Nem sempre um torcedor sempre apóia o seu time de coração, tudo depende do espaço e tempo em que sua equipe entrar em campo. Uma derrota pode ser bem vinda para derrubar aquele técnico mala ou prejudicar o rival na tabela do campeonato. Como disse Clara Albuquerque ontem, na sua coluna no CORREIO, o futebol tem "lógicas", isso mesmo, no plural.
O princípio universal de uma torcida nem sempre é o apoio incondicional ao clube, aliás, não há princípio universal no futebol, que tem múltiplas possibilidades: há os que apoiam a diretoria, outros que a querem derrubar, e nesse embate a lógica é que se o grupo da situação estiver dando certo, ele continuará, caso contrário, a oposição ganhará força.
Tudo isso é natural: a vaidade do ser humano se aflora no futebol, que é um reflexo da sociedade. Chato são os discursos de "oprimido" dos clubes não vitoriosos. Pérolas como "se nosso time tivesse mais recursos, seríamos melhores" e "a mídia não nos apóia" frustra involuntariamente as intenções de quem quer ser grande. Se o "se" entrasse em jogo, não só o futebol teria mil e uma lógicas, mas também infinitas realidades e destinos: todo campeonato teriam mais de vinte vencedores, todos os craques vestiriam centenas de camisas ao mesmo tempo e por aí vai. A suposição de um mundo melhor caso os rumos fossem outros não nos leva a lugar nenhum.
É óbvio que se os bandeirantes não descobrissem ouro nas Minas Gerais, Salvador continuaria sendo a capital do Brasil e o Rio de Janeiro não seria uma cidade tão forte no cenário político e até futebolístico. Se os europeus não roubassem todo o nosso ouro, não seríamos tão endividados e os nossos clubes não perderiam tantos jogadores para o exterior. Mas a cada “se” acrescentado num passado já concretizado, esquecemos de pensar que se tudo o que desejássemos fosse realidade, haveriam consequências negativas, por exemplo: será que se os ingleses não tivessem contato com o nosso país hoje seríamos a “Pátria de Chuteiras”? Por acaso, o futebol foi criado na Inglaterra, e se começou a ser praticado cedo por aqui foi porque Charles Miller, um brasileiro filho de ingleses, que o introduziu em São Paulo, em 1894, e um tempo depois, a redonda já estaria rolando por todo o país.
O meu time, o Esporte Clube Bahia, poderia ter conquistado muito mais se as circunstâncias históricas fossem outras, assim como poderia ter perdido muitos títulos por um triz: seguramos um empate em 0 a 0 contra o Internacional, em Porto Alegre, além de termos vencido o Santos, sem Pelé no jogo decisivo, porque ele estava contundido. Essas finais, em 1988 e 1959, respectivamente, tinham gaúchos e paulistas como favoritos, assim como em todo Baianão o BaVi é a final que se espera. Os times do interior são tratados como azarões, e eles devem se perguntar: porque não somos melhores? O torcedor do Colo Colo deve lamentar o fim do ciclo do cacau, que se perdurasse até hoje, poderia fazer a cidade ser mais forte em todos os campos. Já o torcedor do Fluminense de Feira se questiona: se tivéssemos mais dinheiro do que os times da capital, como seriam as coisas?
Se isso, se aquilo... Se estamos aqui, foi porque assim aconteceu. O chato discurso do oprimido esconde os desejos mais fortes de quem não realizou tanto quanto gostaria, e ao mesmo tempo, não reconhece que o "se" também poderia lhe tirar algumas glórias. Mas o ser humano apenas pensa no "se" para acrescentar, nunca para subtrair.
Estreias da semana - Nos cinemas
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*Cristina 1300 - Affonso Ávila - Homem ao termo*
Está nos cinemas brasileiros esse bom e bem curtinho documentário, de
apenas 60 minutos, que resga...
Há 12 horas
Um comentário:
Efeito borboleta na veia... Estará
Excelente!
Jose Luiz
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