sábado, 25 de abril de 2009

Você está a frente do seu tempo?

Julgamentos são muito fáceis de fazer: a escravidão, o nazismo e qualquer outro tipo de exploração servil de conduta racista quando olhamos para o passado nos parece um absurdo, abomináveis para um se humano que não merecesse algo menor que um castigo na mesma moeda.
Está certo que tais violações aos direitos humanos são absurdas e que todas as gerações devem estar muito atentas às suas condutas, mas eu pergunto: quantas pessoas hoje não percebem absurdos do cotidiano, e que em um futuro não tão distante algumas gerações irão saber sobre as nossas e pensar "Meu Deus, como pode aquilo, vocês da década de 2000 eram insanos!".
Afinal, o que você acha de pagar um salário mínimo para uma moça fazer todas as coisas que você não gosta, sendo que você poderia estar pagando mais, ou perder a preguiça e passar a lavar pratos e varrer a casa? E o que dizer de trazer uma humilde jovem do interior para 'ser criada na capital', em sua casa, e em troca ela fazer os serviços domésticos? Às vezes nem se quer ganham salário, e a 'troca' é: morar na capital com direito a casa, comida e roupa lavada, e para isso ter de cuidar da casa e às vezes, dos filhos barulhentos do casal. Um dia isso parecerá um absurdo, e nos perguntaremos 'como era possível isso?'.
Estar à frente do seu tempo significa ter sensibilidade para perceber os erros da sociedade mesmo estando 'acostumados' com ela. É cômodo não pensar diferente, mas quantos de nós não temos preconceitos infundados? Quantos de nós nos dizemos a favor da integração social, e preferem esquecer o termo racismo a ter que combatê-lo? O racismo é muito mais antigo que todos nós, mas nem por isso jogaremos a toalha: é tempo de lutar contra essa corrente, pois pode até ser extremamente desgastante ir contra a corrente hipócrita que visa taxar que 'racismo era em outros tempos', mas que acaba praticando todos os dias, mesmo em pequenos atos, coisas que fazem a manutenção da mesma mentalidade, e não um avanço.
Quem foi Senhor de Engenho viveu 'coerente com o seu tempo': para eles, escravo não era gente, e não sendo gente, não existem valores humanos, logo, não havia preocupação. Poucos estavam a frente do seu tempo e viam como absurdo um ser humano trabalhar forçado, assim como poucos hoje notam certo absurdos e são taxados de loucos quando contestam. Raça inferior era uma 'justificativa' para atos tão perversos, e aceitavam essas justificativas quem não quisesse ou não conseguisse enxergar um mundo além dessas convenções.
Logo, antes de criticar tanto o passado e 'venerar' os 'tempos modernos', olhemos para o aqui e agora, quantos absurdos somos acostumados a engolir, com quantas coisas não mais nos chocamos, para aonde estamos indo, e que vida é essa em que não podemos escolher nossos caminhos, em que nos empurram papéis sociais e ideologias fabricadas: coragem para pensar diferente, e acima de tudo, agir diferente!



"todo camburão tem um pouco de navio negreiro"- O Rappa

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