terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O dia em que a zebra passeou pelo deserto


O Internacional, com toda a sua tradição e torcida, perde um jogo decisivo para um "azarão". Qualquer semelhança com a derrota na final do Brasileirão de 1988, não é mera coincidência. O Bahia assombrou o país, até hoje com tantos preconceitos regionais, e muitos colorados não conseguiam admitir a derrota para um time nordestino.

O Mazembe, da República Democrática do Congo, apenas jogou futebol. Não bateu, não catimbou, mas também não brilhou. Surpreendeu mais pela maturidade como encarou a partida, respeitando o rival sem partir para cima, deixando-o tocar bola no campo de defesa sem pressionar sua saída. Já o Internacional, jogou nervoso, concluiu mais para o gol, mas não contou com a participação decisiva dos seus meias (D'Alessandro e Tinga) e com a lucidez do técnico Celso Roth, que demorou para mexer na equipe, já perdida em campo ao levar o gol da equipe africana (Kabangu, aos 7 do segundo tempo).

Aos 20 minutos, Leandro Damião foi a alternativa no ataque, no lugar do apagado Alecsandro, e o melhor jogador da Libertadores, Giuliano, tentou mais um "milagre" (semelhante ao gol contra o Estudiantes, da classificação para as semi da Libertadores faltando 5 minutos) logo após substituir Tinga: o chute foi fraco e o goleirão Kidiaba defendeu.

Uma equipe sul-americana jamais havia ficado atrás do marcador contra uma equipe não-européia em mundiais, e pior: jamais os sul-americanos perderam para não-europeus desde que a FIFA criou o tão democrático "FIFA Club World Cup". Aos 40 do segundo tempo, o fechamento do caixão: Kaluyituka marcou e decretou a vitória africana por 2 a 0.

O dia em que a zebra passeou pelo deserto ficou marcado por muita choradeira. Lindas coloradas choravam a inesperada derrota do time de coração, e eu, assitindo pela tv, tinha a vontade de colocá-las no colo e consolá-las.

As cores da camisa do Mazembe, listrada em preto e branco na vertical, lembrava muito o animal africano associado aos resultados improváveis. Em pleno ano de Copa do Mundo no continente africano, não foram poucas as reportagens tratando da selva africana, com leões, elefantes e tantos outros bichos que se associaram tanto à imagem dessa Copa do Mundo de 2010.




As seleções do continente não foram bem no torneio: apenas Gana passou da primera fase. Mas por muito pouco não consegue a façanha inédita de levar o continente às semi-finais do torneio mais importante do planeta, por apenas uma cobrança de pênalti, desperdiçada por Gyan no último lance da prorrogação contra o Uruguai.

No mundial de clubes, a África se vingou da América do Sul. A partir de agora, a imprensa (generalizando) deve ser mais cautelosa para sugerir a final do mundial, pois se não havia precedentes de uma decisão sem sul-americanos, tudo tem a sua primeira vez, e não será a única - a não ser que esse torneio deixe de existir. Quando nós, sul-americanos, vencemos os europeus, costumamos pensar "eles não são essas coisas todas". E agora, será que os africanos não pensam o mesmo de nós? Porque temos dificuldade de assumir que nossa vitória sobre o velho continente depende do demérito dos "melhores jogadores do planeta" (afinal, seus clubes podem pagar para ter os maiores talentos) e que a vitória de um clube africano é puramente demérito nosso? Para Noriega, que comentou o jogo na Sportv, "time brasileiro não pode perder para time africano".

É compreensível o sentimento de frustração dos colorados, assim como a alegria dos gremistas, que conseguiram a vaga para a pré-Libertadores (graças à derrota do Goiás na final da Copa Sul-Americana) e de quebra viram o rival cair muito antes do que esperavam nessa competição. Arrisco dizer que pior seria se o Inter caísse na semi-final do mundial de clubes de 2006: ainda estigmatizado pelo apelido "inter-regional" (o único título internacional do Inter até ali fora a Libertadores daquele ano), os colorados ficariam com "complexo de vira-latas" até que se conseguisse o mundial um dia (e ficaria mais difícil depois de um trauma desse porte), mas o Inter já foi campeão mundial e tem que enxergar isso como um acidente, e não uma catástrofe, e numa próxima oportunidade, o Inter pode vencer novamente o torneio.

Que o resultado de hoje (Mazembe - 2 x 0 - Internacional) diminua a bola dos que palpitam demais e analisam de menos (até porque tem muito cronista esportivo que não se deu ao trabalho de pesquisar sobre o Mazembe). Antes desse torneio começar, havia quem dissesse que a semi-final seria Pachuca x Internacional (o Mazembe nem existia na opinião dessas pessoas). Logo, quem garante que todo time brasileiro na pré-Libertadores conseguirá vaga na fase de grupos? Nada como um dia após o outro: quebra de paradigmas pode acontecer a todo momento.

Foto do Mazembe: Reuters

Fotos da torcedora: Jefferson Bernardes/VIPCOMM

domingo, 12 de dezembro de 2010

As cotas do Brasileirão

Com apenas vinte times, a Série A do Campeonato Brasileiro não consegue abrigar todos que "de lá nunca deveriam ter saído"

Você já deve ter escutado várias vezes que "tal time voltou ao lugar de onde jamais deveria ter saído" logo após subir para a Série A. Há quem seja rotulado de "clube de primeira": esse "seleto grupo" é formado por doze poderosas agremiações (quatro delas em São Paulo, quatro no Rio de Janeiro, duas no Rio Grande do Sul e duas em Minas Gerais). São os doze times que mais disputaram a Série A do Campeonato Brasileiro (três deles disputaram todas as 41 edições, Cruzeiro, Flamengo e Internacional).

O que faz um time ser "de primeira"? Sem dúvidas, tradição e torcida são critérios de desempate, mas vale lembrar que as regiões Norte e Nordeste são responsáveis por encher estádios até nas piores situações em que se encontram seus clubes, e nem por isso parecem fazer falta na Série A para parte da imprensa sudestina que reserva pouco espaço para suas trajetórias. O Esporte Clube Bahia, que teve a melhor média de público em três edições de Série A (1985, 86 e 88) é o mais lembrado em reportagens nacionais. Mas o Clube do Remo, disputando a terceirona, obteve a maior média de público das Séries A, B e C no ano de 2005 (30.869) e o Santa Cruz, time que na Série D desse ano conseguiu atrair em seus quatro jogos em casa uma média de 30.238 torcedores por jogo, são dois exemplos de paixão sem fronteiras (e sem divisão).

Bom, se o critério para se merecer uma cadeira cativa na elite do futebol brasileiro for fanatismo, o Nordeste teria que ter uma participação muito maior na Série A. Mas em seguida vem o critério tradição. O que é tradição? Se pensarmos que a paixão pode ser incondicional, mas a soma de troféus ao longo dos anos mostra a tradição vitoriosa de uma equipe, é incompreensível achar que o Atlético Mineiro e Botafogo são maiores que Bahia e Sport Clube do Recife. Com apenas dois títulos nacionais conquistados (a Série A de 1971 e a Série B de 2006) o Galo de Belo Horizonte não é lá tão "forte e brigador", se comparado, por exemplo, com seu rival Cruzeiro. Com o mesmo número de conquistas pelo Brasil, o Botafogo passou pela Série B e voltou de mãos vazias (faturou a Taça do Brasil de 1968 e a Séria A de 1995). O Sport Clube do Recife, além de ter faturado duas vezes o título da Série B, foi campeão brasileiro em 1987 (embora a maneira como a CBF conduziu o torneio é para lá de contraditória) e da Copa do Brasil de 2008. Porque o Sport, com 31 participações em Série A, merece menos respeito do que esses dois?

Todo Brasileirão começa com suas especulações, e os favoritos ao descenso não podem ser as "doze equipes cotistas". Com cadeira cativa - como se suas quedas representassem apenas os seus deméritos, e nunca o mérito de clubes emergentes - um "time grande" tem que fazer muita bobagem para perder o seu "lugar de direito". De fato, é muito mais fácil se manter na Série A com Mariano (Fluminense) na lateral-direita do que Apodi (Guarani). A tal "tradição artificial" faz alguns clubes arrecadarem mais do que outros, seja com cotas de televisão ou anunciantes. O nordestino não é menos apaixonado por futebol do que o paulista, carioca, mineiro ou gaúcho, mas competir com equipes que já começam arrecadando tanto nos seus estaduais é desleal, e enquanto não houver mobilização para se mudar a realidade, Santa Cruz, Sport, Bahia e Vitória continuarão sendo coadjuvantes no futebol brasileiro.

Ninguém é dono de nenhuma cadeira na Série A. Não existe clube que "jamais deveria ter sido rebaixado". Tradição e torcida, em muitos casos, são contextos artificializados, ao longo dos tempos, pelo poderio de difusão dos meios de comunicação sudestinos, concentrados na história dos seus estaduais, esquecendo-se que grandes craques já pisaram em gramados por aqui. O futebol é um reflexo da sociedade: as regiões mais ricas se consideram mais "tradicionais", e para as emergentes resta sonhar (ou ter pesadelos) com uma força invisível chamada "fantasma do rebaixamento" que todos os anos empurram-as para baixo.

O pernambucano Ademir de Menezes, artilheiro da Copa do Mundo de 1950, começou no Sport Clube do Recife, mas fez sua carreira no Vasco da Gama do Rio de Janeiro. Quantos craques teremos de perder até nos equilibrarmos em "tradição" (prestígio midiático e poderio financeiro) com os clubes do Sul/Sudeste?

2010

O último ano de uma década de tantas quebras de paradigmas resgatou o que há de pior na caretice política. A febre das "redes sociais" ainda não conseguiu democratizar a comunicação no país. Pelo menos nos bastidores da política, onde os aspirantes ao poder deram um péssimo exemplo nessas eleições. Serra e Dilma negaram o que disseram, comprovadamente, há tão pouco tempo, para vencer a corrida presidencial. O resultado de tamanha falta de transparência foi a eleição de Dilma Rousseff, com 55.752.483 votos no 2º turno sobre o "critão Serra".

Alguns atletas e comandantes de triunfos recentes decepcionaram, como o técnico Andrade, campeão pelo Flamengo em 2009 e rebaixado para a terceira divisão com o Brasiliense nesse ano. O inverso também aconteceu: Muricy Ramalho, que frustrou a torcida do Palmeiras ano passado - sem se quer conseguir vaga para a Libertadores - deu a volta por cima em 2010, ajudando o Fluminense a levantar a taça de campeão brasileiro.

O Rio de Janeiro, tão marcado pela violência nos morros dominados pelo tráfico de drogas, ganhou ares de esperança. Pouco depois de ser ilustrado nas telas de cinema com "Tropa de Elite 2", a polícia carioca, ao lado das forças armadas, vem executando uma complexa operação que visa ocupar as favelas e livrá-las do “poder paralelo”. Diferente do que se vê no longa-metragem de Padilha, a expectativa da população é de que a paz volte a reinar na cidade maravilhosa, e o medo da "troca de poderes nos morros" dá lugar ao elogiado trabalho dos executores da empreitada.

