Neymar marca primeiro gol da "nova era Dunga" I Foto: AFP |
O Brasil foi superior à Colômbia no jogo desta sexta-feira (5), nos Estados Unidos. A vitória de 1 a 0 em Miami foi merecida e contra um adversário que levava vantagem por ter a mesma base que foi sensação da Copa de 2014, enquanto os comandados de Dunga juntam os cacos da pior derrota da história do futebol do país.
Toda análise que ressalte o domínio verde e amarelo em campo, porém, não pode dispensar uma contextualização mais profunda sobre a estrutura precária do futebol brasileiro, tão discutida pelo Bom Senso F.C. O grupo de jogadores que remam contra a corrente da CBF questiona, por exemplo, o poder das federações estaduais, que com um sistema viciado de eleições, mantêm presidentes por décadas, além do esdrúxulo calendário, com tantas datas desnecessárias que mais servem para atender interesses políticos do que os anseios do torcedor. Não fosse a paixão, o Brasileirão já teria sido trocado pela Premier League.
Mas futebol não é um produto qualquer, não se vira a casaca como se opta por trocar de empresa de telefonia, embora quem não entenda de bola pouco se importe com estas distinções.
O gol do triunfo contra a Colômbia foi de Neymar, de falta. Ponto para o jogador que merecia estar mais bem acompanhado no scratch canarinho. As vezes me pergunto: será que dá para falar em “safra ruim” em um país de 200 milhões de habitantes, com tanta gente que pratica futebol? A falta de talento é fruto de um cenário corruptivo, com agentes Fifa com status de artista, transferências duvidosas para ligas longínquas e falta de esmero em peneirar e lapidar talentos, além de uma mentalidade retrógrada, de que por exemplo o primeiro volante não tem obrigação de ter um bom passe, o que faz a Seleção ter dificuldade para sair jogando com poucas opções no meio e um Luiz Gustavo limitado ao seu papel de marcador. A sede por resultados prejudica o trabalho das diretorias, sedentas por vitórias imediatas, e sepulta trabalhos de longo prazo como o do Palmeiras com o técnico argentino Ricardo Gareca, demitido nesta semana. Ainda que vença a Copa América, a Copa das Confederações e até a Copa do Mundo de 2018, o Brasil necessita de gols fora do campo, pelo bem do nosso futebol.
A derrota para a Alemanha não foi um acidente, embora aquela equipe de Scolari, com todos os seus defeitos, não era mais frágil que Argélia e Gana. A campanha da atual campeã mundial foi irregular, com três empates no tempo normal, duas vitórias pelo placar mínimo e duas goleadas. O Brasil não poderia ser presa fácil, mas por muito tempo, a Seleção era como uma ilha de prosperidade em um mar de turbulência que historicamente é o Brasileirão e a vida dos clubes do país. Até hoje se discute, por exemplo, quem foi o campeão brasileiro de 1987, assim como a justiça na distribuição das cotas de televisão. Essas questões, enquanto não forem resolvidas, tornam a liga do país desinteressante para quem não torce por um clube do certame.
ESPN Brasil - 1 x 0 – ESPN Colômbia
Programa "Balón Dividido", da ESPN colombiana I Imagem: Reprodução |
Nessa primeira semana morando no Chile, tenho assistido muitos canais de esporte, e alguns deles reservam quadros específicos para cada país do continente, como a ESPN, que tem os programas Balón Dividido, para colombianos, e Simplemente Fútbol, para argentinos. Diferente da ESPN Brasil, os comentaristas mais parecem torcedores com paletó.
A repórter colombiana, antes de entrevistar Falcao Garcia na saída da equipe do estádio de Miami, chegou a agradecer ao jogador por seu desempenho pela seleção e ressaltou a falta que ele fez no mundial, antes de fazer uma pergunta chapa branca sobre sua ida ao Manchester United. Os três comentaristas insistiam na ideia de que não era preciso se preocupar com a derrota para o Brasil porque se tratava apenas de um amistoso e que apoiarão “Los Cafeteros” na vitória e na derrota. São nessas horas que eu sinto falta de um Mauro Cezar Pereira. Não é possível que as ESPN colombiana e argentina sejam tão diferentes da brasileira, que se destaca no país justamente pela independência.
Procurei no site da ESPN Brasil e só vi uma coluna opinativa sobre o jogo desta sexta-feira (5). Foi de André Rocha, que embora não apareça na TV, tem no blog “Olho Tático” uma ferramenta muito acessada pelos apreciadores do bom jornalismo. O “complexo de vira-lata” não é tão simples de ser combatido, principalmente em um momento turbulento que vive o país, com as eleições pegando fogo e com a auto-estima do brasileiro fragilizada pelos 7 a 1, depois de tanta aproximação entre povo e jogadores. Muita gente contrária à realização do mundial no país abraçou os comandados de Scolari. Mas no quesito jornalismo esportivo, ou mais estritamente, no quesito ESPN, posso dizer que o Brasil vence ao menos os países vizinhos.
Basquete
Seleção Brasileira de Basquete I Foto: Getty Images |
Neste domingo (7), às 17h (de Brasília), outra Seleção Brasileira vai precisar muito de seu apoio. Longe de alcançar a popularidade do futebol, o basquete do país passa por reformulação desde 2010, quando o treinador argentino Ruben Magnano, campeão com a Argentina na Olimpíada de 2004, assumiu a equipe verde e amarela para fortalecê-la e torná-la competitiva até os Jogos Olímpicos de 2016, que acontecerão no Rio de Janeiro. A adversária das oitavas da Copa do Mundo, que é realizada na Espanha, é nada menos que... a Argentina, nossa algoz na modalidade. Como estou distante e não tenho compromissos jornalísticos, envio daqui da Patagônia toda a energia para os meninos de Magnano. Os brasileiros, é claro.
Bahia
Bahia eliminou o Internacional da Copa Sul-Americana I Foto: Ricardo Duarte/Ag. RBS/Folhapress |
O Esquadrão de Aço conseguiu classificação para a fase internacional da Copa Sul-Americana. Enfrentará o vencedor de Universitario Sucre, da Bolívia, ou Universidad César Vallejo, do Perú. A mudança da tabela fez o Bahia evitar o confronto com Huachipato do Chile ou Universidad de Quito do Equador, equipes mais fortes. Então vai ser fácil para o Bahia, certo? Errado, pelo menos para um comentarista da Fox Sports (parecia ser argentino). Ao analisar o triunfo do tricolor sobre o Colorado, disse “o Bahia é um time pequeno como a Ponte Preta. Talvez não tão pequeno como a Ponte Preta, pelo menos nos últimos tempos”. Sou torcedor do Bahia e não vejo demérito em reconhecer o tamanho do clube.
É um time pequeno sim. Reconhecer isso ajuda, por exemplo, a se situar no cenário atual. Estar na zona de rebaixamento não é uma tragédia para um clube com menos bala na agulha que os grandes, tampouco motivo para o torcedor abandonar o time. O torcedor do Bahia é resultadista, não reconhece o momento histórico com a democratização e está cada vez mais parecido com o do Vitória nesse quesito, que anteriormente diferenciava os torcedores da dupla Ba-Vi. Na Inglaterra, vi jogos de times de terceira divisão com o estádio lotado, e nem valia acesso. Quando se gosta, se compreende. O torcedor do Bahia sofre muito porque a paixão não o deixa enxergar o seu verdadeiro tamanho. Boa sorte para Bahia e Vitória na Copa Sul-Americana. Estarei acompanhando os jogos na Fox latina.
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