quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Qual é o mal da ilusão?

Entre todos os artifícios que nos fazem dar sentido a vida ao nosso modo, o maior de todos é a ilusão de 'eternidade'. Nada pode durar para sempre, nem mesmo a nossa consciência, porém, há quem insista em acreditar cegamente na vida após a morte. Ora, não deveria haver desespero com o fim da nossa existência, afinal, nem sempre existimos: o que éramos antes do nosso nascimento? Se não é tão desesperador o fato de que nem sempre existimos, porque causa tanto medo o fim da nossa existência, se nela se quer há dor e sofrimento?

A nossa matéria permanecerá por muito tempo: cada atomo do nosso corpo será reaproveitado, até enquanto esse plano físico existir, pois na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se constrói. A vida é repleta de ilusões, mas a palavra ilusão é mal visto por nós, que falamos português. Em espanhol, 'ilusión' é usado de uma forma totalmente diferente. Por exemplo, duas frases associadas ao futebol: "Argentina le gana a Brasil en ilusión" e "Argentina recupera la ilusión en dramático triunfo contra Perú (2-1)". A primeira frase foi dita por nada menos que Maradona (hoje técnico, e para sempre polêmico), as vésperas do jogo contra o Brasil esse ano, justificando que, embora o Brasil viva o melhor momento, a Argentina acredita mais que é possível sonhar, reverter o quadro (ilusão aí é vista como 'votnade de algo), e na segunda frase, uma manchete do Yahoo! desse ano, ilusão é tida como sonho, e sonho, como em português, é possível. Português e espanhol são línguas irmãs, vinheram do mesmo tronco, logo, a diferença não deve ser etimológica, e sim de mentalidade, de interpretação: será que os espanhóis trouxeram para as nações que colonizaram uma dose de otimismo, uma ausência de fronteira entre o 'real e irreal ou imaginário?', e os portugueses são mais 'pé no chão?' por não insistirem tanto, por não acreditarem tanto em si? Até que ponto vale a pena ser equilibrado? Que benefícios nossas 'loucuras' podem nos trazer?

Bom, ja que estamos numa grande loucura, vamos reconheer que não há nada que não passe pelo nosso filtro interpretativo. Não cabe a ninguém criticar os sonhos dos outros, como também ninguém é obrigado a crer em vontades que fogem do nosso universo: cada cabeça irá buscar o que sua vontade lhe instiga, encontrará resistência de nada menos que outras cabeças (além das forças da natureza em algumas partes, que embora não sejam racionais e não sejam intencionalmente 'barreiras', pode por exemplo determinar o fim de um sonho com uma tenebrosa tempestade, por exemplo).

Há um limite para sonhar? Há um fim que determina a impossibilidade da concretização em alguns casos (como por exemplo, no futebol o apito final do juiz é irreverssível para ambas as equipes - a não ser que se prove irregularidades depois, mas isso não vem ao caso, no momento, todos acreditam no resultado final), mas enquanto se sonha, não se tem ciência de tantas impossibilidades, perspectivas são anuladas tanto para quem julga possível ou impossível. A ilusão não é mal, ela nos dá o tempero, sem ela, a existência não seria possível, por isso sonhe, acredite, se tudo for interpretado como 'ilusão', pouco importam os caminhos que estamos seguindo: pouco importa sua consciência, a vida continua sendo bela, seja qual for a interpretação que você dê a ela.

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