Foto: Ricardo Zerrener - Divulgação |
O bairrismo, definitivamente, colabora para as coisas continuarem do jeito que estão, como opinei na última postagem. Sua índole conformista não é só instrumento de defesa. Também é usado para atacar críticos que muitas vezes, por tanto gostarem de um lugar, colocam o dedo na ferida para provocarem reflexão. Mas o outro extremo tampouco me agrada.
Eu não li nenhuma pesquisa a respeito, mas acredito que os brasileiros herdaram um péssimo hábito dos portugueses: o de valorizar o que vem de fora em detrimento do que é local. Em conversa com um vendedor de produtos de futebol no aeroporto de Lisboa, perguntei se Cristiano Ronaldo é admirado em seu país, afinal, o cara é uma febre em todos os lugares que visitei. A resposta que ouvi me surpreendeu. O cara que viria a ser o melhor jogador do mundo na temporada sofre duras críticas dos conterrâneos, assim como cientistas lusos só ganham reconhecimento nacional quando vendem suas ideias no exterior.
Isso explica porque elogios à ex-colônia da terra de Camões podem repercutir tão negativamente quanto as críticas mais duras (e muitas vezes injustas). Quando um americano escreveu uma lista com 20 motivos pelos quais ele odeia o Brasil, as redes sociais se dividiram entre os que disseram reconhecer os defeitos e os que se sentiram ofendidos. No entanto, quando um jornal do mesmo país do "crítico" enumera uma lista com 12 lições que os brasileiros dão ao mundo, a repercussão negativa foi ainda maior, com comentários como "quem escreveu isso estava drogado" ou "o governo federal pagou quanto para esse jornal?".
As duas listas trazem distorções e não percorreram tantas cidades para tirarem conclusões de uma nação de 200 milhões de habitantes. Não somos o inferno retratado pelo cinema local, tampouco a terra da alegria, como agências de turismo e comerciais de TV tentam empurrar goela abaixo. As pessoas não necessariamente são mais felizes porque vivem aqui, embora a felicidade dependa muito da maneira como o ser humano se adapte ao seu ambiente. A construção de um novo país depende do seu povo, embora as mazelas atuais em todo o continente sul-americano sejam históricas. Mas enquanto isso, o brasileiro vai preferir que falem bem ou falem mal de seu país? Ou que não falem nada?
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