Foto: Julio Cesar Guimarães/ UOL |
- Como você se sentiria se, em dois anos e meio na sua empresa, você não conseguisse cumprir as principais metas das quais sua contratação se condicionou e, próximo de justamente “entrar nos eixos”, fosse mandado para fora? Some-se a isso os fatos que:
1. Você não tinha o melhor material para desenvolver um bom trabalho.
2. A decisão tenha acontecido no semestre em que a empresa mudou de diretoria.
É nesse cenário em que o gaúcho de Passo do Sobrado levou um pé na bunda do presidente da CBF, José Maria Marin, e do vice Marco Polo Del Nero. Essa nem de longe era a pior fase do técnico. Cheguei a imaginar que a partida entre Brasil e Gana no dia 5 de setembro do ano passado, em Londres, seria sua última no comando. Após uma pífia campanha na Copa América e uma derrota em amistoso contra a Alemanha em Stuttgart com falha indivudal de André Santos, cliente de seu empresário Carlos Leite, Mano encontrava dificuldades para vencer a equipe africana, mas achou um gol redentor de Leandro Damião. O que falar do fiasco da Olimpíada então? Com muito sofrimento o “Scratch Canarinho”, que era a base do time que vai à Copa, bateu Honduras nas quartas de final, mas uma derrota para o México na decisão do sonhado ouro era o resultado que condicionaria uma demissão. Não para a direção da CBF, que após a derrota frustrante na final, parece ter esperado um vexame maior. Não aconteceu.
O time passava a ganhar consistência pela primeira vez. Tido como um dos maiores atacantes da atualidade, o colombiano Falcao Garcia foi anulado pelo sistema defensivo de Mano, levou um gol em falha individual de Leandro Castán, improvisado na lateral-esquerda, deixou de virar o placar após Neymar perder um pênalti e saiu de campo com o resultado de 1 a 1 contra uma equipe que, acredito eu, tem condições de surpreender em 2014. Se o resultado não agradou, a organização tática passava a ter uma cara. Que pode desfigurar com a chegada de um novo treinador.
Mano e toda a comissão técnica foram demitidos. Mas o diretor de seleções, Andrés Sanches, ainda continua no cargo e, em entrevista coletiva, disse ter defendido Mano, que treinou o Corinthians no tempo em que ele era presidente do clube.
- Eu achava que não era o momento. Entendo os motivos, os critérios e entendo o desejo de um novo planejamento para o ano que vem. Venho há meses defendendo a continuidade do trabalho, mas entendo e sei respeitar a hierarquia. Respeito, atendo e aceito.
No entanto, porque será que Andrés não levou um pé na bunda?
- O Andrés é um cara que eles não tocam porque é um cara que tem meio-campo com Lula, Dilma, e eles precisam muito disso. Eles não têm nenhuma entrada, e o único que pode amenizar alguma coisa, e nesse momento é sempre importante ter algum meio-campo para que não se intensifique olhar de polícia federal ou um monte dessas coisas, você precisa ter algum meio-campo, alguma entrada com Lula e Dilma e o Andrés é o cara dessa entrada. Então apesar de eles terem de engolir, de não ser do agrado, mas eles acabam engolindo o Andrés muito por causa disso - comentou o jornalista Lúcio de Castro no Bate-Bola primeira edição, da ESPN, algumas horas antes da demissão de Mano, quando o assunto era mera especulação.
Curiosidade 1: Sediada no Rio de Janeiro, a CBF, na verdade seu presidente, decidiu por fazer a reunião na sede da Federação Paulista de Futebol (FPF), da qual Marco Polo Del Nero preside, além de ser vice da CBF. Paulista, José Maria Marin, também na opinião de Lúcio de Castro, dessa vez depois da demissão, estaria por vaidade tentando tirar todas as raízes plantadas por Ricardo Teixeira, ainda que estas, se mantidas, pudessem render frutos. Após se perpetuar por 23 anos no poder, Teixeira, mineiro e muito ligado ao Rio de Janeiro, se envolveu em diversas acusações e, em um perfil extremamente nojento na revista Piauí, revelou estar “cagando” para acusações, algumas delas comprovadas.
Curiosidade 2: Nova rixa entre paulistas e cariocas? Em 1930, a Confederação Brasileira de Desportos, CBD (atual CBF), assim como hoje, era sediada no Rio de Janeiro, que na época era a capital federal. Em tempos em que a política falava tão alto quanto dentro de campo, a seleção que disputou a primeira Copa do Mundo era composta por cariocas.
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