Está certo que tais violações aos direitos humanos são absurdas e que todas as gerações devem estar muito atentas às suas condutas, mas eu pergunto: quantas pessoas hoje não percebem absurdos do cotidiano, e que em um futuro não tão distante algumas gerações irão saber sobre as nossas e pensar "Meu Deus, como pode aquilo, vocês da década de 2000 eram insanos!".
Afinal, o que você acha de pagar um salário mínimo para uma moça fazer todas as coisas que você não gosta, sendo que você poderia estar pagando mais, ou perder a preguiça e passar a lavar pratos e varrer a casa? E o que dizer de trazer uma humilde jovem do interior para 'ser criada na capital', em sua casa, e em troca ela fazer os serviços domésticos? Às vezes nem se quer ganham salário, e a 'troca' é: morar na capital com direito a casa, comida e roupa lavada, e para isso ter de cuidar da casa e às vezes, dos filhos barulhentos do casal. Um dia isso parecerá um absurdo, e nos perguntaremos 'como era possível isso?'.
Estar à frente do seu tempo significa ter sensibilidade para perceber os erros da sociedade mesmo estando 'acostumados' com ela. É cômodo não pensar diferente, mas quantos de nós não temos preconceitos infundados? Quantos de nós nos dizemos a favor da integração social, e preferem esquecer o termo racismo a ter que combatê-lo? O racismo é muito mais antigo que todos nós, mas nem por isso jogaremos a toalha: é tempo de lutar contra essa corrente, pois pode até ser extremamente desgastante ir contra a corrente hipócrita que visa taxar que 'racismo era em outros tempos', mas que acaba praticando todos os dias, mesmo em pequenos atos, coisas que fazem a manutenção da mesma mentalidade, e não um avanço.
Quem foi Senhor de Engenho viveu 'coerente com o seu tempo': para eles, escravo não era gente, e não sendo gente, não existem valores humanos, logo, não havia preocupação. Poucos estavam a frente do seu tempo e viam como absurdo um ser humano trabalhar forçado, assim como poucos hoje notam certo absurdos e são taxados de loucos quando contestam. Raça inferior era uma 'justificativa' para atos tão perversos, e aceitavam essas justificativas quem não quisesse ou não conseguisse enxergar um mundo além dessas convenções.
Logo, antes de criticar tanto o passado e 'venerar' os 'tempos modernos', olhemos para o aqui e agora, quantos absurdos somos acostumados a engolir, com quantas coisas não mais nos chocamos, para aonde estamos indo, e que vida é essa em que não podemos escolher nossos caminhos, em que nos empurram papéis sociais e ideologias fabricadas: coragem para pensar diferente, e acima de tudo, agir diferente!
"todo camburão tem um pouco de navio negreiro"- O Rappa
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