Foto: Ueslei Marcelino, Reuters |
dos europeus.
Dá a impressão que os países sul-americanos não tinham apenas sede de independência no Século XIX. Havia também necessidade de uma busca por identidade nacional. De se distinguir de suas ex-metrópoloes, afinal de contas, suas elites eram formadas basicamente por brancos tal como os habitantes da Península Ibérica. Talvez por isso a literatura brasileira desde muito cedo tentou incluir elementos não-portugueses, a exemplo da obra “O Guarani”, de José de Alencar.
Até os dias de hoje há captação de “recursos genuinamente brasileiros” em prol do que eu interpreto como “vaidade regionalista”. Dar visibilidade às manifestações culturais das minorias é muito importante, mas não ajuda a combater o racismo quando o intuito é apenas fazer uma elite se distinguir dos seus primos portugueses e espanhóis. Apropriou-se das culturas indígenas sem ajudar a fortalecer as demandas dos seus povos.
Quando o rugby brasileiro decide apelidar sua seleção de “Tupis” e confecciona seus uniformes com temas que remontam a esse povo, deveria também assumir um compromisso forte com sua comunidade. A federação desse esporte poderia se posicionar a favor das cotas raciais e angariar fundos para as populações de áreas interditadas pela Funai, que podem carecer de recursos. Isso seria o mínimo.
Se uma personalidade recebe cachê por campanhas publicitárias, nada mais justo que grupos vulneráveis sejam recompensados por cederem licença pela exposição de sua cultura.
No Chile o fenômeno não é diferente. A arte gráfica da Copa América 2015 era repleta de temas mapuches, grupo até hoje influente no sul do Chile e que inspirou a fundação do principal clube de futebol do país, o Colo Colo, nome de um líder da etnia. No entanto, os meios de comunicação do país pouco falam das demandas do povo originário mais resistente da América austral. Apenas o tumulto provocado por alguns dos seus manifestantes ganham notoriedade, e não as causas defendidas. A problematização acerca das hidrelétricas construídas no sul da região da Araucanía só ganha espaço em veículos alternativos ou na imprensa internacional.
Hoje completam 76 anos do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, no México. A data comemorativa foi criada no Brasil três anos depois, em 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas. O dia de hoje, a meu ver, não é de festa. Não é de publicar foto com figurino indigenista ou de apenas reconhecer a importância do aporte cultural ao país. Hoje é dia de discussão. É dia de perguntar aos indígenas o que eles querem. Esta postagem é uma reflexão minha sobre a data. Espero aportar mais às causas justas e discutir mais sobre o tema durante todo o ano.
*Eu usei o termo "indígena", e não "índio" durante toda a postagem porque é o termo mais politicamente correto aqui no Chile, onde moro há um ano e oito meses. "Índio" soa pejorativo.
3 comentários:
Excelente reflexão, Lucas. O povo indígena merece respeito e atenção às suas causas. Não adianta limitar o espaço de debates sobre o tema para o dia 19 de abril ou outros momentos festivos, seja no esporte ou na expressão de alguma arte, em que se põe em evidência a riqueza cultural do meu povo (me incluo pq tenho descendência indígena direta). Ou, ainda, colocá-los em destaque qdo, em movimentos esporádicos, clamam mais bravamente por seus direitos e por sua dignidade. As necessidades e urgências dos indígenas gritam diariamente por atenção e é preciso não só parar para ouvi-los, mas tb agir em prol de suas necessidades, antes que o processo de aculturação que sofrem há séculos se sobreponha a sua riquíssima cultura.
Muito legal a reflexão. O caminho é longo !! Sugerir discussões, agir em prol de sua necessidades como falou Andreia é ajudar a proporcionar cada vez mais possibilidades para uma vida digna e justa e uma das formas de da atenção às suas causas !!!
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