terça-feira, 28 de agosto de 2012

Bota na cadeia!


O folclórico Neném Prancha diria que “o pênalti é tão importante que devia ser cobrado pelo presidente do clube”. Embora o torcedor brasileiro não entenda, a maior responsabilidade do fracasso de sua agremiação não calça chuteiras ou corre atrás da bola. São os cartolas que qualificam um elenco, embora não levem vaias ao final da partida, tampouco recebem resistência dentro do clube e por anos se perpetuam no poder. Mas são atitudes como a de Maicosuel que estragam todo um planejamento ambicioso de um time que não costuma participar de torneios top. O ex-jogador do Botafogo, com 26 anos e recém-chegado na Udinese, decidiu cobrar pênalti com cavadinha em plena disputa de penalidades máximas que valia vaga para a fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa. Enquanto todos os seus companheiros e os adversários do Braga converteram suas cobranças no canto, o brasileiro cometeu o “crime” que custará € 7,2 milhões (R$ 18,4 milhões) aos cofres do clube italiano pela ausência na principal competição do futebol europeu. Levando em conta que o contrato de cinco anos do brasileiro foi de R$ 13 milhões, pode-se dizer que foi a contratação mais cara dessa última janela de transferência. Não há problema em perder um pênalti: para haver um vencedor, ao menos um dos jogadores deveria desperdiçar uma cobrança. Mas a atitude do brasileiro mostrou a falta de comprometimento com um time que fez das tripas coração para conseguir a vaga, após um árduo Campeonato Italiano. Ao final, o atleta se encontrava sentado, chorando, sem ninguém para consolá-lo. A falta de consolo é pouco. Ele merecia cadeia.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Abrasileiração da bola oval

Foto: Lucas Franco

“Ora, parece-nos que o football não se adapta a estas boas paragens do cangaço. Estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho”. Há pouco mais de 90 anos Graciliano Ramos refletiu os prognósticos (negativos) sociais do esporte que hoje é o mais popular do Brasil e do mundo. O escritor alagoano só não contava que o “football” trocaria de vogais e eliminaria um “L” para se “abrasileirar” como um novo esporte, o futebol. O corner virou escanteio, o back zagueiro, e sua bola de cristal, meros cacos de vidro varridos junto com palpites como o de que o Bahia jamais venceria o Santos na primeira Taça Brasil.

Com os mesmos argumentos “gracilianísticos”, muita gente acredita que esportes como futebol americano e rugby jamais conseguirão ser grandes no país onde reina o antes desacreditado futebol. Os esportes da “bola oval” seriam “estrangeiros demais”, a começar pelos nomes das jogadas e posições dos jogadores. Mas se eu conheço a Bahia, “Touchdown” pode virar “tondidáu” na mesma velocidade em que a música “Don’t matter” ganhou a versão “Não vale mais chorar por ele” e inclusive foi cantada pelo autor da canção original, o rapper americano Akon. A antropofagia já fez das guitarras do rock instrumentos do tropicalismo e dos cultos africanos candomblé. Me surpreende que os “defensores da hegemonia da bola redonda” duvidem que outros esportes possam se “abrasileirar” e quem sabe, ganhar espaço semelhante ao do vôlei, que tem uma liga forte no país e jogos transmitidos pela TV aberta. Mas nada é conseguido sem esforço. "Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe por provar o contrário" – Albert Einstein. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A faca e o queijo nunca estiveram tão na mão

Foto: Reuters

O Brasil não pode ser considerado o país do futebol por ter inventado o esporte ou por contar com a maior média de público em jogos do campeonato nacional. Essa honra cabe a Inglaterra, que unificou as regras de jogos com bola do Século lXX para oficializar, em 1863, o surgimento do jogo mais popular do planeta, que se joga com os pés. A segunda divisão do país tem maior média de público que a elite do futebol brasileiro, mas as terras tupiniquins têm o rótulo de “país do futebol” por suas conquistas no gramado. Seus clubes já ganharam todos os torneios possíveis, que vão da extinta Copa Mercosul até o Mundial de Clubes da Fifa. Já a seleção nacional, na modalidade masculina, carece de apenas uma conquista: a olímpica.

O “tabu” pode ser quebrado neste sábado de manhã (11) em Wembley, contra o México. Em um ano em que a própria Inglaterra, sede da competição, viveu episódios interessantes com a conquista do título nacional do Manchester City após 44 anos e o título europeu inédito do Chelsea, tudo parece conspirar a favor da “Canarinha”. Some-se a isso quebras de paradigmas como o título de Libertadores do Corinthians e a conquista do Campeonato Baiano pelo Bahia após 10 anos sem títulos para se desconfiar que no “ano do fim do mundo”, os deuses do futebol resolveram dar uma “despedida digna” aos torcedores que mais sofreram pela ausência de uma conquista almejada.

