quinta-feira, 26 de abril de 2012

Solitários sim, esquecidos jamais

“Uh é paredão, o goleiro do...”. Coros que fazem referências aos goleiros podem ser completados com qualquer palavra terminada em "ão", que vão de Esquadrão a Leão. Em alguns casos, tais manifestações provocam mais barulho que a gritaria do gol. Claro, tudo depende do gol, que nem sempre é tão festejado, ou da defesa, que geralmente é esquecida logo em seguida. Solitários são os jogadores que vestem uniforme com cores diferentes das que os companheiros usam, além de passar a maior parte do tempo assistindo ao certame – a não ser que o adversário seja muito superior. Goleiros realmente merecem usar trajes diferenciados, afinal, são únicos. São a última esperança do scratch, mas podem ser os primeiros candidatos a vilões. Se as falhas tendem a ser mais lembradas que os milagres, apenas os “homens de luvas” podem ser canonizados. “São Marcos”, do Palmeiras, teve seus momentos de “mero mortal” no interclubes de 1999, quando sua falha culminou no gol do título do Mancheter United, e na furada na Copa do Brasil em 2003 contra o Vitória, no pior momento de sua carreira. Mas o paredão alviverde ganhou os céus, graças a suas grandes defesas e carisma. Como goleiro, não vejo a data de hoje como dia de reivindicação por “melhores condições de trabalho”, tampouco de desabafo contra os que por tantas vezes insultaram nosso ofício. Ser goleiro, para mim, é opção. Embora a maioria enxergue a execução da função como recurso para ser escolhido imediatamente no baba, logo após o par ou ímpar de formação dos times. Foto: Guilherme Dionísio/ Futurapress

terça-feira, 24 de abril de 2012

O Barça não é “da galera”

A popularidade do Barça já não é a mesma. As redes sociais são termômetros que confirmam o declínio da simpatia do clube catalão. Talvez o movimento #ChupaBarça seja antigo e apenas na derrota seja perceptível, mas o Chelsea hoje foi tão paparicado quanto o São Caetano na final do Brasileirão de 2000. O Barcelona continuará sendo o melhor time do mundo e tão surpreendente quanto a desclassificação na Uefa Champions League foram as reações generalizadas que vi inclusive na minha rua, onde a vizinhança gritou histericamente a cada gol do time azul de Londres. Nunca vi tamanha mobilização popular pelo torneio até então, embora ele seja transmitido pela TV aberta há muito tempo, primeiramente pela Record, com rápida passagem pela Band e desde as semifinais de 2010 na Globo. Porque somente com a eliminação da equipe espanhola percebi o quanto a Liga dos Campeões mobiliza “o povo?”. Não vejo em Messi e Guardiola traços de arrogância. Torcer pelo mais fraco nem sempre é tendência, afinal, o Santos de Neymar causa mais fascínio do que inveja. O mesmo Barça, que no final do ano passado veio a Salvador e Rio lançar um acampamento de férias para crianças, não é popular por aqui. Serão precisos muitos “Barcelonas Camps” até os catalães chegarem ao patamar de carisma de um Santos, por exemplo. Foto: Shaun Botterill/Getty Images

sábado, 14 de abril de 2012

Facebook cutuca meu jejum de títulos


Eu nunca gritei "campeão pooooorra" em nenhuma rede social. Na última vez em que meu Bahia ganhou um título, em 2002 (Copa do Nordeste), sequer existia Orkut. Não bastasse o incômodo jejum de conquistas, o Facebook tratou de me "torturar" com o aplicativo "Quantas vezes seu time foi campeão?", do perfil Barba, Cabelo e Bigode. Temi um resultado vexatório, mas por um momento me surpreendi: por 13 vezes o Esquadrão de Aço levantou o caneco. Não é tão grave assim né? Na verdade, é, pois três Taças Estado (torneio minúsculo da FBF) foram computadas (2000, 2002 e 2007). Nestes mais de 23 anos, o tricolor levou mais de um título em apenas duas temporadas: 1988, quando se sagrou campeão brasileiro e baiano, em 2001, com Copa do Nordeste e Baianão e 2002, com Copa do Nordeste e Taça Estado da Bahia (que eu nem conto como título).

Desde que nasci, foram apenas sete títulos estaduais, sendo que apenas em 1998 e 2001 eu comemorei. Em 1994 eu era pequeno e não lembro do gol épico de Raudinei, em 1999 Bahia e Vitória foram declarados campeões, sem haver decisão, pois o Esquadrão se reusou a jogar no Barradão. Treze títulos em 23 anos mostram o quão grave é o passado recente do Bahia. Esse aplicativo me fez refletir, mas apaguei o resultado da minha timeline do Facebook para evitar chacotas.

