Rapper(Guetos dos Estados Unidos)
Repentista(Nordeste brasileiro)
O gênero de texto que mais tem me chamado atenção essa semana é poesia. Rimas coerentes com o aspecto textual enriquecem nossas vidas e até deixam nosso raciocínio lógico mais rápido, nos tornamos mais sagazes e capazes de fazer trocadilhos, por mais que infames, em momentos surpreendentes, e com espontaneidade.
A poesia não necessariamente deve ser recitada com dramas de artistas de teatro, e não necessariamente deve falar de amor: com as rimas, podemos protestar, agradecer a Deus, nos auto-afirmar e manifestar sua cultura para os 4 cantos do mundo. Para escrever poesias, acima de tudo, é preciso ter coração, e a técnica que vinher é lucro. Pensando nisso, esse gênero textual tem se expandido por todo o mundo, seja nos guetos negros dos Estados Unidos, com o Rap(o intergrante musical do Hip Hop executado pela melodia de um DJ e a letra de um MC- mestre de cerimônias-, que também alia a dança do Break e as imagens dos graffitis), ou no Nordeste brasileiro com o repente, que inspirados nos trovadores medievais, promovem desafios repentistas na base do improviso, seja com pandeiros(coco de embolada) ou viola(cantoria).
Melodias e letras dinâmicas trazem poesias modernas e populares, prontas para quebrar as barreiras e tornar o mundo mais democrático, onde todos possam ter voz e se expressar através da arte sem agredir fisicamente e sem perder a sua identidade.
Baseado na minha admiração por esse gênero textual, criei a poesia abaixo, e mais abaixo, o áudio em duas versões: rap e repente. O nome do texto é 'Vida impressa', e é baseado no cotidiando de um jornalista, pois mesmo sem nunca ter trabalhado, sei como será difícil a jornada na minha profissão, porém, que alguns sofrimentos desse texto sejam hipérboles daqui pra frente, e vale lembrar: o eu-lírico não necessariamente transfere os sentimentos do autor, até porque estarei falando de uma realidade que não conheço, então, não estou descontando no chefe e na minha empresa a minha raiva, porque no momento nem se quer estou sentindo raiva.
Vida Impressa
Acordo cansado, tomo um café expresso
Me arrumo e me mando, para o jornal impresso
Tudo é corrido, tumultuado
Pra completar, meu chefe chateado
Me mandou escrever
Algo semelhante com meu texto do TCC
Criatividade nunca foi problema
Manda uma pauta, com outro tema
Sou empregado, sou pau mandado
Não crio, não invento e ainda sou censurado
Fico muito puto, fico frustrado
Dá vontade de mandar, pra casa do c(*)
Corrida contra o tempo para publicar
Um jornal que paga mal e ninguém ouviu falar
E a vida pessoal como está?
Com a minha namorada, eu vou me encontrar
Depois do expediente, meu e dela
Acabou na madrugada, hora da paquera
A gatinha também é jornalista
E sonha como eu em mudar de pista
E trafegar numa estrada maior
Sendo reconhecido, ganhando melhor
Mas nada de falar de trabalho
Ja fechou a redação, momento sagrado
Momento pra se amar
Esquecer da redação, e só se lembrar...
Amanhã, um novo dia
Dia de esperança, dia de alegria
Pois a cada dia que vem a passar
Estou crescendo na carreira e daqui vou me mandar
Para um lugar sensacional
Seja outro impresso, rádio ou tv digital
O problema não é trabalhar exaustivamente
Faria com prazer, se fosse diferente
Se me reconhecessem e pagassem mais
Passaria natal, ano novo e muito mais
De frente pro PC, longe da família
Enquanto todos se divertem na ilha
Eu escolhi, essa profissão
Amo o que faço, trabalho com paixão
Mas penso em mim, todos os dias
E quero algo diferente, daqui pra frente
Se teorias afirmam não existir o inapropriado, indpendente do ambiente, a anarquia se faz uma 'quase verdade absoluta', num universo onde nada é totalmente verdadeiro e tudo é extremamente relativo. Contestando a frase anterior, alguns dos grandes pensadores dispensam as palavras 'nada' e 'tudo', apenas para confundir ainda mais o confuso mundo de quem procura universalizar conceitos. Então, o que é ordem, e onde ela deve se fazer presente? Em antropologia aprendemos a nos esforçar ao máximo para enxergar culturas alheias através do campo de visão do nativo, mesmo essa ciência social confirmando a tese de que 'é impossível ser neutro, pois todo julgamento terá juízo de valor, levando em conta que o analisador é um ser humano que com a sua história de vida enxergará o mundo com sua ótica, portanto, agirá etnocentricamente, em diferentes níveis, extremamente preconceituosos ou não'. Então, se nossa sociedade chegou hoje aqui, viva(mesmo que com tantas injustiças sociais e desmoronando coneitos todos os dias e construindo outros), é porque de alguma forma a ordem foi útil, para manter 'estabilidade' através da 'repressão'. Cumprir ordens nada mais é que seguir uma hierarquia, concorde você ou não com ela. Se você for a favor do fim das diferenças hierárquicas, se tornará um rebelde, dificilmente conseguirá viver em sociedade, e pior, não mudará nada, pois o sistema opressor é muito mais forte que você, então, o que você fará para mudar, não o mundo como um todo, mas 'coisas no mundo?'. Qual a sua estratégia? Um empregado está fadado a ser uma marionete do patrão se quiser manter uma vida confortável para quem este o sustenta, talvez por isso os jovens sejam a chave para a mudança: enquanto os adultos tem família e responsabilidades por não ter mais quem o te sustente, o jovem não tem ninguém para proteger, pelo contrário, ele é o protegido, e coloca em prática impulsos ideológicos para fora, sem medo de consequências negativas, a não ser para si mesmo, e não para quem este estiver cuidando. Um empregado ouvirá do patrão tudo e provavelmente se manterá calado, seguirá ordens sem concordar, e assim o mundo irá andar para frente, ou melhor, não irá andar, continuará parado, sem riscos, ou quem sabe, até andará para trás.
