
Seria mais ainda
Se você viesse pra mim

4ª atividade de estudos culturais

Identitários contemporâneos

A realidade apresenta um cenário de diálogo entre as territorialidades globais e locais. Ou seja, o local e o global compõem o panorama político da contemporaneidade em uma relação de troca contínua e permanente. A construção da amplitude territorial está mediada por relações de poder complexas que envolvem, ao mesmo tempo, conflito e negociação entre diversos grupos.

Os temas que serão discutidos nesse espaço estão relacionados as "identidades emergentes": RAÇA e GÊNERO



Pergunta(raça): A partir das leituras e atividades anteriormente desenvolvidas podemos inferir que: "A identidade e a diferença estão, pois, em estreita conexão com relações de poder" (SILVA, 2000, p.81) . Tal afirmativa nos remete à lógica do etnocentrismo.
Considerando o relativismo cultural e a carga histórica da colonização brasileira, de que forma podemos afirmar que a substituição da acepção "raça" por "etnia", enfraqueceria a luta das minorias? Justifique sua resposta.


Resposta: O 1º passo para a solução de um problema, especialmente de longas datas (como o racismo no Brasil) é reconhecer que de fato existe um problema. Conhecê-lo a fundo e colocá-lo numa balança (como fazem os relativistas, afim de conhecer os mecanismos sociais que fizeram este se desenvolver) fará com que se busque soluções, e identificar o que se quer corrigir com um nome ajuda a rotular, facilitando suas ações que terão um destino para agir. Se a palavra ‘raça’ deixar de significar a característica biológica dos seres humanos, automaticamente o termo ‘racismo’ desaparecerá, e como a sociedade como um todo já conhece bem esse termo, a luta por igualdade racial perderá força. No caso da palavra raça ser substituída por etnia, o termo que fará referência ao preconceito envolvendo características biológicas será ‘etnicismo’, e demorará muito até a sociedade como um todo se acostumar com essa referência e assim usá-la contra a opressão de pessoas de raças subjugadas (por mais que alguns teóricos argumentem que raça não se deve usar para diferenciar seres humanos, o termo já está muito forte na mente de todos, logo, não se deve alterá-lo)

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Pergunta(gênero): À luz da discussão realizada na aula 4 da Unidade 3, e da leitura do conto "A Moça Tecelã" de Marina Colasanti disponível no site http://www.releituras.com/i_ana_mcolasanti.asp, explique a epígrafe da referida aula:

“Você não nasce mulher, torna-se.”
Simone de Beauvoir


Resposta: O simbolismo que a sociedade cria e espera de uma mulher é extremamente repressor com quem não cumpre suas expectativas. Comportamentos, que antes se imaginavam ser ‘naturais e genéticos’, passaram a ser estudados por cientistas sociais, que elaboraram teses que afirmam que tais condutas não passam de criações sociais, ou seja, são artificiais e servem como instrumento de dominação, acima de tudo porque é mais fácil controlar grupos menos diferenciados, e é por isso que as pessoas e grupos que Detem os mais diversos tipos de poder (nesse caso, os homens) investem seus esforços na construção de grupos que pensam e agem de forma padronizada (a tentativa bem sucedida da sociedade, através de órgãos como a mídia, de construir papéis sociais para grupos, como as mulheres).
Desse modo, a mulher se constrói com o decorrer do tempo, e a mudança que a fará ser adequada para a sociedade é artificial, como quis afirmar a autora Simone de Beauvoir na frase “Você não nasce mulher, torna-se.” Do mesmo modo, no texto de Marina Colasanti, os homens, como grupo dominante no que se diz respeito a gênero e que por todos esses anos através da repressão marcam seu espaço, usaram e usam as mulheres para conseguir suas metas, sejam deixando-as trabalhar em casa sem perspectiva de crescimento profissional ou seja usando de suas habilidades para se conseguir o que se quer (sem se preocupar com os danos causados, assim como no texto “A moça tecelã”).

