quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Orgulho inútil.

Segundo o dicionário Michaelis da Uol, orgulho é: 1.Conceito muito elevado que alguém faz de si mesmo; altivez, brio. 2. Amor-próprio exagerado. 3. Empáfia, soberba. 4. Aquilo de que se tem orgulho.
Portanto, não se tem orgulho do que não é seu ou do que não faz parte de sua realidade, por exemplo, se você simplesmente argumentar que tem orgulho da cultura mexicana, sem ter nenhum vínculo parental com este país, na verdade você se confundiu, pois a palavra certa seria admiração, e não orgulho; Mas se argumentar que 'A cultura mexicana o orgulha por ser latino-americano', faz sentido, pois está dentro de sua realidade ser latino-americano.
Porém, devemos tomar cuidado com o que se orgulhar: afinal, muitos dos 'orgulhos' por aí nada tem haver com sua identidade, e uma admiração muito exacerbada vira bajulação, uma decretação informal de superioridade ào homenageado e inferioridade própria, a exemplo dos nordestinos que torcem para o Corinthians e afirmam ''Eu tenho orgulho do Coringão", enquanto em São Paulo estes sofrem descriminação e que diferente dos clubes de sua região, que este pode acompanahar de perto, o Corinthians não depende da ajuda e nem dividirá suas perdas com esses torcedores.
A uma enorme propaganda pelo mundo sendo feita para converter valores, por isso milhões de asiáticos que se quer foram a Inglaterra brigam entre si pelas suas 'paixões' Manchester United e Chelsea(basta observar no orkut que esses 2 times ingleses tem grande torcida na Índia, Paquistão e China, há até troca de ofensas contra o time rival, enquando os dirigentes ingleses devem dar risada pensando ''que ótimo que existem idiotas tão fáceis de manipular, que compram nossos produtos, nos enriquecem e nos fazem rir").
Eu sou torcedor do Bahia, mas reconheço que estou longe de ser apaixonado como a maioria dos milhares de frequentadores da Fonte Nova, e respeito todos eles, pois muitos ali lutam por melhorias no time e se Deus quiser vão conseguir, muitos ali que podem pagar são sócio-torcedores e lutam pelo voto direto- ja que no E.C.Bahia não se elege presidente diretamente, se elege uma comissão, e esta elege o presidente, o que é injusto e mantêm a mesma panelinha no poder durante décadas.
Eu dou muito valor àos torcedores regionais, e inclusive tenho 2 primos sergipanos(um 7 e o outro 9 anos mais novo que eu), e desde que estes nasceram eu lutei para convence-los á torcer pelo Bahia, dei uniformes, ensinei-os a cantar o hino e a lembrar o nome dos jogadores principais, porém, eles foram crescendo e vendo a enorme crise no tricolor baiano, ào mesmo tempo que eu pensei: porque torcer pelo Bahia, se eles são sergipanos, e podem lutar pelo fortalecimento do seu estado no cenário nacional? Então, ja que não torço para nenhum time sergipano(embora tenha uma simpatia especial pelo alvi-rubro Clube Sportivo Sergipe) tentei os fazer descobrir para qual time eles iriam torcer. Um decidiu torcer pela Associação Desportiva Confiança, o outro pelo C.S.Sergipe(os dois clubes da capital, embora o inteiror tenha time às alturas, mas acho importante torcer pelo time da sua cidade), mas como 2º time: agora, o 1º time de um é o Corninthians e do outro é o São Paulo, o Bahia foi rebaixado à 3º time, e os dois dificilmente poderão acompanhar e participar ativamente da história de seus clubes, e estes clubes jamais saberão da sua existência.
Saindo um pouco do lado futebolístico e analisando o tema orgulho, se eu fizesse um dicionário, minha definição para orgulho seria a seguinte: ter orgulho de algo, como de seu país(nacionalismo ou patriotismo) implica em achar que as conquistas nacionais viram conquistas pessoais, e que de alguma forma você contribuiu para isso(como um pai que ve seu filho fazendo sucesso na carreira e comenta com os amigos "este é o meu garoto!"- houve uma participação direta nesse resultado, mas também é aceitável no mínimo uma participação indireta, como o orgulho de a Petrobrás dominar a tecnologia de extração de petróleo em águas profundas recentemente e você ser engenheiro aposentado de lá há alguns anos, mas conhece o pessoal e ensinou muita coisa a muitos deles), mas, se racionalizarmos bem, não existe ''contribuição limitada": quem contribui para o bem também contribui para o mal, portanto, é incoerente me orgulhar da capacidade do Brasil de sediar um Pan(pois eu não trabalhei para isto acontecer, portanto, não sou responsável pelo acontecimento) se eu não me considero culpado de 14 milhões de brasileiros passarem fome(talvez nossa lamentação seja porque nós achamos que todo ser humano- independente de nacionalidade- merece ter oportunidade de levar uma vida digna, e não seja um sentimento de vergonha, ja que dependendo da maioria dos brasileiros isto não estaria acontecendo, mas uma minoria tem poder para comandar a máquina administrativa desse país que sempre teve raízes fortes com a corrupção).
Dar uma colaboração à algo não significa que você faz parte do organismo em questão, por exemplo: pagar impostos não significa dizer que você tem orgulho de ver seu país usando bem a sua verba pública(esse exemplo foi para canadenses, finlandeses ou neo-zelandeses, mas certamente não foi para nós brasileiros), doar uma certa quantia de dinheiro para a construção de um centro de treinamento de uma equipe(como meu avô, ex-conselheiro do Bahia, doou) e ganhar em troca um chaveirinho escrito ''eu ajudei a construir o Fazendão"(que o guardo até hoje) não necessariamente implica que você de fato fez parte dessa conquista(no caso do meu avô, ele realmente deve ter se orgulhado, mas não necessariamete a injeção de dinheiro significa que você fez algo de produtivo em que se deve orgulhar, pois com seu dinheiro ou não, a obra vai ser feita, ainda mais num país como o Brasil, sabe-se disso- se é que você me entende- mas o orgulho por algo consiste em uma atividade maior: em se esforçar, trabalhar arduamente por um objetivo e quando finalizado, você ser reconhecido(pois lutamos por amor sem algo em troca, mas não somos idiotas para dar créditos falsos), e saber que um time não tem uma torcida, a torcida tem um time, portanto, posso dizer que meu avô não torcia pelo Bahia, ele ERA o Bahia, junto com milhões de pessoas que formam esse clube apaixonante e de energia inexplicável, e que parte da torcida politizada com os problemas administrativos e luta pela melhora, através de um sentimento de orgulho coletivo, que se mistura ào orgulho de ser baiano, e saber que temos nosso espaço no Brasil, que somos guerreiros e lutaremos de igual para igual contra times mais ricos de regiões mais ricas, que tiveram a oportunidade na história de contar mais vitórias, e no caso de sermos derrotados, queremos ser lembrados como uma pedra no sapato- como o Bahia e Vitória ja foram em outras épocas,- e não como times que mereçam menosprezo).

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