domingo, 17 de maio de 2009

Você já foi a Bahia?


Não, não estou te perguntando se você foi ao estado cuja capital é Salvador: ‘Você já foi a Bahia?’ é o nome de um filme da Disney, lançado em 1945 e que tinha como personagens principais o estado-unidense Pato Donald, o mexicano Panchito e o brasileiro Zé carioca (daí seu nome na versão original ser ‘The three Caballeros’).
Interessante como eu, tendo nascido na Bahia, não sabia que a Walt Disney fez um filme que, embora apenas sua versão brasileira tenha o nome que leva o nome de meu estado, se passa uma parte por aqui. É fato que no meio do século XX muitos esforços foram feitos pelos estado-unidenses para conduzir a América Latina ao consumo da sua cultura: a Disney criou Zé Carioca e Hollywood criou Carmem Miranda (que na verdade nasceu em Portugal), com toques de estereótipos aliados ao formato ‘pop’ para substituir o requinte francês das classes mais favorecidas daqui. Em outras épocas, falar francês era um ‘luxo’, uma elegância que fazia muita gente procurar aulas particulares desse idioma (em uma época que a demanda não era tão grande e o professor ia a casa do aluno). Hoje, o mercado de cursos de inglês movimenta milhões de reais em salas de aula onde não faltam alunos preocupados com o mercado de trabalho, mesmo achando o idioma inglês sem graça e sem ‘glamour’ (palavra essa vinda do francês).
Em casos extremos, havia quem mandasse suas roupas serem lavadas na França! Sejam barões de borracha de Manaus, latifundiários plantadores de café em Ilhéus ou produtores de Charque de Pelotas.
O inglês vem num momento onde se torna ‘obrigação’, e não ‘hábito diferenciado’. Já se foi o tempo onde a cultura francesa dominava até as cenas dos cabarés com suas madames: o cinema francês é visto como um dos símbolos do circuito alternativo, já que a massiça produção hollywoodiana e seus efeitos especiais ofuscam as histórias mais reflexivas da realidade humana. Champagne, ostras, escargot e caviar sempre foram para poucos, mas hoje em dia até os endinheirados tem se rendido aos fast-food e coca-cola. Sempre houve uma estrutura estrangeira forte na cultura brasileira, e elas se invertem em detrimento da troca de dominação cultural que é refletida na história do mundo: os Estados Unidos hoje são a maior potência e investiram muita energia e dinheiro para fazer sua marca ser a mais famosa, e numa época onde tais propagandas não tinham tanta circulação (ficavam restrita as elites), a cultura francesa ganhou o gosto de tanta gente rica pela sua elegância, incomparável com a dos também poderosos ingleses.
Michael Jackson no Pelourinho mais tarde tentou fundir as culturas pops de ambos os lados, embora a fama dos americanos seja muito maior aqui do que a nossa lá. E uma das coisas que iniciaram essa fase de ‘americanização’ foi o filme ‘Você já foi a Bahia?’

Clipe de Michael Jackson no Pelourinho com o Olodum: aliança entre música Pop estado-unidense e percussão afro-brasileira

2 comentários:

dora disse...

Adorei!!!!Fiquei até curiosa para ver este filme.beijos

Unknown disse...

Muito Bem. Texto englobadore enxuto. That's it!