sábado, 6 de junho de 2009

Eliminatórias da copa, 6 de junho de 2009

Brasil goleia Uruguai fora de casa! Depois de 33 anos de tabu sem vencer a equipe Celeste em sua casa, o feito também marca a primeira vitória no Centenário em jogo oficial!

Antes desta partida, apenas 2 vezes a nossa seleção havia vencido o Uruguai no estádio Centenário (ambas as vezes em jogos amistosos, a mais recente delas há 33 anos atrás). Desde lá, foram 7 confrontos, com 4 vitórias celestes e 3 empates (3 desses confrontos em eliminatórias, 1 em copa América e 1 em mundialito).

Com uma população de menos de 4 milhões de habitantes, o pequeno país, antes tão tradicional no futebol, hoje vive dos ecos de glórias passadas: há 2 décadas uma equipe uruguaia não chega as semi-finais de libertadores, o último título inter-americano de sua seleção foi o 'mundialito', em 1981 (apesar de realizado no Uruguai, contou com equipes de fora da América) e numa perigosa 5ª colocação nas eliminatórias, se as eliminatórias terminassem na rodada passada, ela teria de enfrentar o respeitado México (atualmente 4º colocado nas eliminatórias das Américas Central/Norte/Caribe) na repescagem para a copa do mundo.

A vitória brasileira hoje foi um tanto enganadora: começamos abrindo placar com uma falha lamentável do goleiro Vieira (que é reserva em seu time, O Villareal da Espanha, e não jogou uma partida da liga espanhola nessa temporada) e ampliamos ainda no 2º tempo com a subida de cabeça de Juan, que foi mais ágil que Vieira (outra falha do arqueiro celeste). No 2º tempo, em fase totalmente oposta, Júlio César fazia grandes defesas, enquanto o desespero uruguaio dava espaço para novos gols, e no final das contas, o 4 a 0 não ilustra o que é o Uruguai para o futebol (uma equipe de grande tradição ha algum tempo em crise) nem o que o Brasil demonstra atualmente (a 'era Dunga' prometia renovação, mas não trouxe mudanças significativas para os padrões modernos que se esperava - continua tão pragmática como a 'era Parreira' - e vem conseguindo alguns bons resultados graças aos talentos individuais, e não ao comando de Dunga).

Nessa era Dunga, ganhamos uma copa América convencendo apenas no jogo final, perdemos pela primeira vez na história para a Venezuela (num amistoso nos Estados Unidos), fomos eliminados vergonhosamente contra a Argentina e ficamos todo o ano de 2008 sem marcar gosl dentro de casa nas eliminatórias (em empates com Argentina, Colômbia e Bolívia). Em compensação, nos consola o fato de que grandes potências também não vive grandes momentos: a Argentina está há 16 anos sem conquistar títulos com a equipe profissional (embora não são poucos os torneios que as seleções de base tem ganhado ultimamente, como a olímpica, atual bi-campeã, e a sub-20, que ganhou 5 dos últimos 7 mundiais). Portugal corre sério risco de não ir a copa do mundo, e por mais que a Espanha e Holanda vivam bons momentos, todas elas temem Brasil e Argentina, tamanha fama de 'amarelões' que tem em copas do mundo, em tantas vezes anteriores chegando com honras de favoritas e sendo eliminadas por equipes que viviam em crise.

Tradição não se baseia só em título: a simples participação de uma nação em copa do mundo a torna 'conhecida mundialmente' (mesmo que essa reputação não imponha respeito aos adversários). Japão e Coréia do sul conseguiram vaga hoje para a copa do mundo, o que significa que os samurais azuis, desde que disputaram sua 1ª copa, em 1998, jamais ficaram de fora do torneio, e a Coréia do Sul, irá fazer a sua 7ª participação consecutiva! A Arábia Saudita, que luta para disputar sua 5ª copa consecutiva, corre risco de perder sua vaga para a Coréia do Norte, que na única copa do mundo que disputou, em 1966, chegou nas quartas-de-final! A Austrália vai para sua 3ª copa (2ª consecutiva) e pode estar criando uma nova tendência, se continuar se classificando nas próximas copas. Quem queria ser tendência e provavelmente não vai a esta copa é a República Tcheca: fruto da separação da socialista Tchecoslováquia, hoje vê a outra parte dessa antiga divisão nacional reinando no seu grupo, afinal, a Eslováquia está a 7 pontos de sua frente (pode ser a primeira vez que esse país agora separado disputará a copa do mundo, e a República Tcheca disputou sua primeira copa separada em 2006).