CELESTE OLÍMPICA

Foto: EFE
O Uruguai provou do próprio veneno na Olimpíada de 2012. Até 1924 não havia intercâmbio entre América do Sul e Europa. O Uruguai, até então desconhecido para o resto do mundo, viajou para Paris nesse ano para disputar os Jogos Olímpicos. Seu primeiro adversário, a Iugoslávia, mandou espiões para observarem o “misterioso time” e, ao perceber isso, os sul-americanos decidiram fazer um treino “desastroso”, para que os espiões voltassem com informações otimistas como “esse tal Uruguai é ruim, está no papo”. Resultado: o Uruguai meteu incríveis 7 a 0 na equipe balcânica. Sua fama ao redor do mundo foi crescendo com conquistas como as Olimpíadas de 1924 e 28 e a Copa do Mundo de 1930, tudo isso em apenas seis anos. Ausente por 84 anos dos Jogos Olímpicos, os uruguaios provaram do próprio veneno em Londres 2012: enfrentou adversários sem tradição e não buscou investigá-los. Dessa forma, teve trabalho contra os Emirados Árabes na estreia, com vitória de virada por 2 a 1, e perdeu para Senegal por 2 a 0. O golpe de misericórdia foi dado pela Grã-Bretanha, que com triunfo de 1 a 0 eliminou a “Celeste Olímpica” do torneio.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

No caminho da segundona


Roda, roda e vira, solta a roda e vem, não ganhei da Portuguesa

Então eu vou ganhar de quem?

Meu nome é Esporte Clube Bahia, prazer?

Série B? Não, obrigado.

Só irei se for forçado. Por culpa da arbitragem, da bola, da curva e do vento

Conspiração universal, mesmo assim eu tento

Fugir da degola que dói o pescoço e machuca a alma

Calma. Nascestes para vencer, esse é seu slogan.

Mas vencer na segundona, ta mais fácil, vamos?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Carência de medalhas


Não há nada errado com os atletas brasileiros. O problema da nação verde e amarela é quantitativo: se existissem cinco Césares Cielos, três Maurrens Maggis e quinze Évertons Lopes, mais medalhas teriam como destino os aeroportos tupiniquins. Todo agricultor sabe que as condições climáticas fogem do seu controle e uns hectares de plantações podem ser perdidas, mas quanto mais se planta, maior será a colheita no final das contas, independentemente do que foi perdido no caminho. O Brasil tem atletas de alto nível, mas não em quantidade abundante como um país de quase 200 milhões de habitantes poderia ter. Criar expectativa em dois ou três atletas para um evento que acontece de quatro em quatro anos é tão irracional quanto se apaixonar por uma mulher e não abrir mão dela, mesmo com todo seu esnobismo, apesar de tantas outras estarem ao redor dando bola.

Liu Xiang foi ouro em 2004 | Getty Images


A China ficou em primeiro lugar no quadro de medalhas em 2008, quando sediou a Olimpíada, e até o momento segue na ponta em Londres. A primeira participação da nação vermelha em Jogos Olímpicos de Verão foi em 1952, em Helsinque. No entanto, divergências com o Comitê Olímpico Internacional (COI), que reconheceu a rival Taiwan como nação, fez a China boicotar o evento até 1984, em Los Angeles. De lá para cá, todo porta-bandeira é um jogador do basquete masculino, modalidade que nunca deu uma medalha para o país. Wang Libin em 1984, Song Tao em 1988, Song Ligang em 1992, Liu Yudong em 1996 e 2000, Yao Ming em 2004 e 2008 e o atual jogador do Dallas Mavericks, Yi Jianlian, em 2012, não “contribuíram” para a fama que o país leva hoje de “potência olímpica”, mas são atletas de alto nível de um esporte que sequer é a paixão nacional, já que o tênis de mesa é mais popular e vitorioso. Ídolo nacional, o corredor de 100 m com barreira Liu Xiang deu ao país sua primeira medalha de ouro em atletismo, em 2004. Sua imagem simbolizava as ambições orientais para a edição seguinte dos Jogos, onde seria favorito e atuaria dentro de casa. No entanto, em 2008 e 2012 Liu Xiang se contundiu na prova em que lutava para repetir o feito pioneiro. Mesmo tristes, os chineses não deixaram de enxergá-lo como ídolo.