Enquanto o ET Bilu diverte mais do que assusta, a NASA marcou uma coletiva de imprensa para lá de sinistra no final de novembro. O assunto: possibilidade de haver vida inteligente fora da Terra. Quem esperava tomar conhecimento sobre uma "mensagem extra-terrestre" se decepcionou, mas estudos revelam que a vida poderá existir em ambientes que julgávamos inóspitos.

O circo da Fórmula 1 tinha que estar em pauta, como em toda retrospectiva anual. A volta de Michael Schumacher foi ofuscada pelos seus próprios resultados ruins. A vitória de Sebastian Vettel não pôde ser celebrada com champagne - a corrida que decidiu a prova foi em Abu Dhabi, aonde é proibido o consumo de bebida alcoolica em locais públicos. Embora o "suco árabe" não tenha feito o mesmo efeito que um tradicional espumante, o sabor da conquista do alemão de 23 anos foi mais doce que qualquer bebida. Isso porque Vettel venceu sem trapacear, num esporte marcado por "maracutaias" - na pior desse ano, Massa deu passagem para Alonso, favorecendo o companheiro da Ferrari que estava à frente na tabela.

Mais uma celebridade saiu do armário. Ricky Martin, ex-menudo, assumiu a homossexualidade no primeiro semestre, repercutindo em diversos jornais pelo mundo. Se descobriu até que o cantor porto-riquenho teve um caso com um brasileiro, há mais de dez anos atrás. Difícil dizer se foi a "fofoca do ano", quando 2010 guarda tantos outros fatos repercutidos pela mesma "imprensa" sedenta de informações relevantes no "mundo artístico".

É fato que, para o fã de futebol, o caso entre John Terry (zagueiro do Chelsea e Seleção Inglesa) e a modelo francesa Vanessa Perroncel (esposa de seu ex-companheiro de time, Wayne Bridge) foi o mais quente da história do esporte nos últimos anos - ou quem sabe de todos os tempos. Jogando atualmente pelo Manchester City, o marido traído, Wayne Bridge, deixou de ir a Copa porque não queria ver a cara de seu "ex-amigo". Na primeira vez em que eles se encontraram, na partida entre suas equipes, Bridge não cumprimentou Terry, deixando-o no vácuo em uma cena para lá de constrangedora.

Não estamos apenas no final de um ano: também é final da primeira década do Século XXl. Os anos 2000 quebraram paradigmas, surpreenderam e nos deixaram ansiosos, afinal, se tanta coisa aconteceu em dez anos, o que poderemos esperar dos próximos dez? Ataque terrorista e eleição de um presidente negro nos Estados Unidos, um filme genuinamente indiando ganhando dez estatuetas do Oscar, a esquerda tomando o poder na América Latina (com Hugo Chávez na Venezuela, Lula e Dilma no Brasil, os Kirschiner na Argentina, Michelle Bachelet no Chile, Tabaré Vázquez no Uruguai e Evo Morales na Bolívia) e etc. Que venha 2011, que venham os anos 2010!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Europa pode igualar América do Sul em mundial de clubes

O velho continente, após ter ultrapassado os sul-americano em conquistas de Copas do mundo, pode dessa vez assumir a ponta em número de mundial de clubes

Atualmente a rivalidade inter-continental está disputadíssima! Tanto em torneios de Seleções quanto no de clubes, Europa e América do Sul sempre foram as maiores potências do futebol. A UEFA e Conmebol juntam todos os títulos de Copas do Mundo (Seleções) e dos torneios inter-clubes (que começou em 1960 apenas entre os dois continentes e em 2000 pela primeira vez a competição foi aberta para a África, Ásia, Oceania e as Américas Central, do Norte e Caribe).

Com a vitória da Espanha na Copa do mundo desse ano, os europeus chegaram a 10 títulos, contra 9 dos sul-americanos nessa competição. Mas quando se trata de clubes, o novo continente ainda está na frente, mas corre seríssimo risco de perder a hegemonia. Somados todos os torneios desde 1960 (do modelo de ida e volta até o atual torneio da FIFA, passando pelo jogo único no Japão), o placar está 25 a 24 para a Conmebol. Contando apenas os mundiais da FIFA, está tudo igual: 3 a 3. Após três conquistas brasileiras (Corinthians em 2000, São Paulo em 2005 e Internacional em 2006), três europeus de países diferentes faturaram seus canecos, igualando o marcador.

Desde que a competição FIFA foi para a Ásia, na sua segunda edição, não houve zebra: a final sempre é o jogo mais esperado do ano, entre o representante da UEFA e o da Conmebol, e esse ano tem tudo para não ser diferente. O Internacional de Porto Alegre jogará no dia 14 de dezembro contra o vencedor de TP Mazembe (República Democrática do Congo, ex-Zaire) e Pachuca do México (que perdeu a final da Recopa Sul-Americana contra o Colorado em 2007). Já a Internazionale de Milão jogará no dia seguinte, e terá uma equipe oriental como adversária: o Al Wahda (Emirados Árabes), Hekari United (Pápua Nova Guiné) ou Seongnam Ilhwa Chunma (Coréia do Sul).

O eventual confronto entre "os inters" vale muito mais do que um troféu: é o duelo da Conmebol tentando conter os avanços da milionária UEFA, que nem sempre deu o devido valor ao mundial de clubes, mas que agora enxerga a oportunidade de tirar qualquer tipo de argumento dos sul-americanos que julgarem ter "o melhor futebol do mundo".

domingo, 5 de dezembro de 2010

Reflexos da queda do Leão no futebol baiano

A queda do Vitória representa, para a maioria dos torcedores do Bahia um triunfo a parte. A pior década do tricolor nascido em 1931 acaba com o cenário mais convidativo: recém-chegado na primeira divisão e com o rival na segundona. Mas num mundo como o do futebol, de momentos efêmeros, onde tudo pode mudar a cada segundo, é difícil fazer qualquer projeção do que será o futebol baiano.

Durante muitos anos, o clássico BaVi mobilizou milhares de pessoas, fazendo desse "derby" o mais sadio do país por muitos anos. Gozações sempre existiram, mas a briga entre as torcidas é um fenômeno recente. Com o desencontro entre os rivais nas competições nacionais, mais uma vez o segundo semestre perde tempero, e o futebol baiano perde a chance de se firmar como uma potência. Outros estados estão ganhando força, como Goiás, que mesmo com o rebaixamento dos esmeraldinos, manterá um representante na Série A (o Atlético Goianiense), o Ceará, que hoje tem o Vovô na primeirona e o Icasa na Série B, isso sem falar nos já tradicionais estados do Paraná e Santa Catarina, que com dois representantes na Série A e um na B são mais fortes do que a "boa terra".

O mercado da bola mobiliza muito dinheiro e oportunidades profissionais em todas as áreas: o pior momento da história do futebol baiano foi 2006, quando a Bahia não tinha representantes nas Série A e B por incompetência dos gestores dos times da capital. De tão frágil, o Campeonato Estadual teve um vencedor inesperado: o modesto Colo-Colo de Ilhéus, que pode ter sido o orgulho de sua cidade, mas não tinha forças para representar o estado em competições nacionais, tanto que foi eliminado no primeiro quadrangular da Série C de 2006 e foi eliminado pelo Atlético Mineiro no jogo de ida da Copa do Brasil de 2007, ao levar 3 a 1 no Estádio Mário Pessoa. O Colo-Colo, carente de recursos, se desmanchou. Sem conseguir manter o time vencedor do Baianão jamais chegou entre os quatro primeiros colocados dos torneios posteriores, e pior: esse ano escapou do rebaixamento do Baianão na repescagem.

A maioria dos grandes times pelo mundo tem um rival regional disputando a mesma competição nacional (Grêmio x Internacional, Liverpool x Everton e etc). O encontro entre ambos mobiliza e faz ambas se reforçarem para não passarem vergonha nos embates. O Vitória não pareceu tão preocupado em montar um time competitivo no começo do ano: confiantes em conquistar mais um Baianão, a modesta equipe comandada por Ricardo Silva (um modesto treinador que gradativamente ganhou respeito da imprensa) se iludiu ao achar que a temporada estava bem encaminhada após o tetra-campeonato baiano. O time não engrenou no Brasileirão enquanto disputava simultaneamente a outra competição nacional, e no fim de semana seguinte à final da Copa do Brasil, Ricardo Silva foi demitido, ou melhor, "ganhou férias", mesmo com "o time na mão". O eufemismo usado pela diretoria só não foi mais infeliz do que a contratação do novo treinador, Toninho Cecílio. Com ele, veio a desclassificação histórica na Copa Sul-Americana (após ter vencido o Palmeiras por 2 a 0 no Barradão, o Vitória levou 3 a 0 no Pacaembu, dando adeus à competição), um congelamento na segunda página da tabela e até briga com jogador (Egídio).

A reestréia de Ricardo Silva veio em grande estilo, com triunfo fora de casa contra o Atlético Mineiro. A equipe progrediu até a 24ª rodada, com vitória sobre o Avaí por 3 a 0 no Barradão. Depois daí, foi só ladeira abaixo (veja nesse infográfico) Muitos torcedores do Vitória diziam que a chegada do Bahia para a Série A melhoraria o Leão, que se sentiria na obrigação de montar times competitivos logo no começo da temporada. Que os erros cometidos nesse ano não se repitam, e que o Vitória não demore muito para subir e colocar o futebol baiano nos holofotes.

domingo, 21 de novembro de 2010

As formas e formatos da caretice

Paletós, cabelos curtos, ausência de tatuagens e linguagem rebuscada parecem os artifícios ideais para se "neutralizar" num ambiente de trabalho conservador. Bancos, escritórios de advocacia e senado são locais aonde decisões importantes são tomadas, e a sociedade espera que os seus rumos sejam direcionados por pessoas competentes e acima de tudo, que passem confiança. Não dá para confiar em alguém pela sua auto-análise, espera-se da imprensa o papel de fiscalizador, mas o que fazer se nem a imprensa é de confiança?

Julgar a competência de alguém não é tão simples: os marketeiros de plantão farão o possível para sintetizar uma competência "mitológica", se colocarem num pedestal, longe dos mortais sem recursos para investir na própria imagem. Vestir-se "sem elegância", usar cabelos compridos e se comunicar através de uma linguagem transparente (sem as malícias de tentar mudar a situação trocando as palavras por seus sinônimos) é um ato de coragem, que pode custar caro: os caretas tem muita força nas decisões (são a maioria) e não aceitarão essas "subversões".

Os maiores jornais do mundo são um reflexo da caretice que até hoje persiste em aprisionar pessoas. É cômodo seguir uma programação rígida, acostumando seus leitores/telespectadores/ouvintes a absorverem novas notícias no mesmo formato, com os mesmos paradigmas. A receita de bolo para se programar o ordenamento das informações faz os jornalistas passarem a responsabilidade para seus consumidores, pois se eles consomem, sustentam o seu formato. Na verdade, a caretice continuará se a mobilização não começar inclusive nos jornais tão carentes de apuração detalhada. Como jornalista, pretendo ser melhor do que sou hoje: ainda vejo em mim traços de um conservadorismo incompatível com o que acho necessário para um mundo melhor. O universo não muda por vontade própria: é preciso se mobilizar, e eu estou disposto a ser alguém na corrente que pretende provar que é possível ser transparente, é preciso ser melhor.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Xô caretice!

