O mesmo mundo que luta para integrar os mais diversos diálogos políticos, seja com a formação da União Européia e a unificação de uma só moeda para o velho continente, é o mesmo mundo que procura diferenciar a todos os aspectos da vida em sociedade, pois a igualdade só existe quando as diferenças são respeitas.
Na luta por igualdade, os grupos minoritários não lutam para receber a mesma forma de tratamento que o grupo dominante, e sim para serem respeitados pelas suas diferenças. Um mundo justo passa pela idéia da existência das diferenças, pela sensibilidade em enxergar as diferentes capacidades de cada ser humano e também as suas limitações. Se a importância de cada ofício é relativa, é unânime a consciência que, ao longo da história, o poder se comportou de forma muito melhor quando passou a ser dividido. O homem questionou a sua existência, a igreja que legitimou o poder dos reis pela primeira vez passava a ser confrontada e não mais era vista como “a representante de Deus na Terra”. O rei, antes absoluto, foi derrubado na França, e a Revolução Francesa foi um marco tão importante que influenciou movimentos populares em todo o mundo. Nenhuma pessoa ou grupo pode arcar com a responsabilidade de fazer sua comunidade feliz: todo o peso de lidar com questões nas quais não se é especialista cairá diante de alguém que não teve a capacidade suficiente de ser eficiente em tantas coisas, a maioria das quais longe do seu ofício.
Parece brincadeira, mas o Brasil hoje busca regredir para uma época da qual se quer havia sido descoberto pelos portugueses: em pleno terceiro milênio, um grupo quer dar plenos poderes aos médicos, até mesmo em setores nos quais outros profissionais se tornaram especialistas com muito investimento, e que agora precisará do consentimento dos formados em medicina para por exemplo, lidar com um dilema na área de psicologia. Quem irá arcar com as conseqüências da burocratização desse novo sistema de saúde? Os procedimentos precisam ser cada vez mais rápidos na medida em que o tempo passa e as tecnologias se desenvolvem, e os pacientes correm o risco de terem a sua paciência testada até o limite.
Um país como o Brasil, que a tão pouco viveu a experiência da ditadura, deveria ter aprendido a lição, mas se caso o Ato Médico for aprovado, regrediremos até os anos 60. O autoritarismo nas relações de trabalho farão os médicos dominarem a área de saúde, que é formada também por psicólogos, dentistas, fisioterapeutas e demais profissões que lutaram muito para terem os seus direitos garantidos. Está na hora de o ‘país do futuro’ não mais ser uma promessa, e sim uma realidade, na qual a área de saúde se desenvolva cada vez mais nos mais diversos setores, e o Ato Médico certamente congelará a nação brasileira, já tão burocrática e com tantos grupos privilegiados.
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