segunda-feira, 21 de junho de 2010

All Blacks, All whites, like a zebra / O que os olhos não vêem o coração não sente

All Blacks, All whites, like a zebra (20-06)


Na cidade de Nelspruithá há o estádio de Mbombela, com listras em preto e banco, numa clara referência a zebra. Foi nele que a Nova Zelândia protagonizou uma surpresa e tanto...

De um lado, a Itália, tetra campeã mundial, um país de 'sessenta milhões de treinadores' - como os próprios se auto-denominam -, apaixonada pelo esporte mais popular do planeta. De outro, a Nova Zelândia, tradicional nação no... Rugby. Essa é a sua segunda participação em Copas do Mundo de futebol, e trajada em vestes brancos, o apelido de sua Seleção de 'soccer' é 'All Whites' - alusão ao apelido de sua Seleção de Rugby, que se veste toda de preto e é conhecida com os 'All Blacks'. O que você esperaria desse jogo? Eu apostei no óbvio: vitória arrasadora da 'Azzurra' - apelido da Seleção italiana, que em italiano signfica azul. Mas essa Copa novamente surpreendeu e a Nova Zelândia abriu o placar. A itália chegou ao empate e não conseguiu a virada: 1 a 1 e a atual campeã Mundial correndo risco de não passar da primeira fase. É preciso vencer a Eslováquia, pois em caso de empate, somente a vitória paraguaia poderia lhe dar a vaga: estando rigidamente empatada com o país Oceânico - dois pontos e mesmo número de gols marcados até o momento - empates iguais nos dois últimos jogos do grupo F levariam a vaga para ser decidida no sorteio!No jogo anterior os paraguaios confirmaram a boa fase dos sul-americanos e venceram a Eslováquia por 2 a 0. No último jogo do Domingo, o Brasil espantou a zebra, vencendo e convencendo na partida contra a Costa do Marfim. Luís Fabiano, que não estufava as redes por seis jogos vestindo a camisa canarinha, marcou dois gols, o segundo deles antológico: dois 'chapéis' - ou banho de cuía, a depender da região - e dois toques de mão 'involuntários': tão folclórico quanto o gol foi a cena do árbitro da partida correndo ao lado do Fabuloso apontando para o próprio braço. O que ele queria dizer com isso? Episódio típico de Fifa Fever: certamente estará entre algumas das cenas estranhas da história de todos os Mundiais.

O terceiro gol foi de Elano: o seu segundo no Mundial. Kaka deu os passes para o primeiro e terceiro gol - no primeiro, numa triangulação com Robinho. A Costa do Marfim marcou com Drogba, atacante que passou sério risco de não ir a Copa após ter quebrado o braço numa disputa com o nipo-brasileiro Marcos Túlio Tanaka, num amistoso contra o Japão a uma semana do início do Mundial.


O jogo foi quente no final: os Elefantes bateram, Elano saiu de campo de maca sem conseguir pisar no chão após Ismael Tioté ter deixado o pé numa divida, mas quem teve jogador expulso foram os sul-americanos, e quem diria, o meia Kaka, após ser vítima de uma simulação de cutuvelada de Keita, levou o seu terceiro cartão vermelho em quase uma década de carreira.

Um dos personagens principais da partida foi o árbitro francês Stephane Lannoy, que além de ter protagonizado a cena estranha ao lado de Luís Fabiano apontando para o braço, não teve o controle da partida e deixou-a correr economizando nos cartões nos minutos iniciais, o que fez o seu final ficar tenso, resultando no surgimento de outro personagem da partida: o técnico Dunga, que irritadíssimo, xingou-o a beira do gramado - assim como xingou Drogba - e chegou 'armado' na coletiva de imprensa chegando a parar no meio de uma resposta para encarar um jornalista. Alex Escobar, da Rede Globo, falava ao telefone com Tadeu Schmidt - segundo Tadeu - e Dunga entendeu que Alex havia discordado sobre a sua afirmação que a imprensa não dava créditos a Luís Fabiano. Dunga xigou-o baixo, mas as palavras foram perceptíveis em linguagem labial e captadas pelo áudio, o que poderá gerar uma suspensão semelhante a que Maradona sofreu após insultar a imprensa no dia da classificação para a Copa após, o jogo contra o Uruguai, na coletiva de imprensa. A ESPN, emissora de linhagem e ideologia diferente da Rede Globo - que também é proprietária da Sportv - também foi a defesa de Alex Escobar, a exemplo de José Trajano, Paulo Calçade e João Palomino que afirmaram que o jornalista insultado é 'um doce de pessoa'. Se o absurdo na coletiva de imprensa parecia óbvio, não parece ter se tornado tão nítido para boa parte dos twitteiros, que criaram o canal "Cala Boca Tadeu Schmidt" no micro blog por este ter defendido o seu colega, como foi contado na matéria do Portal Exame.



Viva Laduma!

Fotos:

Estádio Mbombela (AFP)
Smeltz, comemorando gol da Nova Zelândia (AFP | Martin Bernetti)
Dunga (AFP | Issouf Sanogo)
Kaka (AFP | Roberto Schmidt)


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O que os olhos não vêem o coração não sente (21-06)

Kim Jong Il ficou feliz com a estréia da Coréia do Norte na Copa. Como Líder Supremo do seu país, autorizou o VT da partida contra o Brasil no dia seguinte - apenas desfiles militares são transmitidos Ao Vivo pela Tv. No jogo de hoje, uma excessão: a partida contra Portugal seria passada em tempo real (aqui no Brasil, 8h30h, na Coréia, 20h30) para os seus quase vinte e quatro milhões de torcedores, resultado? Um 7 a 0 que ninguém gostaria de assistir - se é que a transmissão não foi interrompida no meio.