Tem coisa mais chata do que um politicamente correto "xiita"? A vontade que tenho quando vejo um "senhor da razão" é de mandar a pessoa para aquele lugar, mas por enquanto, confesso, sou um tanto careta para isso.

O mundo vive uma contradição: os costumes mudam na mesma velocidade da tecnologia. Conclusão: se o que foi proibido antigamente já não choca hoje, a privacidade para se transgredir é mínima e o risco de se fazer algo escondido é maior, pois por vários condomínios pode haver uma câmera de segurança, ou até mesmo um gaiato pode te filmar pelo celular e colocar no You Tube. Dessa forma, uma professora de crianças foi demitida após ser veiculada uma imagem sua dançando a música "Todo enfiado", da banda “O Troco”, que diga-se de passagem, é extremamente vulgar. Taxar algo de vulgar não é "defender os bons costumes e a ordem vigente": a subversão gratuita se torna feia, e o belo continua existindo como conceito. Acontece que o belo, com a "evolução dos pensadores", nem sempre está associado ao bom e vice-versa, como acreditavam Platão e Aristóteles.

Largar a caretice não significa dar credibilidade a qualquer manifestação cultural. Isso é o que os caretas pensam sobre os não-caretas: que sem os "bons costumes", o mundo se torna "terra de ninguém". Eu continuo achando o funk carioca e o pagode baiano gêneros musicais feios e vulgares. Antes de qualquer coisa, o significado de vulgar no Dicionário Aurélio é: comum, ordinário, trivial, usual, reles, ordinário. Minha conclusão: ser careta também é ser vulgar, pois é aceitar as convenções sem parar para refletir. Se me perguntarem "o que você prefere: músicas de apelo sexual explícito ou os seus críticos moralistas ferrenhos" eu responderei que não sou obrigado a me posicionar entre dois extremos que não nos levam a encarar a vida de uma forma transparente: eu critico certas músicas mais pelo critério estético do que pelos "bons costumes".

Se você não é careta e quer ser candidato à presidência da república um dia, tome muito cuidado com o que fala/escreve/compõe. Tudo pode ir contra você: seus concorrentes irão desvendar todas as suas "subversões", e isso pode determinar o fracasso da sua candidatura. Você terá de tomar uma decisão arriscada: pagará o preço por tentar chegar ao topo do país, e quem sabe lá, tomar decisões que você sempre sonhou que seus representantes tomassem, ou continuar sendo transparente, candidatar-se sem o apoio de falsos moralistas e de quebra assumir os seus erros quando for necessário?

O mundo é dos caretas. Mas não acostume-se. Subverta. Não há vitória ou derrota: há aceitação ou menosprezo. Se você não quer mais ser um “vencedor” (nos padrões da caretice), leve a vida no seu ritmo, para que não lhe falte o que é tão importante: ser ser humano.

domingo, 7 de novembro de 2010

Suposição do sonho da realidade imaginária

Quem não sabe o que está perdendo pode apenas supor
Múltiplas suposições formam um imaginário
Projetar é passatempo e o tempo, brinquedo
De quem brinca de esperar o tempo passar
Por uma vida melhor a se formar


Supor infelicidade é achar
Que a realidade não pode ser superada pelo sonho
Que sonho continuará sendo até o dia de se pagar para ver
Se o preço do querer não é tão alto
Para que por ele valha a pena merecer
A paciência do angustiado, o sonho do desiludido
O futuro não corrido e o presente congelado

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2, "O filme"

Filme 'Tropa de Elite 2' emociona e faz refletir, mas para mobilizar, depende dos brasileiros

[Se você não viu o filme, é melhor não ler a postagem abaixo]

O mais novo filme de José Padilha não fala de super-heróis ou conspirações ilusórias: comparar Nascimento com Rambo é mais do que inadequado, torna-se uma ofensa. Com o seu vigor voltado para causas reais - e não fantasiosas, o personagem Roberto Nascimento sofre incrível mudança de reflexão ao ver de perto a raiz de todos os problemas que envolveram a sua carreira de policial.

Tropa de Elite 2 começa com uma interessante reflexão sobre a vida, na voz em off do seu protagonista. "Às vezes só damos valor a vida quando estamos perto da hora da morte". Em seguida, a nova cena não da sequência a anterior, o que aponta claramente que o início do filme poderá também ser a cena final, culminando na morte do policial.

Até o momento em que o tenente-coronel faz parte do BOPE, o segundo filme é um anexo do primeiro: uma obra focada em mostrar o ponto de vista do policial, fato este que fez José Padilha ganhar o rótulo de "fascista" por quem nada entende de arte - arte é diálogo livre, sem apologias ou moralismos. Uma operação no presídio de Bangu 1 tem um desfecho indesejado, um ativista dos direitos humanos vai a imprensa criticar a violência policial, e as consequências da repercussão na mídia foram o afastamento de Nascimento do BOPE e a transferência de Mathias (seu substituto "escolhido" no primeiro filme) para a polícia comum, onde ele fez parte e pôde experimentar a falta de seriedade dos colegas.

As coisas mudam de figura quando Nascimento é nomeado como subsecretário de segurança pública do Rio de Janeiro: ainda com a mentalidade de um policial, o ex-tenente-coronel transforma o BOPE numa máquina de guerra, enfraquecendo de vez o tráfico com um trabalho de extrema repressão. Seus blindados, helicóptero e nova organização institucional, no entanto não previa a troca de poder nos morros: com o enfraquecimento dos traficantes, as milícias tomaram conta das favelas, cobrando taxas dos moradores em troca de não fazê-los mal. Água, gás, TV a cabo pirata: todo dinheiro arrecadado do monopólio das milícias enriquecia policias corruptos responsáveis por "dar segurança aos moradores", e mais tarde, a arrecadação vira arma política para eleger um governador corrupto conivente com as falcatruas.

Nascimento então tenta brigar contra o sistema, e paga muito caro. Desvendar as ilegalidades não era fácil quando se estava num ninho de cobras, e com o pretexto de recuperar armas roubadas de uma delegacia, a polícia comum decide invadir outra comunidade para aumentar o território da milícia. Ao decorrer do filme, reflexões vão amadurecendo, e Nascimento vai enxergando o problema de segurança pública como mais profundo do que a simples repressão a bandidos: os maiores responsáveis pela corrupção estão no poder, e com anos exercendo a profissão de policial, sua reflexão na CPI das milícias dá o tom do que pode ser o terceiro filme. "Eu fui policial durante 30 anos, e não sei por que matei, e por quem matei". Tropa de Elite 2 é mais do que um filme: é uma ferramenta de conscientização que foge da didática escolar e nos faz refletir com cenas de derramamento de sangue que para combater a violência, é preciso se indispor e correr riscos.

Fotos do filme: http://www.flickr.com/photos/tropa2/

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Falta personalidade para os 'nossos' políticos

Evasões, omissões e discursos que contradizem suas próprias idéias anteriores são motivos para você não confiar em um candidato. Ser "Metamorfose ambulante" pode soar bem para um artista questionador na busca pela quebra de paradigmas, mas quando se tratam de políticos, ninguém muda sem pensar em estratégia. Alianças são feitas e desfeitas a toda hora, pois na busca por aceitação popular, "nossos representantes" fazem de tudo para "nos agradar" e, ganhando nossos votos, se eleger.

É difícil ver um político com personalidade. Um candidato nada mais é que uma marionete nas mãos de marqueteiros que lhe ensinam a agir da forma mais conveniente possível. Alianças com igrejas são a prova que, se depender dos "nossos líderes", agir de forma espontânea seria uma subversão tão grave que a pena pode ser a não-chegada ao poder. Mas qual o preço para saciar a fome de exercer um mandato?

Ateus viram cristãos, sindicalistas viram amigos de grandes empresários e ex-inimigos viram irmãos: vale tudo para propagar sua imagem nos mais remotos lugares desse país continental, e vence quem conseguir expandir sua propaganda para o mais distante raio de alcance. A democracia é tão artificial como a pré-disposição dos candidatos em agradar a população: quando eles fazem algo, tratam como favor feito ao povo, e não obrigação. Muitos só fazem, por exemplo, uma obra, por pressão popular, e ainda sim se houver troca de favores com bancos e construtoras.

Para esse segundo turno, meu voto é nulo, pois não acredito que nenhum desses dois candidatos possam trazer mudanças significativas para o Brasil: estão em disputa dois modelos de fazer política aonde o tamanho dos empreendimentos vale mais do que a responsabilidade em construí-los. Dois "santos" que fariam até fotossíntese para obterem a luz dos que não mais podem votar em Marina. Duas farsas, que nos darão uma certeza: nos debates, haverá encenação, mas de péssima qualidade, assim como o filme "Lula, o filho do Brasil", mas levando em conta que este é o representante brasileiro para chegar na noite do Oscar, porque duvidar que Dilma e Serra também não possam garantir suas estatuetas?

domingo, 29 de agosto de 2010

Exposição na internet

Tenho visto no twitter muitos hashtag - são as palavras que sucedem o # (jogo da velha) - com nomes de bandas acompanhados da palavra 'feelings' (que quer dizer sentimentos ou sensações). Cada banda traz diferentes energias e sentimentos para seu público: bandas rotuladas de 'emo' trazem uma dose de melancolia que faz muitos dos seus fãs chorarem (esse estereótipo é comumente satirizado), já o reggae é facilmente associado à paz e leveza.

Muitas pessoas ligadas à redes sociais tem se submetido a exagerada exposição, não é a toa que os sentimentos tem se transformado em tópicos no twitter: ao sentir tristeza, alguém desabafa uma mensagem e no final coloca a hashtag #triste. Não vejo até onde isso pode parar, mas continuo achando que a internet é uma ótima ferramenta para quem sabe usá-la: oportunidades profissionais podem surgir se você souber buscar, pesquisas podem ser feitas com menos esforço que há décadas atrás, quando as enciclopédias, mapas e dicionários eram livros indispensáveis para quem quisesse achar uma curiosidade sobre um lugar remoto. Ser transparente no Mundo virtual pode ser um caminho sem volta: os registros pessoais estarão para sempre guardados e associados ao usuário, num mecanismo de arquivamento de dados que por vezes me assusta e me leva a crer que não estamos tão longe de vivermos tempos de conspirações como no livro 1984 de George Orwell e no filme Matrix, aonde as informações eram fundamentais para rastrear 'subversores' de convenções, para enquadrar a sociedade.

A internet pode te fazer ter controle sobre suas ações, mas também pode te controlar como consequência de suas informações cedidas. Cuidado.

domingo, 1 de agosto de 2010

E a ressaca pós-Copa do Mundo está chegando ào fim

Se você ainda escuta a vinheta da Globo 'Jabulááááni' - isso se o barulho da vuvuzela não te deixou surdo - e a música 'Waka Waka' não saiu da cabeça, vai ser difícil encarar a idéia que a Copa do Mundo de 2010 acabou - e já faz algum tempo. A partir de agora, o futebol terá novos assuntos a se debater.

