quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Crise no Esquadrão de Aço

Bahia apenas empata com o São Domingos

Em péssima campanha no Baianão, amargurando a quinta colocação do Grupo 1, que têm apenas seis times, o Bahia estreou hoje na Copa do Brasil com a esperança de vencer por mais de um gol de diferença o São Domingos de Sergipe, em Aracaju, para eliminar a partida de volta. Não deu. O Esquadrão de Aço empatou sem gols no nono jogo depois do acesso à Série A: de 13 de novembro de 2010 pra cá, foram duas vitórias, dois empates e cinco derrotas.

O Bahia recebe o São Domingos no jogo de volta no dia 23 desse mês, quarta-feira, em Pituaçu. Para chegar na segunda fase, os baianos precisam vencer ou empatar com gols. A equipe sergipana só avança se vencer, e o empate sem gols leva a partida para os pênaltis.

Antes do duelo, o São Domingos recebe o Estanciano nesse domingo pelo Sergipanão. Já o Bahia, precisa vencer o Vitória no domingo e secar o Colo Colo para terminar a sétima rodada dentro do grupo de classificação para a próxima fase do Baianão. Faltando três rodadas para o término da primeira fase, o Bahia corre risco de ser rebaixado: o formato do torneio credencia as quatro primeiras colocadas de cada grupo para os quadrangulares e as duas últimas equipes vão disputar uma repescagem para se manter na elite do futebol estadual.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O chato discurso do "oprimido"

Nem sempre um torcedor sempre apóia o seu time de coração, tudo depende do espaço e tempo em que sua equipe entrar em campo. Uma derrota pode ser bem vinda para derrubar aquele técnico mala ou prejudicar o rival na tabela do campeonato. Como disse Clara Albuquerque ontem, na sua coluna no CORREIO, o futebol tem "lógicas", isso mesmo, no plural.

O princípio universal de uma torcida nem sempre é o apoio incondicional ao clube, aliás, não há princípio universal no futebol, que tem múltiplas possibilidades: há os que apoiam a diretoria, outros que a querem derrubar, e nesse embate a lógica é que se o grupo da situação estiver dando certo, ele continuará, caso contrário, a oposição ganhará força.

Tudo isso é natural: a vaidade do ser humano se aflora no futebol, que é um reflexo da sociedade. Chato são os discursos de "oprimido" dos clubes não vitoriosos. Pérolas como "se nosso time tivesse mais recursos, seríamos melhores" e "a mídia não nos apóia" frustra involuntariamente as intenções de quem quer ser grande. Se o "se" entrasse em jogo, não só o futebol teria mil e uma lógicas, mas também infinitas realidades e destinos: todo campeonato teriam mais de vinte vencedores, todos os craques vestiriam centenas de camisas ao mesmo tempo e por aí vai. A suposição de um mundo melhor caso os rumos fossem outros não nos leva a lugar nenhum.

É óbvio que se os bandeirantes não descobrissem ouro nas Minas Gerais, Salvador continuaria sendo a capital do Brasil e o Rio de Janeiro não seria uma cidade tão forte no cenário político e até futebolístico. Se os europeus não roubassem todo o nosso ouro, não seríamos tão endividados e os nossos clubes não perderiam tantos jogadores para o exterior. Mas a cada “se” acrescentado num passado já concretizado, esquecemos de pensar que se tudo o que desejássemos fosse realidade, haveriam consequências negativas, por exemplo: será que se os ingleses não tivessem contato com o nosso país hoje seríamos a “Pátria de Chuteiras”? Por acaso, o futebol foi criado na Inglaterra, e se começou a ser praticado cedo por aqui foi porque Charles Miller, um brasileiro filho de ingleses, que o introduziu em São Paulo, em 1894, e um tempo depois, a redonda já estaria rolando por todo o país.

O meu time, o Esporte Clube Bahia, poderia ter conquistado muito mais se as circunstâncias históricas fossem outras, assim como poderia ter perdido muitos títulos por um triz: seguramos um empate em 0 a 0 contra o Internacional, em Porto Alegre, além de termos vencido o Santos, sem Pelé no jogo decisivo, porque ele estava contundido. Essas finais, em 1988 e 1959, respectivamente, tinham gaúchos e paulistas como favoritos, assim como em todo Baianão o BaVi é a final que se espera. Os times do interior são tratados como azarões, e eles devem se perguntar: porque não somos melhores? O torcedor do Colo Colo deve lamentar o fim do ciclo do cacau, que se perdurasse até hoje, poderia fazer a cidade ser mais forte em todos os campos. Já o torcedor do Fluminense de Feira se questiona: se tivéssemos mais dinheiro do que os times da capital, como seriam as coisas?