Medalhas são como propaganda política para a Coreia do Norte | Divulgação
Em um país com quase 1 bilhão e meio de habitantes e que sabe usar seu potencial, coisa que o Brasil ainda não aprendeu, derrotas de ídolos não refletem nas estatísticas. O quadro de medalhas segue inabalável, embora a dor de ver um ídolo ser derrotado seja a mesma. Mas por que o Brasil faz tanta questão de entrar no “hall das grandes potências olímpicas”? É possível ser um país digno sem isso: dono do melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Planeta no relatório de 2011, a Noruega, até o início desta quarta-feira (4), estava no modesto 35º lugar no quadro de medalhas de Londres 2012, com apenas três medalhas, uma de cada metal. Já a Coreia do Norte, em 14º no quadro geral, com quatro medalhas de ouro e uma de bronze, sequer figura nos relatórios de medição de IDH, tamanha censura vive uma população que ninguém sabe ao certo como vive por conta do mistério imposto pela ditadura local. Se a educação é prioridade, os esforços para fomentar esporte como ferramenta de integração social deveriam ser maiores que o investimento em atletas de alto rendimento, afinal, quantos campeões estarão a surgir se houver perspectiva de se levar uma vida digna?

domingo, 5 de agosto de 2012

Onde a Europa manda e desmanda


Até o início do Século XXl a América do Sul era o continente mais vitorioso do futebol. O pentacampeonato do Brasil em 2002 (que também levantou o caneco em 1958, 62, 70 e 94), somados aos dois de Argentina (1978 e 86) e Uruguai (1930 e 50), garantiu uma soberania de nove Copas do Mundo, contra oito do velho mundo, que até então tinha Itália (1934, 38 e 82) e Alemanha (1954, 74 e 90) com três títulos e Inglaterra (1966) e França (1998) com apenas um. A superioridade não se resumia aos embates entre seleções: somados os títulos de Copa Intercontinental e Mundial de Clubes da Fifa, até 2009 os sul-americanos levavam vantagem.

Mas a final de 2009 entre Barcelona e Estudiantes, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, foi um divisor de águas por dois aspectos. Em primeiro, porque o título da equipe catalã, com vitória de virada, na prorrogação, com gol do argentino Lionel Messi, igualou os continentes em números de títulos, 24 para cada um, e esse empate técnico não acontecia desde 1976, quando o Bayern de Munique venceu o Cruzeiro no Intercontinental e igualou o marcador em 8 a 8. De 1977 para 1984, os sul-americanos levaram a melhor por sete anos consecutivos e criaram folga de seis títulos (16 a 9), a maior do confronto até então.

Messi fez o gol do título mundial do Barça em 2009 | AP Photo 
O segundo aspecto que classifica a final entre Barcelona e Estudiantes como divisor de águas é que o time catalão é a base da “Fúria” e suas vitórias do clube fortaleciam a equipe nacional, que em 2010 se tornou a primeira Seleção do velho mundo a faturar uma Copa do Mundo fora de seu continente (foi na África do Sul) e de quebra, ultrapassou a América do Sul em conquistas de Copa: 10 a 9 (a Itália havia vencido em 2006). A Europa não ultrapassava a América do Sul em Copas do Mundo desde 1954, quando a Alemanha conseguiu seu primeiro título, o terceiro do continente até então (os outros dois foram da Itália, em 1934 e 38), contra dois do Uruguai, em 1930 e 1950.

Onde a Europa não manda e desmanda


Coreia bateu a Grã-Bretanha | Reuters
Há um torneio de futebol que, ultimamente, tem feito os europeus bufarem de raiva: o futebol masculino olímpico. A última vez que uma Seleção do velho continente chegou na decisão foi em 2000, com a Espanha (vice de Camarões), e o último título foi em 1992, também com a “Fúria”, atuando em Barcelona. De 1996 para cá, só dá África e América do Sul (1996 com Nigéria, 2000 com Camarões, 2004 e 2008 com Argentina), e esse ano não será diferente. Último representante europeu e anfitrião da Olimpíada de 2012, a Grã-Bretanha foi eliminada nos pênaltis pela Coreia do Sul, o que ajudará a manter o tabu por pelo menos mais quatro anos. Nenhum dos quatro semifinalistas de Londres 2012 já subiu ao lugar mais alto do pódio no futebol masculino olímpico. Adversários de terça-feira, Japão e México foram eliminados nas semifinais de 1968 (Tóquio) e se encontraram na disputa por terceiro lugar: melhor para os nipônicos na até hoje única medalha dos asiáticos na modalidade. A Coreia do Sul disputa sua sétima Olimpíada consecutiva, mas só passou da primeira fase em 2004, nos Jogos de Atenas, quando foi eliminada nas quartas de final pelo Paraguai. O Brasil tem a base que vai disputar a Copa do Mundo em 2014, enxerga o ouro como a “última conquista que falta para o futebol nacional” e já levou quatro medalhas: duas pratas (1984 em Los Angeles, derrota para a França e em 88, em Seul, derrota para a União Soviética) e dois bronzes (1996 em Atlanta, batendo Portugal na disputa por terceiro lugar em Pequim em 2008, batendo a Bélgica). Ao menos nas Olimpíadas os europeus não “mandam e desmandam”.