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O 'macaco velho' das articulações

O continente americano não fora ‘descoberto’ pelos europeus com outro propósito a não ser exploração de seu território e povo, fazendo deste novo continente a periferia do mundo (ao lado da África e Ásia).
Sempre houve resistência por parte dos nativos, e os europeus nunca encontraram facilidades para dominar, e por mais de 500 anos vem impondo sua autoridade nestas novas terras assim com a elite européia tanto explora até hoje o seu operariado (ou seja, onde quer que esteja, o povo estará fadado a sofrer opressão, e se tratando de política –deixando de lado as relações inter pessoais- benefícios aos emergentes sempre terão segundas intenções, pois não se ajuda simplesmente, e sim troca-se favores).
O teor agressivo característico de alguns líderes revolucionários foram válidos, e os legados de Mao Tse-Tung, que tentou unificar a China e livrá-la da dominação estrangeira (embora com muito derramamento de sangue e mesmo assim sem conseguir realizar sua meta devido a causos que estavam fora de seu controle), Che Guevara (que tinha planos para tornar uma América mais justa, e conseguira seu feito no 1º país em que lutara –Cuba- mas falecera tentando libertar o 2º país –Bolívia) e Emiliano Zapata (mexicano que liderou a revolução no seu país, derrubando uma ditadura que em muito se assemelhava com o sistema feudal –em que nativos tornavam-se escravos por dívidas) para sempre estarão nas nossas mentes e corações, mas se pudermos aliar o inconformismo por ver tantas injustiças aliado a inteligência de articular jogo político (coisa que os membros de políticas de direita sabem fazer muito melhor que os de esquerda), encontramos um ser real, cheio de defeitos, que de alguma forma decepcionou muitos e decepcionou em alguns momentos a si próprio (talvez por descobrir com o próprio poder que era mais difícil se trabalhar do que antes imaginava), mas que certamente, colocando suas condutas numa balança, chegamos a conclusão que este é a maior referência de líder político moderno: o presidente Luís Inácio Lula da Silva.
A sua adequação aos novos tempos se tornou evidente nas eleições de 2002: com uma equipe de marketing extremamente competente, que lhe colocou uma imagem mais agradável para setores da sociedade importantes para dar e tirar poder como a classe média (que tirou Collor do poder em 1992 e elegeu e re-elegeu FHC), Lula conseguira, depois de 3 tentativas, se eleger presidente da república. Está certo que durante os mais de 10 anos em que ele tentava sua meta, poderia ter feito alguma graduação (economia ou ciências sociais fariam um bem enorme) e um curso de inglês (para poder discutir assuntos de estado –muitas vezes sigilosos- com autoridades estrangeiras sem precisar de mediação de tradutores), e que a compra de votos para fortalecer o poder legislativo da sua legenda realmente tenha existido (embora Lula não tenha assumido, e se assim o fizesse, sofreria Impeachment, tamanha pressão que alguns veículos de comunicação faziam para isto acontecer, secando seu trabalho como urubus famintos que esperam a morte para comer a carniça), mas o jogo sujo que ele se submeteu faz parte da política e sempre fez, embora houve má vontade de algumas partes em julgá-lo por ele ser a ‘voz da esperança que tanto prometeu’.
A política é naturalmente um jogo imundo: não se ganha por idéias, e sim por articulações, procurando fazer aliança com os mais fortes, dispensando os mais fracos (já que não há lugar para todos no seu governo, e sim para quem de fato pode te fazer chegar lá), vendendo sua imagem e expondo-a intensamente, para através da redundância, se tornar um ícone conhecido. Propagandas têm de ser feitas pelos melhores profissionais da área (que irão cobrar muito, por isso é extremamente caro se eleger), troca de favores tem de ser decisões tomadas com cuidado, pois ambas as partes querem sair ganhando, e muitas vezes, um terá pretensão de ser mais esperto do que o outro para levar vantagem (por isso, não há apoio gratuito a candidaturas, como o deputado ACM Neto- DEM- supôs ter feito com o candidato ao 2º turno de Salvador João Henrique-PMDB, partido do ministro da integração nacional Geddel Vieira Lima, um dos homens de confiança de Lula no congresso- a imprensa não deve estar sabendo, mas com certeza houve alguma troca de favores entre ambos, se não deixaria de ser política para virar ‘amizade’- possibilidade inválida para esse contexto, já que ACM Neto tanto criticou João na sua candidatura).
Lula é um dos exemplos em que se pode ter popularidade com diversos pólos sem deixar de ter credibilidade com o povo (que o elegeu e o aprova em pesquisas): ou você conhece caso precedente na política de alguém que foi ao enterro de Ruth Cardoso e ganhou um beijo na testa de FHC, que mostra descontração nos encontros com o Bush, que convidou Fidel Castro para a sua posse, que respirou fundo ao assistir impotente às ações nacionalistas de Evo Morales e que, sabendo que não se pode desagradas aliados, opta por não dar apoio a nenhum dos candidatos do 2º turno de Salvador (Pinheiro, de sua legenda –PT- e João Henrique, do PMDB, partido que além de ser da base aliada, é liderado por Geddel Vieira Lima, que tanto te apoiou na re-eleição).
Fazer política é acima de tudo saber vender bem sua imagem, buscar alianças fortes, conseguir se eleger (e para isso, buscar artifícios diversos, como propagandas e alianças) e se possível agradar ao máximo de pessoas que se conseguir sem perder sua credibilidade. Por mais bonitos que sejam seus ideais, estes acabam perdendo força ao entrar no processo de execução para se chegar ao poder, caso contrário, continuaremos sonhando com um mundo que não poderemos alcançar (a exemplo dos diversos partidos que surgiram por ex-membros do PT, que achavam que chegando ao poder poderiam colocar em prática todas as suas idéias sem restrição).




Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Lula nas companhias de Bush, Fernando Henrique (no enterro de Ruth Cardoso), Hugo Chávez e Evo Morales, Fidel Castro, ACM e MST.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Um mosqueteiro só

Era uma vez (começo assim para dar uma falsa impressão de 'conto de fada') um mosqueteiro só. Certamente você já ouviu falar na história dos 3 mosqueteiros, mas este em questão vivia sozinho em suas próprias terras e mesmo assim era tratado como forasteiro. Tudo que conseguiu na vida, todos os pastos que fez crescer, todo o gado que mantinha e todas as moscas que matou, além de tantas outras coisas este mosqueteiro conseguiu sozinho, sem apoio de ninguém, e na base da garra, já que tecnicamente não era um bom camponês, mas nem sempre a técnica fala mais alto.
Esse mosqueteiro chamado Grêmio já conquistara o mundo, e hoje luta para conquistar novamente o seu país (pela 3ª vez). A cada década, um triunfo (81, 96 e quem sabe neste ano de 2008, o ‘tri-campeonato tri-legal tchê’). Todos falavam mal dele, sejam vizinhos ou pessoas distantes. A verdade é que quando este entrava em ação, dava a impressão de se tratar de um alienígena, e não de uma pessoa qualquer.
O mosqueteiro desistiu de exigir respeito dos outros, pois sabe que seus resultados respondem por si próprio: liderando o ranking da CBF, com tantos títulos e um estilo próprio de jogar (que muitas vezes dispensa a 'malemolência' brasileira para incorporar o melhor da raça argentina). Para ser feliz é preciso ter consciência de uma única coisa: enquanto confiares em ti mesmo, não precisarás da aprovação de ninguém. Pois como o mosqueteiro canta pra si mesmo todas as noites (ao invés de contar carneirinhos): "Até a pé eu irei, para o que der e vier, pois o certo é que eu estarei, comigo mesmo onde eu estiver..."



 Grêmio - Hino do Grêmio (original)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Estamos vendo a história sendo construída