Por exemplo? Como em todos os começos de temporada na Europa, as grandes equipes se reforçam, algumas passam a ter novos anunciantes estampados em suas camisas e a pré-temporada começa com torneios pequenos e amistosos de teste. O 'bicho vai pegar' mesmo na Europa a partir do final do mês, quando começa a temporada regular: os grandes Campeonatos Nacionais custumam ser decididos por poucos pontos, logo, a estréia dos favoritos ào título é muito importante para abrir vantagem logo no começo da liga. Posteriormente, começa no Velho Mundo os torneios internacionais: a Liga dos Campeões e a Liga Europa mobilizam times de Portugal à Israel pela disputa que terá final no meio do ano que vem, e as Eliminatórias da Eurocopa classificarão as quatorze Seleções que se integrarão com os países sede, Ucrânia e Polônia, no torneio que irá acontecer em junho de 2012. Apenas depois da Eurocopa 2012 o velho Mundo irá pensar em Copa do Mundo de 2014, ào contrário de nós Sul-americanos, que passamos a pensar no próximo Mundial logo após o término do anterior, e nem a Copa América - que acontecerá em junho de 2011 na Argentina - consegue ofuscar o brilho do maior torneio do futebol: para brasileiros e argentinos, Copa América nada mais é que um preparativo para o torneio que acontecerá daqui a quatro anos no Brasil.

Brasileiros e argentinos podem se encontrar na final da Copa América, mas outro confronto entre esses rivais já está marcado ano que vem: a Copa Roca, que aconteceu pela primeira vez em 1914 e que não acontece há 35 anos, promete voltar a acontecer regularmente. Serão permitidos apenas jogadores que atuam nos seus países, e o modelo de disputa continuará sendo partidas de ida e volta, mas a data e local ainda não foram definidos.

O Brasileirão e Série B voltaram uma semana depois da final do Mundial 2010. Copa do Brasil a ser decidida, Libertadores a definir final e Sul-Americana à começar: se o calendário do futebol ainda parece sem graça para quem até pouco tempo se empolgava com o torneio máximo do futebol - que só acontecerá novamente em quatro anos - um conselho: não perca as próximas novidades do Mundo da bola, muita coisa inédita está por vir.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Perspectivas profissionais

Eu escolhi a profissão de jornalista aos treze anos, quando assisti um Globo Repórter sobre a Copa do Mundo de 2002, realizada na Coréia do Sul e Japão. Passados oito anos eu descobri que tenho uma visão totalmente diferente do que é ser jornalista e o que quero com a profissão: se antes o vislumbre de trabalhar na TV e viajar eram os fatores predominantes, hoje desejo servir à sociedade com matérias que me façam sentir orgulho de mim mesmo, além de levar a empresa aonde trabalharei à patamares cada vez mais altos.

Procurar, investigar, apurar e desenvolver textos: hoje tenho uma noção realista do que é jornalismo, ao contrário de oito anos atrás, quando imaginava que ser jornalista fosse conhecer o Mundo viajando e relatando os detalhes como num diário de bordo. Quero crescer na minha carreira trabalhando para um grande veículo de comunicação, obedecendo as suas hierarquias sem deixar de ser criativo para sugerir inovações. Desejo não me limitar a um só setor: sou curioso para desvendar o “Cyber Universo” e conhecer diversas ferramentas de Web. Gosto de entrevistar e desenvolver uma matéria ou reportagem respeitando as fontes, mas sempre com um olhar crítico e questionador. Independentemente de quais rumos tomem a minha carreira – no jornal impresso, internet... – farei o que gosto, pois jornalismo me faz feliz, e ser feliz é o primeiro passo para fazer algo bem feito.

Desenvolver minhas potencialidades e ter força de vontade para aprender cada vez mais coisas novas. O Mundo está aberto para desafios e eu pretendo estar aberto a executar com eficiência os deveres que me forem passados: obediência e ousadia, dosadas, é a fórmula para o profissional que eu quero ser.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

ÔôÔô a Celeste voltôÔô... / As zebras também choram

ÔôÔô a Celeste voltôÔô... (22-06)

O glorioso Uruguai mostrou ser mais olímpico do que nunca: bater recorde e quebrar tabus estão se tornando uma especialidade da Seleção de camisa azul celeste nesse Mundial.

Após fechar a primeira fase com chave de ouro com a vitória de 1 a 0 sobre o México, pela primeira vez a Seleção Uruguaia, em sua 11ª participação em Copas, consegue ficar três partidas de Copas sem levar gols. O Uruguai foi o maior responsável por, pela primeira vez em Mundiais, o anfitrião não passar da primeira fase - a vitória por 3 a 0 sobre a África do Sul deixou os Bafana Bafana com o saldo inferior ao dos mexicanos, apesar do mesmo número de pontos. Há 56 anos o Uruguai não emplacava duas vitórias consecutivas no maior evento esportivo do planeta. A última vez havia sido na Copa de 1954, quando derrotou dois britânicos: 7 a 0 sobre a Escócia e 4 a 2 sobre a Inglaterra. Quem pode parar a Celeste Olímpica? No seu caminho, a Coréia do Sul, e posteriormente - em caso de classificação para as quartas-de-final - Gana ou Estados Unidos. Quem duvida que a geração Forlan pode levar o seu povo a sentir o doce sabor que pela última vez ocorreu em 1950? Na estréia contra a França, chuveram críticos que manifestaram opiniões duras contra o Uruguai, a exemplo de Mauro Cézar Pereira, da ESPN, que sugeriu que a equipe não passaria da primeira fase. Hoje, José Trajano, talvez um dos 'maiores críticos' em todos os sentidos, também da ESPN, expôs sua satisfação ao ver o Uruguai voltando a jogar um bom futebol.

ESPN.com.br / José Trajano - Informação é o nosso esporte - VIDEOBLOG: Ao ritmo do candombe, Trajano comemora vaga uruguaia

A África do Sul, que não conseguiu vaga se quer para a Copa das Nações Africanas, esperava pelo começo do Mundial sob enorme desconfiança. Mas episódio semelhante já havia ocorrido as vésperas da Copa do Mundo de Rugby em 1995, quando a equipe dos Springbox - a Seleção nacional de Rugby - venceu o torneio surpreendentemente. A Seleção nacional de futebol se chama 'Bafana Bafana'. Estreou com empate contra o México, foi derrotado por 3 a 0 contra o Uruguai, mas ainda restava uma luz no fim do túnel contra a desequilibrada França. Embalados pelo ritmo do "Shosholoza" - música que representou a resistência de Nelson Mandela e nessa Copa foi o hino da Seleção da casa - os sul-africanos não desistiram, mas a vitória por apenas 2 a 1 sobre a equipe do técnico Domenech não foi suficiente: seria preciso fazer mais três gols. Mas os sul-africanos não se abateram e, conscientes de suas limitações, fizeram festa após a vitória simbólica e agora se dividem na torcida: alguns pensam em torcer por Gana, a representante do continente africano, outros apoiarão Brasil, Argentina e etc.

ESPN.com.br / José Trajano - Informação é o nosso esporte - VIDEOBLOG: Redação em ritmo de Shosholoza

O momento mais marcante após o término da partida entre África do Sul e França foi a tentativa de Parreira em cumprimentar o treinador adversário, Raymond Domenech, e este ter negado o aperto de mão. A Seleção francesa protagonizou uma série de 'barracos' desde a sua classificação polêmica, com uma assitência de Henry usando a mão para o gol de Gallas. Domenech, que fora vice-campeão Mundial em 2006, foi polêmico na sua convocação e admitiu usar o 'mapa astral' para determinar os seus 23 jogadores: Karim Benzema, do Real Madrid, por exemplo, não foi chamado. Thierry Henry jogou a Copa na reserva de Nicolas Anelka até a segunda partida, e justamente o seu 'jogador queridinho', que pouco rendeu em campo nas partidas em que jogou, o xingou no vestiário por ter sido substituído da partida. O episódio foi parar na capa do L'Equipe, o principal jornal de esportes da França, e com isso Anelka foi mandado embora do Mundial logo após o assunto repercutir. Numa coletiva de imprensa, o capitão Patrice Evra tentou minimizar o caso, afirmando que o caso não precisaria vir a tona, e se foi divulgado é porque 'havia um treinador dentro da equipe'. No dia seguinte, mais confusão: Evra se desentendeu com o preparador físico da Seleção, Robert Duverne, os jogadores boicotaram o treino e o diretor Jean-Louis Valentin, que chefiava o time da França na Copa do Mundo da África do Sul, achou que não tinha clima para trabalhar em meio às turbulências, pediu demissão e rumou de volta para Paris. Com todo esse turbilhão de acontecimentos, a França será lembrada desse Mundial mais como a Seleção das encrencas do que como uma equipe que pisou nos gramados de um Mundial. Raymond Domenech está para ser demitido e a sua falta de educação em não cumprimentar Parreira já entrou para história.

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As zebras também choram (23-06)

Poucos acreditaram que a Eslovênia pudesse chegar nas oitavas-de-final: poucos se quer haviam visto um jogo dela. Na segunda rodada, vencendo por 2 a 0 os Estados Unidos, os eslovenos estavam muito próximo de serem a primeira equipe do torneio a conseguir vaga para a próxima fase, mas a maionese desandou e os americanos chegaram ao empate. Chegando na última rodada como líder do Grupo C precisando apenas do empate para seguir adiante na competição, os eslovenos não resistiram e levaram um gol da Inglaterra, que seria o único da partida. Mesmo assim, a classificação viria: EUA e Argélia empatavam até os acréscimos do segundo tempo, quando Donovan foi o responsável pelas 'zebras' chorarem. De quebra, os americanos conseguiram a liderança do grupo.

O Grupo C jogou às 11h e teve emoção até o fim. O Grupo D, que jogou as 15h30, contou com um dado interessantíssimo: pela primeira vez na história das Copas do Mundo dois irmãos se enfrentaram numa partida. O ganense da Seleção alemã Kevin-Prince Boateng não só enfrentou o seu país, como também a equipe do seu irmão Jerome Boateng. Enquanto as naturalizações não sofrerem nenhum tipo de restrição esse tipo de acontecimento 'corre o risco' de se repetir. Dentre os vários ineditismos em Copas, um dificilmente acontecerá um dia: pai e filho jogarem pela mesma Seleção, ou mais incrível, se enfrentarem por Seleções opostas. Dados curiosos são muito instigantes, independente da ótica positiva ou negativa do mesmo acontecimento. A Alemanha venceu Gana e ficou com a liderança. Com a vitória da Austrália para Sérvia, Gana ficou com os mesmos quatro pontos da Austrália, mas ficou com a vaga pelo saldo de gols - em parte porque a Austrália levou a goleada de 4 a 0 para a os germânicos. O grupo D é tão confuso que a lanterna Sérvia venceu a líder Alemanha na segunda rodada. Com isso, um grande clássico do futebol já tem data marcada: dia 27 de junho, às 11h, Alemanha e Inglaterra. Já Gana enfrentará os Estados Unidos.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

All Blacks, All whites, like a zebra / O que os olhos não vêem o coração não sente

All Blacks, All whites, like a zebra (20-06)


Na cidade de Nelspruithá há o estádio de Mbombela, com listras em preto e banco, numa clara referência a zebra. Foi nele que a Nova Zelândia protagonizou uma surpresa e tanto...

