Na versão tricolor de "Dom Quixote", "Bahia melhor que Barça e Real" |
Todo torcedor do Bahia ô ô, tem um pouquinho de Binha de São Caetano iá iá, tal qual “isto aqui” tem um pouquinho de Brasil em uma letra de Caetano Veloso. Digo por mim mesmo, embora eu não esteja sozinho. Binha está. Mas o folclórico “Dom Quixote Baiano” é um retrato do que toda a nação tricolor tem sido nos últimos tempos. Enxergávamos em Souza um “Caveirão”, quando este nunca passou de uma viatura sucateada. Assim como o personagem criado por Miguel de Cervantes, o torcedor em geral, de qualquer clube, não distingue moinhos de vento de monstros aterrorizantes, mas a “inchada de Esquadrón” consegue se superar.
Quem não sentiu alegria com o título baiano do ano passado (eu chorei), que atire a primeira estrela. Contra os vice-torianos, é claro. Criticar as bizarras saídas de gol de Marcelo Lomba naquele tempo era sacrilégio, dizer que Titi era fraco na bola aérea vinha seguido do argumento “mas no chão é ele quem manda”, como se a virtude de um zagueiro pudesse se limitar a um fundamento de UFC. O “trabalho” de Marcelo Guimarães Filho não sofria críticas e era até defendido pela torcida quando a maré era favorável.
Quando, às vésperas de um Ba-Vi na primeira fase do Baiano do ano passado, o cartola foi destituído do cargo e perdeu a peleja por 3 a 2 no Barradão, houve quem responsabilizasse o grupo de oposição que entrou com ação judicial contra a irregularidade que existia dentro do clube, já que o Esquadrão de Aço surfava na crista da onda. Lutar por um time forte a longo prazo requer alguns sacrifícios, derrotas dentro de campo e chantagens de quem não quer largar o osso, mas a torcida no geral enxerga os opositores como inimigos.
O cenário hoje mudou não por conscientização da torcida, que pouco parece conhecer o estatuto do clube pelos comentários que vejo no Facebook. Somente derrotas humilhantes dentro de campo mobilizam a vontade de mudança. E bastam alguns triunfos para tudo se “normalizar” e Marcelinho voltar a ser a “princesa Dulcineia”.
Binha nada mais é que o estereótipo do torcedor do Bahia comum, com uma diferença: ele não liga para os resultados. Chamá-lo de “baba-ovo da situação” e “doente mental” soa, no mínimo, hipócrita. Ele é Bahia de verdade, independentemente de ganhar ingressos de grupos de empresários ou da diretoria, e tem todo o direito de assistir o clube de coração no estádio, concordem ou não.
Cansei de ver pessoas que já manifestaram apoio a Marcelo Guimarães Filho nas redes sociais hoje se dizerem a favor do movimento “Bahia da Torcida”. Marcelo Guimarães Filho, assim como Binha, não mudaram em nada. São os mesmos, adeptos das mesmas práticas e rituais há anos. Por que o movimento só se tornou forte agora? A maior arma de um povo contra o despotismo é o conhecimento. A revolta gratuita, fundamentada pela vontade de fazer justiça com as próprias mãos, gerarão apenas alguns carros quebrados a mais no Fazendão, além de se configurar em crime contra o patrimônio. Saber o que se passa é o primeiro passo para não sair “de La Mancha” tão desorientado como o protegido de Sancho Pança.
Aos torcedores do Bahia que sempre se opuseram ao regime atual, todo o meu respeito. Aos demais, que só pedem pelas melhorias por conta dos desastres dentro de campo, uma reflexão. O Bahia nunca foi bem administrado. A saída de Marcelinho, que deveria acontecer o quanto antes, não poderá ser bem-sucedida se cuidados não forem tomados. Em outros tempos, era possível ser “varzeano” e colher bons resultados, como no título brasileiro de 88, quando dois dos principais jogadores da campanha, o goleiro Sidmar e o zagueiro Pereira, foram vendidos às vésperas dos playoffs. Não somos tão grandes quanto imaginamos, mas podemos ser muito maiores do que jamais sonharíamos em ser. Bora Baêa minha porra!
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