Títulos do Esporte Clube Bahia com a equipe principal depois do meu nascimento:

Campeonato Brasileiro: 1988
Campeonato Baiano: 1988, 1991, 93, 94, 98, 99 e 2001
Copa do Nordeste: 2001 e 2002
Taça Estado da Bahia: 2000, 2002 e 2007

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Volta Ypiranga, por favor!


Lá em cima, no céu, alguém torce pelo Ypiranga. Aliás, o Ypiranga tem mais torcedores vivendo nas nuvens do que na terra, embora os aurinegros baianos vivos tenham bastante pés no chão. Os 12 anos longe da elite do futebol estadual fizeram muitos perderem a capacidade de sonhar, e nem mesmo o ambicioso projeto capitaneado pelo presidente Emerson Ferretti pode garantir um acesso tranquilo. Futebol é decidido nos detalhes, e dentro de campo o novo uniforme produzido pela Lotto e o design moderno do site não poderão fazer a bola estufar as redes adversárias.

O Itabuna, que tirou o sonho do “mais querido” de voltar à Série A do Baianão no ano passado, já está rebaixado. O time do sul da Bahia sequer esperou Jorge Amado, ilustre filho da região cacaueira, completar 100 anos de seu nascimento (12 de agosto desse ano). De quebra, roubou do Ypiranga a magia de subir no ano da beatificação de sua ilustre torcedora Irmã Dulce (2011), que assim como Jorge Amado e meu avô Valdir, sonham em pintar o céu de amarelo e preto no dia 22 de julho, data da decisão do Baianão da Segunda Divisão, ão ão ão, Ypiranga campeão! Mas pouco importa o título: a data do eventual alívio será 8 de julho, quando acontece o jogo da volta da semifinal.

Na mitologia grega e na romana, há deuses e deusas para tudo: amor, trovão, farra... Se o futebol tiver uma divindade, certamente conspirará pelo acesso do “mais querido”, tão bem quisto na terra, mar e céu. Mas a realidade do futebol brasileiro me faz duvidar da existência de qualquer força sobrenatural que não seja o dinheiro. É triste se deparar com tamanha itinerância de clubes pelo país, que mudam de cidades como quem muda de cueca. O Ipitanga (não confundam com o glorioso Ypiranga), por exemplo, tem nome de praia de Lauro de Freitas e em seus oito anos de existência já mandou partidas em Terra Nova, Madre de Deus e Senhor do Bonfim, sem falar na tentativa de se instalar em Santo Antônio de Jesus. A maioria dessas cidades tem nomes “espirituais”, mas de santa essa instituição nada tem, já que tanto machuca o futebol, que é uma religião. Vai lá Ypiranga, e mostra que há motivos para ter fé em um futebol melhor!

Crédito da foto: Lucas Franco

terça-feira, 10 de abril de 2012

A Copa de “todos”

A Copa do Brasil é folclórica, democrática e surpreendente. Não faltam ingredientes para atrair tantos times pequenos na disputa do “caminho mais curto para se chegar à Libertadores”. Mas o que pensam os grandes clubes sobre esta competição? O São Paulo vai à Feira de Santana com a obrigação de vencer o modesto Bahia de Feira por pelo menos dois gols de diferença. O certame vem ofuscando até a participação da dupla Ba-Vi no torneio, mas de nada adiantará ao time do interior baiano arrancar bom resultado contra os paulistas se no domingo a classificação para as semifinais do Baianão não vier.

Com o calendário sufocado pelos estaduais, agremiações de todo o país que jogam a partida de ida fora de casa se doam ao máximo para vencer a partida por mais de um gol de diferença e com isso, eliminar a partida de volta. A Copa do Brasil é democrática até nas metas individuais de cada atleta: há os que lutam para segurar uma derrota por apenas 1 a 0 para viajar com os companheiros para uma cidade em que dificilmente poderiam conhecer se não fosse por intermédio do futebol. Há, porém, quem entre em campo focado em se exibir para a as câmeras de TV e conseguir ser negociado para outro clube.

A “Copa de todos” só terá um dono, mas distribui presentes que vão do prestígio de enfrentar Loco Abreu ao sonho de pisar no Engenhão. Depois do “jogo inesquecível”, a vida volta ao “normal”: partidas em gramados esburacados e sem transmissão televisiva e poucos coros de torcida. Que bom seria para os times pequenos se os duelos contra gigantes durassem o ano todo. Como seria melhor para os grandes clubes se houvessem mais vagas para a Libertadores.

Foto: Bahia de Feira venceu o Bahia no Joia da Princesa | Crédito: Luiz Tito