sábado, 11 de julho de 2009

Dia de moleque travesso

"Juventus querido
Juventus de glória
Moleque travesso
entrou para a história"

Você ja ouviu falar do Juventus da Mooca, que joga na rua Javari e tem o apelido de moleque travesso por tanto ter aprontado travessuras contra adversários mais fortes? Não se desespere se não conhecer, mas saiba que esta é a equipe que mais me fascina na terra da garoa.

A Mooca é um bairro único, seus moradores afirmam 'Mooca é Mocca e o resto é bairro'. Há uma identidade forte de seus moradores, que tem gírias próprias, se conhecem como numa grande família e, mesmo torcendo para equipes diferentes (uns são palmeirenses, outros corinthianos...), se unem pelas cor grená do Juventus, que joga no estádio da Rua Javari, no qual eu fui hoje, num dia inesquecível!

Desde que cheguei em Sampa ja sonhava em ver um jogo do Juventus. Hoje foi a estréia da copa Paulista (um torneio que reúne equipes de diversas divisões do estadual, para não deixar o futebol fora da elite parado e de quebra dar uma vaga na copa do Brasil - o Juventus foi campeão desse torneio em 2007). O jogo de hoje foi contra o PAEC (Pão de açúcar Esporte Clube, equipe patrocinada pelo supermercado em questão), mas o que 'estava em jogo era mais do que um jogo', era a concretização de uma vontade antiga, um impulso meu por conhecer equipes não tão focadas na mídia, e esse é o futebol genuinamente brasileiro: eu não vim para São Paulo apenas para ver São Paulo, Palmeiras e Santos jogarem, se eu pudesse, queria acompanhar as sérias A-1 (a elite do futebol paulista), A-2 (na qual o PAEC faz parte), A-3 (na qual o Juventus faz parte), B-1 e B-2. Aqui em São Paulo não falta futebol, os bairros tem seus clubes, os municípios pequenos também, as ligas amadoras fazem sucesso e mobilizam muita gente, a exemplo do clube de várzea que meu amigo Marcelo torce, chamado Centio Naipe (escreverei mais em breve sobre o futebol de várzea paulista).

Hoje acordei tarde, e preferi nem almoçar, se não eu perderia a partida, que tinha como horário 3 da tarde, e não podia ser mais tarde: o estádio da Rua Javari não tem refletor. Sem tanto dinheiro em mãos, saí de casa com 8 reais e não tinha noção se isso daria para todas as conduções (que eram muitas). Com o celular descarregado, tive de ir da rua da Consolação (aonde estou) até a Avenida Faria Lima para buscar na casa de meu amigo o carregador de celular que eu havia esquecido (essa foi a primeira condução). Assim que cheguei, deixei o celular carregando, foi o tempo que resenhamos, eu fiquei por dentro de como fazer para ir e voltar, e logo saí, com o celular carregado o suficiente para aguentar aquela aventura. Detalhe: choveu do inicio ao fim, e além da camisa do Juventus, eu estava com um casaco impermeável e uma capa de chuva por cima! Minha primeira condução me levou ao terminal Dom Pedro, e de lá peguei um ônibus elétrico para ir a Mooca. Interessante é que nessa estação eu encontrei um caixa do Banco do Brasil e pude tirar um dinheiro, para me dar tranquilidade que eu teria dinheiro suficiente para voltar para casa!

Falei com o cobrador que eu queria ver o Juventus, e ele entendeu que eu queria ir para a Rua Juventus (que é aonde fica o clube, e não o estádio), logo, parei no lugar errado, mas por sorte, perto de um posto de gasolina, vi uma garota com casaco do time, e aí perguntei, ela me disse que a Rua Javari estava distante, e me levou a um ponto, onde várias amigas suas estavam prontas para ir ao jogo, algumas de Juventus e algumas neutras. A partida ja tinha começado, mesmo assim, a empolgação era grande para pegar o segundo tempo! Peguei o ônibus para ir a Javari, e mal imaginava que tanto teria de andar mesmo depois do ponto em que fui deixado, e mais: essas meninas ficaram esperando por outras meninas, logo, eu fui sozinho adiantando meu lado. Dobrada daqui e acolá, me emocionei com a plaquinha sinalizando a Rua Javari! Andei, andei, vi vitrines vendendo camisas do Juventus, vi também um carro aberto vendendo somente artigos do Juventus (bandeiras, camisas, cachecóis, bonés...), e aí vi um portão com o escudo do time, mas era a entrada e saída de carros.

