quarta-feira, 12 de maio de 2010

Até onde a transgressão é legitimada?

Quando Getúlio Vargas disse com soberba "Aos amigos tudo, aos inimigos a lei" ele tinha certeza que poderia enquadrar qualquer um que estivesse no seu caminho usando métodos legais - embora também tenha usado métodos 'pouco ortodoxos' ao longo de sua trajetória política. Uma ditadura não se enxerga como "desviante": a tirania é convenção até aonde vai o raio de alcance do seu território, logo, tentar 'derrubar o poder estabelecido' acaba sendo um ato 'desviante', para não dizer 'ilegal': a legitimidade que se dá para subverter o ‘comum’ depende da liberdade que se tem para transgredir.

Não há quem ande 100% na linha em qualquer sociedade que seja: fazer downloads sem autorização, copiá-los em mídias como i-pod, chegar atrasado por conta de fatores externos que fogem do controle – como engarrafamento - questionar quem tem o 'poder inquestionável' e muito mais parecem ser inevitáveis para quem tem sede de usufruir além do que a censura permite e não depende só de si para viver - e todos dependemos de inúmeros fatores para continuar vivendo. Não importa qual seja o orgão de regulação: a constituição, o Código Civil ou um livro religioso, as vontades são tão naturais que há até quem alegue desconhecimento da lei vigente. Com exceção dos contratos - pois estes são de inteira responsabilidade de quem os assionou, embora ainda há quem assine sem ler - todos os outros orgãos de regulamentação são pouco democráticos e impostos e correm o risco de se tornarem antigos demais se não sofrerem constantes atualizações. O Mundo muda a todos os instantes e a lei tem que estar andando - ou correndo - na mesma velocidade: o que era um crime há algum tempo atrás hoje é permitido, como por exemplo questionar o sistema político aqui no Brasil.

O 'politicamente correto' em teoria sempre tem razão, mas na prática, todos tem pouquíssima paciência para demasiados cuidados ao tocar em assuntos delicados como a rotulação de seres humanos. Deficiente físico ou portador de necessidades especiais? O que muda na vida de uma pessoa que viverá da mesma forma independente do rótulo dado a ela? Será que ela se importa tanto com sua rotulação quanto os 'chatos de plantão'? As suavidades ganharam outro nome: chatice, e de repente, o humor ácido ganhou força, na contramão do que todos questionam tanto, que é o excesso de precaução que muitas vezes inibe a criatividade.

No Brasil contemporâneo, é permitido até fazer charges irônicas do Presidente da República. Há programas de TV com pouquíssimas preocupações em apurar fatos que, com toda a sua ironia, frequentam os bastidores do poder em Brasília para entrevistar políticos em situação constrangedora e de quebra o expõe com edições de vídeo, por exemplo, que mudam a cor de suas faces e adiciona nariz de palhaço. Por incrível que pareça, para ser irônico é preciso ser precavido, pois caso contrário, vítimas de 'injúrias' e advogados sedentos de 'prestar serviço contra os algozes' atacarão como 'lobos famintos' atrás da mínima brecha que existir para se processar por exemplo um humorista que pisar na bola.

Até para transgredir é preciso precauções: entre andar na linha e pisar na bola, melhor sair da linha com um bom domínio de bola, pois a pior pisada na bola que pode existir é andar sempre na linha.

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