domingo, 21 de novembro de 2010

As formas e formatos da caretice

Paletós, cabelos curtos, ausência de tatuagens e linguagem rebuscada parecem os artifícios ideais para se "neutralizar" num ambiente de trabalho conservador. Bancos, escritórios de advocacia e senado são locais aonde decisões importantes são tomadas, e a sociedade espera que os seus rumos sejam direcionados por pessoas competentes e acima de tudo, que passem confiança. Não dá para confiar em alguém pela sua auto-análise, espera-se da imprensa o papel de fiscalizador, mas o que fazer se nem a imprensa é de confiança?

Julgar a competência de alguém não é tão simples: os marketeiros de plantão farão o possível para sintetizar uma competência "mitológica", se colocarem num pedestal, longe dos mortais sem recursos para investir na própria imagem. Vestir-se "sem elegância", usar cabelos compridos e se comunicar através de uma linguagem transparente (sem as malícias de tentar mudar a situação trocando as palavras por seus sinônimos) é um ato de coragem, que pode custar caro: os caretas tem muita força nas decisões (são a maioria) e não aceitarão essas "subversões".

Os maiores jornais do mundo são um reflexo da caretice que até hoje persiste em aprisionar pessoas. É cômodo seguir uma programação rígida, acostumando seus leitores/telespectadores/ouvintes a absorverem novas notícias no mesmo formato, com os mesmos paradigmas. A receita de bolo para se programar o ordenamento das informações faz os jornalistas passarem a responsabilidade para seus consumidores, pois se eles consomem, sustentam o seu formato. Na verdade, a caretice continuará se a mobilização não começar inclusive nos jornais tão carentes de apuração detalhada. Como jornalista, pretendo ser melhor do que sou hoje: ainda vejo em mim traços de um conservadorismo incompatível com o que acho necessário para um mundo melhor. O universo não muda por vontade própria: é preciso se mobilizar, e eu estou disposto a ser alguém na corrente que pretende provar que é possível ser transparente, é preciso ser melhor.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Xô caretice!

Tem coisa mais chata do que um politicamente correto "xiita"? A vontade que tenho quando vejo um "senhor da razão" é de mandar a pessoa para aquele lugar, mas por enquanto, confesso, sou um tanto careta para isso.

O mundo vive uma contradição: os costumes mudam na mesma velocidade da tecnologia. Conclusão: se o que foi proibido antigamente já não choca hoje, a privacidade para se transgredir é mínima e o risco de se fazer algo escondido é maior, pois por vários condomínios pode haver uma câmera de segurança, ou até mesmo um gaiato pode te filmar pelo celular e colocar no You Tube. Dessa forma, uma professora de crianças foi demitida após ser veiculada uma imagem sua dançando a música "Todo enfiado", da banda “O Troco”, que diga-se de passagem, é extremamente vulgar. Taxar algo de vulgar não é "defender os bons costumes e a ordem vigente": a subversão gratuita se torna feia, e o belo continua existindo como conceito. Acontece que o belo, com a "evolução dos pensadores", nem sempre está associado ao bom e vice-versa, como acreditavam Platão e Aristóteles.

Largar a caretice não significa dar credibilidade a qualquer manifestação cultural. Isso é o que os caretas pensam sobre os não-caretas: que sem os "bons costumes", o mundo se torna "terra de ninguém". Eu continuo achando o funk carioca e o pagode baiano gêneros musicais feios e vulgares. Antes de qualquer coisa, o significado de vulgar no Dicionário Aurélio é: comum, ordinário, trivial, usual, reles, ordinário. Minha conclusão: ser careta também é ser vulgar, pois é aceitar as convenções sem parar para refletir. Se me perguntarem "o que você prefere: músicas de apelo sexual explícito ou os seus críticos moralistas ferrenhos" eu responderei que não sou obrigado a me posicionar entre dois extremos que não nos levam a encarar a vida de uma forma transparente: eu critico certas músicas mais pelo critério estético do que pelos "bons costumes".

Se você não é careta e quer ser candidato à presidência da república um dia, tome muito cuidado com o que fala/escreve/compõe. Tudo pode ir contra você: seus concorrentes irão desvendar todas as suas "subversões", e isso pode determinar o fracasso da sua candidatura. Você terá de tomar uma decisão arriscada: pagará o preço por tentar chegar ao topo do país, e quem sabe lá, tomar decisões que você sempre sonhou que seus representantes tomassem, ou continuar sendo transparente, candidatar-se sem o apoio de falsos moralistas e de quebra assumir os seus erros quando for necessário?

O mundo é dos caretas. Mas não acostume-se. Subverta. Não há vitória ou derrota: há aceitação ou menosprezo. Se você não quer mais ser um “vencedor” (nos padrões da caretice), leve a vida no seu ritmo, para que não lhe falte o que é tão importante: ser ser humano.

domingo, 7 de novembro de 2010

Suposição do sonho da realidade imaginária

Quem não sabe o que está perdendo pode apenas supor
Múltiplas suposições formam um imaginário
Projetar é passatempo e o tempo, brinquedo
De quem brinca de esperar o tempo passar
Por uma vida melhor a se formar


Supor infelicidade é achar
Que a realidade não pode ser superada pelo sonho
Que sonho continuará sendo até o dia de se pagar para ver
Se o preço do querer não é tão alto
Para que por ele valha a pena merecer
A paciência do angustiado, o sonho do desiludido
O futuro não corrido e o presente congelado