quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Vencer?

O que é vencer? É chegar aonde se quer? E o que dizer dos 'vencedores insatisfeitos que sempre resmungam querendo mais?' Quando Los Hermanos lançaram 'O Vencedor', eu imaginei que se tratasse, no mínimo, de uma homanagem ao Vasco da Gama (time de coração de Marcelo Camelo, compositor dessa música). Ao ouvi-la, notei que se tratava de um desdém para a condição dos que tanto lutam para vencer e desprezam a derrota, e assim passei a refletir que 'a busca por vitórias' não é um valor universal, ao contrário do que eu imaginava. Nem todos fazem questão de vencer, logo, passei a dar novo significado a pavara vitória.

Quando verifiquei no Dicionário Aurélio seu significado, senti até certa náusea:

vitória1
[Do lat. victoria.]
Substantivo feminino.
1.Ato ou efeito de vencer o inimigo ou competidor em uma guerra, batalha, ou, ainda, em qualquer competição; triunfo.
2.P. ext. Triunfo ou êxito brilhante em qualquer campo de ação.
3.Fig. Bom êxito; sucesso; vantagem. [Cf. vitoria, do v. vitoriar.]

Vitória de Pirro. 1. Vitória em que as perdas do vencedor são tão grandes quanto as do vencido.


Depois de tantas vivências e reflexões, eu me pergunto: é vitória o que eu quero na minha vida? Eu passei a não ter a mínima paciência com certas exposições que algumas pessoas fazem de si mesmas, e percebi que os rótulos se dividem entre 'vencedores e fracassados', muito em parte porque os vencedores tem uma busca medíocre por transparecer a sua fortaleza, e quem não se submete a esse tipo de ação e leva uma vida com objetivos fora do convencional (ou até sem um objetivo claro) é tratado como 'fracassado, perdido, alguém que não deu certo na vida'. Se tratam de buscas diferentes: convencionalmente, até a felicidade é decifrada entre um misto de ser bem sucedido, ter realizado os sonhos, ser seguro de si mesmo...

Ora, desprezar a fortuna e não se submeter a certos tipos de trabalho por agredirem 'sua alma' não pode ser visto como um fracasso, e sim como uma escolha, deixar de sorrir constantemente não pode ser um sinal de tristeza, e sim de fidelidade a cada momento em que se vive (e ninguém está constantemente 'de bem com a vida'), logo, porque há tanta gente que insiste em, mesmo sem ter tanto dinheiro, mostrar status através das roupas, relógios, fotos em sites de relacionamentos que mostram a projeção de como se 'é o cara', e além de expor sua estabilidade financeira, ainda tentam mostrar segurança em tudo que fazem, mesmo sem internamente terem tamanha certeza por pouco refletirem sobre suas ações?

Vencer é ter certezas, mas o que na vida pode ser tão certo além da morte? Há uma mania de competitividade, e claro, entra quem se submete, mas muitas pessoas entraram por osmose, sem terem parado para pensar que o sentido da vida é dado por nós mesmos, e artifícios nos separam do que se pode pensar como 'uma vida além das convenções'. Eu torço pelo Bahia não por ele ser campeão brasileiro, ter uma imensa torcida e entre outras coisas: algo inexplicável me faz ter imensa admiração pelo tricolor, algo que foge da instituição e resultados, logo, essa fascinação poderia me atinigir sozinho, e mesmo assim, não seria absurdo se eu fosse o único torcedor no estádio. Não deveríamos buscar tantas explicações pelo que sentimos, pelo que nos faz bem, mas certamente, devemos tomar cuidado com as convenções que nos empurram 'deveres', e um desses deveres é vencer.

O esporte em si é um evento artificial (mas que eu amo), uma disputa que deveria ser sadia, embora cause tantas paixões descontroladas (que são responsáveis pelo tempero que nos faz esperar por um 'clássico' e que faz o dinheiro entrar com mais facilidade no evento). O esporte é importante para muitas pessoas que graças a ele hoje conseguem ampliar a sua visão de mundo: jovens de periferia, por exemplo, se incluem na sociedade, quebram paradigmas e aprendem mais sobre o mundo além de suas fronteiras (e o mundo aprende mais sobre eles), por isso acho que o esporte deve misturar as pessoas a fim de que conhecendo uns aos outros nossas visões sobre o próximo não se tornem tão medíocres, e nada melhor que uma disputa, que mostra muito do que as pessoas são (leais, íntegras, guerreiras, ou os opostos dessas virtudes...), mas fora dessa disputa artificialmente criada com um propósito nobre, a vida em si deveria ser mais espontânea, sem uns se compararem tanto com os outros (fulano pegou cinco numa festa, sicrano tirou 10 em matemática, beltrano consegue tudo o que quer...). Não somos o que temos nem o que ganhamos: somos as nosas buscas e a nossa vontade de viver a vida ao nosso modo.

2 comentários:

Theo disse...

eu tava ouvindo essa música de Los Hermanos justamente hoje! que coincidência!
vc já assistiu Pequena Miss Sunshine? o pai da personagem é o típico "vencedor"

SB-SSA disse...

Adorei sua reflexão! Compartilho da sua inquietação. Também não vejo o menor sentido em dividir o mundo/as pessoas entre vencedores e derrotados. Acho tudo isso um saco!!! Por isso gosto tanto e me identifico com aquele poema do Fernando Pessoa que lhe enviei. Um abraço. Sílvio, o Benevides.