segunda-feira, 30 de junho de 2014

Somos tão cordiais assim?

Brasileiros vaiam o hino do Chile no Mineirão - Foto: Correio do Brasil
A Copa do Mundo, momento de alegria para o país pentacampeão, também desnuda nossas facetas. Mostra que o "homem cordial", descrito pelo historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do Brasil", não passa de... mito.

As agressões seguidas de justificativas mostram muito do caráter de quem vaiou a presidente da República, Dilma Rousseff, no jogo de abertura do mundial, 12 de junho, e o hino do Chile, no último sábado (28). Os dois atos hostis têm muito em comum, trazem carga de ódio e vingança semelhantes aos linchamentos recorrentes deste ano e fazem parte da cultura do brasileiro, com segurança pública reforçada ou não. É a "institucionalização" do "olho por olho, dente por dente".

Na minha opinião, a alarmante taxa de homicídios no país não se dá apenas pela falta de policiais nas ruas ou defasagem das escolas públicas. Mesmo amando meu país e mesmo amando ser brasileiro, tenho que reconhecer, e estou mais convicto disso cada vez mais, que a sociedade brasileira é essencialmente violenta.

Obras como "Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freyre, e "O Futebol Explica o Brasil", de Marcos Guterman, resgatam histórias que ajudam a contextualizar os dias de hoje, mas não abordam, por exemplo, o que leva um homem a tirar a vida de outro após discussão por temas fúteis, que vão de som alto a ciúme.

Na Espanha é comum pessoas discutirem no trânsito e se resolverem na porrada. É uma sociedade violenta também. Mas a escassez de armas de fogo na terra do agora rei Filipe Vl, certamente, já salvou muitas vidas. A combinação entre temperamento explosivo e pólvora no Brasil não poderia dar em outro resultado a não ser em uma altíssima taxa de homicídios por 100 mil habitantes, 27,4%, o que coloca o país na sétima posição em um ranking com 95 países e regiões elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.

A situação de miséria de boa parte da população não é a única justificativa para o alto índice de assassinatos a meu ver. Por dois motivos. Em primeiro, porque países como Egito e Marrocos, que têm enormes contrastes sociais, possuem taxas de homicídio de 0,2% no mesmo estudo, números muito inferiores aos 27,4% do Brasil e que deixam esses países do norte da África bem atrás no ranking. Em segundo, porque os assassinatos no país não têm como autores apenas pessoas em situação de risco, e isso pode ser conferido nos noticiários todos os dias.

O comportamento habitual do brasileiro, evidentemente, não é o único fator que explica os homicídios, mas explica a violência de outras formas, seja na hostilidade a opositores ou falta de habilidade em resolver problemas pequenos. De repente, o "jeitinho brasileiro" não é à prova de rixas partidárias e rivalidades futebolísticas. Não somos tão cordiais assim.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Com uma semana, a Copa de 2014 já é minha favorita de todos os tempos


Eu na Fan Fest - Roberto Viana / Bocão News
Quem faz um evento esportivo ser bom não são as construtoras, tampouco as promessas de legado do governo ou animação da torcida. Essa fórmula não deu certo há 8 anos na Alemanha. Estádios impecáveis, mobilidade urbana já existente antes de a bola rolar e um monte de gente apaixonada por futebol que lotou os estádios não conseguiram fazer a última Copa realizada na Europa ser boa. Tampouco esses quesitos devem ser desprezados. Como seria bom se o mundial realizado esse ano no Brasil trouxesse melhoras sociais para a população, pois isso é mais importante nas nossas vidas que o futebol. Essa Copa, nem qualquer outro evento, vale o que foi gasto, nem concedido com empréstimos para lá de "camaradas". Incrível que arrodeado por tanto caos, dentro de campo, os melhores jogadores do planeta conseguem desempenhar tão bem seu papel, mesmo em fim de temporada, no calor em que a maioria deles não estão acostumados.
Instagram: @lucasfranco1

Essa Copa do Mundo, que completou uma semana ontem, se tivesse terminado já seria a melhor que eu vi. E vou mais longe. Pelo conhecimento que tenho de futebol, fruto de pesquisas, leituras e vídeos, arriscaria dizer que, ao menos para mim, é minha favorita de todos os tempos. Talvez por estar vivendo de perto essa atmosfera, alternando jornadas de trabalho com a de telespectador e participante da festa in loco. Uma coisa é viajar para fora, de férias, e curtir como um turista, ou viajar para o exterior com a missão de levar informações para o seu país. Outra bem diferente é não ter sua rotina tão modificada, continuar trabalhando no mesmo local que antes, sem deixar de cobrir política e cidades e de lambuja ir ao Pelourinho entrevistar torcedores em uma animada festa holandesa, ou se acotovelar em uma zona mista para entrevistar jogadores que irão enfrentar a seleção do seu país na semana seguinte, como foi no amistoso entre Croácia e Austrália, em Pituaçu.

Para sempre vou lembrar da partida in loco que vi, Espanha - 1 x 5 - Holanda. Van Persie e Robben entraram para a história da Fonte Nova com seus gols. Que gols. Que festa linda nas arquibancadas, promovida principalmente pelos holandeses, todos de laranja. A festa começa na andada para o Dique e só termina quando você chega em casa e assiste aqueles gols na televisão, para confirmar que o que viveu não foi sonho: você esteve ali, por mais fantástico que possa parecer.

E o que falar das anedotas? Schweinsteiger e Neuer cantando e pulando com o hino do Bahia em Porto Seguro, ingleses dançando Lepo Lepo... Ao final do mundial um livro precisa ser lançado só com episódios como esses, que deram uma atmosfera a essa Copa diferente da que se estava acostumada a ter. Sem falar dos japoneses, que limpam os estádios antes de sair.

Até o momento, só quatro partidas não tiveram pelo menos dois gols. E gols lindos, como o do australiano Tim Cahill contra a Holanda, Oscar contra a Croácia, dos holandeses Robben e Van Persie contra a Espanha, do uruguaio Suárez contra a Inglaterra... A Seleção Brasileira não têm rendido tanto, mas a Copa em si, dentro de campo, é um sucesso. Mas vale ressaltar: principalmente pelos jogadores.