segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Matéria de prática de reportagem

A elitização do popular
Festa de São Cosmos e São Damião cai no gosto de famílias abastadas de Salvador

Já se fora o tempo em que festas afro-brasileiras eram exclusividade de quem as criou ao longo da história: a democratização é tanta que tais manifestações alcançam até mesmo famílias pertencentes às classes A e B de Salvador.
Um grande exemplo é a família Neves da Rocha, que não resistiu à magia e as delícias do dia 27 de setembro- dia de São Cosmos e São Damião- e irá realizar pela 10ª vez o tradicional Caruru, numa casa localizada no bairro da Pituba.
‘Sabemos que, independente das tradições familiares, nascemos em Salvador, e procuramos estar inclusos na rotina dessa cidade que não se resume apenas as já limitadas relações sociais que temos hoje’- afirma Maria Auxiliadora, que criou a idéia.
Além do Caruru do dia 27 de Setembro, os Neves da Rocha se preocupam muito em pesquisar as origens da festa, e embora a maioria dos membros da família sejam fiéis a igreja católica, o sincretismo religioso se faz presente num ambiente flexível e aberto a novas manifestações culturais.
‘Tivemos a idéia primeiramente porque uma das domésticas escondia de nós que era adepta do Candomblé, por não se sentir a vontade. Logo, ela se despediu alegando essa razão, e como forma de mostrarmos que, além de gostarmos dela, respeitamos a sua crença, fizemos o primeiro Caruru em 1998, em sua homenagem, e ela voltou e está aqui até hoje, liderando a cozinha’- explica Mario José, que vem de Aracaju para Salvador todo final de Setembro.
Neste ano de 2008, o dia de São Cosmos e São Damião será num sábado, e para comemorar uma década de celebração, o número de convidados aumentou 20%: não foram chamados apenas os membros Neves da Rocha e da família dos empregados, como também crianças de instituições de caridade e, que certamente, já aprovaram a idéia:
‘Soube que a casa dos Neves da Rocha é muito bonita, e que o Caruru é uma delícia’- afirmou Carlos Henrique, do projeto Pracatum, que irá tocar berimbau no dia.
Todos os preparos já começam um mês antes: alguns membros da família responsáveis vão sondando os convidados, verificando a disponibilidade de cada um- alguns destes moram fora do estado. Em seguida, são comprados os ingredientes na quantidade compatível com a de confirmação de presença- neste ano, serão muitos, por ser Sábado e marcar a 10ª edição da festa. O membro que irá dar o Caruru é escolhido no ano anterior: o primeiro a tirar um quiabo num prato de caruru é escolhido para arcar as despesas do ano seguinte, embora seja sempre na mesma casa. Maria Auxiliadora foi a 1ª a pegar um quiabo num prato de Caruru no ano passado, e será a primeira a realizar o Caruru pela 2ª vez, já que havia realizado o primeiro de todos por iniciativa sua e de seu irmão José Mário. Se esperam cerca de 240 pessoas(um recorde), e não faltará quiabo, azeite de dendê e os outros ingredientes. Resta saber quem será o escolhido para 2009, mas os Neves da Rocha não se sentem mal em arcar com as despesas, pelo contrário:
‘Muita gente está ansiosa para sediar um caruru, é uma grande honra, e me sinto honrada por já ter sediado dois’- afirma Maria Auxiliadora, que conta os dias para a grande celebração.

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