De um lado, a Itália, tetra campeã mundial, um país de 'sessenta milhões de treinadores' - como os próprios se auto-denominam -, apaixonada pelo esporte mais popular do planeta. De outro, a Nova Zelândia, tradicional nação no... Rugby. Essa é a sua segunda participação em Copas do Mundo de futebol, e trajada em vestes brancos, o apelido de sua Seleção de 'soccer' é 'All Whites' - alusão ao apelido de sua Seleção de Rugby, que se veste toda de preto e é conhecida com os 'All Blacks'. O que você esperaria desse jogo? Eu apostei no óbvio: vitória arrasadora da 'Azzurra' - apelido da Seleção italiana, que em italiano signfica azul. Mas essa Copa novamente surpreendeu e a Nova Zelândia abriu o placar. A itália chegou ao empate e não conseguiu a virada: 1 a 1 e a atual campeã Mundial correndo risco de não passar da primeira fase. É preciso vencer a Eslováquia, pois em caso de empate, somente a vitória paraguaia poderia lhe dar a vaga: estando rigidamente empatada com o país Oceânico - dois pontos e mesmo número de gols marcados até o momento - empates iguais nos dois últimos jogos do grupo F levariam a vaga para ser decidida no sorteio!No jogo anterior os paraguaios confirmaram a boa fase dos sul-americanos e venceram a Eslováquia por 2 a 0. No último jogo do Domingo, o Brasil espantou a zebra, vencendo e convencendo na partida contra a Costa do Marfim. Luís Fabiano, que não estufava as redes por seis jogos vestindo a camisa canarinha, marcou dois gols, o segundo deles antológico: dois 'chapéis' - ou banho de cuía, a depender da região - e dois toques de mão 'involuntários': tão folclórico quanto o gol foi a cena do árbitro da partida correndo ao lado do Fabuloso apontando para o próprio braço. O que ele queria dizer com isso? Episódio típico de Fifa Fever: certamente estará entre algumas das cenas estranhas da história de todos os Mundiais.

O terceiro gol foi de Elano: o seu segundo no Mundial. Kaka deu os passes para o primeiro e terceiro gol - no primeiro, numa triangulação com Robinho. A Costa do Marfim marcou com Drogba, atacante que passou sério risco de não ir a Copa após ter quebrado o braço numa disputa com o nipo-brasileiro Marcos Túlio Tanaka, num amistoso contra o Japão a uma semana do início do Mundial.


O jogo foi quente no final: os Elefantes bateram, Elano saiu de campo de maca sem conseguir pisar no chão após Ismael Tioté ter deixado o pé numa divida, mas quem teve jogador expulso foram os sul-americanos, e quem diria, o meia Kaka, após ser vítima de uma simulação de cutuvelada de Keita, levou o seu terceiro cartão vermelho em quase uma década de carreira.

Um dos personagens principais da partida foi o árbitro francês Stephane Lannoy, que além de ter protagonizado a cena estranha ao lado de Luís Fabiano apontando para o braço, não teve o controle da partida e deixou-a correr economizando nos cartões nos minutos iniciais, o que fez o seu final ficar tenso, resultando no surgimento de outro personagem da partida: o técnico Dunga, que irritadíssimo, xingou-o a beira do gramado - assim como xingou Drogba - e chegou 'armado' na coletiva de imprensa chegando a parar no meio de uma resposta para encarar um jornalista. Alex Escobar, da Rede Globo, falava ao telefone com Tadeu Schmidt - segundo Tadeu - e Dunga entendeu que Alex havia discordado sobre a sua afirmação que a imprensa não dava créditos a Luís Fabiano. Dunga xigou-o baixo, mas as palavras foram perceptíveis em linguagem labial e captadas pelo áudio, o que poderá gerar uma suspensão semelhante a que Maradona sofreu após insultar a imprensa no dia da classificação para a Copa após, o jogo contra o Uruguai, na coletiva de imprensa. A ESPN, emissora de linhagem e ideologia diferente da Rede Globo - que também é proprietária da Sportv - também foi a defesa de Alex Escobar, a exemplo de José Trajano, Paulo Calçade e João Palomino que afirmaram que o jornalista insultado é 'um doce de pessoa'. Se o absurdo na coletiva de imprensa parecia óbvio, não parece ter se tornado tão nítido para boa parte dos twitteiros, que criaram o canal "Cala Boca Tadeu Schmidt" no micro blog por este ter defendido o seu colega, como foi contado na matéria do Portal Exame.



Viva Laduma!

Fotos:

Estádio Mbombela (AFP)
Smeltz, comemorando gol da Nova Zelândia (AFP | Martin Bernetti)
Dunga (AFP | Issouf Sanogo)
Kaka (AFP | Roberto Schmidt)


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O que os olhos não vêem o coração não sente (21-06)

Kim Jong Il ficou feliz com a estréia da Coréia do Norte na Copa. Como Líder Supremo do seu país, autorizou o VT da partida contra o Brasil no dia seguinte - apenas desfiles militares são transmitidos Ao Vivo pela Tv. No jogo de hoje, uma excessão: a partida contra Portugal seria passada em tempo real (aqui no Brasil, 8h30h, na Coréia, 20h30) para os seus quase vinte e quatro milhões de torcedores, resultado? Um 7 a 0 que ninguém gostaria de assistir - se é que a transmissão não foi interrompida no meio.

A cena acima se repetiu sete vezes hoje. Sem chances de classificação, a Seleção Norte-Coreana aprendeu da pior maneira uma lição: se jogasse fechada como na estréia, o resultado seria outro. Foto: Carlos Barria, da REUTERS

Não faltou garra para a equipe asiática, mas haviam mais espaços vazios, talvez fruto de uma mudança de ordens do treinador, que por ter perdido pela margem mínima para o Brasil, talvez achasse que poderia vencer Portugal. Os norte-coreanos demonstraram claramente deficiência para sair jogando: o jogo extremamente coletivo não permitia jogadas mais ousadas, o que atualmente também é um problema para a Seleção Brasileira, mas ao contrário dos brasileiros, os norte-coreanos não faziam triangulações em espaços pequenos na entrada da área adversária, porque se quer chegavam tantas vezes perto dela - como a vista entre Kaka, Luís Fabiano e Robinho ontem - tampouco passes em alta profundidade. A timidez da equipe se deve as deficiências técnicas óbvias e nada tem haver com a geração de Pak Doo-Ik, que ficou famosa mundialmente por ser aberta 'até demais' - muitos atribuem o excesso de vontade de ir em direção ao gol como a responsável pela derrota de virada em 1966 contra a mesma Portugal, quando a vencia por 3 a 0. Talvez, consciente das suas limitações, os norte-coreanos não jogariam de igual para igual contra uma equipe acostumada contra grandes desafios como Portugal.

Méritos para Portugal, que fez bonito hoje, inclusive nas arquibancadas. Foto: Getty Images | Quinn Rooney

Equipes com dificuldade de criação - a exemplo de Suíça e Grécia - já conseguiram grandes feitos no futebol com a retranca: obviamente a crônica esportiva criticará duramente, mas é a única maneira de levar 'Davis a vencerem Golias'.

A Grécia ganhou uma Eurocopa em 2004, satisfazendo a sua nação e a ninguém mais, e a Suíça, que em 2006 se tornou a primeira Seleção a terminar um Mundial sem levar gols, no jogo de hoje que começou as 11h bateu mais um recorde: 559 minutos sem levar gols entre as Copas de 1994, 2006 e 2010. O recorde anterior era da Itália, que havia ficado 550 minutos sem ter as suas redes estufadas entre seu final na Copa de 1986 até a semi-final da Copa de 1990 ( a Itália ainda tem o recorde de mais minutos sem levar gols em uma Copa do Mundo, 217 minutos). Após 9 minutos de terem alcançados os italianos na marca histórica, a Suíça levou o gol solitário da partida: o Chile venceu e é o líder isolado, precisando apenas de um empate na última rodada para garantir o primeiro lugar, o que lhe dará o direito de enfrentar o segundo colocado do grupo G - que tem grandes chances de ser Portugal, que joga pelo empate contra o Brasil para garantir a classificação e não deve se expor.

No jogo de 15h30 a Espanha venceu Honduras por 3 a 0. David Villa perdeu a oportunidade de entrar na artilharia do Mundial ao lado de Higuaín: deixou a sua marca duas vezes, mas perdeu um pênalti. A situação da 'Fúria' - como é conhecida a Seleção espanhola - ainda é delicada: um empate pode pode deixá-la fora da Copa prematuramente em caso de vitória da Suíça.

Amanhã pela primeira vez não terá jogo as 8h30: na terceira rodada, que vai até o dia 25, haverão quatro partidas diárias, duas ocorrendo as 11h e duas as 15h30, todas rigidamente simultâneas, a fim de evitar suposta fraude semelhante a de 1978, quando a Argentina entrou em campo contra o Peru sabendo exatamente o placar que precisava para passar o Brasil no saldo de gols e chegar a finalíssima do Mundial. Os argentinos precisavam vencer por quatro gols de diferença, venceram por 6 a 0 e a discussão ainda continua de pé.

No dia 22 as 11h os bafana-bafana entram em campo contra a conturbada França. Apenas um milagre colocará qualquer uma dessas Seleções nas oitavas-de-final, já que México e Uruguai, com quatro pontos e saldo considerável, se enfrentam no mesmo horário e não devem se arriscar tanto ao decorrer da partida, embora os mexicanos tenham motivos para buscar a vitória: com um saldo inferior ao dos uruguaios, um empate provavelmente os levaria a enfrentar a temível Argentina.

As 15h30 a Argentina enfrenta a Grécia: os gregos podem até se classificar com um empate, caso a Nigéria vença a Coréia do Sul no mesmo horário. A Coréia do Sul é a favorita para garantir a segunda colocação: com a Argentina arrasadora, os coreanos não devem partir pra cima da Nigéria logo no início, pois o empate contra os africanos, em caso de vitória argentina, classifica os asiáticos. Gregos e sul-coreanos tem o mesmo saldo, mas os orientais balançaram as redes mais vezes e por isso estão na vice-liderança: a Grécia precisaria vencer a Argentina com a diferença de gols maior que a dos coreanos sobre a Nigéria para se qualificar as oitavas de final do Mundial.

Palpite? Três latino-americanos garantidos e um asiático nas oitavas de final amanhã. Viva Laduma!

Fotos:

Goleiro Ri Myong-Guk deitado no gramado (AP Photo | Kin Cheung)
Mun In Guk protegendo a bola de Fábio Coentrão (Getty Images | Jamie McDonald)

sábado, 19 de junho de 2010

Camarão que dorme a onda leva...


A Seleção de Eto é a primeira eliminada da Copa de 2010. O momento de caçador do craque da camisa número 9 dos Leões Indomáveis deu esperança, mas a virada domou a fera.

