quarta-feira, 29 de julho de 2009

Síndrome de Charizard

"Derrotar os grandes e menosprezar os pequenos", essa parece ser a sina do Bahia: após ganhar do Vasco no sábado, o Esquadrão de Aço empatou com o Juventude ontem em casa! O Pokemon de fogo não fazia diferente: dava o seu máximo nos desafios que exigiam o seu potencial máximo e 'cochilava' ao enfrentar Pokemons 'inexpressivos'.



Não é preciso conhecer tanto de futebol para se ter uma pequena noção da grandeza do Esporte Clube Bahia: primeiro time brasileiro a disputar a Libertadores da América, está entre os treze fundadores do Clube dos 13 e ajudou o futebol do seu Estado a evoluir, na medida em que com o seu declínio, congelou a ascensão regional. Dois títulos e dois vices nacionais (Brasileirão de 88, Taça do Brasil em 59, vice da Taça do Brasil em 61 e 63), 31 participações em Campeonatos Brasileiros da Série A - com direito a título em 88 e Charles como artilheiro em 90 -, não temos menos grandeza que Atlético Mineiro (um título nacional), Fluminense (dois títulos nacionais de ponta, uma Taça Roberto Gomes Pedrosa e um Campeonato Brasileiro), Botafogo (dois títulos nacionais, uma Taça do Brasil e um Campeonato Brasileiro). Porém, estamos na pior década da nossa história.

Enfrentamos o tradicional Vasco da Gama no sábado e mostramos o nosso valor, mas ao enfrentar o modesto Juventude ontem, empatamos, com direito a sofrer dois gols de dois ex-jogadores do rival Vitória. Charizard teimava seu mestre Ash, escolhia suas próprias prioridades: lutar contra 'quem merecia a sua preocupação'. Ou seja, lutava como um valente Pokemon nas difíceis batalhas e se recusava a lutar contra pequenos desafios.

Sem conquistar um estadual há oito anos, longe da série A do Brasileirão há 6, vivemos momentos de dificuldade, mas a grandeza está justamente na fidelidade da torcida: em 2007, mesmo na Série C, fomos o time que mais lotou estádio no Brasil! Imagine um timaço: poderíamos bater até recordes internacionais! Claro, jogamos ontem num estádio menor (Pituaçu - 32.400 é a capacidade máxima) e o preço de 30 reais pela entrada (fora os 10 de estacionamento e 5 reais para fazer um lanchinho no mínimo 'enganador') afasta muita gente, e mesmo assim a torcida tem comparecido (embora menos que nos tempos da Fonte Nova com o programa fiscal Sua nota é um show).

Mas a torcida do Vitória não deveria ter motivos para provocações: o jejum dos rubro-negros foram de 44 anos sem títulos estaduais! A primeira partida de futebol da história do futebol baiano foi protagonizada pelo Vitória em 1901, que venceu uma equipe de marinheiros ingleses ancorados no porto. O placar de 3 a 2 foi a primeira vitória do futebol no estado, e com a estréia no profissional em 1903, veio mais uma vitória, dessa vez contra o São Paulo-Bahia (equipe da colônia paulista em Salvador). Mas aí quando as coisas começaram a valer título, os 'Leões da Barra' mostraram não ter vocação para tal, vencendo pela primeira vez o Campeonato Baiano na sua 4ª edição, em 1908 (enquanto o Bahia nem havia nascido). Após vencer 1909, amargurou o jejum de 44 anos sem títulos, enquanto o Esporte Clube Bahia, logo no ano de sua fundação, 1931, venceu o Campeonato Baiano, fazendo jus ao seu slogan 'Nascido para vencer'. Então, com um time na zona de classificação da Libertadores e que irá disputar esse ano a Copa Sul-americana, com o ingresso 10 reais mais barato que o do Bahia, o Vitória consegue ter uma média de público pior que a do rival! Imagine se as situações se invertessem? O Vitória deu muita sorte de ter saído rápido da 3ª divisão e chegado rapidamente ao topo do futebol brasileiro, mas momentos de glória atuais não vão apagar as maiores cobranças de seu torcedor: dois títulos nacionais, para igualar o rival e não dar brecha para perturbações. Apesar de que, em títulos estaduais, apenas um projeto a longo prazo faria o rubro-negro baiano superar o Tricolor.

Desculpe se eu ofendi algum torcedor do Vitória (claro, se você é Vitória e leu, tem razão em ficar chateado - ou levar na esportiva), é apenas um desabafo de quem conhece o seu valor e sabe que o potencial da equipe é muito maior que isso, e a rivalidade, claro, não poderia passar batida, de nenhum dos dois lados.

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