Se isso, se aquilo... Se estamos aqui, foi porque assim aconteceu. O chato discurso do oprimido esconde os desejos mais fortes de quem não realizou tanto quanto gostaria, e ao mesmo tempo, não reconhece que o "se" também poderia lhe tirar algumas glórias. Mas o ser humano apenas pensa no "se" para acrescentar, nunca para subtrair.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Eu deveria entrar em jogo do Bahia de graça

Nem toda regalia é merecida, mas acho justo que idosos, deficientes físicos e gestantes tenham vagas de estacionamento exclusiva, além de preferência no elevador. Em Goiás, descendentes de índios entram de graça no estádio e no Chile, a Universidad de Chile deciciu dar ingressos vitalícios para os onze mineiros que ficaram mais de dois meses esperando resgate do governo e são torcedores do clube. Bom, mas porque eu mereço entrar de graça em jogos do Esporte Clube Bahia?

Não só eu, mas todos os tricolores nascidos entre 1988 e 2002 merecem uma regalia pelo sofrimento que a nossa geração teve que encarar. Nós nunca vimos o Esquadrão de Aço ser campeão brasileiro, passamos a maior parte da juventude vendo o nosso time de coração longe dos holofotes e ainda assim sobrevivemos moralmente, a ponto de hoje estarmos felizes. Se nos próximos anos o Bahia conquistar mais títulos nacionais, voltar a dominar a região e passar a produzir craques como antigamente, minha teoria estará concretizada: quem nasceu entre 1931 - ano de fundação - e o começo da década de 80 pegou o "filé migon", e os que vieram ao mundo a partir de 2002 foram poupados das provocações na fase mais crítica, a infância, onde a criança ainda pode virar a folha, pois até os oito anos de idade a noção do futebol ainda é ingênua e otimista, passando disso, a ficha cai e começam os questionamentos (Porque meu time não está no álbum de figurinhas e no Winning Eleven?), o que faz uma geração ganhar as características dos times vencedores, embora aqui em Salvador, o Bahia fugiu a regra e continuou produzindo torcedores.

Jamais pensei em virar a casaca, e sofri com os dois rebaixamentos no período de seis anos, além de sentir na pele a eliminação na primeira fase da Copa do Brasil para times como Ceilândia e Icasa e passar uma década sem gritar "é campeão" [no estadual]: na última vez que isso aconteceu, o presidente da república era FHC, as Torres Gêmeas estavam de pé e eu não pude divulgar a minha euforia pela conquista nas redes sociais. Não me envergonho de dizer que fui sofredor, e até me sinto mais feliz com essa condição. Há um certo romantismo na incondicionalidade de insistir em uma ideia e vê-la vingar a longo prazo. O amor platônico subverte a realidade: há quem diga que um grande amor só pode ser bonito quando não pode ser realizado. Bom, estou doido para ver meu Esquadrão de Aço campeão esse ano, mas se eu pudesse voltar atrás para mudar o destino de algumas das desventuras do tricolor na perdida década de 2000, eu não mudaria: assim a história se fez e estamos aqui, e como no filme Efeito Borboleta, uma simples mudança no passado poderia nos tirar totalmente do cenário atual, e a ideia agora é pensar no hoje.

Eu vi a Seleção Brasileira, que disputa no máximo dois torneio por ano – isso quando disputa algum torneio numa temporada - levantar mais canecos do que o Bahia, que no mínimo joga três campeonatos anualmente. Eu vi a Canarinha papar duas Copas do Mundo, quatro Copas América e três Copas das Confederações, nove conquistas ao todo. Já o Esquadrão de Aço, faturou três Baianões e duas Copas do Nordeste – eu me recuso a contar o Baianão de 99, uma prova da covardia dos nossos dirigentes, e a medíocre Taça Estado, em 2007. Mas não conheci muitos estrangeiros aqui por Salvador, e sem eles por perto, não se pode falar em rivalidade entre seleções nacionais, em discussão futebolística do tipo "meu Brasil é melhor do que o seu país por isso, isso e aquilo".

