segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sergipe

"[...]Cansado da dependência
Com a província maior,
Sergipe ardente procura
Um bem mais consolador.
[...]
Mandemos porém ao longe
Essa espécie de rancor;
Que inda hoje alguém conserva
Aos da província maior.[...]"


Esses são trechos do Hino do estado de Sergipe. A província maior não pode ser outra: a Bahia, que apesar de não ter o status de metrópole (que era Portugal), de certa forma oprimia regiões que buscavam autonomia. Até hoje, há baianos que se referem a Sergipe como 'nosso quintal'. Posturas arrogantes como essa não estão correlacionadas com a discriminação que os baianos sofrem no Sudeste, mas certamente pode nos fazer refletir, pois a mínima piada pode surtir um efeito devastador para quem é a vítima, logo, antes de exigir respeito, respeite.

O futebol em Sergipe tem sérias dificuldades para se desenvolver: para começar, a falta de engajamento da população com o futebol local. O Flamengo tem a maior torcida, e com exceção dos tradicionais Sergipe e Confiança (de Aracaju) e Itabaiana (da cidade de mesmo nome) todas as equipes estão fadadas a falência: a maioria das equipes que disputaram alguma edição do estadual por algum momento encerraram as suas atividades, é o exemplo do Olímpico Pirambu, que ascendeu com o título da 2ª divisão em 2005, o título sergipano em 2006 e a classificação para a Copa do Brasil do ano seguinte, quando deu trabalho para o Corinthians: desde seu rebaixamento em 2008, o time deixou de existir, e não tem data para voltar. Os patrocínios se resumem a empresas que atuam exclusivamente na região, tais como:
Banese (Banco do Estado de Sergipe)
Torre Empreendimentos (empresa privada de limpeza urbana)
Plamed (Centro Médico e Odontológico, atua em Aracaju e Carmópolis)
Alldoc (gráfica)
UNIT (Universidade Tiradentes, não atua fora do estado)

Mesmo juntando forças, essas marcas não conseguem captar recursos suficientes para fazer as equipes do estado subirem de patamar: numa época em que o campeonato brasileiro era 'mais democrático', com a participação de mais de 50 times, os sergipanos conseguiam estar na 'inchada elite do futebol nacional' que, ao se enxugar, dá oportunidade para poucos, e esses poucos são os escolhidos pelos brasileiros que não tem em sua região uma equipe competitiva: não é a toa que o Flamengo, com todos os seus jogos transmitidos pela Globo ao longo do século passado, até hoje compõe a maior torcida do Brasil. O que fazer para melhorar esse quadro? Algumas atitudes tem sido tomadas, e todas elas, lógica, tem sido criticadas pela Globo, a começar, pelas de torcidas do Vitória e Sport que, em dia de jogo contra o Flamengo, escreveram uma faixa apontando para os flamenguistas (muitos deles nordestinos) com a descrição 'vergonha do Nordeste'.

Medidas como essa podem ser até consideradas 'radicais', mas eu me pergunto: não é momento de conscientizar? Não vejo outra alternativa a não ser tentar 'chocar' as pessoas, assim como Hélio dos Anjos, técnico do Goiás, 'chocou' a muitos com a crítica que fez aos torcedores goianos do Flamengo.

Mesmo sem ter conquistado o estadual em 2001, nesse ano o Clube Sportivo Sergipe obteve vaga para a disputa da 2ª divisão do campeonato brasileiro, porém, desceu naquele ano. Ano passado, por muito pouco o Confiança não chegou a Série B para 2009, e Domingo passado, os azuis de Aracaju foram rebaixados para a série D! Não há perspectiva de melhora se atitudes não forem tomadas, e acredito que o futebol pode ser um instrumento de valorização do sergipano, a fim de mostrar seu potencial nos gramados e orgulhar seu povo: Clodoaldo, titular do Brasil na copa de 70, nasceu em Aracaju, mas no geral, o estado produz poucos jogadores de alto nível, e um fortalecimento nos clubes pode ajudar esse quadro a mudar. Força sergipanos!

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