Outro país fruto de separação que pode disputar sua primeira copa independente é a Sérvia: atualmente vem liderando e empurrando a França para a repescagem (a França que nas últimas 5 copas só conseguiu vaga pelas eliminatórias 1 vez, em 2006 - não se classificou em 90 e 94, em 98 ganhou a vaga por ser país sede e em 2002 ganhou vaga por ser o atual campeão daquela época, foi a última vez que o campeão da edição anterior tinha vaga garantida para a copa do mundo). Já sua vizinha Montenegro terá de esperar mais pela sua 'estréia solo' em copa do mundo: na 5ª colocação do grupo, dificilmente marcará presença na próxima copa (embora tenha tido o gostinho de ter sido representada em 2006 na copa com o nome de 'Sérvia e Montenegro', país esse extinto com a separação entre os dois).

Duas seleções campeães de seus continentes não conseguem mostrar força nas eliminatórias de seus continentes, e vão visitar a África do Sul na copa das confederações com água na boca por não terem êxito suficiente que as levem para esse país no ano que vem: o atual campeão asiático, Iraque, surpreendeu a todos em 2007 com um título inédito. Não fora a única façanha do país nos últimos tempos: em 2004, os iraquianos não só conseguiram vaga para as olimpíadas como chegaram nas semifinais (inclusive sendo responsável pela eliminação de Portugal de Cristiano Ronaldo logo na 1ª fase!). Mas sem puder mandar os jogos em seu país (devido ao perigo que existe desde a chegada das tropas americanas em 2003), e sim em Dubai, foi 'dentro de casa' que os campeões asiáticos deram adeus a vaga na copa, após perderem para o Qatar (que fica muito mais próximo dos Emirados Árabes do que o Iraque), dia 22 de junho do ano passado, a seleção iraquiana jogou 6 amistosos contra países asiáticos, não venceu um jogo e tem 4 jogos agendados na África do Sul: um amistoso contra a Polônia e os jogos da 1ª fase contra África do sul, Espanha e Holanda. Os iraquianos só disputaram uma copa do mundo, em 1986, perderam os 3 jogos e marcaram apenas um jogo, numa época em que pelo menos se depositavam jogos em Bagdá, com a presença da torcida, sob o comando de Evaristo de Macedo, que fora também o técnico campeão brasileiro pelo Bahia 2 anos depois.

A outra seleção com mais sorte em torneios locais do que em eliminatórias para o mundial é o Egito: recordista de copa das nações africanas, 6 vezes (sendo o atual bi-campeão consecutivo), disputou apenas 2 copas do mundo, em 1934 e 1990 (mesmo número de participações em copa das confederações, em 1999 e esse ano). 4 de seus clubes somam 12 títulos da liga dos campeões da CAF, sendo o maior vencedor, o Zamalek, tendo conquistado 5 (o Egito é disparado o país mais vencedor nesse torneio, seguido de Marrocos e Camarões, com 5 cada um). O grande rival do Zamalek, o Al Ahly, conquistou 3 dos últimos 4 torneios e é a equipe que mais disputou o mundial de clubes da Fifa, 3 vezes (seguido de Manchester United da Inglaterra, Pachuca do México e o Barcelona que disputará esse ano, pela 2ª vez). Suas equipes são essencialmente nacionais (o Al Ahly tem apenas 2 estrangeiros no time titular e o Zamalek apenas 3).

Talvez isso explique a falta de sucesso da seleção nacional: países como Nigéria e Camarões figuraram no cenário mundial na última década, conseguindo certo respeito (Camarões chegou as quartas-de-final na copa de 1990 e conquistou a medalha de ouro de 2000, já a Nigéria chegou nas oitavas-de-final nas copas de 1994 e 98, além de ter conquistado as medalhas de ouro em 1996 e de prata em 2004). Essas seleções tem boa parte de seus jogadores jogando fora da África, ganhando assim experiência em jogos internacionais com outras tantas estrelas do mundo da bola. Está certo que as eliminatórias africanas se encontram no início, assim como é verdade que elas são extremamente curtas: o empate contra a Zâmbia pode custar muito caro, ja que os zambianos se encontram na liderança do grupo com 4 pontos (1 jogo a mais), e os egípcios terão de vencer amanhã a Argélia fora de casa para igualar o número de pontos, numa eliminatória de apenas 6 jogos (ou seja, com 1/3 a se completar amanhã).