Por tudo que passei, volto a repetir: mereço entrar em Pituaçu de graça, afinal, se os mineiros do Chile ficaram menos de três meses no buraco, eu apenas vi o meu time sair dele no ano passado, quando, no campo, conseguimos o nosso sonhado acesso. Que tenhamos dias melhores, para a felicidade de todos os tricolores da minha geração e para a concretização da minha tese. Afinal, quem não viu Douglas, Beijoca, dentre outros, continuará cultuando Uéslei e Preto Casagrade - bons jogadores, mas não eram craques - até que uma nova safra vingue.

*Esse é um texto de humor, e não uma proposta séria para permitir entrada gratuita para a minha geração.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Níveis de rivalidade no futebol

Quando você gosta de futebol e tem um time de coração, você não canaliza as suas energias apenas para torcer pelo seu clube: é preciso reservar um tempo para secar o rival. Todos os times do mundo tem um rival, e todas as rivalidade seguem esse mesmo princípio, mas há algumas variações que vão além do endereço.

Os torcedores do Internacional hoje torceram pelo Liverpool do Uruguai, afinal, essa equipe cisplatina enfrentou o Grêmio. Certamente, uma derrota gremista faria Porto Alegre ficar mais vermelha amanhã: os tricolores ficariam vermelhos de vergonha, e os colorados sairiam contentes com as suas camisas alvirubras pelas ruas a fim de provocar. Não faltam métodos criativos para zombar, trocadilhos infames para constranger o torcedor do time adversário, e no caso da dupla GreNal, a rivalidade tem alto nível, pois são duas equipes gloriosas. Os gremistas provocam os colorados porque esses foram eliminados pelo Mazembe, da República Democrática do Congo, no mundial de clubes, e os colorados se frustraram porque perderam a oportunidade de sacanear o Grêmio, já que ele passou, com alguma dificuldade, pelo Liverpool uruguaio, e garantiu vaga para a fase de grupos da Libertadores.

Em Belém, a torcida do Paysandu entoa no Mangueirão, nos dias de jogo contra o seu rival Remo, o grito "Puta que pariu, Libertadores o Remo nunca viu". Para os torcedores do Papão, ver Libertadores é ter participado, e de fato, o time da Curuzu é o único da região Norte a ter chegado lá, em 2003, quando foi eliminado pelo campeão daquela edição, o Boca Juniors. Já os santistas, palmeirenses e são-paulinos entoam o mesmo grito em direção ao Corinthians "Puta que pariu, Libertadores o Corinthians nunca viu", apesar de o time do Parque São Jorge já ter disputado muitas Libertadores. É que, para o nível de rivalidade na terra da garoa, ver Libertadores é ter colocado a mão na taça. Isso comprova que o ponto de vista sobre o que é ver varia de região para região, pelo menos se o assunto for futebol.

Na Bahia, O Vitória dominou a década de 2000, conquistando oito dos dez Baianões possíveis. Também fez grandes campanhas em Copas do Brasil, sendo semifinalista em 2004 e finalista em 2010, sem falar que o rival Bahia ficou por muito tempo na segundona. No entanto, o torcedor tricolor se agarrava a alguns argumentos que julgava convincentes: terem sido campeões brasileiro, por duas vezes, 1959 e 88, e terem uma torcida mais fiel. Agora, quem carece de argumentos são os rubronegros: ainda amargando a subida do Bahia e pouco depois, o seu rebaixamento para a Série B, o Vitória continua sem ter conquistado um título nacional e sem ter disputado Libertadores. As provocações entre os dois times são carentes, pois conquistar um Brasileirão, em muitas regiões, é requisito básico para entrar na discussão, o que dirá então um time que nunca conseguiu vaga para a Libertadores, que se vangloriou por tanto tempo apenas de se manter na elite do futebol nacional, longe de almejar o título no difícil campeonato de pontos corridos.

Esse é o futebol: amanhã, os corintianos mais fanáticos precisarão fazer um esforço enorme para levantar da cama, e os colorados levarão consigo a frustração de não ter se concretizado o seu desejo de poder sacanear o rival. Enquanto isso, a vida continua, afinal, isso é só um jogo... Que para muitas pessoas vale mais do que a própria vida.