quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2, "O filme"

Filme 'Tropa de Elite 2' emociona e faz refletir, mas para mobilizar, depende dos brasileiros

[Se você não viu o filme, é melhor não ler a postagem abaixo]

O mais novo filme de José Padilha não fala de super-heróis ou conspirações ilusórias: comparar Nascimento com Rambo é mais do que inadequado, torna-se uma ofensa. Com o seu vigor voltado para causas reais - e não fantasiosas, o personagem Roberto Nascimento sofre incrível mudança de reflexão ao ver de perto a raiz de todos os problemas que envolveram a sua carreira de policial.

Tropa de Elite 2 começa com uma interessante reflexão sobre a vida, na voz em off do seu protagonista. "Às vezes só damos valor a vida quando estamos perto da hora da morte". Em seguida, a nova cena não da sequência a anterior, o que aponta claramente que o início do filme poderá também ser a cena final, culminando na morte do policial.

Até o momento em que o tenente-coronel faz parte do BOPE, o segundo filme é um anexo do primeiro: uma obra focada em mostrar o ponto de vista do policial, fato este que fez José Padilha ganhar o rótulo de "fascista" por quem nada entende de arte - arte é diálogo livre, sem apologias ou moralismos. Uma operação no presídio de Bangu 1 tem um desfecho indesejado, um ativista dos direitos humanos vai a imprensa criticar a violência policial, e as consequências da repercussão na mídia foram o afastamento de Nascimento do BOPE e a transferência de Mathias (seu substituto "escolhido" no primeiro filme) para a polícia comum, onde ele fez parte e pôde experimentar a falta de seriedade dos colegas.

As coisas mudam de figura quando Nascimento é nomeado como subsecretário de segurança pública do Rio de Janeiro: ainda com a mentalidade de um policial, o ex-tenente-coronel transforma o BOPE numa máquina de guerra, enfraquecendo de vez o tráfico com um trabalho de extrema repressão. Seus blindados, helicóptero e nova organização institucional, no entanto não previa a troca de poder nos morros: com o enfraquecimento dos traficantes, as milícias tomaram conta das favelas, cobrando taxas dos moradores em troca de não fazê-los mal. Água, gás, TV a cabo pirata: todo dinheiro arrecadado do monopólio das milícias enriquecia policias corruptos responsáveis por "dar segurança aos moradores", e mais tarde, a arrecadação vira arma política para eleger um governador corrupto conivente com as falcatruas.

Nascimento então tenta brigar contra o sistema, e paga muito caro. Desvendar as ilegalidades não era fácil quando se estava num ninho de cobras, e com o pretexto de recuperar armas roubadas de uma delegacia, a polícia comum decide invadir outra comunidade para aumentar o território da milícia. Ao decorrer do filme, reflexões vão amadurecendo, e Nascimento vai enxergando o problema de segurança pública como mais profundo do que a simples repressão a bandidos: os maiores responsáveis pela corrupção estão no poder, e com anos exercendo a profissão de policial, sua reflexão na CPI das milícias dá o tom do que pode ser o terceiro filme. "Eu fui policial durante 30 anos, e não sei por que matei, e por quem matei". Tropa de Elite 2 é mais do que um filme: é uma ferramenta de conscientização que foge da didática escolar e nos faz refletir com cenas de derramamento de sangue que para combater a violência, é preciso se indispor e correr riscos.

Fotos do filme: http://www.flickr.com/photos/tropa2/

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Falta personalidade para os 'nossos' políticos

Evasões, omissões e discursos que contradizem suas próprias idéias anteriores são motivos para você não confiar em um candidato. Ser "Metamorfose ambulante" pode soar bem para um artista questionador na busca pela quebra de paradigmas, mas quando se tratam de políticos, ninguém muda sem pensar em estratégia. Alianças são feitas e desfeitas a toda hora, pois na busca por aceitação popular, "nossos representantes" fazem de tudo para "nos agradar" e, ganhando nossos votos, se eleger.

É difícil ver um político com personalidade. Um candidato nada mais é que uma marionete nas mãos de marqueteiros que lhe ensinam a agir da forma mais conveniente possível. Alianças com igrejas são a prova que, se depender dos "nossos líderes", agir de forma espontânea seria uma subversão tão grave que a pena pode ser a não-chegada ao poder. Mas qual o preço para saciar a fome de exercer um mandato?

Ateus viram cristãos, sindicalistas viram amigos de grandes empresários e ex-inimigos viram irmãos: vale tudo para propagar sua imagem nos mais remotos lugares desse país continental, e vence quem conseguir expandir sua propaganda para o mais distante raio de alcance. A democracia é tão artificial como a pré-disposição dos candidatos em agradar a população: quando eles fazem algo, tratam como favor feito ao povo, e não obrigação. Muitos só fazem, por exemplo, uma obra, por pressão popular, e ainda sim se houver troca de favores com bancos e construtoras.

Para esse segundo turno, meu voto é nulo, pois não acredito que nenhum desses dois candidatos possam trazer mudanças significativas para o Brasil: estão em disputa dois modelos de fazer política aonde o tamanho dos empreendimentos vale mais do que a responsabilidade em construí-los. Dois "santos" que fariam até fotossíntese para obterem a luz dos que não mais podem votar em Marina. Duas farsas, que nos darão uma certeza: nos debates, haverá encenação, mas de péssima qualidade, assim como o filme "Lula, o filho do Brasil", mas levando em conta que este é o representante brasileiro para chegar na noite do Oscar, porque duvidar que Dilma e Serra também não possam garantir suas estatuetas?