quinta-feira, 22 de maio de 2008

A triste noite de João da Terra

Nascido na cidade de Sedron, na terra dos anglos, João Gregório da Terra sempre sonhou em ser um jogador de futebol. Seu time, o Leão Azul, da mesma cidade, tem uma história de altos e baixos, assim como o próprio futebol, uma das maiores metáforas da vida humana.
Pouco depois do nascimento de João, o Leão Azul estava numa terrível crise, e foi comprado a 4 reais por um tal de Nek Setab. Este competente empresário recuperou a equipe e, 2 décadas depois, a vendeu por 600 milhões de reais para um mafioso chamado Namorvich, não se sabe ao certo onde ele nasceu, e nem de onde vem todo seu dinheiro, o que importava era que ele estava disposto a gastar muito dinheiro e energia no seu mais novo investimento.
Para os torcedores do Leão Azul, pouco importava a origem do dinheiro aplicada na equipe, pois o seu crescimento justificava os meios. Em apenas 4 anos, ja se tinha metade do que fora conquistado em mais de 100 anos de história, mas isso não era o bastante: a meta agora era o título continental. Em 2004, 2005 e 2007 haviam chegado nas semi-finais, sendo que em 2 destes haviam perdido pelo mesmo adversário, e nos pênaltis, o rival regional, o poderoso Poça de Fígado.
Em 2008, era hora de acertar contas com o Poça de Fígado, novamente nas semi-finais. A partida já estava encaminhando para os pênaltis, e todos visualizavam uma 3ª repetição de fatos: nova derrota dos fregueses azuis, nos pênaltis... Mas na prorrogação, um gol heróico levou o Leão Azul para a final inédita!
Tudo estava pronto em Sedron para uma grande festa azulada, seria o dia mais importante da história do clube, que re-nascera das cinzas, assim como a fênix, e com a garra de um leão, conseguiria o respeito de todos e reconhecimento internacional. Na final, havia a equipe que já lhe havia tirado o título nacional na temporada, o União dos Diabos Vermelhos. O União, como é mais conhecido, gozava de certo favoritismo, e até ficou na frente do placar, mas quem chegou tão longe não iria desistir tão fácil, e então o Leão Azul igualou o placar e levou a decisão para os pênaltis.
Na disputa de penalidades máximas, o melhor jogador do União havia perdido o pênalti, e a decisão estava nos pés advinha de quem? Justamente de João Gregório da Terra, o jogador mais bem pago da equipe e melhor zagueiro do mundo, da mesma cidade da equipe e referência maior pela sua técnica e garra, cabia apenas colocar a bola, com o seu poderoso pé direito, para detrás da linha do gol adversário, coisa que todos os seu companheiros já haviam feito, e depois comemorar o seu heroísmo. João Terra olhou fixamente para a bola, na sua cabeça se passava um filme de toda a sua vida, desde criança, quando sonhava em ser jogador de futebol, em sua paixão pelo Leão Azul, no quanto batalhou e sofreu para chegar neste momento tão perto da glória, onde ele não imaginava que todos dependessem só dele para vencer, até o futuro, em seu reconhecimento profissional, nos prêmios que iria ganhar, no seu nome nos livros de história imortalizando o grande momento... Sua cabeça não parava de pensar em tantas coisas numa velocidade grande num curto período de tempo. Suas pernas estavam cansadas, aturara uma partida inteira, com muito gás, e era final de temporada, em breve estaria com férias merecidas. O árbitro apitou, João Terra deu o último suspiro, correu em direção à bola, e chutou, no mesmo momento que tropeçou, e a bola fora pra fora, e a chance de ouro havia sido perdida.
A disputa de pênaltis ainda estava acontecendo, e todos convertiam pênaltis, ironicamente, as referências das duas equipes haviam desperdiçado. Até que um companheiro seu perdera a penalidade e dera o título para o Diabo Vermelho. Neste momento, o seu mundo desabava: só havia lugar para tristeza, e não havia palavras de consolo que o confortassem, pois João sabia que todo o seu trabalho árduo não havia o levado para onde ele queria, e dificilmente, num futebol competitivo como o de hoje em dia, sua equipe irá chegar tão longe quanto chegou, e se chegar, haverá descrença por essa perda, o que será um peso na consciência para o resto da vida.
Choro sem consolo, tristeza desconfortável, que atinge a alma, que guardará para sempre em seu coração, um leão também chora, só os que querem ser grandes estão sujeitos a queda, só quem quer nadar até a ilha pode morrer na praia, só quem um dia pode se superar saberá lidar com as frustrações. João, da Terra ao inferno dos Diabos Vermelhos, tão próximo a alcançar o céu, ainda o quer, mas agora, não há esperança, só lamentação.

Um comentário:

Luana Marinho Nogueira disse...

Que legal, Lucas!
Eu também gostaria de ter essa sua criatividade de invertar "histórias da vida real".

=)

É algo inventado, mas a derrota por perda de penaltis de grandes jogadores acontece e faz parte do futebol.
Parabéns pelas suas metáforas!