A cena acima se repetiu sete vezes hoje. Sem chances de classificação, a Seleção Norte-Coreana aprendeu da pior maneira uma lição: se jogasse fechada como na estréia, o resultado seria outro. Foto: Carlos Barria, da REUTERS

Não faltou garra para a equipe asiática, mas haviam mais espaços vazios, talvez fruto de uma mudança de ordens do treinador, que por ter perdido pela margem mínima para o Brasil, talvez achasse que poderia vencer Portugal. Os norte-coreanos demonstraram claramente deficiência para sair jogando: o jogo extremamente coletivo não permitia jogadas mais ousadas, o que atualmente também é um problema para a Seleção Brasileira, mas ao contrário dos brasileiros, os norte-coreanos não faziam triangulações em espaços pequenos na entrada da área adversária, porque se quer chegavam tantas vezes perto dela - como a vista entre Kaka, Luís Fabiano e Robinho ontem - tampouco passes em alta profundidade. A timidez da equipe se deve as deficiências técnicas óbvias e nada tem haver com a geração de Pak Doo-Ik, que ficou famosa mundialmente por ser aberta 'até demais' - muitos atribuem o excesso de vontade de ir em direção ao gol como a responsável pela derrota de virada em 1966 contra a mesma Portugal, quando a vencia por 3 a 0. Talvez, consciente das suas limitações, os norte-coreanos não jogariam de igual para igual contra uma equipe acostumada contra grandes desafios como Portugal.

Méritos para Portugal, que fez bonito hoje, inclusive nas arquibancadas. Foto: Getty Images | Quinn Rooney

Equipes com dificuldade de criação - a exemplo de Suíça e Grécia - já conseguiram grandes feitos no futebol com a retranca: obviamente a crônica esportiva criticará duramente, mas é a única maneira de levar 'Davis a vencerem Golias'.

A Grécia ganhou uma Eurocopa em 2004, satisfazendo a sua nação e a ninguém mais, e a Suíça, que em 2006 se tornou a primeira Seleção a terminar um Mundial sem levar gols, no jogo de hoje que começou as 11h bateu mais um recorde: 559 minutos sem levar gols entre as Copas de 1994, 2006 e 2010. O recorde anterior era da Itália, que havia ficado 550 minutos sem ter as suas redes estufadas entre seu final na Copa de 1986 até a semi-final da Copa de 1990 ( a Itália ainda tem o recorde de mais minutos sem levar gols em uma Copa do Mundo, 217 minutos). Após 9 minutos de terem alcançados os italianos na marca histórica, a Suíça levou o gol solitário da partida: o Chile venceu e é o líder isolado, precisando apenas de um empate na última rodada para garantir o primeiro lugar, o que lhe dará o direito de enfrentar o segundo colocado do grupo G - que tem grandes chances de ser Portugal, que joga pelo empate contra o Brasil para garantir a classificação e não deve se expor.

No jogo de 15h30 a Espanha venceu Honduras por 3 a 0. David Villa perdeu a oportunidade de entrar na artilharia do Mundial ao lado de Higuaín: deixou a sua marca duas vezes, mas perdeu um pênalti. A situação da 'Fúria' - como é conhecida a Seleção espanhola - ainda é delicada: um empate pode pode deixá-la fora da Copa prematuramente em caso de vitória da Suíça.

Amanhã pela primeira vez não terá jogo as 8h30: na terceira rodada, que vai até o dia 25, haverão quatro partidas diárias, duas ocorrendo as 11h e duas as 15h30, todas rigidamente simultâneas, a fim de evitar suposta fraude semelhante a de 1978, quando a Argentina entrou em campo contra o Peru sabendo exatamente o placar que precisava para passar o Brasil no saldo de gols e chegar a finalíssima do Mundial. Os argentinos precisavam vencer por quatro gols de diferença, venceram por 6 a 0 e a discussão ainda continua de pé.

No dia 22 as 11h os bafana-bafana entram em campo contra a conturbada França. Apenas um milagre colocará qualquer uma dessas Seleções nas oitavas-de-final, já que México e Uruguai, com quatro pontos e saldo considerável, se enfrentam no mesmo horário e não devem se arriscar tanto ao decorrer da partida, embora os mexicanos tenham motivos para buscar a vitória: com um saldo inferior ao dos uruguaios, um empate provavelmente os levaria a enfrentar a temível Argentina.

As 15h30 a Argentina enfrenta a Grécia: os gregos podem até se classificar com um empate, caso a Nigéria vença a Coréia do Sul no mesmo horário. A Coréia do Sul é a favorita para garantir a segunda colocação: com a Argentina arrasadora, os coreanos não devem partir pra cima da Nigéria logo no início, pois o empate contra os africanos, em caso de vitória argentina, classifica os asiáticos. Gregos e sul-coreanos tem o mesmo saldo, mas os orientais balançaram as redes mais vezes e por isso estão na vice-liderança: a Grécia precisaria vencer a Argentina com a diferença de gols maior que a dos coreanos sobre a Nigéria para se qualificar as oitavas de final do Mundial.

Palpite? Três latino-americanos garantidos e um asiático nas oitavas de final amanhã. Viva Laduma!

Fotos:

Goleiro Ri Myong-Guk deitado no gramado (AP Photo | Kin Cheung)
Mun In Guk protegendo a bola de Fábio Coentrão (Getty Images | Jamie McDonald)

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