sábado, 7 de março de 2009

Estética x Mercado

O que se faz pela beleza sem a procura imediata do dinheiro e o que se é comercial, 'fabricado em série', as vezes em 'larga escala?'

No primário, nossas professoras de arte nas escolas nos ensinavam que manifestações artísticas não devem ser classificadas: há espaço para cada idéia, sem critérios técnicos que limtem a transgreção e criação de novos conceitos, afinal, fazer arte é inventar, é muitas vezes pensar algo que não reflete os limites da sociedade. Ao contrário dos esportes, na arte não há vencedor: se manifestar é uma vitória, e ninguém está acima de ninguém.

Dos 6 prêmios Nobel entregues anualmente, apenas 1 se dedica ao campo das artes: é o prêmio da literatura, que em 98 foi dado ao portugês José Saramago, sendo ele o único escritor de língua portuguesa a ganhá-lo. Embora as artes não sejam competitivas, o prêmio Nobel costuma ser justo quanto aos critérios estéticos, indpendente de valores regionais.

Mas o que é arte? Se recorrermos a etimologia, deriva de artifício, artificial, ou seja, criado pelo ser humano, opondo-se a idéia de natural. Com esse critério, não há apenas 7 artes*¹, e todos as criações não divinas, a exemplo de sistemas políticos e o complexo mecanismo da economia, seriam arte.

Há muito tempo nós já nos manifestamos

Temos um certo consenso de que a arte entretem, agrupa comunidades e muitas vezes diverte. Talvez, divertir não seja prioridade, levando em conta que a reflexão fria acerca de uma obra abole as expectativas de excitação e gargalhadas. Cada manifestação artística tem o seu objetivo, ou quem sabe, seu objetivo é dado por quem interpreta a obra, ja que, uma vez exposta no mundo, sua ideologia não pertence mais ao seu criador, e sim, a cada um que refletir e lhe der um significado?

O que isso significa para você? Será que é o mesmo que significa para mim?

O que forma uma cultura? Historiadores e cientistas sociais*² pesquisam o que levou determinad povo a ter certa postura uniforme. Pessoas pensam diferentes, mas há traços culturais que fazem determinado grupo guardar hábitos, em que não se escolheu por assim agir, mas que pouca vontade se tem de mudar, e que ja está enraizado em determinada região há muitos anos, muito antes dessas pessoas que agem de determinada maneira nascerem. O artista que quiser ganhar dinheiro em determinada região tem de conhecer (se não ele, algum produtor artístico) a fundo o gosto popular dali.

Apenas 2 artistas conseguiram lotar o Maracanã: Frank Sinatra em 1980 e Ivete Sangalo em 2005. Porque eles? Qual o laço de identidade deles com os valores de tantas pessoas juntas num só lugar? O que fizeram eles chegarem lá, apenas o talento ou houve um bom trabalho de assessoria e produção feito por trás? O que as pessoas buscavam nesses shows? Entrentenimento, diversão, cultura, reflexão...? Frank Sinatra fez o Maracanã se concentrar em silêncio. Ja Ivete...

Como vivemos num mundo capitalista, é natural que muitas das atividades que podem ser exercidas pelo ser humano sejam assim feitas para se enriquecer, e para se ganhar muito dinheiro, tem de se 'filtrar' o que será útil para um projeto bem sucedido e o que não é.

Mas o artista independente (que nos campos do cinema e música são chamados de 'Indie') em essência não procura agradar público algum (nem mesmo o 'público indie'): a preocupação roda em torno da estética, e os admiradores que vierem são consequência do trabalho que criou laços de compatibilidade com pessoas, que não precisam ser muitas (afinal, a preocupação não é popularidade nem dinheiro, e quando o formato não entra em compatibilidade com o conceito de belo da sociedade, a banda não sairá do "underground").
"Banda de garagem" é o termo usado para grupos musicais fora do circuito comercial. Será que todas querem ser vendáveis? Enriquecer é um valor universal?

