Brasileiros vaiam o hino do Chile no Mineirão - Foto: Correio do Brasil |
A Copa do Mundo, momento de alegria para o país pentacampeão, também desnuda nossas facetas. Mostra que o "homem cordial", descrito pelo historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do Brasil", não passa de... mito.
As agressões seguidas de justificativas mostram muito do caráter de quem vaiou a presidente da República, Dilma Rousseff, no jogo de abertura do mundial, 12 de junho, e o hino do Chile, no último sábado (28). Os dois atos hostis têm muito em comum, trazem carga de ódio e vingança semelhantes aos linchamentos recorrentes deste ano e fazem parte da cultura do brasileiro, com segurança pública reforçada ou não. É a "institucionalização" do "olho por olho, dente por dente".
Na minha opinião, a alarmante taxa de homicídios no país não se dá apenas pela falta de policiais nas ruas ou defasagem das escolas públicas. Mesmo amando meu país e mesmo amando ser brasileiro, tenho que reconhecer, e estou mais convicto disso cada vez mais, que a sociedade brasileira é essencialmente violenta.
Obras como "Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freyre, e "O Futebol Explica o Brasil", de Marcos Guterman, resgatam histórias que ajudam a contextualizar os dias de hoje, mas não abordam, por exemplo, o que leva um homem a tirar a vida de outro após discussão por temas fúteis, que vão de som alto a ciúme.
Na Espanha é comum pessoas discutirem no trânsito e se resolverem na porrada. É uma sociedade violenta também. Mas a escassez de armas de fogo na terra do agora rei Filipe Vl, certamente, já salvou muitas vidas. A combinação entre temperamento explosivo e pólvora no Brasil não poderia dar em outro resultado a não ser em uma altíssima taxa de homicídios por 100 mil habitantes, 27,4%, o que coloca o país na sétima posição em um ranking com 95 países e regiões elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.
A situação de miséria de boa parte da população não é a única justificativa para o alto índice de assassinatos a meu ver. Por dois motivos. Em primeiro, porque países como Egito e Marrocos, que têm enormes contrastes sociais, possuem taxas de homicídio de 0,2% no mesmo estudo, números muito inferiores aos 27,4% do Brasil e que deixam esses países do norte da África bem atrás no ranking. Em segundo, porque os assassinatos no país não têm como autores apenas pessoas em situação de risco, e isso pode ser conferido nos noticiários todos os dias.
O comportamento habitual do brasileiro, evidentemente, não é o único fator que explica os homicídios, mas explica a violência de outras formas, seja na hostilidade a opositores ou falta de habilidade em resolver problemas pequenos. De repente, o "jeitinho brasileiro" não é à prova de rixas partidárias e rivalidades futebolísticas. Não somos tão cordiais assim.
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