Numa sociedade onde a competitivade é estimulada para poucos chegarem ao topo e se tornarem privilegiados, cria-se uma crença que 'não há espaço para tantos vencedores'. Para completar, se criam critérios de como deve ser a vitória: ganhar mais dinheiro, ser reconhecido e famoso, usufruir bem do dinheiro... Claro, nem todos cumprem tais regras estabelecidas, mas esta imposição interfere no giro do mundo mesmo para quem não esteja envolvido diretamente com esta competição: com essa corrida contra o tempo, as pessoas vão ficando cada vez mais perigosas, capazes de passar dos limites do bom senso para alcançar uma meta. E se vencedor for aquele que levar uma vida digna, embora não seja reconhecido? Que ajude sem precisar mostrar a todos seu espírito filantrópico, como fez Ayrton Senna, que fazia diversas doações a instituições de caridade, e só depois da sua morte o público foi ter a dimensão de seu trabalho voluntário. E se o seu mundo entrar em conflito com as idéias da sociedade, a exemplo do livro Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, em que o protagonista se imaginava como um cavaleiro andante, e no entanto, não passava de um fanático por histórias de cavalaria que buscava viver seu 'mundo mágico' envolvendo a sobriedade de pessoas que não sabiam o que se passava em sua cabeça? Será a loucura uma doença, ou em alguns momentos uma dose de "maluquice controlada, misturada com lucidez, pode deixar um 'maluco beleza' levar uma vida digna?" Não se tratando apenas de viver o seu mundo, há quem queira vencer desafios não como Dom Quixote, vivendo apenas para si, mas fazendo os outros viverem mais sóbrios, como no livro '1984', de George Orwell, em que Winston Smith sentia que algo estava errado, e com o auxílio de seu amor, Júlia, tentaram derrubar um sistema político que acaba com a vida provada das pessoas(que viviam para o estado). Outro exemplo de personagem que tentou derrubar um sistema alienante foi Neo, do filme Matrix: conhecedor do mundo virtual, tornava-se uma ameaça para o sistema de computador que controlava a vida de seres humanos, e, descoberto por aliados que também buscavam enxergar algo 'além do que se vê'(como na música de Los Hermanos de mesmo nome), foi o escolhido para as tarefas mais complexas de resistência contra a Matrix. Pegando exemplos na literatura e cinema, além da música, como 'O vencedor', de Los Hermanos(que descreve bem o desprezo do autor pela vida corrida onde se busca vencer para ser feliz), podemos chegar a conclusão que vencer não é uma idéia universal, e nem todas as vitórias são atribuídas a causas particulares e convencionais, inclusive, melhorar o mundo todos os dias da nossa maneira torna-se uma meta, independente de como se faça isso, podendo ser um 'bom dia' ao vizinho ou grandes projetos como no filme 'A corrente do bem', onde um garoto do primário inventa uma corrente em que cada pessoa que receber uma boa ação, retribua-a para mais 3 pessoas, e assim em diante; No filme, essa corrente se espalhou e ganhou grandes proporções, e eu me pergunto: e se o final do filme não for feliz, implica que ele fracassou? Claro que não! Também vivemos de legados, bons exemplos, e torna-los eternos depende apenas dos admiridadores desses atos: Dom Quixote, Neo(Matrix), Winston Smith(1984), Trevor McKinney(A corrente do bem) serão eternos em seus legados, suas ações em muitas vezes correspondem as nossas expectativas de mundo, portanto, temos um pouco deles em nós, e como contestadores, não os deixaremos morrer, pois enquanto houver resistência, haverá vidas para esses heróis, independente de seus finais nas obras serem felizes ou não.
Jornalista desde 2010. Já passei pelos três impressos diários de Salvador (A Tarde, Correio* e Tribuna da Bahia) e pelos sites Bahia Notícias e Bocão News.
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