quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Carência de medalhas


Não há nada errado com os atletas brasileiros. O problema da nação verde e amarela é quantitativo: se existissem cinco Césares Cielos, três Maurrens Maggis e quinze Évertons Lopes, mais medalhas teriam como destino os aeroportos tupiniquins. Todo agricultor sabe que as condições climáticas fogem do seu controle e uns hectares de plantações podem ser perdidas, mas quanto mais se planta, maior será a colheita no final das contas, independentemente do que foi perdido no caminho. O Brasil tem atletas de alto nível, mas não em quantidade abundante como um país de quase 200 milhões de habitantes poderia ter. Criar expectativa em dois ou três atletas para um evento que acontece de quatro em quatro anos é tão irracional quanto se apaixonar por uma mulher e não abrir mão dela, mesmo com todo seu esnobismo, apesar de tantas outras estarem ao redor dando bola.

Liu Xiang foi ouro em 2004 | Getty Images


A China ficou em primeiro lugar no quadro de medalhas em 2008, quando sediou a Olimpíada, e até o momento segue na ponta em Londres. A primeira participação da nação vermelha em Jogos Olímpicos de Verão foi em 1952, em Helsinque. No entanto, divergências com o Comitê Olímpico Internacional (COI), que reconheceu a rival Taiwan como nação, fez a China boicotar o evento até 1984, em Los Angeles. De lá para cá, todo porta-bandeira é um jogador do basquete masculino, modalidade que nunca deu uma medalha para o país. Wang Libin em 1984, Song Tao em 1988, Song Ligang em 1992, Liu Yudong em 1996 e 2000, Yao Ming em 2004 e 2008 e o atual jogador do Dallas Mavericks, Yi Jianlian, em 2012, não “contribuíram” para a fama que o país leva hoje de “potência olímpica”, mas são atletas de alto nível de um esporte que sequer é a paixão nacional, já que o tênis de mesa é mais popular e vitorioso. Ídolo nacional, o corredor de 100 m com barreira Liu Xiang deu ao país sua primeira medalha de ouro em atletismo, em 2004. Sua imagem simbolizava as ambições orientais para a edição seguinte dos Jogos, onde seria favorito e atuaria dentro de casa. No entanto, em 2008 e 2012 Liu Xiang se contundiu na prova em que lutava para repetir o feito pioneiro. Mesmo tristes, os chineses não deixaram de enxergá-lo como ídolo.

Medalhas são como propaganda política para a Coreia do Norte | Divulgação
Em um país com quase 1 bilhão e meio de habitantes e que sabe usar seu potencial, coisa que o Brasil ainda não aprendeu, derrotas de ídolos não refletem nas estatísticas. O quadro de medalhas segue inabalável, embora a dor de ver um ídolo ser derrotado seja a mesma. Mas por que o Brasil faz tanta questão de entrar no “hall das grandes potências olímpicas”? É possível ser um país digno sem isso: dono do melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Planeta no relatório de 2011, a Noruega, até o início desta quarta-feira (4), estava no modesto 35º lugar no quadro de medalhas de Londres 2012, com apenas três medalhas, uma de cada metal. Já a Coreia do Norte, em 14º no quadro geral, com quatro medalhas de ouro e uma de bronze, sequer figura nos relatórios de medição de IDH, tamanha censura vive uma população que ninguém sabe ao certo como vive por conta do mistério imposto pela ditadura local. Se a educação é prioridade, os esforços para fomentar esporte como ferramenta de integração social deveriam ser maiores que o investimento em atletas de alto rendimento, afinal, quantos campeões estarão a surgir se houver perspectiva de se levar uma vida digna?

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