Prefeito reeleito de Salvador torna-se o 2º a conseguir essa marca desde a redemocratização
Em 2004, João Henrique de Barradas Carneiro, então do PDT, era a voz da esperança de uma cidade sedenta em empregos e saturada de falsas promessas. Ao entrar num 2º turno contra o candidato César Borges, do PFL (atualmente chamado de DEM), conseguira o apoio de todos os outros antigos adversários: Lídice da Mata, do PSB, Da Luz, do PAN, e Nelson Pelegrino, do PT (que inclusive por muito pouco não faz o 2º turno com João Henrique).
As alianças que trouxeram para a vitória não foram gratuitas: o PT ficou com 4 secretarias na prefeitura: Saúde, Reparação, Desenvolvimento social e Governo (inclusive se pensou em apoiar João na reeleição, até optar por um candidato próprio, Walter Pinheiro, que teve como vice a ex-prefeita e candidata em 2004 Lídice da Mata, do PSB).
João eleito em 2004
A vitória de João Henrique marcou uma derrota histórica de um grupo dominante no estado, que desde a época da ditadura já comandava com os seus eleitos pela assembléia legislativa, e que continuou mandando com os votos do povo embora tenham ‘sofrido’ com 2 pequenas oscilações de poder- Fernando José do PMDB e Lídice da Mata, do PC do B (até hoje a única prefeita da cidade pertencente a um partido comunista).
Porém, não se deu tanta credibilidade ao trabalho destes dois, não é a toa, em seguida Antônio Imbassahy, do PFL, fora eleito, depois de 8 anos do grupo dominante fora da prefeitura (desde a saída de Mário Kertesz em 1989)
A herança dos tempos de repressão foram contínuos, dos tempos do ARENA com os militares- Aliança renovadora Nacional- até o PFL –Partido da Frente Liberal, o seu dissidente que mais tarde viraria ‘Democratas’ e que é adepta de uma política neoliberal* que ganhou notoriedade especialmente com as obras do economista e filósofo escocês Adam Smith. A ousadia parecia ser abolido do vocabulário político do baiano, que mesmo em sua maioria pobre, demonstrava nas urnas uma postura conservadora.
Novos partidos na disputa
Mas surge o ano de 2002, em que o candidato do PT a presidência da república, Lula, após 3 tentativas, consegue o grande feito das massas de todo o país: levar o povo ao poder. No mesmo ano, Jaques Wagner, de mesmo partido, perdeu as eleições de governador no 1º turno, mas teve maioria dos votos na capital, ou seja: pelo menos em Salvador, havia anseios por mudança.
A mudança de mentalidade, confirmada 2 anos depois e que no início era imune de críticas, começava a ser contestada: João Henrique mudou de legenda, saindo do PDT do lendário Leonel Brizola para se filiar a um partido do tão legendário quanto Ulysses Guimarães. Tais figuras, mesmo não presentes em vida, se tornam referência nas posturas destas legendas, mas não foi esse o motivo pelo qual João Henrique ‘virou a casaca’: embora com a mesma origem (o MDB- movimento democrático brasileiro, que depois se ramificou em vários partidos e que na época combatia a ARENA), foi o PMDB que conseguiu eleger um presidente (Tancredo Neves), e que desde essa época, torna-se aliança respeitável para quem sonha com o poder (inclusive com um apoio de Geddel Vieira Lima, ministro da integração nacional do atual governo Lula).
O início da nova campanha de João
Mesmo sendo filho de um peso pesado da política baiana (o atual senador João Durval já fora aliado de Antônio Carlos Magalhães, ex-membro da ARENA- inclusive ambos revezaram de poder mesmo sendo do mesmo grupo) e tendo como vice um ex-prefeito (Edvaldo Brito, eleito pela assembléia legislativa em 1978) estava claro que para se reeleger João Henrique precisava de uma aliança forte (e ela era Geddel Vieira Lima). O seu PDT, que o acusou de traidor, acabou fazendo parte da base aliada que o elegera, e o PT, que tinha algumas secretarias, caiu no engano de que teria o apoio explícito do presidente Lula, que não podia desagradar um partido que tanto te apoiou na reeleição, e que inclusive se especula que apoiará a candidatura da petista Dilma Rousseff para a presidência em 2010 (o PMDB, que em 2002, controvertidamente, apoiava o PSDB).
A vitória não foi fácil para o atual prefeito, que teve de responder perguntas sobre sua administração, para a maioria dos entrevistadores, ‘pífia’. Usou-se ataques contra o seu antecessor Imbassahy (que no seu dizer, havia deixado a cidade extremamente difícil para se governar, com muitas dívidas e problemas sérios na área da saúde- que ironicamente foi uma secretaria em que o PT deu continuidade), contra o PT (que na sua opinião, o traíra), contra ACM Neto (que é neto de Antônio Carlos Magalhães, antigo parceiro político de seu pai), e também apelou para a fé, ganhando muitos votos da comunidade evangélica.
No 2º turno, afirmou que todos os seus apoios eram ‘apenas pelas propostas’, e não por secretarias. ACM Neto no dia seguinte já lhe dava apoio, o que pode ter sido fundamental para sua vitória.
Bom, se depois do fim da ditadura, tivemos 2 prefeitos que não faziam parte do grupo dominante, ontem pela primeira vez um prefeito da antiga MDB se reelege. Se tratando de novas forças da política baiana, o ‘carlismo’ ainda está de pé, exerce seu poder, embora mais discretamente, assim como o ‘gedeísmo’ dá importantes passos para estar cada vez mais perto do governo estadual. O que podemos desejar para as futuras administrações é boa sorte, pois embora você não tenha votado nos candidatos que venceram essas eleições, você ama essa cidade, e torcer contra as administrações no poder para fazer valer o seu ponto de vista (no melhor estilo ‘secar’) pode causar anos de atraso para o município, o que será irreversível de se melhorar com apenas um mandato. Boa sorte João Henrique, que você tenha um bom mandato, que olhe para o povo carente dessa cidade e dê oportunidades, e não use como desculpa o pouco tempo para mudar, pois com mais 4 anos, queremos ver uma cidade muito melhor do que a que se encontra hoje.
*Escreverei um artigo sobre o neoliberalismo em breve.
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