segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Meu ex-ídolo Ronaldo

Sabe aqueles ídolos que você tem na infância? Torça para que eles nunca te decepcionem. Ronaldo Fenômeno, jogador tecnicamente inquestionável e de uma história de superação magnífica, já não é mais meu ídolo há algum tempo, mas não cansa de me surpreender [negativamente]. Aliado de Ricardo Teixeira desde que aceitou um cargo no Comitê Organizador Local da Copa de 2014 (COL), o “Fenômeno” tem mostrado habilidade para “driblar jornalistas” quando lhe convém, mostrando-se um autêntico “discípulo” do presidente da CBF, o mesmo que em entrevista à Revista Piauí declarou estar “cagando para denúncias de corrupção” repercutidas pela imprensa.


Curtindo o Carnaval de Salvador no camarote Expresso 2222 com sua esposa, Bia Anthony, o ex-jogador se recusou a falar com os repórteres que cobriam a festa no local, principalmente se o assunto envolvesse o mundial que acontecerá no país. “Depois a gente conversa sobre isso” foi o “migué” dado por Ronaldo ao Bahia Notícias, que queria saber mais detalhes sobre a ida do também ex-jogador Bebeto ao COL.

Carismático e sagaz, Ronaldo tem consciência de seu prestígio. Arrodeado de tietes até em coletivas de imprensa, quando jornalistas o saúdam de “fenômeno” ou “fera” antes de fazer uma pergunta, o ex-jogador também sabe intimidar. “Ué, ninguém vai me perguntar do tal tráfico de influência? Vocês só falavam disso e agora estão com medo de perguntar?”, disse na coletiva de imprensa em que explicou o cargo do COL, com a consciência de que não são poucos os jornalistas que pegariam uma fila quilométrica para tirar foto com o ídolo após a última pergunta.

Mas o jogo está se invertendo. Teixeira está cada vez mais ameaçado de deixar a presidência da CBF, após mais de duas décadas. O cronista esportivo Gian Oddi, no seu blog na ESPN, questionou o que pode ter levado o Fenômeno a correr o risco de manchar a reputação. “A explicação mais comum, de que Ronaldo fica mais influente com o cargo no COL e, portanto, terá mais condições de alavancar negócios para sua empresa [a agência de marketing esportivo 9ine] não me convence. Primeiro porque não se trataria de procedimento ético e, até que provem o contrário, não vou questionar a ética de Ronaldo.”

Fugas de perguntas “complicadas”, alianças duvidosas e até mudanças de opinião repentinas. Em sabatina da Folha de S. Paulo no dia 15/05/2009, o ex-jogador se referiu a Ricardo Teixeira como “uma pessoa que demonstra ter duplo caráter”. Na última sexta-feira, o ex-jogador disse que “a gente” (povo brasileiro) deve muito a ele por ter trazido a Copa ao país. Ao menos não há denúncias de corrupção com o nome de Ronaldo para que ele “cague” para a repercussão da imprensa.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O carnaval que iniciou um ano

Há quem diga que, no Brasil, o ano só começa depois do carnaval. Faculdades com números irrisórios de alunos durante as primeiras semanas de fevereiro só reforçam esse estereótipo tupiniquim, e a produção nacional passa a se sentir ameaçada com tamanho mito acerca da folia momesca. Será que as pessoas dão o melhor de si antes de pular atrás do trio elétrico? Especulações à parte, o ano de 2012 vem representando com fidelidade o questionamento em questão.

A ocupação dos grupos de policiais grevistas na Assembleia Legislativa de Salvador, no fim de janeiro, assustaram os soteropolitanos e turistas que viam seu carnaval sob ameaça. Em estudo feito pela ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, a capital baiana aparece como a 22ª cidade mais violenta do mundo, e uma redução de contingente policial assustava a todos, menos os patrocinadores do carnaval, que estavam otimistas com a organização do evento. “Achamos legítimo que cada categoria possa reivindicar, mas estamos otimistas que o melhor vai acontecer para todos”, disse o diretor de marketing do Itaú, Fernando Chacon, em entrevista ao Bahia Notícias. Nos quatro primeiros dias da greve da polícia militar 50 homicídios foram registrados em Salvador e região metropolitana, fazendo o número dobrar em relação a média normal, que já credenciava a cidade como a 22ª mais violenta do planeta.

Tudo “acabou bem”. Ninguém conseguirá recuperar as vidas perdidas durante o período, tampouco o número de turistas que cancelaram suas vindas para o carnaval devido a falta de segurança da cidade. Mas o carnaval está rolando, o Campeonato Baiano sequer chegou a parar, a cerveja continua gelada e o Bahia agora usa Nike. Para quem só espera começar um ano depois da festa momesca, a quantidade de episódios e causos nos dois primeiros meses do ano não deixaram a desejar, e agora sim as aulas vão começar, a "segurança voltará", e tudo "voltará ao normal". O que esperar para o resto do ano? Se o mundo não acabar até lá, talvez nós acabemos com o mundo.