Foto: Daniel Ramalho |
Segundo o cronista Érico Veríssimo, “O amor está mais perto do ódio do que a gente geralmente supõe. São o verso e o reverso da mesma moeda de paixão. O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença...”. O “culto ao ódio” cria pretextos com lógicas próprias, e eu não vejo outra explicação para a depredação da sede administrativa da Rede Globo, na madrugada desta quinta-feira (18).
A questão transcende a preferência pela emissora ou até mesmo o gosto por assistir televisão. Vi um comentário interessante, em que o internauta dizia “é mais fácil quebrar o prédio da emissora do que desligar a TV”. O canal “plim-plim” pode até deter os direitos exclusivos do Campeonato Brasileiro, mas o “monopólio da manipulação” não é seu. Nem apenas da Record. Nem da televisão. A corrente em prol da depredação cegou, criou uma adesão emotiva, tirou propósitos racionais e até manipulou.
Entre alguns dos comentários sobre a depredação, na página “Pragmatismo Político”, no Facebook, os que me chamaram atenção:
- Quem procura acha!!! rsrsrsrs
- Lindo, perfeito, pena eu estar longe pq eu ia amar tacar pedras nessa porta, melhor acertar a cabeça do W. Boner
- GRAÇAS A DEUS ESSE MOMENTO CHEGOU, EU SEMPRE SONHEI COM ISSO. a GLOBO É HISTORICAMENTE CULPADA POR MUITAS MAZELAS DESTE PAÍS.
- Que isso gente o Luciano Huck pediu pra fazer protesto pacífico, assim vocês chateiam a elite !
- O pessoal que critica o ataque pelo jeito fugiu das aulas de História. Ou o pessoal pensa que a Revolução Francesa foi sem violência? a Globo merece toda essa violência depois de 40 anos de violência a serviço das elites atrasadas e dos militares que torturaram e mataram muitos. É o povo com sua vingança. E essa vingança é justa. Ficar no "sem violência" apartidária é o mesmo que não fazer nada.
Muitos brasileiros não se enxergam como responsáveis pelas mazelas do país e apelam à história para justificar a violência e corrigir “seu próprio reflexo”. Não apenas os meios de comunicação, mas os políticos do país são um espelho de nossas próprias omissões. Um amigo meu disse-me uma frase esta semana que resume o quão responsável é um povo sobre seu próprio destino. “Prefiro políticos desonestos sendo pressionados a políticos corretos na zona de conforto”. A atmosfera criada pelas manifestações em todo o país tem feito até o senador Renan Calheiros trabalhar “com medo”. É disso que a população precisa: ter consciência que pode “ditar o ritmo de jogo”, para usar uma expressão “futebolística”. Não acredito que os políticos na Suécia, Dinamarca, Islândia e Finlândia sejam mais íntegros. Mas certamente eles são mais pressionados e sabem que as consequências são graves a cada pisada na bola.
A Globo é manipuladora ou apenas reproduz o que lhe é demandada? Por que a ótica acerca dos protestos iniciados no dia 17 de junho se tornou positiva para a emissora, o que rendeu até um Globo Repórter sobre o tema? Nada disso teria acontecido se não fosse na base da “marcação sobre pressão, buscando a bola no seu campo de defesa”. Depredar o prédio da emissora, além de ser vandalismo, superestima sua importância no processo. E a Globo não merece esse destaque, principalmente em tempos em que as redes sociais ganharam papel fundamental em informar e criam certa independência. Forçar a barra para “aparecer na telinha” chega a ser um comportamento infantil, e se satisfazer ao ser atendido soa alienante.
O brasileiro é vaidoso e gosta de ser visto. Principalmente para fora do país. Por que ainda não depredaram o prédio de emissoras mundo afora?
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