No mundo musical, se uma banda, mesmo que preocupada mais com as questões estéticas 'surpreendentemente' começe a ganhar mais espaço e visibilidade, não significa que ela se tornou 'vendável ou prostituída', e dinheiro como consequência de um bom trabalho que por acaso se encaixou com alguns valores culturais (e não da 'contra-cultura rebelde) pode sim aproveitar essa fase sem deixar de ser Indie, mas deve-se continuar com a preocupação estética, o que pode fazer a banda sair das paradas de sucesso (o que não deixa de ser normal, afinal, a música mercadológica passa pelo mesmo problema: o de ser 'descartável').
4 garotos de Liverpool na década de 60, com músicas envolventes e carisma fora de série, vidraram multidões no mundo todo, venderam muitos discos (e vendem até hoje) sem deixar de lado a estética invejável (respeitada até pelos críticos mais ferrenhos de música). Será essa uma prova de que é possível fazer uma boa música e vender bem? Eles foram sortudos? A época deles foi mais propícia? Qual a fórmula para chegar no sucesso por tanto tempo (no caso deles, um sucesso que perdura até hoje)

Vale lembrar que a música mercadológica (insisto nesses rótulo embora seja relativo empregá-los a cada banda, pois uma banda independente para mim pode ser mercadológica para você) não é sinônimo de música de má qualidade, embora a mentalidade das letras e melodia priorizem a permanência no mercado. Há como conciliar a estética e os valores atuais, mas a falta de preocupação com os valores atuais fazem o músico indie transgredir e a transgressão traz a mudança de mentalidade (que vale lembrar, nem sempre é construtiva), e a internet é uma ferramente útil para reunir tantas pessoas de mente diferenciada, que embora estejam distante, podem em frente ao computador fortalecer a corrente que visa pluralizar e democratizar sociedades tão presas às tradições e enraizados em preconceitos.

Dos computadores para a internet, da internet para o mundo: Mallu Magalhães e Cansei de ser sexy são exemplos de que pode-se fazer um som diferente e ser ouvido. A primeira, através do 'My Space' (é um serviço de rede social, como o 'Orkut') e a segunda, através do fotolog que as levaram a uma coluna da Folha de São Paulo e assim ganhando repercussão. Dois exemplos de 'descompromisso' com a indústria, mas que vem ganhado espaço, mas será que é realmente isso que elas querem? Ou foram levadas pelo talento e assim mantem o trabalho, sem tanto medo da 'efemeridade do sucesso'?

Um dia os valores do mercado irão mudar, e quem sabe, novos mercados surgirão sem 'acabar' com os antigos, afinal, há espaço para todos nesse mundo, seja a utulidade da arte refletir ou fazer sorrir, seja a música feita para carnaval ou para momentos de solidão: nós respiramos música e sem ela nossa vida seria difícil, afinal, como seria a ida ao trabalho sem ouvir uma canção num trajeto de 30 minutos? E na hora de cozinhar, tudo não fica mais fácil com um rádio de pilha próximo ao fogão? O novo não surge para destruir o velho, e sim para dividir espaço, um espaço em que cabe todos, e caberá até o que não foi inventado.

Segundo o blogueiro Jorge Furtado, são música, dança, pintura/desenho, escultura/arquitetura, teatro, literatura e cinema.

*² As ciências sociais englobam sociologia, antropologia e ciências políticas.


--->OBS:<---

--->O mais incoerente no mundo musical é o termo 'Indie Pop', em que controvertidamente se aliam conceitos opostos: o primeiro, de independência e pouca preocupação com popularidade, e o segundo, ressaltando justamente a popularidade e a busca mercadológica. Talvez, o termo 'pop' na língua inglesa ganhou uma denotação de estilo musical, e não de exposição musical. Aqui no Brasil, a controvérsia está por conta da 'MPB', música popular brasileira, que na verdade, não é popular por aqui, e sim ouvida muito mais pelas elites (o popular seriam o sertanejo, pagode, axé, calypso...)

---> Um exemplo interessante de visibilidade na televisão: se o carnaval de Pernambuco pouco é mostrado na tv, é porque esse não se 'adequa' ao formato televisivo, sem a busca do carnaval de Salvador que, para 'fazer a festa crescer mais' (não sei aonde é o limite de tal crescimento), adequa seus valores a diversos públicos, englobando diversos estilos musicais com diversos instrumentos, enquanto em Pernambuco permanece o Maracatu e Frevo.

Um comentário:

dora disse...

É isso aí, o melhor de tudo é poder conciliar o "fazer o que acredita" e "ganhar dinheiro". Com certeza, os Beatles, por exemplo acreditavam e amavam o que faziam, daí o sucesso eternizado.
Em alguns momentos, porém, é necessário fazermos também o que não gostamos.Importante é manter o foco para aproveitar as oportunidades e podermos retornar e voltar a fazer o que realmente acreditamos.
O importante é ser ecológico...lembra da PNL?
bjs