No primário, nossas professoras de arte nas escolas nos ensinavam que manifestações artísticas não devem ser classificadas: há espaço para cada idéia, sem critérios técnicos que limtem a transgreção e criação de novos conceitos, afinal, fazer arte é inventar, é muitas vezes pensar algo que não reflete os limites da sociedade. Ao contrário dos esportes, na arte não há vencedor: se manifestar é uma vitória, e ninguém está acima de ninguém.
Mas o que é arte? Se recorrermos a etimologia, deriva de artifício, artificial, ou seja, criado pelo ser humano, opondo-se a idéia de natural. Com esse critério, não há apenas 7 artes*¹, e todos as criações não divinas, a exemplo de sistemas políticos e o complexo mecanismo da economia, seriam arte.

Temos um certo consenso de que a arte entretem, agrupa comunidades e muitas vezes diverte. Talvez, divertir não seja prioridade, levando em conta que a reflexão fria acerca de uma obra abole as expectativas de excitação e gargalhadas. Cada manifestação artística tem o seu objetivo, ou quem sabe, seu objetivo é dado por quem interpreta a obra, ja que, uma vez exposta no mundo, sua ideologia não pertence mais ao seu criador, e sim, a cada um que refletir e lhe der um significado?

O que forma uma cultura? Historiadores e cientistas sociais*² pesquisam o que levou determinad povo a ter certa postura uniforme. Pessoas pensam diferentes, mas há traços culturais que fazem determinado grupo guardar hábitos, em que não se escolheu por assim agir, mas que pouca vontade se tem de mudar, e que ja está enraizado em determinada região há muitos anos, muito antes dessas pessoas que agem de determinada maneira nascerem. O artista que quiser ganhar dinheiro em determinada região tem de conhecer (se não ele, algum produtor artístico) a fundo o gosto popular dali.
Como vivemos num mundo capitalista, é natural que muitas das atividades que podem ser exercidas pelo ser humano sejam assim feitas para se enriquecer, e para se ganhar muito dinheiro, tem de se 'filtrar' o que será útil para um projeto bem sucedido e o que não é.
Mas o artista independente (que nos campos do cinema e música são chamados de 'Indie') em essência não procura agradar público algum (nem mesmo o 'público indie'): a preocupação roda em torno da estética, e os admiradores que vierem são consequência do trabalho que criou laços de compatibilidade com pessoas, que não precisam ser muitas (afinal, a preocupação não é popularidade nem dinheiro, e quando o formato não entra em compatibilidade com o conceito de belo da sociedade, a banda não sairá do "underground").

No mundo musical, se uma banda, mesmo que preocupada mais com as questões estéticas 'surpreendentemente' começe a ganhar mais espaço e visibilidade, não significa que ela se tornou 'vendável ou prostituída', e dinheiro como consequência de um bom trabalho que por acaso se encaixou com alguns valores culturais (e não da 'contra-cultura rebelde) pode sim aproveitar essa fase sem deixar de ser Indie, mas deve-se continuar com a preocupação estética, o que pode fazer a banda sair das paradas de sucesso (o que não deixa de ser normal, afinal, a música mercadológica passa pelo mesmo problema: o de ser 'descartável').
Vale lembrar que a música mercadológica (insisto nesses rótulo embora seja relativo empregá-los a cada banda, pois uma banda independente para mim pode ser mercadológica para você) não é sinônimo de música de má qualidade, embora a mentalidade das letras e melodia priorizem a permanência no mercado. Há como conciliar a estética e os valores atuais, mas a falta de preocupação com os valores atuais fazem o músico indie transgredir e a transgressão traz a mudança de mentalidade (que vale lembrar, nem sempre é construtiva), e a internet é uma ferramente útil para reunir tantas pessoas de mente diferenciada, que embora estejam distante, podem em frente ao computador fortalecer a corrente que visa pluralizar e democratizar sociedades tão presas às tradições e enraizados em preconceitos.
Um dia os valores do mercado irão mudar, e quem sabe, novos mercados surgirão sem 'acabar' com os antigos, afinal, há espaço para todos nesse mundo, seja a utulidade da arte refletir ou fazer sorrir, seja a música feita para carnaval ou para momentos de solidão: nós respiramos música e sem ela nossa vida seria difícil, afinal, como seria a ida ao trabalho sem ouvir uma canção num trajeto de 30 minutos? E na hora de cozinhar, tudo não fica mais fácil com um rádio de pilha próximo ao fogão? O novo não surge para destruir o velho, e sim para dividir espaço, um espaço em que cabe todos, e caberá até o que não foi inventado.
*¹ Segundo o blogueiro Jorge Furtado, são música, dança, pintura/desenho, escultura/arquitetura, teatro, literatura e cinema.
*² As ciências sociais englobam sociologia, antropologia e ciências políticas.
--->OBS:<---
--->O mais incoerente no mundo musical é o termo 'Indie Pop', em que controvertidamente se aliam conceitos opostos: o primeiro, de independência e pouca preocupação com popularidade, e o segundo, ressaltando justamente a popularidade e a busca mercadológica. Talvez, o termo 'pop' na língua inglesa ganhou uma denotação de estilo musical, e não de exposição musical. Aqui no Brasil, a controvérsia está por conta da 'MPB', música popular brasileira, que na verdade, não é popular por aqui, e sim ouvida muito mais pelas elites (o popular seriam o sertanejo, pagode, axé, calypso...)
---> Um exemplo interessante de visibilidade na televisão: se o carnaval de Pernambuco pouco é mostrado na tv, é porque esse não se 'adequa' ao formato televisivo, sem a busca do carnaval de Salvador que, para 'fazer a festa crescer mais' (não sei aonde é o limite de tal crescimento), adequa seus valores a diversos públicos, englobando diversos estilos musicais com diversos instrumentos, enquanto em Pernambuco permanece o Maracatu e Frevo.
Um comentário:
É isso aí, o melhor de tudo é poder conciliar o "fazer o que acredita" e "ganhar dinheiro". Com certeza, os Beatles, por exemplo acreditavam e amavam o que faziam, daí o sucesso eternizado.
Em alguns momentos, porém, é necessário fazermos também o que não gostamos.Importante é manter o foco para aproveitar as oportunidades e podermos retornar e voltar a fazer o que realmente acreditamos.
O importante é ser ecológico...lembra da PNL?
bjs
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