Estava demorando para surgir o primeira eliminado dessa Copa, e os camaroneses, após levarem virada sobre a Dinamarca por 2 a 1, não tem mais chances matemáticas de seguir adiante no Mundial, pois o máximo que os "Leões Indomáveis" podem alcançar é três pontos, e a Holanda já tem seis e Japão e Dinamarca tem três pontos e se enfrentam, o que fará ambas equipes chegarem a quatro pontos em caso de empate ou uma delas chegará a seis pontos. Por outro lado, a Holanda foi a primeira Seleção a garantir vaga nas oitavas-de-final - mas ainda não garantiu a liderança - após vencer o Japão com um gol solitário de Sneijder, com direito a colaboração do goleiro japonês. Embora mecânica demais, a Laranja conseguiu confirmar seu favoritismo no grupo com 100% de aproveitamento nas duas primeiras rodadas, algo difícil nessa Copa repleta de zebras.

Demorou um pouco para a primeira equipe do Mundial ser forçada a arrumar as malas, mas se em alguns grupos há imprevisibilidade, em outros as coisas precisam apenas se oficializar.

No grupo A, provavelmente as vagas serão dos latino-americanos, com 5 pontos cada, e a França, já em crise, não contará com Anelka para o jogo contra a África do Sul, devido a um suposto insulto ao treinador Raymond Domenech. Segundo o jornal esportivo "L'Equipe", no intervalo do jogo contra o México, o atacante francês teria mandado o técnico francês "chupar caju, filho de uma boa moça". O capitão Evra lamentou a difusão do fato: segundo ele, quem divulgou o acontecimento é um traidor com intenção de prejuducar a Seleção francesa.

No Grupo B, mesmo sem ter somados pontos, a situação da Nigéria é 'muitíssimo possível': a Argentina provavelmente deverá ganhar da Grécia, fazendo o saldo dos gregos alcançarem no mínimo -2, e se os africanos vencerem a Coréia do Sul pelo placar mínimo alcançará -1 de saldo, empurrando os sul-coreanos para um saldo de -2.

No Grupo C a Argélia já está feliz o suficiente de ter sido um obstáculo para os ingleses, e embora na lanterna do grupo, depende de uma vitória contra os Estados Unidos e, dando empate ou vitória eslovena entre Inglaterra x Eslovênia, irá junto com a Eslovênia para as oitavas, em caso de vitória inglesa, depende do saldo de gols para classificar, pois o seu saldo atual é -1, e o da Eslovênia é +1, mas os eslovenos marcaram três gols no Mundial, e os argelinos ainda não estufaram as redes, e o número de gols marcados é o terceiro critério de desempate.

No Grupo D, a lanterna Austrália tem chances: no jogo de hoje, empatou contra Gana, a na terceira rodada precisa vencer a Sérvia e torcer por vitória de Gana sobre a Alemanha. Em caso de empate, seria preciso de uma goleada sobre a Sérvia para melhorar seu saldo, hoje de -4, e passar a Alemanha, que hoje tem saldo de +3. Se os alemães vencerem, é preciso golear para passar os ganeses, que hoje tem saldo de +1.

Amanhã a Seleção Brasileira jogará pela primeira vez na história no Soccer City: se tudo ocorrer como querem os brasileiros, o Hexa poderá acontecer lá, no dia 11 de Julho. Não foi preciso viajar depois da partida contra a Coréia do Norte: assim como o Ellis Park, o estádio da finalíssima desse Mundial também fica em Joanesburgo. Brasil e Costa do Marfim não puderam fazer reconhecimento do gramado: cuidados especiais foram tomados e a grama está sendo especialmente tratada para o jogo de amanhã. O Brasil virá a campo usando camisas amarelas, calções azuis e meiões azuis. Já os Elefantes usarão o seu segundo uniforme: camisa listrada em verde e branco na horizontal, calções e meiões brancos.

O Grupo F também vai a campo no Domingo: as 8h30 o Paraguai, como todos os países do continente americano, está invicto no Mundial, estreiou empatando com a Itália, e agora busca a vitória sobre a Eslováquia, que deixou escapar a vitória na estréia sobre a fraca Nova Zelândia nos instantes finais do jogo. As 11h a Itália tem a obrigação de vencer a Nova Zelândia para ficar bem posicionada na tabela. Bom fim de semana, Viva Laduma!

Foto: AFP | Thomas Coex

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Presente para grego / Perigo: Zebras soltas na Copa


Presente para grego (17-06)

O nigerino Enyeama era até o momento o melhor goleiro da Copa: um desempenho impecável contra a Argentina numa Copa onde os goleiros começaram a falhar tão cedo. O desempenho se repetiu contra a Grécia - ele foi escolhido o melhor jogador da partida pela Fifa - até o chute despretencioso de Tziolis, que o fez bater roupa na frente de Torosidis e com isso engordar ainda mais a lista de falhas de goleiros.

A posição de goleiro é mesmo amaldiçoada: as más línguas dizem que onde o guarda-redes pisa não nasce grama. O goleiro é o único jogador que não pode falhar: o atacante argentino Higuaín jogou péssima partida contra a Nigéria, desperdiçou inúmeras oportunidades claras – defendidas pelo até então infalível Enyeama - mas hoje fez três gols na goleada sobre a Coréia do Sul por 4 a 1 e agora não é mais ameaçado de ir ao banco, pois assumiu a artilharia da competição. Como eu sou goleiro e sei como é chato falhar e ser o responsável direto pelo resultado da partida, não colocarei o momento constrangedor de Enyeama porque pelo que ele fez nesses dois jogos, não merece isso: merece sim um de seus momentos de luz (a foto acima, num choque com o argentino Messi, o melhor do Mundo), quando ele mostrou quem ele é, e não o que eventualmente pode ser.

O meia Kaita assumiu a responsabilidade pela derrota da Nigéria: sua equipe vencia por 1 a 0 e após sua expulsão, a Grécia cresceu no jogo. Críticas fazem parte do futebol, mas que estas não cheguem ao patamar de violência que alcançou com o colombiano Andrés Escobar, assassinado após voltar da Copa de 1994 por ter marcado um gol contra, o único de sua carreira. Kaita chegou a receber ameaças pela internet, mas não se sabe até que ponto não se trataram de desabafos no calor do momento ou de planos concretos de fazer mal ao jogador.

A Argentina está praticamente classificada: apenas uma derrota por goleada para a Grécia, combinando com uma vitória monumental da Coréia do Sul sobre a Nigéria, poderim tirar Los Hermanos das Oitavas de final. O saldo de gols dos argentinos é de +4, a dos Sul coreanos e gregos é de -1, e os asiáticos levam vantagem nos gols feitos, que é o terceiro critério de desempate: os Sul coreanos estufaram as redes três vezes, e os gregos marcaram apenas duas, por sinal, os dois únicos gols da Grécia na história das Copas do Mundo.

Para a Nigéria se classificar, precisa vencer a Coréia do Sul e torcer pela vitória da Argentina sobre a Grécia. Derrota simples de Coréia do Sul e Grécia fariam essas equipes ficarem com saldo de -2, e a Nigéria chegaria a -1 de saldo e ultrapassaria os concorrentes.

Brasil e Argentina só poderão se encontrar na final se confirmarem o favoritismo e terminarem a primeira fase na liderança de seus grupos. Mas pelo clima de rivalidade nas entrevistas coletivas, parece que essas duas Seleções estão as vésperas do jogo decisivo: repúdio a declarações de Luís Fabiano pelo lado dos argentinos, resposta de Felipe Melo a Verón, que afirmou que ‘se samba ganhasse jogo, o Brasil não perderia Copas’, sem falar dos insultos de Maradona contra Pelé. A rivalidade entre essas duas Seleções podem render um capítulo a parte nesse Mundial, independente de essas equipes se encontrarem ou não.

No jogo das 15h30 o México, tão estigmatizado por nunca ter chegado tão longe em uma Copa do Mundo – apesar de ter um histórico grande de participações em Mundiais – deu um sinal que nesse ano, as coisas podem ser diferentes. O problema é que todos os anos os mexicanos dão esse sinal, e a quatro Copas do Mundo consecutivas são eliminados nas oitavas de final - não é a toa que a própria imprensa mexicana criou a célebre frase "México: jogou como nunca, perdeu como sempre". A nação de Zorro fez as suas melhores campanhas quando sediou os mundiais de 1970 e 86, quando foi eliminada nas quartas de final. A vitória sobre a França por 2 a 0 deixou o México precisando apenas de um empate para garantir vaga para a próxima fase, mas se quiser a liderança, precisará vencer o Uruguai na última rodada e com isso escapar do eventual confronto contra a Argentina, Seleção que os eliminou da última Copa do Mundo (2006) e última Copa América (2007).

Nota positiva sobre a segunda rodada do Mundial: dos até agora quatro jogos disputados, em três a rede foi estufada mais de duas vezes. Na primeira rodada toda, em apenas duas partidas houveram mais de dois gols – Alemanha -4 x 0-Austrália e Brasil -2x1-Coréia do Norte.

Amanhã as 8h30 a Alemanha enfrenta a Sérvia, detalhe: em todas as Copas que a Alemanha Ocidental venceu, enfrentou a Iuguslávia – atual Sévia. As 11h Estados Unidos e Eslovênia duelam por uma vaga no Grupo C, e as 15h30 a Inglaterra promete não decepcionar novamente: uma vitória sobre a Argélia pode colocar a equipe do técnico Capello na liderança.

Viva Laduma!

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Perigo: Zebras soltas na Copa (18-06)

A Copa do Mundo 2010 completou uma semana nessa sexta-feira. Os favoritos para a Copa são Espanha, Brasil, Holanda e Inglaterra no primeiro pelotão, seguidos de Argentina - pelo bom futebol dos jogadores nos seus clubes, e não na Seleção - e Alemanha - especialmente a partir de Domingo, depois de golear a Austrália por 4 a 0. Hoje, 18 de junho, no começo da segunda rodada, três desses favoritos estão seriamente ameaçados de serem eliminados na primeira fase do Mundial (Inglaterra, Alemanha e Espanha) e dois deles (Holanda e Brasil) ainda nem jogaram na segunda rodada. Apenas a Argentina conseguiu fazer seis pontos - com direito a goleada sobre a Coréia do Sul por 4 a 1, três gols de Higuaín - e se a segunda rodada começou bem, dois dos jogos de hoje enfraqueceram a média de gols na Copa: Alemanha-0 x 1-Sérvia e Inglaterra-0 x 0-Argélia. Se a Jabulani se entristeceu um pouco, ao menos um tempero especial foi dado ao Mundial que tanto tem surpreendido, ao contrário de 2006, com resultados óbvios.

No jogo da Alemanha e Sérvia, Vidic cometeu um pênalti muito semelhante ao que Kuzmanovic tinha cometido contra Gana: mão na bola "involuntária" - sim, com essas aspas polêmicas. Felizmente para os balcânicos, o goleirão Stojkovic pegou o pênalti de Lukas Poldoski e garantiu o triunfo. Klose foi expulso, com isso não jogará a partida da terceira rodada contra Gana e torna a sua meta de ultrapassar Ronaldo como o maior artilheiro de todas as Copas mais difícil. Para o seu lugar, o brasileiro Cacau tem a responsabilidade de levar os germânicos a vitória e classificação.