Se faltou título e bons resultados, não faltam histórias para contar nesses últimos tempos degradantes da vida do Esporte Clube Bahia: se a derrota para o Cruzeiro por 7 a 0 em 2003 em plena Fonte Nova (com 4 gols de pênaltis) fora o ponto de largada para a corrida do Bahia contra o esquecimento, 2005 mostrou que o buraco poderia ser mais embaixo: no ano em que pela primeira vez na história ocorreu um BA-VI na 2ª divisão do campeonato brasileiro, ambas as equipes do estado foram rebaixadas para a série C.
O ano de 2006 foi o pior na história do futebol baiano: desde a copa de 90 não víamos um baiano não marcar gol em copas do mundo (Bebeto representou bem o estado nas copas de 94 e 98 e Júnior fez um gol contra a Costa Rica em 2002), pela 1ª vez não tínhamos representantes nas séries A e B, e como conseqüência da decadência das equipes da capital, o Colo-Colo de Ilhéus (sul da Bahia) aproveitou bem o momento, se tornando a 2ª equipe do interior nos mais de 100 anos de competição a faturar o campeonato baiano (a outra fora o Fluminense de Feira de Santana, em 1963 e 69).
Em pleno ano de crise, o Esporte Clube Vitória ensaiou uma ascensão rumo à elite do futebol brasileiro, ao conseguir acesso a série B de 2007, enquanto o Bahia no mínimo teria de disputar a série C (corria o risco de ficar fora se não conseguisse vaga no estadual). A vaga para disputar a série C fora conseguida, mas a tristeza de ver os rivais levantando mais um caneco em nada motivava uma equipe desacreditada em busca de crescimento, e diversos amistosos foram realizados por interiores da Bahia, o mais ‘folclórico’ deles fora em Belmonte, time de Fafá (uma espécie de Cícero Ramalho* piorado- velho e pesado).
Depois da pré-temporada, o Bahia não encontrou dificuldade para conseguir a classificação nos 2 primeiros quadrangulares, até que o 3º quadrangular, aparentemente fácil (levando-se em conta a tradição do tricolor baiano) reservou emoções jamais vistas na história do clube: foi preciso torcer por um tropeço de um time do Acre e vencer uma equipe do Amazonas (o que só fora concretizado aos 49 minutos do 2º tempo, mesmo sem haver motivos para tanto acréscimo). Mesmo com muita polêmica envolvida, o Bahia respirava na competição, e mais tarde, terminaria com a 2ª colocação, subindo para a série B de 2008.

*Os torcedores do Bahia sempre lembrarão do lendário Cícero Ramalho, atacante quarentão de mais de 100 kg que jogando pelo Baraúnas de Mossoró-RN ajudou a eliminar o Vitória da copa do Brasil de 2005 (2 anos depois, na mesma competição, a equipe potiguar confirmou sua condição de carrasco do Vitória, ao conseguir a classificação novamente, mas desta vez, invalidada pela CBF pela presença de jogador irregular, mas a vitória do Baraúnas fora conseguida dentro de campo).

O Bahia em 2008

Neste ano de 2008, o Bahia liderou a maior parte do campeonato (nas poucas vezes que perdeu a liderança, foi para a equipe do Conquista, a sensação do torneio). Terminou a 1ª fase em 1º lugar, e o 1º turno do quadrangular também (inclusive com direito a 4 a 1 em cima do Vitória em pleno Barradão aos gritos de ‘Chupa que é de Uva’, ‘Créu’ e ‘Vamos dar a volta no lixo’).
Mesmo tendo sido eliminado na copa do Brasil pelo Icasa de Juazeiro do Norte-CE, a torcida estava otimista para faturar o caneco que não vinha a 7 anos (nunca ficara tanto tempo na fila, o recorde anterior havia sido entre os anos de 1962 e 67- 5 anos de jejum). Mas uma semana depois do jogo em que os tricolores gritaram ‘chupa que é de uva’ (do Aviões do Forró) os rubro-negros devolveram a provocação com ‘senta que é de menta’ (de Cavaleiros do Forró), em Feira de Santana, e o Forró, que cada vez mais cresce sua popularidade no estado, agora tinham em suas letras interpretações coerentes e compatíveis com as histórias das equipes: os torcedores do Bahia sempre desprezaram a ‘Copa da festa da Uva’, torneio realizado e vencido pelos rivais em 1994 em Caxias do Sul-RS com as participações de Caxias, Juventude e Internacional (a uva está presente na música provocativa), e os rubro-negros devolveram numa música com som de resposta “Você provocou e agora experimenta, senta que é de menta, senta que é de menta” (sendo a ‘menta’ apenas para rimar com ‘experimenta’).
Mesmo sofrendo esta derrota embaraçosa, ainda havia possibilidade de reabilitação na competição, mas não aconteceu: até o último minuto, havia possibilidade de triunfo tricolor, mas faltava um golzinho contra o Conquista, e este não aconteceu (de qualquer jeito, a goleada de 5 a 0 sobre a revelação do campeonato animou os ânimos para a série B).

Mais histórias: movimentos, estádios...

