quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Estamos vendo a história sendo construída

Se faltou título e bons resultados, não faltam histórias para contar nesses últimos tempos degradantes da vida do Esporte Clube Bahia: se a derrota para o Cruzeiro por 7 a 0 em 2003 em plena Fonte Nova (com 4 gols de pênaltis) fora o ponto de largada para a corrida do Bahia contra o esquecimento, 2005 mostrou que o buraco poderia ser mais embaixo: no ano em que pela primeira vez na história ocorreu um BA-VI na 2ª divisão do campeonato brasileiro, ambas as equipes do estado foram rebaixadas para a série C.
O ano de 2006 foi o pior na história do futebol baiano: desde a copa de 90 não víamos um baiano não marcar gol em copas do mundo (Bebeto representou bem o estado nas copas de 94 e 98 e Júnior fez um gol contra a Costa Rica em 2002), pela 1ª vez não tínhamos representantes nas séries A e B, e como conseqüência da decadência das equipes da capital, o Colo-Colo de Ilhéus (sul da Bahia) aproveitou bem o momento, se tornando a 2ª equipe do interior nos mais de 100 anos de competição a faturar o campeonato baiano (a outra fora o Fluminense de Feira de Santana, em 1963 e 69).
Em pleno ano de crise, o Esporte Clube Vitória ensaiou uma ascensão rumo à elite do futebol brasileiro, ao conseguir acesso a série B de 2007, enquanto o Bahia no mínimo teria de disputar a série C (corria o risco de ficar fora se não conseguisse vaga no estadual). A vaga para disputar a série C fora conseguida, mas a tristeza de ver os rivais levantando mais um caneco em nada motivava uma equipe desacreditada em busca de crescimento, e diversos amistosos foram realizados por interiores da Bahia, o mais ‘folclórico’ deles fora em Belmonte, time de Fafá (uma espécie de Cícero Ramalho* piorado- velho e pesado).
Depois da pré-temporada, o Bahia não encontrou dificuldade para conseguir a classificação nos 2 primeiros quadrangulares, até que o 3º quadrangular, aparentemente fácil (levando-se em conta a tradição do tricolor baiano) reservou emoções jamais vistas na história do clube: foi preciso torcer por um tropeço de um time do Acre e vencer uma equipe do Amazonas (o que só fora concretizado aos 49 minutos do 2º tempo, mesmo sem haver motivos para tanto acréscimo). Mesmo com muita polêmica envolvida, o Bahia respirava na competição, e mais tarde, terminaria com a 2ª colocação, subindo para a série B de 2008.

*Os torcedores do Bahia sempre lembrarão do lendário Cícero Ramalho, atacante quarentão de mais de 100 kg que jogando pelo Baraúnas de Mossoró-RN ajudou a eliminar o Vitória da copa do Brasil de 2005 (2 anos depois, na mesma competição, a equipe potiguar confirmou sua condição de carrasco do Vitória, ao conseguir a classificação novamente, mas desta vez, invalidada pela CBF pela presença de jogador irregular, mas a vitória do Baraúnas fora conseguida dentro de campo).

O Bahia em 2008

Neste ano de 2008, o Bahia liderou a maior parte do campeonato (nas poucas vezes que perdeu a liderança, foi para a equipe do Conquista, a sensação do torneio). Terminou a 1ª fase em 1º lugar, e o 1º turno do quadrangular também (inclusive com direito a 4 a 1 em cima do Vitória em pleno Barradão aos gritos de ‘Chupa que é de Uva’, ‘Créu’ e ‘Vamos dar a volta no lixo’).
Mesmo tendo sido eliminado na copa do Brasil pelo Icasa de Juazeiro do Norte-CE, a torcida estava otimista para faturar o caneco que não vinha a 7 anos (nunca ficara tanto tempo na fila, o recorde anterior havia sido entre os anos de 1962 e 67- 5 anos de jejum). Mas uma semana depois do jogo em que os tricolores gritaram ‘chupa que é de uva’ (do Aviões do Forró) os rubro-negros devolveram a provocação com ‘senta que é de menta’ (de Cavaleiros do Forró), em Feira de Santana, e o Forró, que cada vez mais cresce sua popularidade no estado, agora tinham em suas letras interpretações coerentes e compatíveis com as histórias das equipes: os torcedores do Bahia sempre desprezaram a ‘Copa da festa da Uva’, torneio realizado e vencido pelos rivais em 1994 em Caxias do Sul-RS com as participações de Caxias, Juventude e Internacional (a uva está presente na música provocativa), e os rubro-negros devolveram numa música com som de resposta “Você provocou e agora experimenta, senta que é de menta, senta que é de menta” (sendo a ‘menta’ apenas para rimar com ‘experimenta’).
Mesmo sofrendo esta derrota embaraçosa, ainda havia possibilidade de reabilitação na competição, mas não aconteceu: até o último minuto, havia possibilidade de triunfo tricolor, mas faltava um golzinho contra o Conquista, e este não aconteceu (de qualquer jeito, a goleada de 5 a 0 sobre a revelação do campeonato animou os ânimos para a série B).

Mais histórias: movimentos, estádios...

Entre movimentos como “Devolva meu Bahia” (idealizados pelo jornalista Mario Kertesz), que distribuíram gratuitamente adesivos em uma vídeo-locadora de Salvado , passeatas- algumas delas com trio elétrico- pedindo voto livre e direto para sócio-torcedores (já que estes apenas escolhem uma comissão e esta escolhe os administradores do clube, ou seja, por isso a administração não muda de figura), apedrejamentos (como na derrota contra o Ipatinga na Fonte Nova, em que alguns torcedores tiraram parte do concreto que se separava da arquibancada e lançou-as em direção ao campo- em especial, contra o lateral esquerdo Avni), invasões (seja de torcedores que passaram dias no Fazendão num protesto mais ameno, ou dos que invadiram o treino para agredir jogadores e terminaram presos no mesmo dia, além da invasão na Fonte Nova para comemorar a subida do time para a 2ª divisão que fez danificar parte do estádio graças ao vandalismo), desabamento de parte da arquibancada (no dia em que o Bahia conseguiu acesso para a 2ª divisão, parte do concreto desgastado da Fonte Nova caiu matando 7 torcedores), atualmente o maior impasse é sobre onde o Bahia irá jogar: os jogos hoje são realizados em Feira de Santana, cidade longe onde se torna inviável a presença de muitos torcedores que moram na capital, isso porque não podem ser realizados em Camaçari, município mais próximo de Salvador, devido à pequena lotação (insuficiente para os critérios da CBF).
Por pouco o Bahia não iria jogar no Barradão, estádio do rival, mas as negociações, que envolviam dentre outras coisas um jogo político em que, em troca do empréstimo do estádio, a Petrobrás iria reformar o estádio (inclusive colocando cobertura). O interesse da Petrobrás é fazer parceria entre Bahia e Vitória e colocar sua marca em lugares estratégicos do estádio do Barradão e Pituaçu (do governo, onde o Bahia em breve sediará seus jogos), mas a negociação acabou não saindo, fora o fato de que os torcedores do Vitória sempre se mostraram resistentes para emprestar o estádio que os tricolores sempre menosprezaram, inclusive apelidando de ‘lixão’.
O estádio de Pituaçu está atrasado e provavelmente não terá como jogo de estréia Bahia e Corinthians. Essa é a dura realidade de um time de tradição que hoje se encontra sem teto, mas nem por isso sente abalo da paixão de sua torcida pela equipe, vide todos os eventos citados anteriormente.

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