Paletós, cabelos curtos, ausência de tatuagens e linguagem rebuscada parecem os artifícios ideais para se "neutralizar" num ambiente de trabalho conservador. Bancos, escritórios de advocacia e senado são locais aonde decisões importantes são tomadas, e a sociedade espera que os seus rumos sejam direcionados por pessoas competentes e acima de tudo, que passem confiança. Não dá para confiar em alguém pela sua auto-análise, espera-se da imprensa o papel de fiscalizador, mas o que fazer se nem a imprensa é de confiança?
Julgar a competência de alguém não é tão simples: os marketeiros de plantão farão o possível para sintetizar uma competência "mitológica", se colocarem num pedestal, longe dos mortais sem recursos para investir na própria imagem. Vestir-se "sem elegância", usar cabelos compridos e se comunicar através de uma linguagem transparente (sem as malícias de tentar mudar a situação trocando as palavras por seus sinônimos) é um ato de coragem, que pode custar caro: os caretas tem muita força nas decisões (são a maioria) e não aceitarão essas "subversões".
Os maiores jornais do mundo são um reflexo da caretice que até hoje persiste em aprisionar pessoas. É cômodo seguir uma programação rígida, acostumando seus leitores/telespectadores/ouvintes a absorverem novas notícias no mesmo formato, com os mesmos paradigmas. A receita de bolo para se programar o ordenamento das informações faz os jornalistas passarem a responsabilidade para seus consumidores, pois se eles consomem, sustentam o seu formato. Na verdade, a caretice continuará se a mobilização não começar inclusive nos jornais tão carentes de apuração detalhada. Como jornalista, pretendo ser melhor do que sou hoje: ainda vejo em mim traços de um conservadorismo incompatível com o que acho necessário para um mundo melhor. O universo não muda por vontade própria: é preciso se mobilizar, e eu estou disposto a ser alguém na corrente que pretende provar que é possível ser transparente, é preciso ser melhor.
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