Entre movimentos como “Devolva meu Bahia” (idealizados pelo jornalista Mario Kertesz), que distribuíram gratuitamente adesivos em uma vídeo-locadora de Salvado , passeatas- algumas delas com trio elétrico- pedindo voto livre e direto para sócio-torcedores (já que estes apenas escolhem uma comissão e esta escolhe os administradores do clube, ou seja, por isso a administração não muda de figura), apedrejamentos (como na derrota contra o Ipatinga na Fonte Nova, em que alguns torcedores tiraram parte do concreto que se separava da arquibancada e lançou-as em direção ao campo- em especial, contra o lateral esquerdo Avni), invasões (seja de torcedores que passaram dias no Fazendão num protesto mais ameno, ou dos que invadiram o treino para agredir jogadores e terminaram presos no mesmo dia, além da invasão na Fonte Nova para comemorar a subida do time para a 2ª divisão que fez danificar parte do estádio graças ao vandalismo), desabamento de parte da arquibancada (no dia em que o Bahia conseguiu acesso para a 2ª divisão, parte do concreto desgastado da Fonte Nova caiu matando 7 torcedores), atualmente o maior impasse é sobre onde o Bahia irá jogar: os jogos hoje são realizados em Feira de Santana, cidade longe onde se torna inviável a presença de muitos torcedores que moram na capital, isso porque não podem ser realizados em Camaçari, município mais próximo de Salvador, devido à pequena lotação (insuficiente para os critérios da CBF).
Por pouco o Bahia não iria jogar no Barradão, estádio do rival, mas as negociações, que envolviam dentre outras coisas um jogo político em que, em troca do empréstimo do estádio, a Petrobrás iria reformar o estádio (inclusive colocando cobertura). O interesse da Petrobrás é fazer parceria entre Bahia e Vitória e colocar sua marca em lugares estratégicos do estádio do Barradão e Pituaçu (do governo, onde o Bahia em breve sediará seus jogos), mas a negociação acabou não saindo, fora o fato de que os torcedores do Vitória sempre se mostraram resistentes para emprestar o estádio que os tricolores sempre menosprezaram, inclusive apelidando de ‘lixão’.
O estádio de Pituaçu está atrasado e provavelmente não terá como jogo de estréia Bahia e Corinthians. Essa é a dura realidade de um time de tradição que hoje se encontra sem teto, mas nem por isso sente abalo da paixão de sua torcida pela equipe, vide todos os eventos citados anteriormente.

Voltando a estaca zero com o Vila Nova

04/10/08

O Vila Nova para o Bahia está sendo um divisor de águas: no 1º turno, dia 11 de julho, o empate com a equipe goiana, no Serra Dourada (após sair na frente) fez alguns torcedores do Bahia temerem uma derrota histórica no Pacaembu contra o líder e até então invicto Corinthians, no dia 19.

Na partida contra a equipe paulista ocorreu talvez o resultado mais surpreendente até então: vitória apertada do Bahia, fora de casa, com gol de Elias no início do jogo. O triunfo encheu os tricolores de esperança, pois apesar da posição intermediária que se encontrava (10ª colocação), estava claro que o Bahia surpreendia fora de casa, e há 3 rodadas havia conseguido a 1ª vitória em Feira de Santana, sobre o até então invicto Avaí (ou seja, o Bahia tirou as 2 últimas invencibilidades da competição).

Voltando a Bahia, dois empates com equipes do interior de São Paulo fizeram a torcida pedir mais empenho, mesmo tendo consciência das péssimas condições do gramado em Feira de Santana. Mas até essa época, sabia-se ganhar fora, então, o tricolor venceu o Brasiliense no Distrito Federal e uma paz provisória reinou até o jogo contra a Ponte Preta, em Feira, que mudaria o rumo da competição. A equipe campineira abriu o placar, colocava certa pressão e não faltava muito para acabar o jogo, até que aconteceu a virada, com o 1º gol da carreira de Paulo Roberto, revelação da equipe.

