Domingo, 25 de Março de 2007
Acompanhem meu raciocínio: quando falamos de cultura e costumes, temos duas Américas, a Anglo-Saxônica e a Latina. Pelo menos para mim, quando falamos de América Latina, as primeiras coisas que vem em minha cabeça são o idioma castelhano, as culturas andinas(das elevadas altitudes) e indígenas em geral e um povo que até hoje demonstra muito sofrimento devido à colônização de exploração.
Mas o Brasil me parece totalmente diferente de todos os outros países da América latina, ja que falamos português, o ponto mais alto é o pico da Neblina, com 2.994 metros(que não tem tamanho suficiene para se configurar em montanha, portanto o Brasil é um país baixo e consquentemente sem montanhas) e há como fator comportamental marcante a alegria de viver, que misturado ào samba, a cultura praieira e a ginga, transparecem uma cultura única, em que se configuram, devido à mídia carioca, a imagem do Brasil associado à vida no Rio de Janeiro.
Claro que estou falando de estereótipos, que não foram contruídos ontem, mas acho interessante trabalhar com estereótipos, mesmo que muitos desses não sejam totalmente verdadeiros. Então sendo a vida brasileira associada à vida dos cariocas, esquecemos do Nordeste, que é uma região importantíssima para a história do Brasil(inclusive foi a região dominante, até descobrirem ouro em Minas Gerais e aos poucos transferirem a capital de Salvador ào Rio e a região dominante se tornou o sudeste).
O Nordeste tem sua imagem fortemente associada à cultura do sertão, tanto na culinária(buchada de bode, carne de sol...), nas vestimentas(nem todos se vestem como Lampião, mas sua roupa ainda é clássica, faz parte da cultura), na música(o forró, que é subdividido em pé de serra, xote, baião, de duplo sentido-conhecido como safado- fora o universitário, que nasceu no Espírito Santo mas tem forte influência nordestina) e no sotaque.
Mas, dos 9 estados do Nordeste, há um que sai do padrão clássico cultural descrito acima. Nesse estado, chamado Bahia, macacheira é aimpim, tapioca é beijû e a cultura do afro é mais forte que a cultura sertaneja(com excessão de algumas cidades do interior do estado). Na Bahia, a culinária, a dança, os cultos religiosos, a música e o seu povo tem fortes traços africanos, e seus centros históricos contam as histórias mais antigas do Brasil e uma das mais antigas de todas as Américas. De forma estereotipada, é claro(porque eu sou baiano e conheço minha terra), há uma certa paz no jeito de falar e de agir(nada haver com preguiça, pois aqui se trabalha muito), e se diferencia dos outros nordestinos, onde a cultura estereotipada do maxismo, da 'facada no bucho da rapariga que me deu corno' se torna evidente nos fimes de Guel Arraes, como 'O auto da compadecida' e 'Lisbela e o prisioneiro'.
Eu, como futuro jornalista, quero fugir da manipulação que muitos filmes e livros nos impõe, e sei que para conhecer de fato o Nordeste e o povo nordestino o melhor é viajar, e eu por enquanto só conheço a Bahia, Sergipe e Alagoas; Mas claro, há verdade em muito do que nos passam, isso não se pode negar.
Na própria Bahia, há regiões que se difernciam do centro cultural, que tem Salvador como figura marcante. Há Canudos e sua cultura sertaneja, há a região cacaueira, famosa pelo chocolate e a história dos coronéis, há o sul, onde o Brasil nasceu(Porto Seguro) e o arquipélogo paradisíaco de Abrolhos; Há a cultura mais de cerrado em Barreiras, há Juazeiro, em que alguns pesquisadores acreditam que lá fenícios faziam negócios há mais de dois mil anos; há lugares frios como Vitória da Conquista e muito mais, que eu nem ouvi falar. Dentro de meu próprio estado há um universo de diversidades, e o meu estado é especialista em ser diferente, o que me orgulha muito. Me orgulha muito ser baiano, apesar de todos os problemas sócio econômicos e de alguns dos nossos governantes. Há duas frases que ilustram bastante o potencial criativo de meus conterrâneos: "Baiano não nasce, estréia; Baiano não morre, sai de cena".
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