quinta-feira, 2 de julho de 2015

Ser baiano

Foto: Lucas Franco
A Lavagem do Bonfim, na minha opinião, é o maior exemplo da idiossincrasia do baiano. Os abraços entre representantes do Candomblé e da Igreja Católica são símbolo de resistência em um mundo cada vez mais intolerante. Ao longo do tempo, porém, os baianos resistiram de todas as maneiras, indo à luta ou sorrindo, lutando pela independência do país ou transformando arte em protesto contra a ditadura militar.

Eu sou essa mistura. Todas as vezes em que saí do meu berço eu senti o quão especial é a cidade em que nasci. Mesmo com todos os seus problemas, o sorriso segue sendo a principal ferramenta de resistência dos soteropolitanos. Porque o baiano médio não perde as esperanças, mesmo quando liga a televisão e constata mais uma tragédia. Em uma cidade tão turbulenta como Salvador, é um milagre que seus habitantes sejam tão hospitaleiros. O baiano não sorri porque está conformado. Mas a vida não espera para que tudo se resolva e o baiano não se acomoda. Se não é possível ensaiar sua luta em público, se dança. Na falta de todos os ingredientes para a comida, capricha no quiabo. Mas nada de se submeter a professar uma fé que não seja a sua, mesmo que aparentemente demonstre submissão. A resistência do baiano é inteligente, brava e corajosa. A capoeira, o caruru e o Candomblé são símbolos da nossa cultura que resistiram depois de muita luta. Se não fosse essa luta, a cultura africana não teria sobrevivido, como não sobreviveu em muitos cantos do continente.

Ao contrário do que conta a história tradicional, a independência do Brasil foi conquistada com muito derramamento de sangue, assim como nos países vizinhos. Hospitaleiros sim, “pero sin perder la ‘dureza’ jamás”. A verdadeira libertação do país, em 2 de Julho de 1823, só aconteceu porque muita gente lutou antes dessa data. E seguiu lutando depois por outras tantas conquistas. Baiano nunca teve tempo para ter preguiça. 

Esse 2 de Julho tem um gosto um pouco amargo. Ontem, o presidente da câmara dos deputados, eduardo cunha, em uma manobra anticonstitucional, conseguiu aprovar proposta para diminuir a maioridade penal de 18 para 16 anos no Brasil. “Com tiranos não combinam brasileiros corações”, consta em uma parte do hino à independência. Mas quer saber de uma? Nada nunca foi fácil e a luta continua. Muitos sóis a Dois de Julhos hão de surgir, brilhando cada vez mais a cada conquista. Parabéns Bahia, parabéns Brasil!