quinta-feira, 19 de março de 2009

A fria indústria da informação

Todos estamos com o mesmo objetivo, indo para o mesmo lugar, nas medíocres idéias que nos impõe: trabalhar para ganhar dinheiro, se fazer agradável para patrão e clientes para segurar o emprego, evitar polêmica para se viver em paz e comprar sem tanto pensar, tal estímulo sofremos para consumir.

Todas as profissões parecem ser sem graça, todas elas levam para o mesmo lugar, fazer a economia rodar (ganhando-se e gastando-se dinheiro): se você é advogado, defenderá os mais inescrupulosos casos, se for médico, tentará salvar vidas, mas tentará não se abalar com as que se forem, e se for jornalista, venderá informações, que sofrem todos os tipos de influência, transformadas em notícias com critérios estéticos agradáveis a maioria dos leitores que não tem paciência para refletir tanto sobre os fatores secundários dos acontecimentos, e com técnicas compatíveis a cada momento e grupo, a fim de uniformizar textos, que serão esquecidos amanhã, quando novas notícias surgirem, e assim por diante: vai se reciclando, vai se esquecendo, sendo as notícias tão descartáveis como a maioria dos produtos supérfluos que consumimos.

A maioria das coisas que se escreve em nada irá transformar o leitor: tão frio e distante dos acontecimentos, comumente pode-se chocar, mas são poucos que interiorizam o que se escreve, que tenta-se aprofundar nos fatos que são transmitidos e não vividos por quem lê, que continuará na sua mediocridade de mero receptor de números e letras frias, que nada te tocam, que pouco importaria se lida ou não, pois não irá te levar a um lugar diferente do que esteja.

Não que a metamorfose tenha de ser o objetivo constante, sendo o humor e o supérfluo importantes para a manutenção de 'uma mente sadia' (e na convenção em questão, não se trata de imune de doenças, e sim que não pensa em tantas coisas diferentes- que seriam taxadas de loucura-, incapaz de 'sair da linha', obediente aos fatos e pouco contestadora, com uma trilha previsível a se traçar, e não flexível a novos conhecimentos em seu percurso), mas experiência está longe de ser o acúmulo de atividades e informações ao longo do tempo: se nada te sensibilizar, tocar, transformar, o fato simplesmente passou, e não ficará guardado, logo, foi em vão. Quem procura a experiência verdadeira não quer fabricação de notícias, não taxa de verdade absoluta a informação que não foi construída com a sua experiência (que te leva até a criar opinião sobre algo) nem com o conhecimento científico tão omisso às diferentes receptividades que pode ter na mente de cada pessoa, e sim se expõe, sai de seu cômodo, pode até se chocar, e se choca quem se dispõe para tanto, e não apenas com o fato acontecendo em sua frente -que também pode passar indiferente-, e sim com a interiorização do fato quebrando seus antigos conceitos.

Isso é jornalismo de verdade: a quebra de regras, a busca pelos fatos com descrições diversas, respeitando as diferentes mentes que irão ler o mesmo texto (sem a pretensão de achar que todos sentirão a notícia da mesma forma), a revisão de técnicas e a busca incessante pela experiência, pois se o leitor em si não tem tanto 'tempo' para ir atrás dos fatos nem 'técnica' para transformar em notícia (com todos os ensinamentos teóricos e éticos aprendidos na faculdade e na vida), o repórter tem grande responsabilidade de transgredir a idéia de comercialização de idéias e de fato, se preocupar em sentir, se transformar, porque para ter uma sociedade de maiores percepções, é interessante que exista uma imprensa pronta para desafios, nos quais não se trata da mediocridade de ganhar dinheiro, e sim exercer seu ofício com o coração que dinheiro nenhum paga para ser ouvido, num mundo de tanta frieza, indiferença e previsibilidade.

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