segunda-feira, 23 de março de 2009

O que te prende e o que te faz ser livre

Esse blog está pouquíssimo jornalístico. A intenção de criar o blog surgiu quando minha professora de Oficina de Leitura e Escrita orientou eu e meus colegas a criarmos um espaço na internet para treinarmos nosso futuro ofício, que é escrever, e, sendo nosso futuro ofício, é o espaço de aperfeiçoamento, já que através de visibilidade recebe-se críticas e com elas se aprimora técnicas.

Talvez o propósito tenha sido um, e eu esteja o desviando: não o divulgo, considero uma página relativamente íntima (e preciso divulgar, afinal, o que são pensamentos se não forem jogados ao mundo com intensidade?) e tenho escrito pouco com as técnicas sisudas aprendidas na faculdade, estou preferindo refletir, transgredir a linguagem 'uniformizante' e criando o meu próprio estilo, com pensamentos meus, que embora poucos o leiam (não é a toa que quase não há comentário nas postagens), me satisfaz jogar para o ar tais idéias.

Uma das coisas que penso muito ultimamente é a origem e o significado de nossas essências, além das nossas liberdades. O que somos nós? Muitos dos nossos aspectos são censurados, e não nos mostramos quem realmente somos pro completo porque pode ser extremamente perigoso. Também, muitas vezes pensamos ser algo e nos limitamos aos rótulos dados pelo exterior (não se refere a outro país, e sim 'de fora'), e não investigamos em nosso interior se o determinado tem prazo de validade ou é eterno enquanto vivamos. Acha loucura tudo que estou escrevendo? Bom, vou tentar ser um pouco mais 'concreto', afinal, já é uma honra muito grande te ter como leitor e você não tem obrigação de entender todos os meus sígnios, que as vezes só se fazem compreensivos para mim (afinal, cada cabeça é um mundo, e embora eu possa compreender tudo isso escrito, tenho que de alguma forma traduzir essas palavras em versos simples e com alcance maior de compreensão).

Quando alguém se afirma 'senhor do próprio destino e de suas escolhas', ou tenta se enganar ou está extremamente iludido. Para começar, você não escolheu seu nome e nem onde iria nascer (e nem como iria nascer, afinal, não é angustiante sair da barriga quentinha de sua mãe para cair numa sala gelada pelo ar-condicionado e, mesmo com o corpo frágil e desacostumado a toques, levar uma 'palmadinha' do médico? Não seria melhor nascer debaixo da água com temperatura da bolsa de água da sua mãe?). Aí depois do seu nascimento, você não tem autonomia de escolha, e 'descobre o que quer' depois de já ter sido registrado no cartório, matriculado na escolinha e 'forçado a aprender' um idioma que você nem sabe se é o de sua preferência. Dá para fugir de tudo isso? Penso que outros animais, como a girafa, despertam sua 'pseudo-independência' de locomoção muito mais rápido, porque mesmo depois de um parto de uma altura enorme, o filhote já levanta sabendo andar, e nós, temos que aprender tudo muito lentamente.

Quando você se 'entende como gente', já fala um idioma, já foi condicionado a comer determinados alimentos e suas amizades nascem dos únicos lugares que você pode ir: a escolinha, o condomínio, os parentes... Um conjunto de valores já foi adquirido, e o conceito de estranho, que se opõe a tudo já te ensinado até então, desperta a curiosidade ou repulsa sobre algo.

Aí você cresce e o controle sobre você vai aumentando: é preciso fazer carteira de identidade, CPF, título de eleitor, reserva no exército (se você for menino), carteira de trabalho, declaração de bens materiais e renda... Se você 'sair da linha', o estado, muito mais poderoso que você, vai te punir, e a depender do caso, poderá te multar ou até mesmo te colocar em detenção. O que é ser preso? Bom, ser preso é perder a liberdade de ir e vir, por um tempo determinado, como forma de punir um ato contra as normas que visam o 'bem estar da sociedade', e se você transgrediu, é um perigo para a integridade do estado. E eu me pergunto: haveria vida organizada sem estado?

Tão bizarra quanto a idéia de ser constantemente controlado, seja pelas burocráticas documentações ou pelos valores sociais, que se não te punem com força de lei, de fazer andar nos eixos por força da pressão das convenções (que podem te excluir e até lhe tirar a vida) é a idéia de nada ser controlado e as pessoas não terem 'um centro', uma 'referência', pois não existe vida inteligente ser cultura (que são os artifícios criados para nos diferenciar do 'mundo animal selvagem', no quais não há valores e persiste a idéia da cadeia alimentar, darwinismo, do 'mais forte' - qualquer semelhança com o capitalismo deve ser revista, porque a selva animal é muito mais cruel para quem não age apenas por extintos) e nem existe 'cultura neutra' ou algo que seja 'universal', logo, o respeito as diferenças está longe de ser a uniformalização do pensamento e das normas, por isso, antes de tanto contestarmos o que se passa na nossa sociedade, é interessante olharmos que motivos levaram ela a chegar até hoje, e não ser tão 'obediente' ao meio.

Que coisa controversa é não achar solução para algo. Ser controlado é ruim, mas uma vida sem controle é inimaginável. Talvez, os mecanismos de controle devem ser revistos: a repressão é muito forte para os 'rebeldes'. Estamos presos ao estado burocrático, a cultura da nossa sociedade, a nossa genética (já que há teses em que muitos de nossos comportamentos podem ser explicados através de nosso DNA, a exemplo de predisposição a depressão e irritação), ao medo e ao que já nos aconteceu na vida... Devemos reconhecer que não somos livres, como também não aceitar total submissão, pois há um fato que nos define: as nossas escolhas, que, se tomadas verdadeiramente com a constante luta pela auto-descoberta, nos levará para perto do nosso verdadeiro EU. Não digo que levará totalmente ao verdadeiro eu, porque não sabemos todos os motivos que nos levarão a ser quem somos (e não saberemos, e nem escolhemos), mas lutar contra a síndrome de Gabriela ('eu nasci assim, vou morrer assim') nos faz entender um pouco a seguinte frase de Clarice Lispector: "Liberdade é pouco: o que eu quero ainda não tem nome".

Se achar no meio de tantos artifícios não é fácil, mas não é esse corpo que nos faz se sentir tão pesados: o peso vem da alma, e não há vida após a morte que tire conceitos de uma mente que, embora livre dos traços genéticos de personalidade, não queira ver que há vida além da sua mente.

Um comentário:

dora disse...

Pois é, tão importante quanto termos consciência que vivemos em um mundo que precisamos seguir algumas regras é ter a certeza que nossas escolhas podem nos proporcionar viver o mais próximo possível do que acreditamos.
bjs