"Aos demais, ódio ou compaixão" |
O humanitismo, teoria fictícia de Quincas Borba, personagem de Machado de Assis, defende a ideia de que duas tribos famintas devem lutar uma contra a outra para se alimentar das batatas restantes ao invés de dividi-las “irmanamente”, como prega o cristianismo. O futebol baiano passa por situação semelhante. Clubes do interior da Bahia certamente “passariam fome” se Bahia e Vitória não emprestassem seu prestígio ao Campeonato Baiano. Tal “filantropia” enfraquece a capital, pois os seus representantes não se preparam para “lutar pelas batatas das Séries A e B”, tão distantes do provinciano torneio estadual. Como Jesus não é personagem da literatura machadiana, a multiplicação de alimentos não passa de ficção científica para o autor do trecho “as batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância”.
Eu não assisti à derrota tricolor diante do Vasco hoje. Mas me assustei ao notar a presença de Jones Carioca no time titular. Enquanto a dupla Ba-Vi alimentar Feirenses e Conquistas da vida, todos por aqui “vão ganhar”: tricolores e rubro-negros viverão a ilusão de “serem os melhores” no primeiro semestre (Souza e Neto Baiano que o digam) e o interior continuará com um futebol ativo nos primeiros cinco meses do ano. É hora de sacrificar alguém, antes que ambos morram de fome. E convenhamos, os torcedores baianos não têm mostrado nas arquibancadas sinal de resistência para a manutenção do torneio, haja vista a média de público inferior a 5 mil pessoas por jogo. Ao Bahia e Vitória, as batatas. Aos demais, ódio ou compaixão.
Teoria do Humanitismo (Quincas Borba)
Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. (...) ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
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