O melhor jogo do dia foi o heróico empate dos americanos contra a Eslovênia que, se mantivesse a vitória, se tornaria o primeiro país a garantir a classificação para as oitavas de final do Mundial - já que iria a seis pontos e não poderia ser alcançado pelos EUA e o resultado de Argélia e Inglaterra faria um dois dois também não conseguir -, mas cedeu o empate e por pouco a virada: o gol de Maurice Edu foi legal e inexplicavelmente foi anulado pelo árbitro malês Koman Coulibahly. Em pleno Ellis Park, onde os Estados Unidos sofreu uma virada histórica na final da Copa das Confederações - após terminar o primeiro tempo vencendo por 2 a 0 - os americanos poderiam "repetir" a história, mas desta vez, como vencedor.

Hoje o escritor José Saramago faleceu. Sendo o único escritor de língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel da Literatura, o autor de "Ensaio sobre a Cegueira" estaria orgulhoso do espaço que seu idioma tem ganhado no cenário mundial, especialmente no grupo G da Copa, onde há duas Seleções lusófonas e um jogador lusófono, Jong Tae Se, da Coréia do Norte. O "Rooney asiático" nasceu e mora no Japão, aonde aprendeu com amigos brasileiros as maravilhas do "idioma oficial do sétimo grupo da Copa". Jog Tae Se parece tão incorporado ao grupo de sua Seleção no Mundial que prefere ser rotulado de "Drogba asiático".

Se a língua portuguesa parece harmonizar o grupo G, mesmo com suas inúmeras censuras - um Brasil mais fechado do que nunca em Mundiais e uma Seleção Norte Coreana tão fechada como o seu próprio país (sem falar na polêmica envolvendo eventuais jogadores que fugiram da concentração) - a língua espanhola tem sido o tempero mais venenoso no grupo H. Cesc Fabregas reclamou por estar na reserva da Seleção Espanhola, o técnico campeão com a Espanha na Eurocopa de 2008, José Luis Aragonés, criticou o trabalho de Vicente del Bosque - o atual treinador - e o técnico de Honduras Reinaldo Rueda, que enfrentará a poderosa Espanha na segunda-feira, disse que 'o pior já passou', afirmando que o Chile é o adversário mais difícil do grupo, no qual ele perdeu por apenas um a zero. Perguntado sobre essa declaração, o espanhol Xabi Alonso disse respeitar a sua opinião e não criou maiores polêmicas.

Há grandes possibilidades de metade das equipes classificadas para as oitavas-de-final virem do continente americano: apenas Honduras se encontra numa situação muito desfavorável até o momento. Por outro lado, a Europa pode colocar o menor número de Seleções nas oitavas em toda a história.

Amanhã as 8h30 Gana enfrenta a Austrália e em caso de vitória, poderá jogar pelo empate contra a Alemanha na última rodada para garantir a liderança. Gana é a grande esperança do continente africano para esse Mundial: a África do Sul precisa de uma vitória com um saldo considerável sobre a França e ainda assim torcer para que no jogo entre México e Uruguai, um dos dois ganhe de goleada, em caso de empate, passarão as duas seleções latino-americanas. A Argélia precisa vencer os EUA e torcer para a Inglaterra não vencer a Eslovênia - situação dificílima.

As 11h, Camarões tenta dar mais esperanças a África: vencer a Dinamarca é obrigação, e a depender do resultado entre Holanda e Japão, as 15h30, Camarões pode conseguir terminar a segunda rodada entre os classificados, desde que haja um vencedor entre os samurais e a Laranja, e o saldo seja generoso a ponto de os Leões Indomáveis ultrapassarem um de seus concorrentes. Será que os japoneses aprontarão para cima dos holandeses? Haja zebra! O Holandês Kuyt já deu uma leve temperada no jogo, ao dizer que pretende comer sushi no jantar de amanhã, após a partida. Será? Assista a Copa pela tv e continue acompanhando a minha cobertura do Mundial e, aconteça o que acontecer, os principais episódios estarão nas pratileiras de diversas livrarias e nas estantes de diversas videolocadoras, ou seja: a história está se construindo sob os seus olhos.

Viva Laduma!

Foto de Enyeama: AFP

quarta-feira, 16 de junho de 2010

América do Sul Maravilha


A Conmebol (Confederação Sul-americana de futebol) tem motivos para estar rindo a toa: em cinco dias de competição, todas as cinco equipes do continente sul-americano estão invictas!

O dia 16 de junho não é apenas a data do meu aniversário: na África do Sul é feriado nacional. Em 1976 alguns jovens em Soweto fizeram uma manifestação contra o ensino obrigatório do idioma afrikaans - língua dos africâneres, os brancos responsáveis pelo apartheid no país. A polícia repreendeu o movimento com violência, matando muitos jovens, e em homenagem a eles se instituiu o 'Dia da Juventude' como feriado nacional no atual país da Copa.

Haviam motivos de sobra para a torcida dos Bafana-bafana protagonizarem as melhores imagens do dia: o jogo contra o Uruguai poderia deixar a equipe do técnico Parreira bem encaminhada para a classificação. Mas não foi isso que aconteceu: o Uruguai, que não devia favor a ninguém, não se 'sensibilizou' com o clima de magia das arquibancadas e, como bons estraga-prazeres, deram o pior presente de grego que um anfitrião poderia ganhar: uma derrota elástica, que pode fazer os sul-africanos se tornarem os primeiros na história dos mundiais a não passar da primeira fase. Qualquer semelhança com um outro dia 16 não é mera coincidência: em 16 de julho de 1950, os uruguaios derrotaram o Brasil em pleno Maracanã com duzentos mil espectadores (o maior público numa partida de futebol na história) e o apelido ficou conhecido como 'Maracanazo'. Como a partida de hoje foi em Pretória, poderia ficar conhecida como 'Pretorazo'.

Dia de tabus quebrados

Sabe há quanto tempo o Uruguai não ganhava um jogo de Copa por mais de dois gols de diferença? Pouco menos de 56 anos! Depois que a Celeste, até então invicta em Mundiais, venceu a Escócia por 7 a 0 na Basiléia, no dia 19 de junho de 1954, ela no máximo conseguiu vencer por até dois gols de diferença. As goleadas já foram especialidade dos cisplatinos: 4 a 0 na Romênia e 6 a 1 na Iuguslávia na Copa de 1930 e 8 a 0 na Bolívia na Copa de 1950: nos seus primeiros cinco jogos da história das Copas do Mundo, três goleadas de tirar o fôlego.

O maior feito do futebol chileno foi a terceira colocação na Copa do Mundo de 1962, quando foi anfitrião. Depois disso, o Chile participou de quatro Copas do Mundo e não conseguiu nenhuma vitória: na Copa de 1998 passou da primeira fase com três empates e foi eliminado pelo Brasil nas oitavas de final, na sua última participação. Hoje, a agonia de 48 anos acabou: 1 a 0 sobre Honduras, o suficiente para deixar a equipe andina na liderança do grupo H ao lado da Suíça, que surpreendeu o Mundo ao vencer a favorítissima Espanha também por 1 a 0.

Logo mais, a Argentina enfrenta a líder do grupo B Coréia do Sul, que tem um gol a mais de saldo. As 11h, pelo mesmo grupo, o jogo dos desesperados: quem for derrotado do confronto entre Nigéria e Grécia praticamente dá adeus a competição. Detalhe: a Grécia nunca somou pontos em Copas do Mundo e se quer fez um gol. Será que mais um tabu será quebrado amanhã? Ás 15h30, México e França jogam pelo Grupo A, o mesmo de África do Sul e Uruguai. O duelo entre Zorro e Asterix promete ser regado a muita guacamole, tequila, tacos, pimenta... ops, isso aqui é um blog neutro, nada de levantar bandeira alguma.

Viva Laduma!

A foto de Forlan, o 'Novo Ghiggia', foi clicada por Brian Snyder, da Reuters

Bibliografia sobre o feriado do dia da Juventude:
http://pjdiocesepatosdeminasmg.blogspot.com/2010/06/16-de-junho-feriado-nacional-na-africa.html

terça-feira, 15 de junho de 2010

Isto aqui, ô ô É um pouquinho de Coréia iá iá


A brava Seleção Norte-coreana encarou o poderoso Brasil de igual para igual e saiu de campo orgulhosa de ter representado tão bem o país

Mais uma vez nas postagens diárias da Copa do Mundo, a imagem mais marcante não teve bola rolando: com o futebol cada vez mais comercial, muitos jogadores tem perdido a noção do quanto o esporte pode representar para os seus torcedores. A Europa não tarda a atrair os melhores atletas dos quatro mares, deixando outras ligas periféricas cada vez mais carentes de recursos. Mas em Copa do Mundo a história muda: não se trata de representar um time que você pode sair logo amanhã caso uma proposta milionária bata na porta de sua casa, e sim de nações, e ninguém pode jogar Copas do Mundo por mais de um país. Jong Tae Se, nascido no Japão e filho de Sul-coreanos, tentou vaga na Seleção da pátria de seus pais e não conseguiu. Assim como tantos outros jogadores que sonham em jogar uma Copa do Mundo, Tae Se se naturalizou por outro país: a Coréia do Norte.

A Fifa pensa em restringir a autorização para estrangeiros jogarem por uma Seleção Nacional: no futuro, poderão jogar por uma Seleção apenas os que nascerem no território do país em questão ou tiver ascendência de até segundo grau. Enquanto a Fifa não toma providências, estrangeiros sem qualquer semelhança com um país podem defender as suas cores nos campos de futebol, e foi assim que Tae Se protagoinzou uma cena, no mínimo, rara nos dias de hoje: ele chorou ao ouvir o hino nacional do país que representa, mesmo não tendo nascido ou tendo vínculo familar com a Coréia do Norte. A derrota por apenas 2 a 1 para o número 1 no ranking da Fifa é uma prova que a Coréia do Norte tem chances de brigar pela vaga, mesmo que com um futebol pouco criativo

No primeiro jogo do dia, a Eslováquia vencia por 1 a 0 até os acréscimos do segundo tempo, quando a fraquíssima Nova Zelândia igualou o marcador. 11h Portugal e Costa do Marfim empataram sem gols, com direito a bola na trave de Cristiano Ronaldo e a surpreendente entrada de Drogba, que fez uma cirurgia no braço semana passada após uma contusão num amistoso contra o Japão. Se cogitou até o corte da Copa, mas a brava estrela dos Elefantes se recuperou rápido e pôde entrar.

A Copa é um momento de sorrir, chorar, se emocionar, gritar e ser feliz. Não importa aonde você nasceu: por um mês, todos estamos juntos na mesma emoção, e enquanto ela durar, tudo será especial e fora do comum. Quando ela terminar, só depois de quatro anos essa energia voltará. Viva Laduma!

