segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A década que começou numa primavera


Na minha opinião, dois fatos simbolizaram os anos 2000. A eleição de Barack Obama e as dez estatuetas conquistadas pelo filme “Quem quer ser um milionário?” apontavam uma quebra de paradigma inimaginável há 10 anos. Na semana da consciência negra, em 2008, um homem negro foi eleito o presidente dos Estados Unidos, a maior potência econômica do planeta. Menos de um ano depois, um filme estrelado por indianos e ambientado na Índia foi reconhecido por Hollywood como a melhor obra cinematográfica do mundo, em 2009. Aqueles fatos eram um aperitivo para o que viria na década seguinte. E 2011 não decepcionou as pretensões de quem acredita em mudanças significativas na sociedade.

A primavera árabe foi a transformação mais significativa deste ano. Populações controladas pelo medo se rebelaram contra regimes sanguinários e covardes, e o saldo, até o momento, são mais de 30 mil mortos e algumas reivindicações conquistadas pelos manifestantes, a exemplo do exílio de alguns ditadores, como o ex-presidente do Iêmen, Saleh, que deixou o poder após 33 anos, disposto a conciliar novas eleições em dois anos. Há quem diga que os povos do norte da África e oriente médio estão acostumados com o regime ditatorial e o vácuo deixado pelos antigos líderes não poderá ser preenchido com a democracia. Isso só o futuro irá dizer, mas assim como a Revolução Francesa, a Primavera Árabe tem inspirado diversos movimentos pelo mundo, até mesmo no futebol. Torcedores de Palmeiras e Bahia que querem eleições diretas em seus clubes afirmam que suas inspirações foram os movimentos ocorridos no Oriente Médio a partir do final do ano passado.

Será que o mundo está mudando para melhor? É bom não fazer qualquer tipo de prognóstico precipitado, afinal, a Primavera Árabe, que completou um ano anteontem, 17 de dezembro, ainda terá muita água para rolar. Enquanto os árabes buscam mudanças radicais em suas estruturas políticas, aqui no Brasil a Copa de 2014 parece fazer a população esquecer suas necessidades básicas. Soteropolitanos manifestaram sua indignação por serem negligenciados pela FIFA na escolha das datas do Mundial. A primeira capital do país só receberá a Seleção Brasileira se esta terminar na segunda colocação do grupo e passar pelas oitavas de final. João Saldanha diria que "se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado". Serão precisos muitos "trabalhos" para fazer a equipe canarinha não terminar a primeira fase na liderança, mas quem duvida do povo baiano?

Brincadeiras à parte, o evento da FIFA pretende driblar algumas regras estabelecidas pelas leis brasileiras, a exemplo do consumo de bebidas alcoólicas em estádios e a venda de ingressos a meia-entrada para estudantes e idosos. A Lei Geral da Copa foi assinada pela presidente Dilma Rousseff, que não se mostrava tão subserviente ao órgão máximo do futebol como seu antecessor Lula. Agora, a Lei Geral da Copa será discutida no plenário da Câmara do Senado e precisa ser assinada pelos seus membros para que o evento seja “oficializado”. Essa questão vem sendo questionada inclusive por gente de fora, como o jornalista escocês Andrew Jennings. Autor do livro Jogo Sujo - O Mundo Secreto da FIFA, Jennings se tornou conhecido no Brasil após duas participações no programa Bola da Vez, da ESPN, e de ter prestado depoimento na Câmara dos Deputados, em Brasília, esclarecendo os interesses da FIFA com a realização do Mundial e defendendo a soberania do Estado Brasileiro.



Romário: a surpresa e decepção do ano na política

Andrew Jennings parecia ter um aliado e tanto na Câmara. Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, o ex-jogador Romário havia sido eleito sob muita desconfiança, numa época em que o palhaço Tiririca havia levado a maior quantidade de votos do país com o slogan "Vote em Tiririca, pior do que tá não fica". No entanto, Romário mostrou ser diferente dos candidatos folclóricos e se tornou assíduo frequentador das audiências, além de questionar constantemente os métodos para a realização da Copa de 2014. O ex-jogador deu esperanças a muitos brasileiros quando se pronunciou sobre o presidente da CBF Ricardo Teixeira e o secretário geral da FIFA Jerome Valcke.



Na última sexta-feira, porém, Romário se reuniu com Ricardo Teixeira e o também ex-atacante Ronaldo, que ganhou um cargo no COL, Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, na sede do COL, no Rio de Janeiro. O discurso conivente do deputado federal decepcionou todos que depositaram nele as esperança de busca por transparência no mundial. Terá sido apenas uma recaída de quem por tanto tempo foi amigo do ex-presidente do Vasco Eurico Miranda, ou Romário resolveu "trocar de time?". Só o tempo irá dizer.

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