domingo, 5 de agosto de 2012

Onde a Europa manda e desmanda


Até o início do Século XXl a América do Sul era o continente mais vitorioso do futebol. O pentacampeonato do Brasil em 2002 (que também levantou o caneco em 1958, 62, 70 e 94), somados aos dois de Argentina (1978 e 86) e Uruguai (1930 e 50), garantiu uma soberania de nove Copas do Mundo, contra oito do velho mundo, que até então tinha Itália (1934, 38 e 82) e Alemanha (1954, 74 e 90) com três títulos e Inglaterra (1966) e França (1998) com apenas um. A superioridade não se resumia aos embates entre seleções: somados os títulos de Copa Intercontinental e Mundial de Clubes da Fifa, até 2009 os sul-americanos levavam vantagem.

Mas a final de 2009 entre Barcelona e Estudiantes, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, foi um divisor de águas por dois aspectos. Em primeiro, porque o título da equipe catalã, com vitória de virada, na prorrogação, com gol do argentino Lionel Messi, igualou os continentes em números de títulos, 24 para cada um, e esse empate técnico não acontecia desde 1976, quando o Bayern de Munique venceu o Cruzeiro no Intercontinental e igualou o marcador em 8 a 8. De 1977 para 1984, os sul-americanos levaram a melhor por sete anos consecutivos e criaram folga de seis títulos (16 a 9), a maior do confronto até então.

Messi fez o gol do título mundial do Barça em 2009 | AP Photo 
O segundo aspecto que classifica a final entre Barcelona e Estudiantes como divisor de águas é que o time catalão é a base da “Fúria” e suas vitórias do clube fortaleciam a equipe nacional, que em 2010 se tornou a primeira Seleção do velho mundo a faturar uma Copa do Mundo fora de seu continente (foi na África do Sul) e de quebra, ultrapassou a América do Sul em conquistas de Copa: 10 a 9 (a Itália havia vencido em 2006). A Europa não ultrapassava a América do Sul em Copas do Mundo desde 1954, quando a Alemanha conseguiu seu primeiro título, o terceiro do continente até então (os outros dois foram da Itália, em 1934 e 38), contra dois do Uruguai, em 1930 e 1950.

Onde a Europa não manda e desmanda


Coreia bateu a Grã-Bretanha | Reuters
Há um torneio de futebol que, ultimamente, tem feito os europeus bufarem de raiva: o futebol masculino olímpico. A última vez que uma Seleção do velho continente chegou na decisão foi em 2000, com a Espanha (vice de Camarões), e o último título foi em 1992, também com a “Fúria”, atuando em Barcelona. De 1996 para cá, só dá África e América do Sul (1996 com Nigéria, 2000 com Camarões, 2004 e 2008 com Argentina), e esse ano não será diferente. Último representante europeu e anfitrião da Olimpíada de 2012, a Grã-Bretanha foi eliminada nos pênaltis pela Coreia do Sul, o que ajudará a manter o tabu por pelo menos mais quatro anos. Nenhum dos quatro semifinalistas de Londres 2012 já subiu ao lugar mais alto do pódio no futebol masculino olímpico. Adversários de terça-feira, Japão e México foram eliminados nas semifinais de 1968 (Tóquio) e se encontraram na disputa por terceiro lugar: melhor para os nipônicos na até hoje única medalha dos asiáticos na modalidade. A Coreia do Sul disputa sua sétima Olimpíada consecutiva, mas só passou da primeira fase em 2004, nos Jogos de Atenas, quando foi eliminada nas quartas de final pelo Paraguai. O Brasil tem a base que vai disputar a Copa do Mundo em 2014, enxerga o ouro como a “última conquista que falta para o futebol nacional” e já levou quatro medalhas: duas pratas (1984 em Los Angeles, derrota para a França e em 88, em Seul, derrota para a União Soviética) e dois bronzes (1996 em Atlanta, batendo Portugal na disputa por terceiro lugar em Pequim em 2008, batendo a Bélgica). Ao menos nas Olimpíadas os europeus não “mandam e desmandam”.

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