Fotos:
Ji Yun-Nam (Reuters)




Jong Tae Se (AP)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Não precisa ser de placa, eu quero ver gol

A Jabulani continua triste: como de costume, em nenhuma das partidas de hoje ocorreram mais de dois gols

Até hoje, 14 de junho –são quatro dias de Copa – em apenas um certame a rede foi estufada mais de duas vezes: isso ocorreu ontem, no chocolate da Alemanha sobre a Austrália. Em 11 jogos apenas dois placares não se repetiram: o 0 a 0 (entre Uruguai e França) e o 4 a 0 (na goleada alemã sobre a Austrália). Foram quatro 1 a 0, três 1 a 1 e dois 2 a 0. Nas partidas de hoje, a Holanda confirmou o favoritismo e venceu a Dinamarca – que nem de longe lembra as suas antigas gerações que a levarem a ter o apelido de ‘Dinámaquina’ – mas nem por isso deve receber a alcunha de ‘Laranja mecânica’, muito merecida pelas gerações Cruyff, Van Basten e dos irmãos De Boer e não vista numa partida em que seu principal jogador, Robben, não atuou devido a um problema na coxa mas já deve integrar a equipe no jogo contra o Japão, que também venceu hoje. O gol contra de Agger, da Dinamarca, foi mais um momento constrangedor da Copa, que vem a se somar com os frangos e expulsões tão numerosas para um começo de competição.

Os Samurais de azul venceram Camarões por 1 a 0 com gol de Honda. O brasileiro Maros Túlio Tanaka esteve em campo e se tornou o segundo brasileiro a atuar nessa Copa de 2010, e assim como Cacau, estreou com vitória.

As 15h30 o Paraguai, equipe que liderou boa parte das Eliminatórias Sul-americanas, enfrentou a atual campeã Itália, que terminou as Eliminatórias invicta e com seis pontos a frente da Irlanda, a segunda colocada do seu grupo. De um lado, uma equipe acostumada a se dar bem mesmo desacreditada – a Itália não vence as duas primeiras partidas de uma Copa a 20 anos: até venceram a estréia na Copa passada, mas não conseguem manter os 100% de aproveitamento na partida seguinte. E hoje não foi diferente: chegou a estar perdendo para a Seleção Guarani no primeiro tempo, mas em mais uma falha de goleiro em Copas, De Rossi se aproveitou e marcou o gol de empate.

Amanhã as 8h30 a Eslováquia enfrenta a fraquíssima Nova Zelândia e só a vitória interessa: com a Jabulani nos pés os Neo-Zelandeses não são nem sombra dos All Blacks com a bola oval de Rugby. Com sete vitórias em dez jogos pelo Grupo 3 das Eliminatórias européias, os eslovacos despacharam a Polônia – participante dos dois últimos Mundiais – e a tradicional República Tcheca, que nessa década chegou a estar na segunda colocação no ranking de Seleções da Fifa. A sua estréia em Copas traz a responsabilidade de fazer uma campanha melhor que a dos tchecos – seus ‘antigos conterrâneos’ nos tempos em que a Tchecoslováquia era uma das potências do futebol mundial, chegando a marcar presença em duas finais de Copa do Mundo e a vencer uma Eurocopa, em 1976. A República Tcheca herdou a bandeira da Tchecoslováquia e a sua capital Praga também era a capital do antigo país, destituído em 1993. Os Tchecos disputaram apenas uma Copa depois da separação da Tchecoslováquia e não conseguiu sair da primeira fase, em 2006.

Costa do Marfim e Portugal jogam a sua vida pelo grupo G, às 11h, e a Seleção Brasileira enfrenta a enigmática Coréia do Norte, que não vence a 7 jogos e é a 105ª no ranking da Fifa – a mais mal ranqueada dentre as 32 que disputam essa Copa de 2010. Os treinos da Seleção Norte-coreana chamaram atenção na semana passada: os jogadores usaram camisas com numeração – geralmente usadas em partidas, e não em treinamentos – e fizeram atividades pouco convencionais, como um ‘trenzinho’ no qual o objetivo era passar a bola por debaixo da perna de todos os companheiros com a mão e buscá-la ao fundo. Viva Laduma!
Em dia de pouca inspiração dos atacantes, as torcedoras da Dinamarca (foto: afp) e Holanda (foto: Getty Images) protagonizaram as únicas imagens de hoje que merecem ir para a posteridade.

Cacau é responsável pelo primeiro chocolate na Copa


Jogador brasileiro fecha a goleada da Alemanha sobre a Austrália por 4 a 0

Poucos gols, falhas incríveis de goleiros e quatro expulsões em apenas oito jogos. Se os três primeiros dias de Copa não empolgavam até as 15h30 de Domingo, a Alemanha tratou de dar um tempero para o Mundial por enquanto tão destemperado: pela primeira vez no torneio, a rede foi estufada mais de duas vezes numa partida, mas os alemães precisaram de uma ajudinha e tanto para fazer da Jabulani uma bola realizada, pois dois poloneses - Klose e Poldoski - e um brasileiro - Cacau - fizeram o trabalho terceirizado para a nação germânica. O gol de Müller foi o único genuinamente alemão.

A partida da manhã de Domingo entre Eslovênia e Argélia foi decidida numa falha constrangedora do goleiro argelino Chaouchi. O grupo C tem a Seleção Eslovena na liderança com três pontos, Estados Unidos e Inglaterra empatados com um ponto cada e a Argélia na lanterna. As duas partidas do grupo até o momento contaram com falha de goleiros, mas se em Inglaterra e Estados Unidos o forte esquema de segurança inibiu qualquer tipo de perigo para o público, no despretensioso Argélia e Eslovênia fatos inusitados chamaram tanta atenção quanto a bola rolando, todos protagonizados por argelinos: antes do começo da partida torcedores invadiram o campo ao repararem que os jogadores de sua Seleção se aqueciam no gramado e durante a partida um espectador mais empolgado foi preso após subir na torre de iluminação, sem falar nos que trocaram socos nas arquibancadas e nos que constrangeram o craque Zidane, que estava no Estádio para assistir a partida da nação dos seus pais, mas teve que trocar de lugar devido ao infortúnio daqueles que insistiam em tirar foto com o grande mito do futebol francês. A Argélia em campo era formada por uma maioria de jogadores nascidos na França e em volta dele fanáticos fãs que não souberam conter a emoção de ver seu país de volta na Copa após 24 anos ausente.

A primeira vitória africana no Mundial veio graças a um presentão do sérvio Kuzmanovic, que tentou interceptar um cruzamento na área, propositalmente ou não, com a mão. Nem todos tem o talento de Maradona ou Henry para ludibriar a arbitragem sem serem notados, e de pênalti Gyan fez o gol da vitória de Gana por apenas 1 a 0 (placar repetido pela terceira na Copa em apenas três dias).

Logo mais, as 8h30, a poderosa Holanda sem Robben enfrenta a Dinamarca. Viva Laduma!

sábado, 12 de junho de 2010

Hoje definitivamente não foi um 'Green Day'


No segundo dia de Copa, o goleiro inglês Green conseguiu entrar para a história das Copas, negativamente

As peculiaridades da primeira Copa realizada no continente africano já se manifestaram em apenas dois dias de torneio: as barulhentas Vuvuzelas já haviam prometido soar ainda mais alto do que na Copa das Confederações no ano passado, a Jabulani causou polêmica pouco depois de 'sair do forno' e o folclórico Maradona já havia mostrado nas Eliminatórias porque deve ter tanta visibilidade quanto os seus jogadores - de peixinho no gramado após gol importante até insultos aos jornalistas na coletiva de imprensa, 'Dieguito' será o mais ilustre torcedor portenho na competição. Muito se espera para essa Copa, mas a maior surpresa do Mundial até o momento foi o empate da Seleção inglesa com a sua ex-colônia.

Havia um tabu em jogo: na única vez em que esses países haviam se enfrentado em Copas, os americanos protagonizaram uma das maiores zebras da história mundiais ao vencer a Inglaterra por um a zero, no Estádio Independência, em Belo Horizonte. Uma vitória americana hoje não seria uma zebra do tamanho da que aconteceu a sessenta anos atrás: o futebol nos Estados Unidos se desenvolveu, muitos dos seus jogadores jogam na Europa (diferente de 1950, quando eram amadores) e a Inglaterra já não é tão soberana quanto nos tempos em que esnobava a Copa do Mundo - a sua primeira participação foi em 1950, antes disso os ingleses se recusavam a disputar o Mundial e diziam que a sua superioridade não precisava ser testada em campo.

A piada sobre a partida era "A bomba já foi colocada". Era um trocadilho entre a ameaça terrorista na partida - que envolve os dois países que tem tropas de ocupação no Oriente Médio, região dos autores da ameaça - e a escolha do árbitro brasileiro Carlos Eugênio Simon para apitar um jogo tão delicado, que envolve um país com tanta tradição no futebol como a Inglaterra, explica-se: o juizão gaúcho foi 'cornetado' no Brasil por não marcar um pênalti a favor do Flamengo numa partida do Brasileirão de 2008, e o lance ficou tão famoso que Simon foi afastado do Campeonato que ja estava na reta final e passou a ser questionada sua capacidade para apitar uma Copa do Mundo: o Flamengo chegou a esboçar ameaças de tentar pressionar a não inclusão de Simon para a Copa de 2010. Naquela época, os comentaristas da Sportv quase hegemonicamente achavam que Simon havia cometido erro de arbitragem, já Antero Greco da ESPN não via motivos para reclamação, alegando que o lance não foi pênalti.

Não satisfeitos em roer unhas e arrancar os cabelos de tensão com a escolha de Simon para apitar a partida de sua Seleção, parte da imprensa inglesa distorceu fatos acerca do árbitro brasileiro, alegando que ele estivesse envolvido com esquemas corruptos de favorecimento de resultados. A comissão de arbitragem brasileira não gostou e defendeu Simon publicamente. Simon não chamou atenção na partida de hoje, o que é um bom sinal, e se ele apitar mais três partidas nessa Copa se tornará o árbitro a apitar mais partidas na história do torneio: com a de hoje foram seis (duas em 2002 e três em 2006).

Com apenas quatro minutos de bola rolando entre Inglaterra e Estados Unidos o meia Gerrard abriu o placar para a Inglaterra: poderia ser o começo de uma goleada. Mas a terra da Rainha não soube concluir bem as oportunidade que teve, apesar do bom toque de bola e de boas criações de jogadas, e faltando cinco minutos para o término do primeiro tempo Dempsey arriscou de longe displicentemente, e como hoje não era o dia do goleiro da Inglaterra, surpreendentemente a bola passou pelos seus braços e morreu no fundo das redes. O constrangimento era notável no seu pedido de desculpas em direção ao banco de reservas e na cara de poucos amigos do técnico Fabio Capello.

No segundo tempo, a melhor oportunidade foi dos americanos, com Altidore, que bateu forte e Green a desviou para a trave. A partida terminou empatada: de cinco jogos, apenas dois terminaram com vitória - melhor para Argentina e Coréia do Sul, que somaram pontos importantes logo no início. A Copa ainda está no começo e não há muito o que se falar, mas certamente o momento mais marcante até agora foi a falha incrível do goleiro Green.