Finalmente chegando na bilheteria, me disseram que ja estava fechada porque a partida ja estava no 2º tempo (inclusive vi um grotinho pequeno com um cara que parecia ser seu pai saindo mais cedo do estádio). Depois de uma choradinha, entrei! E sem pagar, hehe. Subindo as escadas, me fascinei com a simplicidade que antagonicamente me parecia complexa: não faltava nada no estádio (bom, não tinha refletor, ambulante e outras coisas que não me fizeram falta), havia placar eletrônico, auto-falante, cadeiras de plástico, era coberto (foi um dos poucos lugares hoje em que não enfrentei a chuva) e tinha até torcida organizada! Gritavam o orgulho pelo bairro de origem, a Mooca, exaltando o 'sangue operário' e o amor incondicional, coisa evidente pelos resultados, ja que apesar de não ser uma equipe gloriosa, não lhe falta afeto, e assim sempre o Juventus existirá! Não tenho provas concretas no momento, mas me parece que o Juventus é o clube com mais sócios em São Paulo! Tirei muitas fotos, e reparei muitas coisas: se o nível técnico ja não era alto, as poças de água atrapalharam mais ainda, o jogo terminou 0 a 0, e não faltaram manifestações na torcida, alguns iam para trás do gol adversário pressionar árbitro e goleiro adversário, e interessante é que por o estádio ser pequeno os jogadores ouvem cada protesto pessoal, a exemplo de um juventino que gritou para um jogador do PAEC "Seu fracassado, vai morrer jogando nessa merda de time" e o jogador do PAEC disfarçou uma risada colocando seu gorro para cobrir a boca, e o Juventino acrescentou "Está rindo de que?" (até resposta poderia ser dada, mas não aconteceu), e logo após, um outro torcedor juventino, mais exaltado ainda, chegou perto do alambrado e cuspiu no rosto de outro jogador do PAEC! Incrível! Eu ja vi um jogador cuspir outro, mas um torcedor cuspir, mostra o quão pequena é a fronteira entre a paixão do torcedor e o profissionalismo dos jogadores, limitadas apenas por um alambrado baixo, colado na linha lateral. Ao final da partida, aplausos para a equipe da casa.


Conversei com alguns caras que estavam na bancada acima, num espaço reservado para a imprensa. Um dos caras é jornalista de um site em Santo André, até me deu o cartãozinho do seu site (postarei aqui), outro era espião do Palmeiras B (próximo adversário do Juventus) e estava filmando a partida. Me despedi deles e vi as meninas que havia visto no ponto de ônibus. Conversa vai conversa vem, descobri que elas não são da Mooca, e sim jogadoras da equipe feminina. Quando perguntei em que categoria, uma delas disse 'a principal' e eu me assustei (elas aparentavam ter 16 anos) mas aí disfarcei a pergunta, como se fingisse ser óbvio elas serem adultas 'não, mas digo categoria estadual, nacional...' e elas disseram que estavam disputando um torneio estadual como a equipe masculina, logo me despedi e no meio do caminho ouvi alguém falando 'ô baiano', e aí perguntei 'quem é baiano?' e logo conheci um conterrâneo, que é chamado realmente de baiano e joga na equipe júnior do Juventus, ele estava acompanhado de seu companheiro de equipe, o carioca Bruno (que lhe chamou de Baiano). Dei boa sorte para eles, garotos mais novos que eu e que, apesar de humildes, podem realizar uma das maiores frustrações da minha vida: ser jogador de futebol profissional.

No meio do caminho para a estação de metrô Bresser, comprei outra camisa do Juventus com o cara que tem o carro cheio de artigos do time, e depois comi no McDonalds. O metrô foi muito fácil de pegar, é tudo tão bem sinalizado que nem parece que São Paulo é tão grande! Prestando atenção nas indicações que peguei, cheguei na estação da Consolação, e aí, foi moleza chegar em casa: faço esse caminho sempre ao voltar do trabalho.

Cheguei em casa realizado! Fui na rua Javari, e embora o consumo seja uma coisa pequena da satisfação de uma viajem, é um bom complemento, e agora tenho 2 camisas da Juventus: a que fui ao estádio, que comprei através de meu colega de trabalho e amigo Marcelo, que é da Mooca, e a de hoje, também comprada na Mooca, é mais apropriada para ir a festinhas (parece camisas de se sair mesmo, e não de futebol). Hoje, fui um 'moleque travesso', teimei, fiz o que me pareceu justo fazer e que minha vontade tanto pedia. Um dia inesquecível, de uma grande realização e de prova para mim mesmo que eu posso conseguir muitas coisas que desejo, teimar as vezes é necessário, afinal, ninguém compreendia porque eu gosto tanto desse time, aliás, nem eu sei porque gosto tanto do Juventus.

5 comentários:

Luana Marinho Nogueira disse...

fantástico, Lucas!

o q é q vc não faz por futebol,
hein?!
uma experiência e tanto!
parabéns pela teimosia!

=D

Ibradd - Instituto Brasileiro do Direito de Defesa disse...

Só você, para ir naquela chuva, ver o jogo do Moleque Travesso...
Seu Moleque Travesso!!!

Ricardo Alpendre disse...

Absolutamente sensacional! Sou da Mooca e adorei o seu relato. Só vi esse post agora, procurando referências ao nosso Juventus no Google.
Parabéns!
Forte abraço mooquense!

Peninha disse...

Valeu Lucas !
Teve bom gosto ao conhecer o verdadeiro templo do futebol,
Seja sempre bem vindo a Rua Javari !

Peninha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.