Capitão Thiago Silva chora nos braços de Scolari - Foto: Ricardo Corrêa |
Se atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu, em meio a Copa do Mundo de 2014 só não se diverte a equipe anfitriã. Com seus altos e baixos, os atletas e delegações dos outros 31 times já curtiram ou curtem muito a atmosfera da maior festa do futebol mundial, que acontece de quatro em quatro anos e, especialmente de 12 de junho a 13 de julho de 2014, tem o prestígio de ser recebida pela nação mais vitoriosa da história do torneio.
A “ousadia e alegria” deram lugar a “agressividade e medo”. Está certo que entre a esbórnia geralmente atribuída aos boleiros brasucas, que “não teriam amor à camisa e só querem saber de dinheiro”, e o “chororô” constante do hino nacional ao apito final, eu fico com a segunda opção. Me sinto mais representado como torcedor (não como jornalista). Mas não foi assim que a Seleção colecionou cinco estrelas*¹. Pelo contrário. Os momentos de maior fragilidade emocional foram atribuídos às derrotas mais marcantes, seja na apatia em 1950 e 1998 ou na agressividade exacerbada em 1954 e 1974. Roer unha, se descabelar e temer o pior são atribuições exclusivas de torcedores.
A emoção demonstrada pelos jogadores da Seleção Brasileira, a meu ver, é semelhante a dos estudantes que vão prestar vestibular conscientes de que não deram o melhor de si no cursinho. Ali, de frente para a prova, não resta mais nada a não ser concluí-la e torcer para que a preparação deficiente não culmine em reprovação. Os “CDFs” ao menos sabem que deram o melhor de si e, não é à toa, são maioria entre os aprovados nos cursos mais difíceis.
O futebol brasileiro, historicamente, nunca teve planejamento. É vitorioso pela qualidade técnica dos jogadores e em alguns casos por inovações táticas (o que não se aplica ao time de Scolari)*². O medo de perder a Copa fez o comandante verde e amarelo pedir ajuda. Segundo o Terra, em plena Granja Comary, Scolari chamou cinco jornalistas*³ para pedir apoio contra o que ele acredita ser um “complô” contra sua equipe. Mas o certo é que a Seleção Brasileira não curte a atmosfera da Copa. Nem seu treinador, nem os jogadores e até mesmo o assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, que agrediu o jogador chileno Pinilla no último sábado (28).
Até mesmo os jornalistas, alguns deles sofrendo tantas críticas quanto os jogadores brasileiros (e que segundo Neymar, precisam de terapia tanto quanto seus colegas), dividem o olhar entre a cobertura e o deslumbramento de fazerem parte da “Copa das Copas”. Muitos fãs do esporte esperam da imprensa uma postura de apoiadora do “scratch canarinho”, e se decepcionam com os artigos dos excelentes Mauro Cezar Pereira e Juca Kfouri. Ora bolas, o que se deve esperar de um bom jornalista é justamente o desvinculamento das instituições. Não existe “momento certo ou apropriado” para pontuar as falhas da Seleção. E justamente por isso os considero os melhores nessa Copa. Na postagem “Quero me orgulhar da equipe brasileira. Para isso Felipão e o time precisam fazer sua parte”, Mauro diz evitar proximidade com técnico e jogador porque acha melhor “manter distância e independência para não distorcer pelo constrangimento de criticar um ‘amigo’”. É a postura que acho mais apropriada a um profissional da área, diferente de Mário Sérgio, da Fox Sports, que já foi técnico e, corporativista, chegou a brigar no ar com o colega de emissora Rodrigo Bueno, quando este criticou a qualidade dos técnicos brasileiros.
A Seleção Brasileira parece carente de elogios, mesmo jogando em casa. Com tantos jogões e chuva de gols, os anfitriões se sentem deslocados. Xodó da torcida nos estádios, a Costa Rica sim parece ser a dona do pedaço. No lugar de corrigir as graves falhas da equipe em campo, porém, o emocional dos atletas virou a preocupação de Scolari, ou pelo menos sua desculpa. Nos diversos veículos que cobrem a Copa, o “chororô” virou tema até de entrevista com terapeutas. Freud explica?
*¹ Em 1958, na Suécia, os comandados de Vicente Feola foram orientados pelo psicólogo João Carvalhaes a sorrir, embora tenha contraindicado Pelé e Garrincha por imaturidade e inteligência abaixo da média, respectivamente. Em 1962, o triunfo veio com um show à parte de Garrincha. Diversos cronistas defendem que só dois jogadores ganharam a Copa pelos seus países: o anjo das pernas tortas, como já citado, e Maradona pela Argentina, em 1986. Em 1970, a turbulência que envolveu demissão de João Saldanha, regime militar e a suposta “cegueira de Pelé” não se refletiu dentro de campo, que teve inovação tática com a marcação por zona, diferente do que se via na equipe italiana, que fez a final contra o Brasil e marcava por zona. A descrença, também presente em 1994, se transformou em desabafo de Dunga ao levantar a taça e xingar a imprensa, que o teria perseguido (em sua opinião). Em 2002, ajudas de arbitragem aconteceram, mas foi o talento acima da média de uma equipe com Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho, Rivaldo e Ronaldo que garantiu nosso último título. Nas últimas três Copas, a defesa, que era ponto fraco dos brasileiros, tem se destacado. Nas últimas três Copas do mundo (2006, 2010 e 2014 até oitavas de final), o Brasil levou 9 gols em 14 jogos. Só na Copa de 1998, a defesa foi vazada 10 vezes em 7 jogos.
*² Esse time não surpreende, não tem jogadas ensaiadas, depende do talento de Neymar e tem um técnico teimoso. O título da Copa das Confederações pode ter sido ruim. Para o jogo deste sábado (5), Scolari ensaia mudanças, como jogar com três zagueiros e tirar centroavante. A saída de Luiz Gustavo, suspenso pelo segundo cartão amarelo na partida contra o Chile, e o mau desempenho de Fred e Jô forçaram o treinador a refletir e até a pedir ajuda de jornalistas na Granja Comary.
*³ Os jornalistas que conversaram com Scolari na Granja Comary, segundo o portal Terra, foram Juca Kfouri (Uol / Folha de S. Paulo / ESPN Brasil), Paulo Vinicius Coelho (Folha de S. Paulo / ESPN Brasil), Fernando Fernandes (TV Bandeirantes), Osvaldo Pascoal (Fox Sports / Rádio Globo) e Luiz Antonio Prósperi (O Estado de S. Paulo).
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