O otimismo estava em alta, o G-4 cada vez mais perto, e a última partida dos ‘bons momentos de esperança’ do Bahia fora em Maceió 9 de agosto, quando o Bahia venceu o CRB (lanterna na época), a última vitória fora de casa. Depois disso, uma derrota ‘normal’ para o Marília no dia 12 (seria normal se o Bahia fosse uma equipe que valesse o seu mando de campo, já que perder fora não chega a ser tragédia) e um empate embaraçoso em casa contra o Gama dia 15 foram a gota d’água para alguns torcedores decidirem invadir o Fazendão(CT da equipe) e agredir os jogadores, que, abalados emocionalmente, viajaram ao Ceará para no dia 23 para sofrerem goleada histórica por 5 a 1 contra o Fortaleza.

Três dias depois, voltando para casa e de técnico novo(saíra Arturzinho e entrara Roberto Cavalo), uma vitória por 3 a 0 contra o América de Natal deu uma falsa impressão de reabilitação na briga pelo G-4. A goleada por 4 a 1 sofrida contra o Santo André, seguido de derrota para Barueri, vitória sobre Criciúma e uma ‘surra’ de 3 a 0 sofrida contra o Paraná e empate em casa contra o Ceará fizeram o público contestar o trabalho de Roberto Cavalo, e a equipe que brigava pelas 4 primeiras posições se via distante como na época em que havia enfrentado o Corinthians.

Uma vitória apertada contra o Juventude esfriou um pouco os ânimos, mas em seguida 2 derrotas elásticas (contra Avaí e ABC) fizeram o treinador Roberto Cavalo sair da equipe. O próximo adversário? Vila Nova. Uma situação parecida com a do 1º turno: o Bahia se encontra numa posição intermediária, mas entre este intervalo, muita coisa aconteceu.

Expectativas para ABC e Bahia.

03/10/08

Esporte Clube Bahia: mais de 77 anos de história e apenas 17 letras para identificar algo que é mais que uma equipe de futebol. No “b-a-bá” dos esportes, não há tanta criatividade na construção de seu nome (o ‘Esporte Clube’ é usado em nomes de diversas equipes do Brasil), mas a identidade do time em questão envolve fatores abstratos que números e letras não podem decifrar: a paixão dos baianos pela equipe de 3 cores torna-se uma manifestação cultural tão digna quanto o carnaval e as celebrações religiosas.

Numa brincadeira intitulada ‘abc’ (em que as pessoas colocam as mãos com número de dedos expostos aleatório, afim de, na soma dos dedos expostos, se chegar a uma letra escolhida para a rodada- por exemplo, se forem 10 dedos expostos, a letra da rodada é o ‘J’), certamente na rodada da letra ‘B’ o Bahia seria uma das primeiras equipes lembradas. O que nem todos tem lembrado é o quão presente o ABC está presente na vida do Bahia. Não, não se trata do jogo em questão, mas sim da equipe potiguar que enfrentará o tricolor de Salvador hoje, em Natal.

Será o 6º confronto entre as 2 equipes em menos de 2 anos: ambos disputaram a 3ª divisão do ano passado e conseguiram classificação para a 2ª divisão desse ano, inclusive, sendo o ABC a equipe que de alguma forma foi a ‘responsável’ para a qualificação do Bahia para a última fase da série C, quando empatou com o Rio Branco do Acre fora de casa, resultado que desclassificou os acreanos e permitiu aos baianos, com a vitória sobre o Fast Clube do Amazonas (aos 49 minutos do 2º tempo, uma das partidas mais dramáticas da história do clube), chegarem no octagonal da série C.

Na 3ª rodada do octagonal, o Bahia, com 100% de aproveitamento até então, perdeu sua invencibilidade nesta fase para o ABC, mas esta não foi a única má notícia para os tricolores antes da volta para Salvador: o meia Cléber teve um AVC no hotel, e pouco tempo depois, acabara falecendo.

Na 12ª rodada, o ABC perdera de 3 a 0 para o Bahia na Fonte Nova, jogo este que fora marcado o último gol da história do lendário estádio (o autor do gol foi Ávni), e que depois acabara interditado devido ao desabamento de parte da arquibancada durante a partida sem gols contra o Vila Nova de Goiás.

O que esperar do jogo de hoje? Talvez esperamos nos surpreender, pois mesmo ‘surpresa’ significando algo inesperado, o que menos podemos esperar de Bahia e ABC é previsibilidade.