domingo, 20 de setembro de 2009

Minha avaliação em Metodologia da Pesquisa

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Questão:

Com base na discussão que fizemos sobre a idéia de problematização e sua importância para o projeto de pesquisa, analise se o fragmento de texto abaixo possui as características necessárias da problematização. Além disso, caso concorde que o texto possui essas características, deixe a sua opinião sobre o assunto tratado nele.



“Universalismo e relativismo cultural”, por Érica de Souza Pessanha Peixoto



No momento que o sistema internacional deixa de ser apenas um diálogo entre Estados e uma série de documentos são elaborados com a finalidade de afirmar direitos referentes à pessoa humana com validade universal que a problemática sobre o alcance das normas de direitos humanos aflora. Como compatibilizar a proposta de universalidade dos direitos humanos com o pluralismo cultural? Seriam estas normas verdadeiramente universais ou apenas revelariam o esforço imperialista do ocidente de tentar universalizar suas próprias crenças? Num mundo tão plural, como estabelecer padrões universais? Tais questionamentos têm feito parte dos principais debates sobre os direitos humanos na atualidade.


[...] Embora desde a Declaração e Programa de Ação de Viena, em 1993, tenha se afirmado a tese da universalidade dos direitos humanos, ainda hoje, diversas argumentações são construídas em favor do relativismo cultural dos direitos humanos.Tais objeções partem sempre do ponto de vista particular, da comunidade, da cultura local. Posteriormente, cada uma dessas idéias serão desconstruídas, reafirmando o universalismo dos direitos humanos como pilar fundamental para a construção de uma sociedade internacional justa e solidária, capaz de conjugar a proteção do ser humano no âmbito global com os valores de tolerância e respeito das particularidades.


[...] o argumento relativista, muitas vezes, serve para encobrir e legitimar atos atentatórios aos direitos humanos e à dignidade da pessoa humana, o que é inadmissível. Assim, defender que quaisquer práticas seriam legítimas desde que compartilhadas por uma comunidade pode ser, e na maioria das vezes é, um discurso extremamente autoritário, capaz de encobrir desigualdades, reprimir a liberdade e legitimar a dominação.


Acrescenta-se ainda, [...] que, por vezes, tem-se uma visão muito romântica do relativismo cultural, como se todas as culturas trouxessem em si uma homogeneidade tal que qualquer espécie de crítica externa fosse uma afronta brutal aos costumes compartilhados harmonicamente por todos, o que não é verdade. A antropóloga Rita Laura Regato, da Universidade de Brasília, também expõe sobre a falácia dessa visão simplificadora do relativismo, que acaba por ignorar divergências dentro de um mesmo contexto cultural:


(...) Outra possibilidade, que sugeri em alguns textos, consiste em revisar a maneira como nós antropólogos entendemos a noção de relativismo. De fato, recorremos freqüentemente ao relativismo de forma um tanto simplificadora, focalizando as visões de mundo de cada povo como uma totalidade. Com isso, muitas vezes não vemos ou minimizamos as parcialidades com pontos de vista diferenciados e os variados grupos de interesse que fraturam a unidade dos povos que estudamos. Não levamos em consideração as relatividades internas que introduzem fissuras no suposto consenso monolítico de valores que, por vezes, erroneamente atribuímos às culturas. Por menor que seja a aldeia, sempre haverá nela dissenso e grupos com interesses que se chocam. É a partir daí que os direitos humanos fazem eco às aspirações de um desses grupos.



Inúmeros são os relatos de mulheres que se submeteram às mutilações e aos castigos e hoje lutam em prol dos direitos humanos. Exemplo disso é Ayaan, que aos cinco anos sofreu excisão do clitóris e aos vinte e dois fugiu de um casamento arranjado com o primo do pai. Ao comentar sobre suas experiências, deixa claro sua revolta por um sistema intolerante, que a negou o direito de escolher seu próprio destino [...]



Se preferir lê-lo na íntegra, acesse o endereço: http://www.fdc.br/Arquivos/Mestrado/Revistas/Revista10/Discente/EricaPeixoto.pdf.

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(Minha Resposta):


Levando em conta que, quando problematizamos, buscamos com mais objetividade o conteúdo que iremos expor da nossa pesquisa, o trecho apresentado é suficiente para abordar o conflito entre universalismo e relativismo cultural. Sendo esse o foco, passamos a tentar explorar o máximo que pudermos desse conflito, dentro do texto e em outras fontes externas, não para chegarmos a uma conclusão, mas sim para definir o problema, procurando respostas até para questões subjetivas, afinal, em que nossa vida é afetada com essas duas correntes de pensamento? O universalismo prega um conceito único para todas as coisas, a começar pela sua etimologia (Dicionário Aurélio): "Que abarca toda a Terra, que se estende a tudo ou por toda a parte; mundial/ Comum a todos os homens, ou a um grupo dado/ Que é aplicável a tudo/ Que advêm de todos; geral/ Que é adaptável ou ajustável de modo que possa atender a diferentes necessidades (de utilização, tamanho, forma, etc.)". Levando em conta a última afirmação "Que é adaptável ou ajustável de modo que possa atender a diferentes necessidades" a corrente relativista irá contestar, mostrando que há necessidades que não se encaixam no universalismo, descentralizando os esforços de fazer do mundo um lugar homogêneo, como se todos os seres humanos estivessem na mesma direção.

O relativismo, segundo o mesmo Dicionário Aurélio, traz no seu significado "Atitude ou doutrina que afirma que as verdades (morais, religiosas, políticas, científicas, etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos." A variação das verdades, que deixam de ser absolutas a partir do momento em que uma corrente se preocupa mais em entender a fundo cada realidade, dá novas regras para cada ocasião, exatamente o contrário do que prega o universalismo (onde a mesma regra vale para todos). Logo, as buscas que surgem a partir disso também se chocam: a Declaração e Programa de Ação de Viena é válida para quem? Sem dúvida terá validade para muitos grupos, afinal, houve objetivo em sua construção, mas a compatibilidade, para os relativistas, varia, inclusive questionando a validade dessa declaração para as próprias sociedades que hoje são suas adeptas, afinal, "Atitude ou doutrina variam conforme a época" (Dicionário Aurélio), logo, amanhã elas podem não ser válidas para ninguém, como muitas outras doutrinas que foram válidas para diversos grupos não são mais para nenhum.

As críticas que os universalistas fazem do relativismo envolvem até acusação de "reprimir a liberdade e legitimar a dominação" (Universalismo e relativismo cultural, por Érica de Souza Pessanha Peixoto).
Não se problematiza o tema para se chegar à conclusão de "que corrente deve reger o universo a partir de agora" (até porque, isso já empregaria demasiada dose de universalismo, mesmo que se tratasse de tomar partido do relativismo). Se problematiza para mostrar ambas as versões do fato, com clareza e nitidez, para abrir o debate, fugirmos da superficialidade dos resumos e absorvemos o conhecimento e ambas as correntes (universalismo e relativismo). O objetivo aqui é discutir, tomar partido é uma consequência que não envolve necessariamente a pesquisa científica, até porque são escolhas pessoais, e escolhas pessoais não podem ser manipuladas. Minha opinião sobre que corrente é a melhor? Sinceramente, prefiro estudar muito mais sem tirar conclusões, e se em muito tempo depois eu ainda não tomar partido, não será de um todo ruim: meu objetivo é ser esclarecido, e não partidário.

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