A Zâmbia que por pouco não foi a uma copa do mundo: nas eliminatórias para a copa do mundo de 1994, um acidente aéreo matou toda a sua equipe e, mesmo reformulando uma nova, não foi suficiente para conseguir a classificação, tomada pelo Marrocos. Outras caras novas poderão ser vistas na próxima copa do mundo: Gabão e Burkina Fasso (país este que ocupa a 173ª posição no ranking de IDH mundial, de 179 países). No caso de Burkina Fasso, tudo está em aberto: Costa do Marfim tem um jogo a menos, e uma simples vitória contra Guiné amanhã fora de casa lhe coloca na liderança, ja que seu saldo de gols é muito melhor. De qualquer forma, dia 20 ambas as seleções se enfrentam em Burkina Fasso, e pode ser o confronto decisivo, num continente de pouquíssimo 'respeito' as hierarquias (se Nigéria e Camarões ja foram potências, Costa do Marfim tem na minha opinião a melhor equipe da África, e 4 de seus jogadores são titulares em grandes clubes da Inglaterra (Drogba e Kalou no Chelsea, Eboué e Touré no Arsenal), mas quem domina a cena nos torneios continentais ultimamente são os africanos do Saara (nos últimos 3 títulos, 1 da Tunísia e 2 do Egito) e na copa do mundo passada, apenas uma seleção ja havia disputado copa do mundo, a Tunísia. Desde que os africanos passaram da 1ª fase de uma copa do mundo, em 1986 com Marrocos, nunca mais 'morreram tão cedo' de marcar presença (em 1990, Camarões chegou nas quartas, em 94 e 98 foi a vez da Nigéria, em 2002 Senegal e em 2006 Gana), mas em termo de regularidade, a força da África vem de uma seleção sem grandes feitos, sem grande respeito, mas que não ve a hora de mostrar sua verdadeira força, a Tunísia!

A Tunísia foi a primeira equipe a vencer em copas do mundo, em 1978 contra o México. Só voltou a disputar uma copa novamente 20 anos depois, e desde lá mostrou ter tomado gosto pela competição: na liderança de seu grupo, independente da eventual vitória da Nigéria amanhã em casa contra Quênia, os tunisianos parecem estar preparados para disputar a 4ª copa do mundo consecutiva (em nenhuma delas conseguiu vitória, foi 1 empate em cada edição que disputou), mesmo sem nenhum destaque fora desse mérito de se figurar como 'cara conhecida na copa' (por apenas 3 vezes seus clubes levantaram o caneco da liga dos campeões da Caf, a cada vez uma equipe diferente - Club Africain, Esperance e Étoile du Sahel - por apenas uma vez a seleção tunisiana foi campeã africana, e o mais interessante: tudo isso é recente, pois os títulos de seus clubes vieram em 1991, 94 e 2007 - essencialmente formada de tunisianos, muitos deles da seleção - e o título da copa das nações em 2004, o que mostra que o futebol desse país está em progressão, e que passar para as oitavas-de-final de uma copa do mundo pode ser questão de tempo).

Nas Américas, há também seleções com 'a cara da copa do mundo': Estados Unidos, México e Paraguai vem de uma sequência interessante: 5, 4 e 3 copas consecutivas, respectivamente. Quem está mais perto é Paraguai e Estados Unidos, na vice-liderança de suas eliminatórias. O México está na fase de repescagem. Interessante que nas últimas 4 copas do mundo, o México foi eliminado nas oitavas-de-final, todas as vezes por equipes que não foram finalistas.

Em copas anteriores, houveram outros momentos tradicionais: Hungria, Iuguslávia, Tchecoslováquia, União Soviética e Uruguai eram figurinhas carimbadas, mas hoje alguns despes países se quer existem, como a Iuguslávia (que se dividiu em Eslovênia, Croácia, Macedônia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia e Montenegro - os 2 primeiros ja disputaram copas depois de se tornarem independentes), Tchecoslováquia (a República Tcheca disputou a copa em 2006 e a Eslováquia se encaminha para 2010) e União Soviética (divididas em novas 15 repúblicas, 2 delas ja disputaram a copa, Rússia e Ucrânia). A Hungria não está tão distante assim, na vice-liderança do seu grupo a apenas 3 pontos do líder Dinamarca (a 2ª posição dá direito a repescagem). Há 24 anos distantes do mundial, os húngaros não dominam a cena como na década de 50, mas certamente ficarão muito felizes de disputar o torneio depois de tanto tempo. O Uruguai, que hoje foi goleado pelo Brasil, disputou 2 copas nos últimos 20 anos, e nem de longe são favoritos como eram por tantos anos atrás.

Brasil, Argentina, Paraguai, México, Tunísia, Espanha, Alemanha, Itália, Coréia do sul, Japão... Nem todas essas seleções citadas são 'grandes', mas tem algo em comum: participações frequentes nas últimas copas. Elas ajudam a construir a história dos mundiais, e d]ao seu próprio tempero inconfundível para o torneio de tantas misturas e sabores, de tantos sotaques e lugares, de tanta gente animada torcendo pelos seus países: falta 1 ano para a copa do mundo!

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